Orehalion escrita por I A Silvestre


Capítulo 27
O Início do Fim


Notas iniciais do capítulo

Encontro de Dimensões - Capítulo X



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Sinneus subiu as escadas do saguão de entrada do castelo, a procura do caminho que levasse até o terraço. Sua visão mais aguçada lhe permitia focar com facilidade em pequenos detalhes. Passou através de um corredor com várias portas que pareciam levar a outros quartos, inclusive uma escada para baixo que, pelo cheiro, com certeza levaria até a cozinha. Subiu mais um lance de escadas, encontrando-se então em um imenso salão, com duas enormes mesas e um corredor no centro.

Bandeiras negras e panos cobriam as paredes do recinto, cujas paredes eram feitas com blocos de pedra.

—Daqui, não passará. - Uma voz ecoou partindo do final do corredor, seguida de passos. - Não deixarei que chegue até o terraço!

O sacerdote, então, balançou seu cajado em frente, fazendo com que os anéis presos em seu ápice tilintassem, emitindo uma onda sonora que ressoou por todo o local. 

—Não consigo me mexer! - o asteca estava imóvel. Não importa quanta força tentasse aplicar para se liberar daquela paralisia, não adiantava.

O sacerdote, em seguida, começou a cantar com voz tenor.

Om telolet om. Om telolet om.

O quê...? O que é essa música? Parece que já escutei antes... - e caiu ao chão, inconsciente.

O sacerdote manteve sua posição. Não podia se movimentar caso quisesse que o feitiço continuasse funcionando.

—-

 

No terraço do castelo, o céu estava aberto e iluminado por raios de um pequeno sol a brilhar no horizonte, tangenciando a circunferência do planeta Júpiter.

Luganno fitava seu irmão, agora rei do império de Exerion, Caldus, enquanto, pouco a pouco, desembainhava sua espada, fazendo com que os ventos começassem a se espalhar. Não demorou muito para o terraço ser ocupado por uma forte ventania.

—Tempestade de Trovões!

Algumas das nuvens que haviam se formado no céu começaram a escurecer, de repente, uma das quais brilhou intensamente por dois ou três segundos, lançando um enorme raio sobre uma das torres do castelo. Em seguida, um barulho estrondoso ecoou pelos campos.

DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM

—Aquela torre... Lisanne!

—O que? - Luganno parecia confuso.

—Desgraçado... aquela torre... você vai pagar! Neo Masamune!

Lentamente, Caldus aproximou sua mão esquerda da direita, trazendo o aparato flutuante reluzente (também conhecido como Esqueleto), em encontro à negra chama de Exerion. O encontro das duas fontes de energia misturou-se no ar, revelando um símbolo antigo de equilíbrio, que dissipou-se em forma de uma cruz, materializando-se então em uma espada de lâmina branca, de guarda equivalente ao formato do artefato antes possuído pelo rei.

Caldus teletransportou-se para trás de Luganno, já realizando o movimento da espadada na direção de sua coluna. O samurai com um rápido movimento de sua katana bloqueou o golpe. Todos os outros golpes que foram desferidos em seguida, por ambos os lutadores, foram respectivamente bloqueados. Em um último encontro de suas espadas, os dois fitaram-se profundamente nos olhos. A coroa de Orehalion reluzindo em dourado e a de Exerion corrompida por uma aura escura.

Os ventos navalha de Luganno, evidentemente, não afetavam Caldus.

—Seus ventos são inúteis, irmão. Conheço eles como a palma da minha mão, sendo que fui treinado naquela montanha, assim como você.

—Tsc...

Os dois continuavam brigando, deslocando-se no céu em velocidade suprema e suas espadas se encontrando em duelo. Caldus, porém, com uma certa vantagem: a lâmina de Neo Masamune era maior e parecia feita de algum metal alienígena. Rezava a lenda que nenhuma outra espada seria capaz de danificá-la.

—-

O estrondo de antes, que havia atingido uma das torres, também ecoou pelos salões do castelo, inclusive no qual estavam o Sacerdote e Sinneus. 

—Princesa Lisanne! - o sacerdote desfez o encanto. - Não posso mais perder tempo com você, guerreiro! - e deu as costas com o balançar de seu manto, em direção à escadaria em espiral que se encontrava logo atrás.

—Ei, volte aqui! - Sinneus também correu para aquelas escadas. Chegando lá em cima, porém, o caminho se dividia. Um seguia em direção pelas muralhas até o terraço do castelo, e o outro seguia, também pelas muralhas, até a torre atingida.

—-

A parte interna da nave era recheada de objetos antigos: livros, fitas, discos, HDs. Parecia um enorme museu e biblioteca sobre os mais diversos assuntos relativos ao planeta Terra (e não somente). Um compartimento anexo, que mostrou-se um armário, também exibia várias camisas esportivas.: seleções de futebol, times de basquete, times de eSports, assim como explicavam as etiquetas. Tudo aquilo parecia ser muito antigo.

—Ah! Então foi daqui que o Syn pegou aquela camisa de basquete dele! - Presley exclamou, lembrando-se da primeira vez que viu o rapaz.

—Bem, Yurek sempre ficou bem perto da nave. - Louis completou. - A.Z. Tech sempre teve acesso à nave. Só nunca havia descoberto como ligá-la e fazê-la decolar.

—Acho que eu sei direitinho como fazer isso funcionar - Abelle disse, com um sorriso no rosto. Em seguida, apertou alguns botões no painel, segurou o manche e apertou o botão vermelho acima do mesmo. Em um instante, a nave subiu uns 5 metros do chão.

—Wow! Calma aí! - Os dois irmãos disseram ao mesmo tempo.

—Vamos até aquela torre que foi atingida! Podemos entrar no castelo por ali.

—Mas cuidado com essa nave! Estou com medo de você fazer a gente cair de cara no oceano! - Louis não conseguiu segurar a língua.

—Cuidado com o que você fala, rapazinho! Humpf! - E fechou a cara, em sinal de reprovação.

—Mas eu só falei a...

—Calado! - Abelle estava enfurecida.

—Tá bom, tá bom.. não falo mais nada.

—Confie na Abelle, Louis. Viu como ela consegue pilotar aquela moto?

—É, tem razão. 

A nave seguiu então, com uma curva, até a torre danificada, que apresentava uma enorme rachadura em sua parede, dando fácil acesso até um de seus aposentos.

—Olha, tem gente ali! - Abelle disse. Parece que... Olha! É aquela princesa do reino! E parece ter mais alguém com ela e...

—Vamos, aproxime-se Abelle! - Presley e Louis pareciam prontos para saltar. Assim que a nave se aproximou, os dois pularam até o chão do terceiro andar. 

—Sinneus! O que faz aqui?

—Vim de encontro ao sacerdote. Ele parecia ter algum plano e veio para cá depois que percebeu que a torre havia sido atacada.

—Ele veio me fazer uma visitinha... - Lisanne levantou-se do chão aonde estava, e olhou com um sorriso para Abelle, dentro da nave. Com um sutil movimento, revelou uma estranha esfera negra que se desintegrou em fumaça, ofuscando a vista de todos ali presentes.

—Ela fugiu!

—Não se preocupem com ela! - Abelle gritou. - Vão até o terraço, aonde os dois estão lutando!

—Entendido! - Presley, Sinneus e Louis corriam pela extensão da muralha em encontro do duelo entre os dois novos reis de Io. Quando Sinneus chegou, antes de todo mundo, viu que o Luganno estava tomando uma surra. Estava com suas roupas verdes ensanguentadas, o olhar vazio, parecia sem forças para continuar lutando, mas mesmo assim seus reflexos conseguiam bloquear os ataques de seu irmão.

—Segura aí, Luganno! Vou te ajudar! - O capitão Syn apontou as duas mãos para frente formando um losango, focando somente os pés de Caldus. Plantas começaram a brotar do chão, enrolando-se em seus calcanhares.

—Mas que... o que está acontecendo! - Com movimentos inúteis no ar, Caldus tentava se desvencilhar daquelas raízes que o prendiam.

—Também vou ajudar! - Louis gritou, levantando sua adaga aos céus - Orehalion!

Feixes de luz saíram da adaga e refletiram em vários locais até bater em Caldus, que agora também não conseguia mexer os braços.

—Vamos Luganno, agora é sua chance! - Presley gritou. Queria poder ajudar, mas sabia que suas habilidades não seriam de muita ajuda no momento.

—É a minha... chance... - Luganno respirava, olhando para os olhos de seu irmão, foi quando lhe veio um flash. Lembrou-se daquele momento em que, na floresta, ajoelhou-se desacordado e sonhou com seu irmão, que havia desaparecido. - Então é isso... aquele chamado, aquela vez.. este momento... eu... - Ao colocar a mão livre da espada sobre a cabeça, esbarrou-se com a Coroa Hexagonal. 

"Que cego. Sua sede incontrolável por poder o impediu de ver o que realmente havia conquistado."

—Então é isso... o poder de Orehalion... a Luz de Orehalion! - Quando gritou estas palavras, seu corpo se iluminou com uma luz dourada. Aquela chama que antes lhe houvera sido transferida pelo juiz do torneio começou a brilhar, pouco a pouco, e iluminou todo o castelo. Aquela mesma luz brilhou a quilômetros de distância. Os poucos guerreiros que ainda estavam conscientes, em meio às fortes ondas que agora batiam contra as muralhas do castelo conseguiam vê-la.

Habitantes das distantes casas que tinham uma vista privilegiada para o castelo também conseguiam ver aquela luz que brilhava em repetição.

—Uau! O que é isso!?

  -- 

—Luganno! Você sabe mesmo o que está fazendo? Você não tem ideia do erro que está cometendo!

—Estas chamas obscuras não mais assolarão as terras deste continente! Eu vim para trazer a paz!

A Coroa Hexagonal brilhava com seis gemas de Orehalion. Em contrapartida, a Coroa de Exerion, que era quadrangular, que antes estava encrustada com quatro cristais negros, agora estava vazia. Seus cristais haviam rachado.

Abelle, a bordo da nave dentro da qual agora também se encontravam Pedro e Robel, aproximou-se do terraço. Colocou a nave em ponto-morto, fazendo com que pairasse imóvel sobre um mesmo local, com ajuda das hélices e da propulsão inferior. Pegou seu arco em um dos cantos da cabine de comando, retirou uma flecha de sua aljava.

—Aquela visão de Almatec... me seria sagrada neste momento...

Com o olhar fixo na espada nas mãos de Caldus, deixou soltar os dedos que seguravam a corda e a flecha, que disparou em frente, perfurando o olho do Esqueleto, que era a bainha da espada Neo Masamune e também havia sido capaz de ligar a nave anteriormente.

—Sim! Eu consegui! Haha! - Abelle pulou de alegria. 

A espada Neo Masamune começou a se corroer, como se houvesse sido derrotada. Nenhuma lâmina de espada era capaz de tal fato, mas ironicamente a ponta de uma flecha era o suficiente.

—Não pode ser! - Caldus exaltou, com raiva. O efeito da adaga de Louis parecia ter chegado ao fim, mas as raízes ainda prendiam os pés do rei.

 

 

 


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