Alyssa Elliot O'Jimm

Acordei com o som de um telefone tocando. Acho que eu já deveria ter me acostumado com esse som, já que depois de dois dias que meu nome foi anunciado no Jornal Oficial a única coisa que eu escuto é ele e minha mãe tagarelando coisas sobre vestidos, imprensa, príncipes, um bando de coisas sem sentido sobre a família real e etc. Ela parecia mais animada que eu, mas de verdade eu era a pessoa mais animada com aquilo na minha casa, só não demonstrava tanto. Minha mãe falou comigo sobre os príncipes e sobre a rainha Naomi, sobre como a rainha foi vê-la na estreia de um dos filmes que ela estrelou ao lado do meu pai, sobre como os príncipes foram muito gentis e engraçados nessa ocasião. Quanto mais ela falava sobre eles, mais eu ficava ansiosa para conhecê-los.

Eu sempre tive vários amigos e me dei bem nas escolas que estudei, mas eu queria ter um amor, queria me apaixonar, queria viver tudo aquilo que as minhas amigas me contavam e eu não podia dizer a mesma coisa. Eu não gostava de ser a única a nunca ter se apaixonado ou se envolvido com alguém, era estranho e era uma coisa da qual eu sentia falta. E então a Seleção chegou. Era a minha chance para construir outra história para mim, uma chance de mudar meu futuro e viver uma história de amor de verdade, não como as dos filmes que eu fazia.

Eu corri para o telefone, me levantando da cama num pulo. A luz do sol que entrava pelas janelas era agradável e eu me senti enérgica naquele dia. Era tudo o que eu sempre quis: ser Selecionada para viver um grande romance.

Há dois dias, eu tinha grandes dúvidas se eu poderia ou não entrar na Seleção. Eu era atriz e modelo, sim, mas se minha sorte não fosse das melhores, eu talvez nunca seria sorteada. Era algo importante para mim, uma coisa que eu queria muito, mas com tantas outras meninas em Hansport talvez minha sorte fosse mínima perto da delas.

Tudo ficou melhor quando Alec Darpan revelou meu nome no Jornal Oficial. As outras garotas eram lindas, estava pensando em como todas elas pareciam lindas princesas quando minha foto apareceu na tela e Alec quase gritou meu nome. Só deu tempo de ver a cara do príncipe Matthew, sorridente, e minha mãe jogou todo o salgadinho que eu tinha colocado em vasilhas para o alto. Eu fiquei tão emocionada, era perfeito! Finalmente e teria a chance de me apaixonar e ter alguém apaixonado por mim.

Tirei o telefone do gancho.

– Alô? - disse uma voz conhecida do outro lado. Harriet Oliver, minha melhor amiga, parecia tímida quando falava no telefone, mas ela não era nada assim falando comigo pessoalmente. Harriet era simplesmente a pessoa mais engraçada que eu já vi na minha vida.

– Harrie! - falei. - Por que não ligou pro meu celular?

– Está desligado, inteligente. - Ouvi Harriet rindo do outro lado. - Ei, como foram esses dias? Fiquei sabendo que muita gente foi falar com você, né? Agora é toda famosa, mais do já era antes!

– Você também é famosa, Srta. Harriet Oliver - falei, rindo. Harriet era uma cantora maravilhosa e muito famosa. - Que tal nos encontrarmos? Queria ficar um pouquinho longe de casa, acho que minha mãe está muito focada com a Seleção.

Eu sorria.

– E você? Animada?

– Até demais! Queria tanto isso, Harrie... - me peguei pensando nos príncipes, queria que tudo fosse perfeito enquanto estivesse com eles. - Vou tomar banho e te vejo daqui a pouco na cafeteria.

– Sim, senhora! - respondeu Harriet do outro lado rindo e desligou o telefone.

Suspirei, agora já era fato acordar ainda sonhando com meu futuro na Seleção. Eu estava tão feliz, tão animada! Queria encontrar Harriet, faziam três dias que eu não me encontrava com ela. Desde o dia em que fui Selecionada minha mãe me manteve em casa para que eu não fosse bombardeada de perguntas na rua, ela me amava tanto, sempre me senti privilegiada por tê-la como mãe, na verdade, ela não era minha mãe, era mais que isso, era minha amiga. Meu pai achou uma completa tolice, mas ele sempre achava tudo uma completa tolice, inclusive eu. Não sabia como ele conseguia ser tão grosso, mas fosse o que fosse, eu o perdoava. Agora eu sentia que meu pai estava realmente orgulhoso de mim.

Eu já estava a dois dias respondendo telefonemas e mensagens de pessoas que eu já nem lembrava mais que existiam, tios, tias, primas, tias de segundo, terceiro e quarto grau que vieram me dar os parabéns e apresentar suas filhas para mim. Eu era a estrela mais uma vez. Recebi vários telefonemas de amigos, mensagens encantadoras. Era realmente ótimo estar na Seleção. Os programas de TV falavam de mim e das outras Selecionadas, disseram que eu tinha porte para ser uma princesa, falaram de outras meninas também, a maioria se saiu bem com os críticos, outras nem tanto... Mas eu fui elogiada e isso me deu um pouco de confiança para continuar na disputa.

Eu nunca imaginei que estar na Seleção mudaria tanto a vida das Selecionadas, e era impressionante que todas as pessoas da minha província guardassem meu nome e minha aparência, toda vez que eu era vista em programas as pessoas comentavam nas redes sociais sobre mim, pessoas que eu conhecia, meus vizinhos até. Toda vez que eu ia até o quintal da frente e alguém que passava e me via vinha correndo até mim para me fazer perguntas e tirar fotos. Isso geralmente acontecia quando algum filme novo saía e não durava muito tempo, mas agora as pessoas pareciam me amar de verdade. Eu era a estrela da província, afinal.

Prometi para mim mesma não deixar minha timidez me atrapalhar.

Tomei um banho rápido e me vesti. Gostava de vestido, pelo menos nisso eu me daria bem no palácio. Fiquei sabendo que muitas das Selecionadas não gostavam de vestidos ou coisas parecidas, mas minha mãe disse que elas seriam obrigadas a usá-los. Não liguei para a regra, pois odiava calças, Harriet sempre disse que eu era a coisa mais fofa do mundo e que ela realmente não conseguia me imaginar usando calças.

Saí de casa tentando não acordar meus pais e fui até a cafeteria tentando não chamar muita atenção. Assim que eu entrei na cafeteria ouvi uma pessoa gritar para me receber: Harriet.

– Aí está a princesa de Illéa! - ela me cumprimentou rindo. - Você está linda nesse vestido, quer dar uma voltinha?

Logo, todas as pessoas me olhavam com caretas surpresas. Três delas vieram até mim para pedir uma foto. Agradeci-me mentalmente por não estar horrível, pelo menos de batom e pó eu estava. Quando consegui despistar as pessoas e chegar até minha mesa, meu achocolatado (como Harriet conseguia descobrir exatamente o que eu queria?) já estava frio. Harriet se sentou na minha frente na mesa redonda e pequena para dois.

– Conta tudo! - ela pediu, com uma vozinha divertida.

– Claro que sim! - a imitei. - Bem, eu estou animadíssima, acho que vai ser muito legal! Minha mãe me contou de como foi a Seleção na época dela, parece que ela não pôde participar, pois era muito jovem, mas ela se lembra bem de como a rainha Naomi se comportou. Ela está me dando conselhos sobre como me comportar bem no palácio.

– Ah, meu Deus, você é tão baby e fofinha que com certeza vai ganhar, nem precisa disso! Tem noção? É impossível não se apaixonar por você! - Harriet sorriu e eu não soube dizer se era verdade ou brincadeira. Antes que eu pudesse perguntar, Harriet levantou o indicador como que pedindo um minuto e revirou a bolsa toda até achar seu celular. - Olha isso! Olha bem pra isso!

Ela demorou dois minutos fuçando no celular enquanto eu bebericava meu achocolatado e virou o celular para mim, me entregando-o. Eu peguei-o e olhei para a tela. Um site de fofocas famoso estava aberto no navegador do celular. Eu era a notícia. "Meiga e Delicada: apresentando Alyssa O'Jimm, de Hansport!" Era um post sobre toda minha trajetória no cinema e na vida e sobre a minha personalidade, meu estilo em comemorações e em caminhadas onde eu já fui flagrada. Eu li tudo e Harriet perguntava "em que parte você está?" para dar comentários de vez em quando. O nome de Harriet foi citado como sendo minha melhor amiga (me elogiaram por ter contatos famosos) e aquilo não era a única coisa a ser verdade no texto. Será que os príncipes poderiam me ver naquele site?

Assim que terminei, desci um pouco até poder ver outras notícias. Eles só falavam das princesas, algumas mais, outras menos, eles pareciam focar nas mais famosas como eu e uma garota chamada Dakota Helppenn, de Sota, além de Skyler Rose Young, filha da famosa escritora Rebecca Young. Eu fiquei surpresa por em menos de dois dias o meu nome já estar nos sites mais quentes de fofoca.

– Legal, né? - comentou Harriet, soltando um gritinho logo depois. - Meu nome está aí também, que lindo! Aly, as pessoas estão botando fé em você! Mas parece que tem algumas Selecionadas que não querem ganhar tanto assim...

Harriet tirou o celular da minha mão - antes que eu pudesse dizer qualquer coisa - e colocou em outra página do mesmo site, uma sobre outra Selecionada chamada Lauren Adami: "As castas baixas entraram com tudo na disputa: Lauren Adami, de Denbeigh." E na legenda de uma das fotos dela: "De Seis desleixada direto para Três, mas ainda continua a mesma Seis de sempre, ela tem chances?". Me senti mal por ela, odiava que falassem mal de castas mais baixas.

– Ela bateu em um fotógrafo. - Harriet deixou escapar um riso abafado. - Por que uma pessoa que não quer ganhar se inscreve? Ela nem gosta dos príncipes. Tadinho do Tommy, ter que conviver com pessoas que não o suportam enquanto eu estou bem aqui.

– Você nem se inscreveu. - Eu sorria, tentei desconsiderar tudo o que Harriet disse sobre Lauren, nós éramos vizinhas de província e talvez fossemos juntas para o palácio, talvez eu pudesse falar com ela no avião.

– Claro que não, no auge na carreira quem iria se inscrever para ficar casada com um príncipe pro resto da vida? Mas você vai ganhar, Aly, tem todos os aspectos possíveis para se tornar uma rainha ainda melhor que a Naomi, e olha que ela é perfeita!

– Obrigada pelo apoio, Harrie! - sorri para ela e devolvi o celular assim que memorizei a foto da Lauren, iria falar com ela assim que nos encontrássemos.

Meu celular começou a tocar e eu parei a conversa que comecei com Harriet sobre os príncipes para atendê-lo. Era minha mãe e ela estava uma fera.

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Gina Leour

"Senhorita Gina Leour, de Atlin, Três!" Aquelas palavras ainda faziam minha cabeça rodar. Estava acontecendo, eu ia para a Seleção, para o palácio, conquistar o coração de um dos príncipes, viver como uma Um. Aquilo era perfeito! Eu poderia conhecer toda a família real e o palácio. Que sonho!

As letras sobre a realeza saíam da minha cabeça como um raio de ideias. As palavras nunca foram tão claras na minha mente. Eu fiz três músicas nesses dois dias que se passaram desde que eu ouvi meu nome sair da boca de Alec Darpan. Aquele homem... Ahh, Alec Darpan tinha mesmo falado meu nome? E eu ia para a Seleção! Nossa, isso só podia ser brincadeira! Mais versos continuavam brotando da ponta do lápis e eu só continuava a compor. A melodia vinha na minha cabeça e eu gravava minha voz com o celular enquanto minha mão direita fazia todo o trabalho para escrever a música. É tudo tão fácil quando se está feliz!

Minha mãe abriu a porta do meu quarto enquanto eu cantava a terceira música e eu fiz um sinal para que ela esperasse até que eu acabasse de cantar. Assim que acabei a música parei de gravar e minha mãe bateu palmas. Ela estava tão orgulhosa de mim. Meu pai ficaria muito feliz ao ver o tanto de música que ele poderia apresentar.

– Que música linda, filha, que letra adorável! - minha mãe continuou batendo palmas. - Você está radiante nesses últimos dias, a Seleção fez um bem enorme para você!

Eu diria que a Seleção fez um bem enorme para todos. Tudo a minha volta parecia mais colorido depois do Jornal Oficial, era como se eu tivesse renascido em um mundo totalmente feliz. Ninguém me incomodava mais, até os pássaros pareciam cantar mais alto e melhor. Era tudo tão amável na nova vida de Selecionada.

Há dois dias minha vida mudou completamente e eu diria que para melhor. Era perfeito como tudo o que eu queria aconteceu e eu consegui (no meio de mais um monte de gente) ser sorteada. Era como tentar ganhar aquele sorteio de Páscoa na escola que ninguém que você conhece já ganhou: impossível. Mas tinha virado possível para mim. Era inimaginável pensar que depois de todos os sorteios (sorteios de tudo, até de pacote de bala) que eu participei e nunca ganhei, eu participo do melhor de todos e eu ganho pela primeira vez. Eu estava tão feliz! Com tantas garotas que entregaram o formulário para a Seleção (a minha província foi a que mais enviou formulários e eu não acho que seja por causa dos príncipes, a verdade é que nossa província é uma das mais pobres...), com tantas garotas que morreriam para estar no palácio, eu iria para lá, eu fui sorteada, eu era uma Selecionada.

Eu nunca estive tão orgulhosa de mim mesma desde que uma música minha tocou na rádio umas mil vezes e virou hit do verão dois anos atrás. Dois anos atrás... Foi o ano em que eu iniciei meu primeiro namoro. Não era para meus pais saberem, mas é claro que eles sabiam, eles só não se metiam em nada. A música era sobre estar apaixonada pela primeira vez e todo mundo gostou, ver as pessoas cantando minha música foi mágico, assim como esse momento está sendo. Mas diferente de dois anos atrás, não acredito que isso vá acabar tão rápido e tão sem emoção quanto o meu "romancezinho" acabou.

Agora eu iria recomeçar! Quem era Leo Perrot perto de Matthew e Thomas Lewis? Absolutamente ninguém! Era tempo de novos romances. E se fosse um romance com Matthew, acho que nem seria tão novo assim, pois aos meus treze anos eu já fui apaixonada por ele. Foram três anos sendo apaixonada por um príncipe e agora eu fora Selecionada para ganhar seu coração. Não acho que isso já mudar muita coisa na competição agora que eu cresci, considero meu amor por Matthew Lewis, assim como por Leo Perrot, acabado.

– Obrigada - respondi, com um sorriso. - Eu estou me sentindo inspirada ultimamente!

– Ah, é? Eu imagino! Com tantas coisas acontecendo você tem todo o direito de ficar assim! Sabia que eu nem posso sair de casa que um monte de gente já vem atrás da mãe de uma das Selecionadas? - minha mãe veio até minha escrivaninha (onde eu estava) e parou do meu lado, sua voz dava sinais evidentes de orgulho.

– Nossa, imagina se eu sair de casa, então, vou me afogar no meio de tanta gente! - eu ri.

Minha mãe sempre foi muito aberta a mim por eu não ter muitos irmãos para contar da minha vida. Eu sempre falava com ela sobre as coisas, ela era minha amiga e eu a amava por isso.

– Tem uma pessoa aqui que quer te ver! - Minha mãe sorriu, um sorriso travesso que me fez imaginar quem seria essa pessoa.

– Quem é? - perguntei, curiosa como só eu.

– Vem ver - disse ela.

E meu me levantei da cadeira num pulo para saber de quem ela estava falando. Antes mesmo de ela chegar à porta eu já estava descendo as escadas correndo só de meias. Assim que cheguei à sala pude ver Robert, um dos amigos do meu pai. Robert e Prince eram o casal de amigos do meu pai, eles eram como tios para mim e eram muito ligados à mim. Eu era muito mimada por eles, os amava tanto. Assim que vi Robert corri para lhe dar um abraço.

Robert quase caiu e começou a rir.

– Aqui está a minha princesa - ele falou, gentil e sorrindo. - Como está se sentindo sendo paparicada por tanta gente? Muito diferente de ser paparicada por seus tios favoritos?

– Muito! Com vocês com certeza é melhor - eu sorri. - Estou muito ansiosa, Rob, é como estar no melhor carrossel de emoções de todos os tempos!

– Ei, posso ver que você está ótima com as metáforas - ele riu. - Está criando músicas novas?

Minha mãe se aproximou de nós. Tinha um sorriso no rosto e respirava ofegante.

– Você não pode esperar antes de sair correndo pelas escadas, Gina? - ela riu, Robert acompanhou.

– Essa garota quase me jogou no chão, Lilith! - ele contou, rindo. - Deve estar muito animada mesmo! Ouvi muito dela nos noticiários e programas de TV.

– Sim, Gina estava compondo até, disse que se sente inspirada - minha mãe soltou, cobrindo a boca com a mão, mas me deixando ouvir. Ela tinha um sorriso no rosto. Como eu disse: tudo está feliz ultimamente.

– Ei! Eu não disse isso - menti, ficando corada.

Robert riu da minha cara. Minha mãe perguntou se ele não queria tomar alguma coisa e ele aceitou um café. Eu não os acompanhei. Queria ver o que falavam de mim na televisão. Não sabiam que falavam alguma coisa das Selecionadas, até por que eles nem tinham o que falar de nós. Eu fui até a televisão e fui passando de canal até passar por um canal de notícias e pegá-los falando de outra Selecionada, uma tal de Hanna Dior, de Bankston. Disseram que sua personalidade explosiva poderia afetar seu empenho na Seleção, mas que sua beleza e carisma poderiam salvá-la de uma eliminação feia. Eu fiquei surpresa ao ver que falavam das Selecionadas como se já estivéssemos no palácio há meses.

Falaram de mais duas Selecionadas antes de pularem para mim: "Por outro lado, a beleza de Gina Leour e seu talento com a música e com o público se mostram grandes peixes para essa Seleção. A menina é filha de James e Lilith Leour, eles têm um pequeno estúdio de música em sua província, Atlin, e sua filha compõe músicas para os cantores novatos. A dona do hit do verão "Love More" na voz de Danielle Frence é uma grande candidata para ser a rainha de Illéa." Enquanto ele dizia isso, algumas fotos minhas apareciam na tela, fotos de quando eu era mais nova, fotos que estavam na minha rede social, fotos que tiraram de mim em eventos de música ou em festas que eu fui, eles podiam fazer aquilo?

Gritei minha mãe e ela veio correndo até mim pensando que algo estava errado. Eu nem precisei dizer nada, ela só sentou ao meu lado no sofá e prestou atenção no programa. Robert também veio até a sala e se sentou no sofá ao lado do nosso.

O apresentador continuou: "Mas será que ela tem os requisitos certos para ser rainha? Ser dona de uma voz potente (um vídeo meu cantando em uma apresentação sem o áudio apareceu na tela) e filha de grandes produtores musicais é o bastante para ser rainha? Acho que não, mas ainda podemos conhecer uma parte da vida de Gina Leour que nunca conhecemos durante sua estadia no palácio. Será que ela pode conquistar o coração de algum dos príncipes? Pelo menos já sabemos que se fosse pela voz, ela poderia mesmo ganhar a disputa." O áudio do vídeo foi liberado e eu pude escutar a mim mesma cantando outra música que eu compus, fazia tempo que eu não me ouvia cantar em uma apresentação para o público e eu não estava tão mal, mas com certeza agora estaria melhor.

– Como eles conseguiram essas fotos e vídeos? - perguntei para ninguém em especial. O apresentador continuou a falar de Alyssa O'Jimm, que também tinha uma voz linda e era modelo e atriz.

Minha mãe foi a primeira a dizer alguma coisa:

– Eles devem ter pegado dos arquivos da família, além disso temos seus vídeos e dos outros cantores da nossa empresa no nosso site, não é tão difícil de conseguir suas fotos assim, querida.

– Além disso, agora você é famosa, Gina - explicou Robert. Eu olhei para ele. - Vai ter que aprender a lidar com esse tipo de coisa, sua rede social deve estar bobando nesse momento, a de todas as Selecionadas deve estar. Suas fotos estão em todo lugar, pois todos querem ver o rosto de Gina Leour, a Selecionada de Atlin. Achei que já soubesse...

– E se eles pegarem uma foto horrível minha? Minhas amigas postaram fotos péssimas minhas na semana passada! - resmunguei, meio chateada. Não queria ser esse tipo de famosa.

– Se são suas amigas de verdade elas devem ter apagado - disse minha mãe, não ajudando em nada. - Eu apaguei as fotos antigas e pedi para que os mais chegados apagassem também, como você sabe, também cuidamos da mídia dos nossos cantores e eu fiz o possível para cuidar da sua, filha, mas você não apagou as fotos antigas.

– Achei que não tinha necessidade! - exclamei alto demais. Minha mãe calou a boca na hora e me olhou chateada.

– Se existe uma parte boa em ser Selecionada, também existe uma parte ruim, Gina, se não quer lidar com isso, desista. - Minha mãe engrossou a voz. - Já viu quantas fotos a rainha tem que não devem agradar nada a ela? E quantas mais os príncipes têm? Se quiser virar princesa, se quiser competir pela coroa, acho bom que se costume com isso.

E então ela saiu. Robert também, aposto que minha mãe fez um sinal para que ele fosse junto. Era nesses momentos que eu gostava de ficar sozinha e minha mãe sabia disso. Fiquei com raiva por eles terem invadido minha privacidade desse jeito, mas não ia desistir da coroa, não ia jogar tudo fora, não quando eu já estava ali. Iria até o fim! E minha primeira missão era apagar qualquer foto horrível de mim que estivesse solta na internet!

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Bella Holt

Tentei não ter um ataque enquanto eu assistia ao Jornal Oficial. Eu nunca fiquei tão ansiosa assistindo ao Jornal, nunca nem liguei muito para ele, mas aquele dia era um dia especial. Eles diriam os nomes das Selecionadas. Assim que o rei parou de dizer as notícias militares, como ele sempre fazia, Alec Darpan entrou em cena. Ele tinha mais ou menos a mesma idade dos príncipes e entrevistava a família real sempre, não havia uma entrevista deles que não fosse feita por Alec. Até em outros canais era ele quem entrevistava. Sempre achei aquilo estranho, mas Alec era tão simpático e bonito que eu não ligava para isso, se fosse Alec entrevistando, a entrevista com certeza seria perfeita.

Ao meu redor estavam meus três irmãos, Leonardo, Dean e Logan. Dean era o mais doido de todos, estava sempre fazendo uma piada idiota e engraçada sobre tudo e aquela vez não seria diferente.

– Olha a roupa desse cara - ele zombou, apontando para a TV, onde Alec conversava com o rei. - Ele parece estar vestido com trezentos guardanapos de tão branca que é a roupa dele!

Eu teria rido se eu não estivesse tão nervosa. Eu era muito animada 100% do tempo. Como fui criada com três irmãos eu era diferente das outras meninas, sempre mais alegre e fazendo pegadinhas sem que ninguém me descobrisse, eu sempre fui muito extrovertida, mas naquele momento eu estava nervosa e concentrada. Meu corpo todo suava e minhas mãos estavam cerradas, eu estava quase explodindo meu ursinho de pelúcia de tanto que eu o apertava e eu não conseguia parar de pedir mentalmente para Alec pular para a parte onde ele falava o nome de todas as Selecionadas.

Há alguns dias uma carta da Seleção chegou aqui em casa. Meu pai me mostrou e disse que eu poderia participar se eu quisesse. Meus irmãos não ficaram muito animados, mas minha tia Katrina que morava perto de mim insistiu para que eu enviasse um formulário. Ela disse que seria uma ótima experiência de vida, mesmo se eu não ganhasse, e ela lembrou que todas as meninas que saíram da Seleção viraram ícones ou se casaram com nobres, políticos, artistas famosos, pessoas com dinheiro. Eu não precisava disso, era uma Três, mas imagina ter tudo o que uma menina sempre quis ter: um príncipe, um castelo, uma vida de rainha, alguém que realmente a amasse e alguém para amar. Eu não queria enviar o formulário, mas talvez eu pudesse mesmo ter uma ótima oportunidade de vida.

Eu não estava muito ansiosa antes do Jornal, minha sorte realmente não era uma das melhores e não era como se eu quisesse aquilo mais que a minha vida, eu só acharia demais se eu fosse mesmo para o palácio. Talvez fosse a chance de encontrar alguém especial em um dos príncipes, talvez fosse a chance de me casar e me apaixonar de verdade. Mesmo se eu não ganhasse, eu pelo menos tentaria. Minha mãe iria gostar que eu tentasse...

E ali, assistindo ao Jornal Oficial, eu fiquei feliz por ter enviado do formulário, agradeci mentalmente à minha tia. Pelo menos eu tinha uma chance de ser feliz, assim como todas as garotas que também enviaram os seus formulários. Eu estava muito ansiosa pelo resultado. Minha província foi a terceira que menos enviou formulários, eu teria muito mais chance que alguém que morava em Atlin, a que mais enviou, e só essas estatísticas já me deixavam muito mais feliz.

– Você está bem? - perguntou Logan para mim. Ele estava sentado do meu lado no sofá e bebia refrigerante direto da lata.

Logan era o irmão menos idiota, era o que mais conversava comigo também. Sempre queria saber o que eu estava sentindo, pois ele conheceu mamãe e ele ficou muito abalado depois que ela morreu. Eu nunca a conheci, mas Logan sempre me contava histórias sobre ela. Ele disse que eu deveria crescer com um pedaço da mamãe em mim e por isso ele sempre me falava sobre ela. Ele disse que somos parecidas na personalidade, mas ela era mais delicada e responsável. Eu me acostumei a conversar com Logan de uma maneira que eu nunca conversei com ninguém.

Olhei para as pessoas à minha volta. Nenhuma delas prestava atenção em nós. Eu suspirei.

– Estou muito nervosa, muito mesmo - admiti. Acho que deve ter soado muito mais rápido e embolado do que eu pensei que seria, mas eu estava tão nervosa que mal conseguia falar.

– Também estou nervoso – ele começou -, não é todo dia que você entrega sua irmãzinha para a família real, né? - Ele sorriu, estava tentando me acalmar, como sempre. - Mas você tem que acreditar em si mesma, saiba que te apoiamos na sua escolha e que ficaremos felizes se você for Selecionada, assim como se você virar uma princesa. É sua vida, Bebel, ninguém pode tirar seu direito de ser feliz.

– Senhorita Elicha Vanderwal, Baffin, Seis! - anunciou Alec.

Eu fechei os olhos e procurei a mão de Logan para segurar. A cada nome que Alec pronunciava, eu ficava cada vez mais nervosa. Talvez eu não fosse conseguir.

– Senhorita Mackenzie Ferrazy, de Allens, Seis!

Talvez eu nunca fosse Selecionada ou tivesse a chance de conhecer a família real.

– Senhorita Gina Leour, de Atlin, Três!

Mas minha família me apoiava e era isso o que importava.

– Senhorita Bella Holt, de Calgary, Três!