Elicha Vanderwal

Eu saí cedo do serviço só para ajudar minha mãe com os preparativos para aquela noite. Minha mãe, Anabete, já é idosa e eu me sinto no dever de ajudá-la. Talvez ela goste de fazer o jantar sozinha, um dia me disse que é uma forma de também ajudar minha família, já que só os meus irmãos e eu (tirando apenas Bernardo) sustentávamos a família. Eu fico meio apreensiva quando falo da "família" já que fiquei sabendo que minha mãe me encontrou embrulhada em um lençol fino aos dez anos e isso me abalou bastante até hoje. Mas mesmo assim, amo todos como se fosse minha família, eles cuidaram de mim e me amaram mesmo que eu não fosse filha/irmã de sangue. Sou tremendamente grata a todos eles.

Minha patroa não ligou que eu tenha saído cedo hoje. Era dia de ver as Selecionadas e eu estava tão ansiosa quanto a filha dela, Dianna, que também tinha se inscrito. Tenho quase certeza que a mãe de Dianna me dispensou, pois não queria que uma Seis atrapalhasse a noite da família quando finalmente Dianna poderia ter a chance subir mais três castas e se tornar uma Um. E eu? Eu continuaria servindo sua mãe e seu pai enquanto eles se tornavam cada vez mais ricos.

A diferença entre mim e Dianna era que ela queria estar lá. Eu não, eu odiava a família real, todos eles, não faziam diferença nenhuma na minha vida e viraram a cara quando nossa família estava passando fome. Eu odiei cada segundo em que fui obrigada a tirar uma foto para me inscrever em uma coisa que eu não queria, mas precisava para ajudar minha família. Eu não queria ir para o palácio, mas sem ele minha família iria continuar com os meses em que passávamos fome, precisava do dinheiro e precisava me conter para não ser expulsa no primeiro dia e ficar sem o dinheiro da primeira semana.

Eu era a única filha menina, eles contavam comigo. Mas eu nunca fui estilo delicada, estilo mocinha... Como uma menina que fora criada com meninos desde que nasceu poderia virar uma dama perfeita como a rainha Naomi? Era impossível ganhar, impossível até ser selecionada, mas eu precisava tanto...

Cheguei em casa e fui recebida com palmas e assovios pelo meu irmão Jace. Ele sorriu e pegou a minha mochila para me ajudar. Era uma boa caminhada do meu trabalho para minha casa e ir correndo para chegar mais cedo em casa não foi uma boa escolha.

– Olha quem está aqui - ele começou, rindo -, princesa Vanderwal, o que quer para o jantar? Caviar? Alguma especiaria Italiana?

– Só macarronada e pipoca para assistir ao Jornal Oficial, quero ver bem as idiotas que vão para o palácio para agradar algum daqueles príncipes nojentos - sorri e fui até a cozinha, ignorando as risadas de Jace. - Oi, mãe!

Minha mãe estava preparando potes de pipoca para assistir ao Jornal Oficial, era tanta pipoca que mesmo que a minha família tivesse sete pessoas nós não aguentaríamos comer aquilo tudo. Meus quatro irmãos entraram na cozinha.

– Pensa rápido - disse Leonard, o mais velho, antes de me jogar uma maçã do pomar que tínhamos no pequeno quintal.

Eu peguei-a no ar e dei uma mordida.

– Tenta melhor da próxima, idiota. - Eu ri.

– Ei, já pode começar a maneirar na língua já que vai se tornar uma menininha chata e mimada quando for para o palácio - zoou Valério, o irmão que mais gostava de me deixar irritada. E mais uma vez ele tinha conseguido.

Eu não iria ficar como uma daquelas menininhas que estava com esperanças de ir para o castelo e se apaixonar pelos príncipes. Eu não tinha esperança nem para ser selecionada para ir para o castelo, que dirá para que um dos príncipes me escolhesse para ser a princesa. E eu nunca aceitaria. Não para ser esposa de um deles, não para ser princesa, parte de uma família que sempre virava a cara para aqueles que estavam com problemas, não seria assim. Nunca.

– Não vou ser assim, babaca, vou ser eu mesma, eles que me aguentem - respondi, estava tentando deixar minha voz firme, mas vacilei. Estava mesmo nervosa com aquela Seleção. E se eu fosse mesmo selecionada?

O telefone tocou, deveria ser Joana, minha amiga de infância. Só ela poderia me acalmar naquela hora, Valério me irritou de verdade. Fui até o telefone e o tirei do gancho antes de Bernardo passar pela porta da cozinha. Como ele conseguia ser tão preguiçoso?

– Alô? - perguntou Joana do outro lado da linha.

– Jô! - gritei feliz. - Como você está?

– Bem! Muito nervosa e animada, estou tão feliz, tomara que alguma de nós consiga ser Selecionada. Imagina? Ter dinheiro para comprar a comida que quiser e ir aos restaurantes mais badalados da cidade! Ah, que sonho! Espero que eu consiga, minha família depende de mim...

Joana era casta sete. Eu me odiava por ser uma casta acima dela. Crescemos juntas, estudamos na mesma escola e quando separavam os alunos por casta eu sempre ficava chateada por ela ser da sete, era como se ela fosse pior que eu e isso me deixava triste. No final das contas, ela que deveria ser princesa, ela doce, meiga e delicada e eu sou exatamente o contrário. Ela é uma cópia da rainha Naomi, a única diferença é que trabalha mais que a rainha. Joana merece mais que eu a Seleção, como ela disse, seria um sonho para ela e para a família dela.

Olhei para os lados antes de continuar. Não queria que meus irmãos ouvissem e ficassem me zoando por dizer o que eu estava prestes a dizer.

– Também espero conseguir entrar - admiti. Mesmo que fosse horrível para mim, era bom demais para a minha família, era um sonho mesmo.

Minha mãe me forçou a participar da Seleção para que eu ganhasse o dinheiro. Eu e ela tivemos algumas brigas antes de eu desistir de ser tão chata e egoísta e ir com ela entregar o formulário e tirar a foto. Se eu conseguisse, minha família sobreviveria e eu ficaria feliz por eles. Não podia ariscar a minha família por não gostar da família real, eu tinha que aceitá-los por um tempo. Minha mãe me disse que "precisava muito da minha ajuda", eu quase chorei quando ela disse aquilo, acho que depois daquela frase eu me motivei para tirar a foto e seguir em frente, se eu ganhasse, seria a pessoa mais feliz do mundo enquanto meus pais e meus irmãos estivessem felizes também. Mas tinham tantas meninas bonitas, muito mais bonitas e talentosas que eu. Era quase impossível ganhar... Quase.

– Imagina se fossemos as duas Selecionadas! - Joana deixou um risinho escapar no telefone. Sua risada era tão fofa, com certeza ela seria selecionada. Fiquei feliz por ela, ela realmente merecia. - Seria tão bom! Acho que tenho medo das outras meninas, talvez elas não gostem de ser amigas de... Bem, inimigas.

Eu ri. Seria uma sorte imensa se fossemos as duas Selecionadas. Joana conseguia pensar nas melhores coisas. Ela me fez ter esperanças, talvez nós duas pudéssemos escapar do "inverno da fome" esse ano.

– Seria perfeito! Não quero mesmo passar por tudo isso sozinha! Isso se eu for Selecionada, e olha que não tem chance nenhuma! - eu sorri de lado e o sorriso desapareceu depois. A verdade dói. Talvez eu não fosse mesmo selecionada e minha família passaria fome, perderia a única chance...

– Ei! São sete e cinquenta e oito! Corre pra televisão, Eli! Você não pode perder nada! Tchau, até depois! E boa sorte!

– Okay! Não vou perder! - e suspirei antes de continuar: - Boa sorte para você, sei que vai ser selecionada, não tem como não te escolherem!

– O mesmo pra você, Eli, não se esqueça que você é uma guerreira, merece tanto quanto qualquer uma, talvez até mais, estar no palácio! Não se coloque tão para baixo, você é muito boa em tudo! Te amo! Começou!

Joana soltou um grito e antes que eu pudesse responder que eu não era nada desse jeito o telefone desligou e eu ouvi berros me chamando até a televisão. Reclamei comigo mesma e me forcei a ir até a sala e sentar no sofá até aquilo tudo acabar.

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Skyler Rose Young

Eu estava rindo. Travis, um dos meus amigos, estava caindo o tempo todo tentando fazer uma manobra no skate que eu mostrei para ele no dia anterior. Ele ficou de boca aberta quando eu terminei e desde então ele estava tentando fazer a mesma coisa, só que caiu todas as vezes que tentou.

Era dia de ver as Selecionadas e eu estava andando de skate com meus amigos enquanto deveria estar em casa com a televisão ligada no canal público (o único que qualquer pessoa de Illéa poderia ver desde que tivesse uma televisão), que bonito, Sky, que ótima princesa você seria. A verdade era que eu não ligava de ir para a Seleção, pra mim a Seleção era como um programa para fazer amigos, não queria ficar com um os príncipes para sempre e ter um caso de amor com eles, queria fazer amizades e conhecer o estilo de vida de uma princesa. Aquilo seria magnífico!

Minha mãe com certeza deveria estar me ligando, mas meu celular estava no mudo. Ela tinha mesmo que ficar me lembrando que se eu fosse escolhida nunca mais veria meus amigos do mesmo jeito? Se eu fosse escolhida, queria ficar com eles ao máximo!

– Ei, Três - chamou-me Hector. Ele me chamava de Três por eu ser a segunda com a casta mais alta do nosso grupo, apenas Isaac ganhava de mim com sua casta dois. Hector, Sam e Travis eram Quatros orgulhosos até mais que eu. Hector chegou mais perto de mim com o skate dele e eu parei o skate com o pé. - Ansiosa para virar uma princesa?

Sam, que estava sentado do meu lado observando Travis, começou a prestar atenção na conversa. Isaac veio até nós e começou a andar em círculos ao nosso redor, olhando para mim e aguardando a resposta.

– Não sei - respondi depois de encarar todos duas vezes. - Nem sei se vou ser Selecionada, seria uma sorte das grandes! Imagina ser sorteada no meio de um quintilhão de outros papéis, isso é sorte demais pra mim! - sorri. Os meninos ainda me encaravam.

– Acho que não vai ser um sorteio - falou Isaac. Ele parou o skate e olhou para mim. - Se fosse um sorteio, por que mesmo vocês têm que tirar uma foto? Eles escolhem as mais bonitas, já percebeu como todas as selecionadas são sempre bonitas e quanta gente feia entrega o formulário? É impossível! Eles escolhem as garotas.

– Eles tiram a foto para aparecer no Jornal hoje, eu acho - explicou Sam. - Mas você tem razão, quantidade de pessoas que entregam o formulário e não são lá essas coisas é enorme para as meninas serem todas bonitas.

– Se for mesmo assim ai que não tenho chance mesmo, não sou a mais bonita de todas, nem uma das trinta e cinco mais bonitas, sou normal, sei lá. - Fitei o chão. Se for verdade, eu poderia ser sorteada? Eu não era a mais bonita, nem da minha escola, tinha uma beleza comum. Pelo menos era o que eu achava.

Lembro-me do dia da entrega dos formulários, minha mãe tratou de arrumar o meu cabelo inteiro quando soube que tiraríamos uma foto. Meu cabelo nunca ficou tão arrumado em cinco minutos e estávamos no meio de uma fila. Lembro-me de quando Isaac e Sam passaram por mim na fila depois da sessão beleza e lembro perfeitamente de quando Sam disse que eu estava linda. Eu fiquei tão feliz, ele nunca tinha falado assim comigo, nunca me elogiou de verdade e ali estava eu de cabelo arrumado quando Sam Collins me elogiou. Não havia menina mais sorridente que eu para tirar a foto.

– Que horas começa isso? - perguntou Sam olhando para Hector, que ainda estava em pé na minha frente, apenas eu e Sam estávamos sentados.

– Oito horas - respondi. E tomei um susto. - Ai, merda!

Tirei meu celular do bolso e olhei as horas quando a tela destravou: 7:46 pm. Eu estava atrasada, muito atrasada. Olhei as notificações do celular e havia 7 chamadas perdidas da minha mãe. Além de atrasada eu estava ferrada, totalmente ferrada, seria cordada em pedaços e viraria batata-frita quando chegasse em casa.

– Preciso ir - avisei, me levantando.

– Por quê? - perguntou Travis fazendo uma péssima imitação de carinha triste. Ele pegou o skate na mão e foi até onde estávamos.

– São sete e quarenta e seis! Estou mega atrasada, minha mãe vai me matar!

Hector e Isaac riram. Travis colocou a mão na frente da boca e fez uma cara de surpresa melhor que a minha quando vi as horas. Ele tinha uma irmã que também estava participando da Seleção e precisava estar em casa com ela. Ele gritou um "eu vou estar morto amanhã, vejo vocês no meu funeral", e logo depois saiu correndo para o lado oposto ao que eu iria com o skate debaixo do braço.

– Vejo vocês amanhã - assegurei sorrindo. Peguei meu casaco do chão e o amarrei na cintura. Olhei para os meninos e acenei de leve para depois me virar, colocar meu skate no chão e começar a ganhar velocidade.

De longe ouvi Sam gritar "boa sorte, Sky" e sorri de novo. Quem precisava um príncipe da família real quando eu tinha quatro bem ali na minha frente?

O som das pessoas passando em um segundo do meu lado me dizia que eu estava atrasada. Nunca andei tão rápido com o skate como naquele dia. O que eu diria pra minha mãe? Ela nunca iria me perdoar, ficaria de castigo sem o skate ou sem sair com os meninos! Ou pior! Sem livros por um mês! Ela ia me comer viva! Meu skate parou assim que eu ouvi a voz de Clarisse Manson.

– A garota/menino vai para casa só agora? - Clarisse estava com mais uma amiga na frente da casa dela. Por que eu continuava passando ali? As garotas pareciam conversar um pouco antes de irem para suas casas verem o Jornal Oficial, e quando me viram fizeram questão de me atormentar. - Ah, é, você já sabe que não tem chance nenhuma então nem precisa tentar. Tadinha, nem amigas de verdade têm, só fica com meninos e nunca nem beijou nenhum. Me deixe cinco minutos com Sam Collins e eu mostro pra ele como amigos de verdade fazem– ela riu alto e sua amiga acompanhou.

Eu não tinha coragem para olhar para elas. Era tudo verdade mesmo, não tinha amigas meninas, só meninos, e eu estava feliz com os amigos que tinha. Desde criança era assim. E desde criança elas me atormentavam com isso. Eu sempre fingi que não me incomodava, mas incomodava sim, eu ficava magoada com cada palavra que elas falavam e aquilo acontecia sempre! Eu sempre fui animada, divertida, legal, por que elas faziam aquilo comigo? Só porque me dava melhor com meninos do que com meninas? Aquilo me chateava tanto...

Eu fitei o chão e cerrei os punhos. Não devia perder tempo ali, mas o que ela disse sobre Sam realmente me afetou aquele dia. Era como se todas as garotas pudessem fazê-lo feliz e eu era sempre a que ficava de lado. Por quê? Deixei uma lágrima cair. Não queria que elas me vissem assim. Pisei forte no skate e dei impulso para frente. Era como se o skate lesse meus pensamentos e fosse mais rápido quanto eu queria ir. Cheguei em casa rápido depois daquilo.

Limpei as lágrimas antes de entrar, a última coisa que eu queria era ter que contar pra minha vida desagradável com aquelas meninas e sobre Sam.

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Mackenzie Ferrazy

Saí do trabalho e fui direto para casa. Nem tirei o avental de cozinheira e fui correndo para casa. Ainda eram quatro horas, mas ela ainda queria fazer algo para comer enquanto acompanhavam o Jornal Oficial, hoje finalmente seria o dia em que eles mostrariam as fotos das Selecionadas. Seria uma grande sorte se minha foto aparecesse na tela minúscula da minha TV naquele dia. Eu queria muito ir para o palácio, apostava tudo que não tinha menina que queria mais que eu ir para o palácio!

Minha mãe morreu no parto e depois que meu pai nos deixou quando eu completei 1 ano as coisas ficaram realmente difíceis para minha família. Era estranho pensar em como (em todos os anos) eu tentei ao máximo não ser uma pedra no sapato para os meus irmãos e os ajudar ao máximo. Eu sempre gostei de ajudar minha irmã na cozinha desde pequena e quando fiz quatorze anos lá estava a chance de ajudar de verdade meus irmãos: virar cozinheira. Eu não era a melhor, mas pelo menos era boa no que fazia.

Nem minha irmã Kristen, nem meu irmão Robert estavam em casa. Diferente de mim eles eram mais velhos, os dois tinham 28 anos e eu era a mais novinha, eu adorava ser a mais nova, me sentia amada e mimada pelos dois. Mesmo depois de tudo, nós conseguimos nos virar e fazer da vida como Seis agradável para nós, mesmo sem muitas regalias. A Seleção realmente me ajudaria muito, minha família ia ficar tão orgulhosa de mim se eu ganhasse e ainda teríamos o que comer e como nos sustentar. Seria perfeito. Mas eu não era a favorita de todos, era apenas eu, e talvez eu nem fosse ganhar...

Peguei uma panela e leite condensado que guardávamos para ocasiões especiais. Iria fazer um brigadeiro perfeito para vermos o Jornal como reis! A vontade de ser rainha de verdade e poder comer mais brigadeiro do que só uma lata veio para mim em um segundo. Senti-me chateada por não tanta chance como as outras meninas lindas da província. Se fosse por sorteio, eu teria chances como qualquer outra, mas se fosse pela beleza como muitas pessoas andavam falando por aí, eu talvez não fosse conseguir.

Minha irmã chegou e só me deu tempo para dizer oi e ela respondeu com um aceno rápido e subiu correndo para tomar banho. Ela não gostava de ser servente, mas era o que a casta seis oferecia para ela. Eu poderia dar a vida de Um para todos eles, ou pelo menos o dinheiro que eles precisavam para sobreviver a mais dois ou três dos invernos.

Meu irmão chegou e foi ver o que eu estava colocando no freezer que estava praticamente vazio. Ele sorria. Beijou-me na testa e foi para o quarto dele esperar minha irmã terminar de tomar banho para que ele fosse também, e depois assistiríamos ao Jornal Oficial juntos. Logo, logo ele iria começar e essa tensão acabaria. Finalmente saberíamos quem iriam ser as Selecionadas. Minha barriga se embrulhava de animação só de pensar.

Eram sete horas e eu já estava na frente da televisão. Nós não tínhamos muitos canais, apenas cinco, que eram os canais que podíamos pagar com o dinheiro que sobrava. Eu estava assistindo ao canal público com o prato de brigadeiro. Um filme nacional passava. Ele contava a história sobre uma princesa da Seleção e eu pensei em como até os príncipes estariam ansiosos para aquele momento. Dois príncipes, isso era inédito e perfeito! Se eu não gostasse de um poderia sair com o outro, era a segunda chance para várias garotas, eram as chances sendo dobradas! De qualquer jeito, os dois casariam, então era o dobro de chances de virar uma Um.

– Um... - a palavra apareceu nos meus lábios como mágica.

– Falando sozinha? - minha irmã apareceu na sala.

Tomei um susto e olhei para ela. Kristen sorriu para mim e se sentou do meu lado e pegou com uma das colheres que eu segurava um pedaço do brigadeiro. Ela olhou para a televisão e prestou atenção no filme. Pensei um pouco sobre a Seleção. Como eu queria estar lá... Como queria...

O hino de Illéa começou a tocar a me tirou dos meus pensamentos. Minha irmã começou a gritar o nome de Robert e eu observei o brasão enquanto começava a tremer de ansiedade. Era agora ou nunca. Robert chegou com uma toalha na mão e sem camisa, só com sua calça de moletom, perguntando o que era.

– Ai, burro, tá começando! Vão dizer o nome da Mack! - minha irmã parecia esperançosa e fazia um bom tempo desde que eu tinha a visto ficar desse jeito. Nunca me senti tão importante na vida, se eu não conseguisse todos iam ficar desapontados comigo.

Meu irmão se sentou no sofá ao lado de Kristen e colocou a toalha nos ombros, seu cabelo estava completamente bagunçado. Olhei para o rei Richard, era evidente que ele estava piorando. Há um tempo disseram no Jornal Oficial que ele estava doente e hoje sua pele que sempre fora um pouco dourada (mesmo que ele fosse branco como a neve) estava mais branca que a neve, era impossível olhar para ele e não perceber que ele estava mal. Uma vez ou outra ele tossia rápido. As pessoas o amavam. Era uma pena que ele estivesse assim tão mal, realmente uma pena, o povo de Illéa deveria estar triste ao assistir àquela cena. Era quase impossível achar uma alma viva que não gostasse da monarquia. O rei ajudou quantas pessoas pôde e mesmo que alguns ainda o odeiem por não terem recebido ajuda ou por qualquer motivo não aparente, ele ainda era um homem querido pela maioria.

Assim que o rei acabou de dizer as notícias militares e políticas (coisas como sobre alianças entre países e tal), Alec Darpan entrou em cena. Era ele quem entrevistava a família real e era ele quem iria entrevistar as meninas da Seleção. Seria ótimo ser entrevistada por um cara como Alec, ele era tão bonito e charmoso quanto cada um dos príncipes e parecia ser só um pouco mais velho que os mesmos.

– Boa noite, senhoras e senhores, meninos e meninas! - ele disse para a câmera. Correu para o meio do palco com um microfone dourado que combinada perfeitamente com seu terno branco. - E muito boa noite, majestades e altezas! Ansiosos para o anúncio de hoje?

Alec se aproximou do rei e eu troquei de posição, estava mesmo muito nervosa. Enfiei a colher no prato de brigadeiro e peguei um pouco mais.

– Alec! - o rei cumprimentou gentilmente. - Estou muito ansioso para ver as fotos das meninas, vou ver agora assim como meus filhos, é uma surpresa tanto para eles como para mim!

– Imagino! - comentou Alec. - Até eu quero ver as meninas! Fiquei sabendo que são todas adoráveis e lindas! A rainha já pôde ver alguma das Selecionadas?

– Oh, Alec, ainda não, queria ver junto com os meninos. Quero que seja surpresa e tenho em mente que vai ser uma excelente surpresa!

A rainha usava um vestido cor de mel e esbanjava carisma. Imaginei como ela seria conosco quando nos visse. Queria conhecê-la tanto como queria conhecer os príncipes. Então, Alec se virou para os príncipes:

– E vocês, altezas, ansiosos para verem suas pretendentes? - perguntou Alec sem tanta formalidade na voz agora que falava com os gêmeos dourados. E continuou com a mão na frente da boca, como se fosse dizer um segredo: - Fiquei sabendo que são muito bonitas!

Minha irmã riu baixinho. Ela gostava do príncipe Thomas, e, ao ver que ele mudou de posição e sorriu de canto com o pronunciamento de Alec, seu rosto corou. Se eu me apaixonasse pelo príncipe Thomas ela com certeza ficaria bem chateada. O príncipe Matthew olhou para outro lado rindo e exibindo um sorriso espetacular. Eles pareciam nervosos, mas ainda sim pareciam tão naturais na frente da câmera.

– Acredito que elas são mesmo muito bonitas - começou Matthew, ainda sorrindo -, e estou muito animado pra conhecê-las vai ser ótimo para todos nós a chegada das meninas ao palácio.

Meu irmão riu e comentou "por questões óbvias é claro" com um sorriso muito parecido com o de Matthew. Eu não entendi e voltei minha atenção de volta para a TV. Thomas não disse nada, apenas sorria para a câmera e olhava para o irmão uma vez ou outra. Ele parecia muito mais nervoso que Matthew, ou isso, ou Matthew disfarçava muito bem.

– E como acham que vai ser disputar as mesmas trinta e cinco garotas? - perguntou Alec, ele se sentou em uma cadeira alta na frente do sofá onde os meninos estavam sentados, Thomas à esquerda e Matthew à direita.

– Acho que Matthew e eu vamos continuar os mesmos depois dessa Seleção, não haverá brigas por meninas. Assim como cada menina tem seu jeito, Matthew e eu temos o nosso próprio jeito e o nosso próprio gosto para meninas, duvido muito que iremos nos apaixonar pela mesma pessoa - respondeu Thomas, mais calmo. Ele era tão lindo que tive que me concentrar no que dizia para não me perder no meio.

Alec olhou para Matthew e ele concordou com a cabeça, olhou para o irmão com um sorriso e voltou a olhar para Alec.

– Bem, se não vamos ter nenhuma disputa e todos estão tão ansiosos, acho que podemos começar a apresentar as Selecionadas, não? - ele sorriu e a rainha bateu palmas discretas. - Senhoras e senhores, unam-se às minhas felicitações para as seguintes filhas de Illéa e que comece a Seleção!

Eu me encolhi no sofá quando o brasão de Illéa apareceu na tela. Minha irmã deu um gritinho e meu irmão se ajeitou no sofá, mesmo que não tenha dito nada, pude ver que estava prendendo a respiração.

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Os rostos de Thomas e Matthew Lewis apareceram um em cada canto inferior da tela. Na frente da TV, uma Elicha Vanderwal estava sentada no chão com Valério e Leonard enquanto seus pais e o resto dos irmãos se sentavam no sofá. Ela tremia. Estava realmente tremendo? Depois de tudo estava realmente tremendo? Ela não queria ir para o palácio, a cada piada ridícula que o príncipe Matthew fazia, a cada sorriso idiota que Alec dava, ela sentia mais raiva de todos eles. Então por que ainda tremia?

Elicha tentou controlar sua respiração até um nível aceitável. Era notável que não conseguia respirar sem que todos da sala escutassem, mas todos estavam no mesmo estado. Nenhuma das sete pessoas naquela sala ousou falar uma palavra assim que o Jornal Oficial começou. Elicha queria que seus irmãos dissessem alguma coisa, queria que eles fizessem alguma piada sobre a roupa exageradamente branca de Alec, pois ela mesma não conseguia falar nada, estava completamente travada.

Ela olhou para Thomas, ele mudava de posição constantemente e mordia um canto dos lábios, quase nem dava para perceber, mas ele parecia extremamente nervoso. Ela controlou a respiração e prestou atenção na tela. Era a hora.

– Senhorita Elicha Vanderwal, Baffin, Seis! - anunciou Alec.

A mãe de Elicha se levantou e fez toda a pipoca voar encima de todo mundo, era como se ela voltasse a ter 20 anos novamente. Ela gritou de surpresa e logo todos os quatro irmãos de Elicha se revezavam entre abraçar Elicha (que já estava em pé e completamente pasma), se abraçar, tentar dizer alguma coisa (sem sucesso) e gritar de alívio e surpresa. O telefone tocou e o celular velho de Leonard que ele lutou muito para ter também tocou. Logo o barulho na casa de Elicha se tornou uma coisa normal.

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Skyler Rose Young tentava não ficar animada demais com o anúncio do nome das garotas. Depois do que Clarisse Manson disse ela estava tão desanimada que nem mais botava fé que iria ser selecionada. Ela ficou muito chateada e quando chegou em casa ainda teve que ouvir sermão até que Alec Darpan apareceu na televisão e sua mãe calou a boca, apenas dando pequenos gritinhos e comentários de vem em quando.

Assim que Alec disse que iria anunciar as Selecionadas o coração de Sky começou a bater mais rápido que nunca, ela queria ir para Seleção e descobrir novos amigos, quem sabe se apaixonar e mostrar que também poderia ser uma menina como as outras, mas ao mesmo tempo queria ficar com os amigos e com a mãe. Ela sentiu sua mão suando. Cada músculo do seu corpo de contraía no sofá e sua mãe tinha um sorriso de ponta a ponta, ainda parecia ter esperanças, Sky já não as tinha mais.

Uma menina apareceu na tela, ela era linda, parecia mesmo uma princesa. Estava tão sorridente e esperançosa. Sky pensou que seria por que ela era uma Seis, talvez ela visse a Seleção como uma forma de mudar de vida e conhecer o amor. Sky estava pensando em como seria a vida de uma Seis e analisando a cara de cada um dos príncipes quando a voz de Alec e sua foto na televisão chamaram sua atenção:

– Senhorita Skyler Rose Young, Angeles, Três!

Sua foto estava perfeita, de longe a melhor foto que já tirou. Ela foi tirada no momento exato que se lembrou do elogio de Sam. Sky estava sorrindo de ponta a ponta e com os aqueles olhos de menina sonhadora que ela achou que nunca fosse ter.

A mãe de Sky olhou para ela e começou a gritar e pular. Sky se deu conta do que tinha acontecido e correu para abraçar a mãe, eram tantos sentimentos, tantas coisas acontecendo e mais coisas ainda iriam acontecer. A garota mal teve tempo para respirar e os telefones da casa começaram a tocar: primeiro o celular de Sky (ela teve que criar uma conversa em grupo para todos os amigos que vieram falar com ela), depois os dois telefones da casa e em seguida o celular de sua mãe. E, depois daquela noite, eles não pararam mais.

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A televisão de Mackenzie Ferrazy era pequena e por isso os rostos apareciam com um pedaço cortado. A ideia era ver a cara que os príncipes faziam durante a aparição das fotos das meninas, mas na TV de Mack ela só poderia ver dois terços do rosto de cada um. Duas selecionadas já tinham seus nomes anunciados e ela pode ver o quanto os príncipes ficaram felizes com as fotos das meninas. Mack não parecia com nenhuma daquelas meninas, e se os príncipes não gostassem dela?

Alec estava com tantas fichas na mão que se embolava e Mack se perguntou inúmeras vezes se seu nome e província estavam escritos em alguma daquelas fichas. Ela estava tão ansiosa, sua mão não parava quieta e ela percebeu que prendia a respiração assim como seu irmão. Ela tentou respirar de pouquinho em pouquinho, mas as borboletas em sua barriga deixavam aquilo cada vez mais difícil. E então Alec anunciou:

– Senhorita Mackenzie Ferrazy, Allens, Seis!

Kristen, irmã de Mack, gritou ao lado da garota e seu irmão Robert se levantou e olhou para a irmã sorrindo. Mack não conseguiu aguentar e começou a chorar, com um sorriso largo no rosto. Seu irmão a abraçou e Kristen entrou junto no abraço, começando a pular. Mack não via nada com as lágrimas no rosto e também não ouvia nada com Kristen gritando em seu ouvido. Robert falava coisas que Mackenzie não conseguia entender e a televisão continuava a dizer os nomes das outras Selecionadas. Ela conseguiu, iria entrar para a Seleção, finalmente mudaria de vida.