O domador de almas escrita por Kaique Andrades


Capítulo 2
O início de uma guerra




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Eu sempre caminhei por aí tendo eles como companhia. Você dificilmente ouvirá de mim um nome específico, eu apenas os chamo de eles, é os suficiente. Demorei muito para aprender como me comunicar com eles, como já falei antes, eles não são muito de jogar conversa fora. Acho que esse é o principal motivo da minha boa relação com a maioria deles. Exatamente, a maioria, nem todos são amigáveis. Eu costumo dizer que existem duas classes entre eles, os Libertos e os Condenados. Pessoas que morreram e deveriam ir para o paraíso, mas que, por algum motivo, vieram parar nesse universo paralelo coincidente com o nosso, são os Libertos. Logicamente, pessoas que deveriam ir para o inferno após a morte, mas que acabaram aqui são os Condenados. Eu admito, sou péssimo criando nomes. O mais incrível de tudo isso foi pensar em uma coisa: Por que apenas eu posso vê-los? Por que só depois de salvar seu companheiro e quase morrer, meu bisavô ainda teve que passar por tudo isso? São muitas perguntas e poucas respostas. Ninguém fala nada. Tudo bem, também não sou bom com piadas. Mas há algo em que eu sou realmente bom. Domá-los. Eu considero isso tudo uma maldição, mas ao invés de ficar reclamando por ser amaldiçoado, preferi tirar proveito disso.

Entre os libertos, existem dois deles que são especiais para mim, o Jean e a Py. São dois deles com os quais eu formei uma amizade de verdade. Os dois não parecem se importar muito em cumprir seus objetivos para retornarem ao paraíso, eles se sentem bem aqui. Eles me ensinaram tudo que eu sei sobre eles, como me comunicar, como evitar, como usá-los em meu favor. Jean e Py são os únicos que eu não manipulo. O restante deles? Sempre há alguma troca pela amizade. Geralmente eu os ajudo a cumprirem seus objetivos, ou pelo menos a descobrir qual é esse objetivo.

Os Condenados são sempre durões, orgulhosos e problemáticos. A maioria deles tem um único proposito aqui, impedir o objetivo dos Libertos, para que eles não possam subir ao paraíso. A maioria dos condenados são almas do inferno enviadas por Lúcifer para essa dimensão. O que aprendi com Jean e Py foi simplesmente a manter distância.

Todo esse meu mundo de visões pode parecer muito louco e complicado, mas, no fundo, é como o nosso mundo é, você tem que oferecer algo para receber algo e sempre haverá algum idiota pra te impedir de fazer o que você tem que fazer. Eu sempre pensei dessa forma, mas há algum tempo isso mudou drasticamente. Como sempre, sem eu saber porque ou como, uma guerra começou. Tudo o que fiquei sabendo foi que Lúcifer parecia ter se cansado de enviar almas condenadas ao inferno para essa dimensão. Fiquei sabendo de um Liberto que foi destruído por um demônio... Ah, esqueci de falar, quando eles são destruídos, não se sabe para onde eles vão, eu imagino que eles simplesmente deixam de existir. Mas, voltando ao assunto, eu fiquei sabendo de um Liberto que foi destruído por um demônio. Isso não foi tolerado por Deus e arcanjos foram enviados a nossa dimensão. Tudo piorou quando um dos arcanjos foi capturado. A guerra, ou algo do tipo, foi declarada. Claro, tanto os arcanjos quanto Lúcifer começaram a buscar reforços e adivinhem quem entrou no jogo?

Era uma madrugada como qualquer outra, eu estava de bobeira conversando com a Py em meu quarto enquanto Jean brincava de Poltergeist com minha mãe. Uma luz forte entrou pela janela e uma figura humana apareceu la dentro, era meio difícil identificar se era um homem ou uma mulher, ainda não descobri. No mesmo instante em que a imagem ficou clara, Py se ajoelhou colocando a cabeça ao chão.

– Saia daqui. Falou o ser iluminado.

Py saiu as pressas e os sons que Jean faziam pararam. O ser então continuou falando:

– Meu nome é Natanael, sou um arcanjo, mas isso não importa muito, conheço seu desinteresse pelos assuntos do Criador, mesmo tendo mais motivos para crer que os outros humanos. - Apresentou-se enquanto mexia em algumas miniaturas que estavam em cima da cômoda. Possuía uma voz calma e sua áurea era de luz e paz. - Venho até você para lhe fazer uma oferta.

– Então você é um anjo? - Perguntei.

– Em verdade, sou um arcanjo...

– É, foi isso que eu quis dizer, você entendeu.

– Por favor, um pouco mais de respeito da sua parte tornariam as coisas mais fáceis. - Repreendeu Natanael.

– Ok, desculpe, sem enrolação então. O que eu fiz para receber um arcanjo em minha casa?

– Você não fez nada, mas, como já deve estar sabendo, Lúcifer ultrapassou os limites entre inferno e a dimensão dos homens. Isso coloca em risco toda a Criação. Deus enviou alguns de seus arcanjos para observarem a situação por aqui.

– E então um arcanjo foi capturado. Eu já estava sabendo disso.

– Muito bem. Tal atitude iniciou um estado de alerta e agora estamos buscando reforços entre vocês humanos, afinal, vocês também estão envolvidos. Por isso estou aqui, devido o seu dom...

– Maldição!
O arcanjo fez um som, como se estivesse limpando a garganta e então prosseguiu:

– Como eu dizia, por isso estou aqui, devido seu dom, você pode ser de bastante utilidade para os planos do Criador. Quero que você trabalhe como meu informante. Deus é onipresente, mas arcanjos no mundo dos homens não. Você tem ouvidos bem aguçados, como é possível de se notar pela forma como você está bem informado.

– Obrigado, eu sempre limpo eles bem.

–Isso eu sei que é mentira. - Retrucou Natanael com um sorriso no canto da boca. - E então, o que me diz?

– Não sei se sou o tipo ideal para ser um padre.

– Algumas de suas piadas são completamente desnecessárias. Pense em minha proposta, lembre-se que Lúcifer também virá até você e é bom que se você não escolher o lado do Criador, que pelo menos não escolha lado algum. O anjo caído não costuma cumprir com sua palavra e muito menos ter piedade, nem mesmo daqueles que trabalham com ele.

O arcanjo sumiu após deixar um clarão forte no meu quarto. Jean e Py entraram rapidamente e olharam pela janela assustados. Eu nunca gostei de me envolver em brigas, mas parecia que agora eu havia caído no meio de uma guerra entre anjos e demônios.


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Notas finais do capítulo

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