O domador de almas escrita por Kaique Andrades


Capítulo 1
Monólogo sem fim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/550418/chapter/1

Você já parou para imaginar como é andar pela rua com seus olhos abertos? Pode parecer estranho, mas isso não é nenhum tipo de piada ou algum tipo de pergunta idiota. Estou falando de olhos abertos de uma forma que poucos podem entender. Olhos abertos de uma forma capaz de mostrar um mundo que você jamais imaginou que pudesse existir.

Desde a infância eu presencio cenas estranhas. A medida que eu crescia, tudo se tornou ainda mais conturbado e amedrontador. Sempre pude ver coisas que ninguém via. Sempre pude ver seres invisíveis aos olhos das pessoas ao meu redor. Por muito tempo pensei estar louco. Sempre tentava me esconder, mas eles me encontravam, sempre estavam ali, perto de mim, olhando em meus olhos, parados, em silêncio. Era um silêncio que acalmava, mas os olhares eram perturbadores. Eles sabiam que eu os podia ver.

Antes que você fique confuso ou confusa, deixe-me tentar explicar melhor quem são eles. Espíritos, demônios, encarnações, avatares, entidades ou até fantasmas. Você pode chamá-los como quiser, eles não se importam, nem são muito de conversar. Eles estão por todos os lados, entre nós, vivendo como encarnações ou simplesmente passeando de forma não material. Na verdade, nenhum deles está aqui por acaso. Eles eram pessoas, assim como eu e você. Humanos que deixaram seus corpos e começaram a viver em um universo paralelo, porém, coincidente ao nosso. Isso pode parecer confuso, também era para mim. Eu era apenas uma criamça vendo coisas que ninguém via, isso pode não soar muito estranho, até você descobrir que amigos imaginários são bem mais reais do que você poderia imaginar.

À medida que crescia, fui me acostumando com a presença desses seres. Aprendi a me comunicar, a saber evitar o medo. Aprendi bastante sobre eles e de onde eles vem. Poderia passar dias contando a história completa, mas ela é bem chata. Tudo o que você precisa saber é que poucos no mundo podem ter olhos abertos para esse tipo de realidade e muitos dos poucos que tem esse dom, ou maldição, como você preferir, não conseguem manter a sanidade.

Toda essa história começou há muito tempo, com meu bisavô. Ele lutou na segunda grande guerra e teve uma de suas pernas amputadas após a explosão de uma granada de mão. Ela caiu nos pés de um companheiro de batalha. Meu bisavô, então, o empurrou para dentro de uma trincheira e pulou junto, no entanto não houve tempo suficiente, a granada explodiu bem perto dele. Seu companheiro foi salvo, porém sua perna ficou completamente destruída. Tudo que os médicos puderam fazer foi amputá-la. O amigo do meu bisavô garantiu que se não fosse aquilo tudo, ele não estaria mais vivo. O que importa nessa história toda é que meu bisavô evitou a morte de seu companheiro de guerra.

Após voltar para sua terra natal, meu bisavô se queixava de vultos e sombras estranhas pela casa. Minha bisavó afirmava que eram apenas efeitos da forte medicação que o velho tomava para diminuir a dor. O estranho é que mesmo após a recuperação dos ferimentos e o encerramento do tratamento contra dor, as sombras não pararam, elas apenas tornaram-se mais nítidas e claras. Ele podia ver rostos e corpos, ele podia até sentir os seres e ouvir as vozes deles. Ele cometeu suicídio aos quarenta anos, apenas cinco após a guerra.

Meu bisavô foi o primeiro a experimentar essa maldição. Mais tarde meu avô viria a passar pelo mesmo, porém, começando na infância. A corrente se manteve com minha mãe e agora eu. A maldição nasce por se impedir a morte de alguém. É estranho, sempre achei q se sacrificar por outra pessoa era algo incrível e digno de todas as honrarias possíveis, mas no final das contas, tudo o que meu bisavô conseguiu foi amaldiçoar toda a família.

Eu ando pela rua e vejo coisas que poucos podem ver. Vejo um mundo diferente. Pessoas vivendo vidas medíocres e seres passando por elas de forma indiferente. Como falei antes, todos eles estão aqui por algum motivo. Esse não é o lugar natural deles, mas nem ao menos eles sabem o porque de estarem aqui, eles apenas seguem seus caminhos em busca de seus objetivos. São almas vagando por aí. Muitos podem achar que sou sortudo e muitos podem achar que sou azarado. Eu só acho que se tenho esse dom então devo utilizá-lo de alguma forma.

É estranho falar desse tipo de coisa, porque sei que muitos acham que sou louco ou só mais um alarmista. Nunca quis que acreditassem em mim, menos ainda preciso chamar atenção para conseguir amigos. Eu tenho meus amigos e eles estão em todos os lugares, me acompanhando, me observando e me ensinando. Quem sabe um deles está bem aí, atrás de você.
E então? Você já parou pra imaginar como é andar pela rua com seus olhos abertos?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você gostou, por favor, deixe um comentario. :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O domador de almas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.