Convergente: um novo final escrita por Ginger Bones


Capítulo 6
Capitulo 55


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo recém saído do forno. E a fic entra em reta final O/ boa leitura!



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Capitulo cinquenta e seis
Tris
Nunca pensei que teria uma noite tão divertida assim. Os contatos do Tobias eram basicamente a senhora da cozinha que estava limpando o chão, como ele sabia que teria alguém aqui, eu não sei. E não sei se quero saber. A senhora gentil ficou feliz em nos servir hambúrgueres e bolo, talvez por poder parar de limpar, talvez por ter companhia, mas ela lembra uma avó, uma voz doce e gentil como as pessoas da Amizade.
Depois de nos servir e nos desejar uma boa refeição, ela voltou ao trabalho e nós prometemos que iríamos nos manter praticamente em silêncio para não atrapalha-la. O que não foi difícil, não só porque a comida estava boa-e estava-mas porque não precisávamos mais falar para nos entendermos. É incrível como nossa conexão é tão forte.
Terminamos de comer, mas não saímos imediatamente. Tobias olhou para trás, para onde a senhora limpava as janelas embaçadas do refeitório, e olhou para mim.
–Nossos amigos acertaram de voltarem para Chicago depois de amanhã. Estamos de acordo que não há mais nada que podemos fazer por aqui. -Ele me conta.-Quero saber se também virá ou prefere continuar aqui. Digo, não tem problema, eu vou ficar onde você estiver, mas a decisão é sua é...
–É claro que vou voltar também.-o interrompo.-Pensei que estava na hora de ir embora, mas acho que não há nenhum lugar no mundo como a nossa casa.
–"Não há lugar como a nossa casa."Gostei disso.-responde com um meio sorriso fofo.-Então, vamos para o dormitório agora?
–Espera.-digo antes que ele se levante.-Por que não vamos amanhã?
–Porquê hoje será o julgamento dos rebeldes da Margem e de Nita. .-diz olhando nos meus olhos.
–Como assim?
–Como se você não soubesse!-responde.-Sabemos o que eles fizeram. Sabemos que tentaram te matar, que planejaram aquele ataque, que enganaram e manipularam pessoas que não tinham nada a ver com o movimento deles, que acionaram a bomba que....
–Está tudo bem.-digo pondo minha mão por cima da dele, não precisa continuar. Deve ser extremamente doloroso para ele.
–Não, Tris, não está tudo bem!-responde aumentando sua voz.-Está mal, muito mal! Uriah ainda está naquele hospital, em coma e quase morrendo, já devo ter perdido meu melhor amigo e seu irmão também. E é tudo minha culpa! Merda, é tudo minha culpa!
–Não, Tobias, não é!-levanto minha voz também.-A culpa é dela, okay? É da Nita e dos outros. Você não acionou a bomba, foram eles. Eu já te perdoei. Precisa se perdoar também.
–Não, Tris, não é assim tão fácil....
–É, é sim.-respondo e o beijo. Um beijo calmo, para acalmar seu coração. Odeio ter que vê-lo assim. -Eu já te perdoei. Eu te amo. É isso que importa.
Ele não fala nada, apenas me dá um beijo rápido e segura minha mão.
–Venha.-digo me levantando.-Hora de nos deitarmos.
Ela assente e vamos juntos até os dormitórios. Ao chegarmos lá, ele puxa a cama do lado da sua até ficarem encostadas, para dormimos mais perto um do outro. Depois que me deito, Tobiasme puxa para ele e me abraça. E é assim que eu durmo.
Quando o dia amanhece, nos arrumamos e vamos até o refeitório para tomar o café da manhã. Todos estão lá, com exceção de Zeke e Hanna que não saíram de perto de Uriah desde que chegaram. Fiquei sabendo que ele está começando a responder ao tratamento intensivo o que me deixou feliz e fez com que desse um pouco de esperança para todos nós. Todos os nossos amigos vão voltar para cidade, menos Zeke e Hanna. Estou ansiosa para voltar, ver como está a cidade agora que as facções não existem mais. Eu converso com todos durante o café e tento combinar de ir na tirolesa com Christina, mas Tobias provavelmente não vai me deixar nem tentar. Acho que ele vai ficar o dia inteiro atrás de mim, só para se certificar de que eu vou repousar como aquele médico disse. Alias, Tobias anda muito atento a tudo que faço, só para ter certeza que eu não vou nada perigoso. O que já está ficando um pouco chato. Eu estou bem. Não preciso que alguém me cuide mais. Não mais.
Depois que terminamos de comer, Amah nos leva até a frente do Departamento, onde dois carros nos esperavam para viajarmos até Chicago.
Decidimos nos separar entre os carros. Cara, Caleb, Peter, George e Amah vão em um carro, enquanto eu, Tobias, Christina e Mathew vamos no outro. Mathew, assim como nós, nunca saiu do lugar de onde viveu sua vida inteira. No seu caso, o Departamento, e ele sempre quis ir até a cidade que ele assistia pela sala de controle para vê-la ao vivo e achou que está seria uma ótima oportunidade para fazer isso.
Ao chegarmos em frente ao portão, vemos Johanna e alguns membros da Amizade parados nos esperando. Paramos os carros e esperamos ela se aproximar de nós. Tobias que dirigia abaixa a janela da direção e Johanna nos olha sorrindo.
–Bem vindos de volta, amigos.-fala gesticulando suas mãos para indicar a cidade a nossa frente.-As coisas mudaram, mas vocês fazem parte da cidade.
Agradecemos pela gentileza de ter vindo nos receber e esperamos ela se afastar para continuarmos nosso caminho. Estacionamos o prédio em frente Eixo para nos despedirmos. Agora que voltamos, é cada um por si. Amah e George são os únicos que irão voltar ao Departamento, um em cada carro. Escolhemos o centro por ser mais perto de tudo, já que temos coisas a fazer hoje. Chris e Mathew se encaminham para o novo prédio do governo, não mais onde era antes. Minha amiga vai trabalhar como uma intermediária e ajudar as pessoas da Margem quando começarem a se mudar para cá, já que os muros que cercam nossa cidade logo não existirão mais, sendo que Mathew vai ajuda-la com as leis que ela não entende ainda. Não sei porque, mas tenho a sensação de que alguma coisa está acontecendo entre eles. Isso me alegra, sei que ela ainda sofre por Will, mas não pode durar para sempre. Caleb e Cara também já arrumaram o que fazer, trabalhando na área de pesquisas cientificas, como os eruditos que são. Eu decidi que está na hora de perdoar meu irmão por tudo que ele fez, ficar guardando rancor não é o que quero fazer pelo resto da minha vida. Meus pais iriam querer que eu me aproximasse dele de novo, já que agora ele é minha única família. De qualquer forma, nunca achei que o ser humano foi feito para odiar. O perdão liberta a alma.
–Vou até o Palácio Governamental.-diz Tobias me tirando dos meus devaneios.-Tenho uma reunião com Johanna agora. Ela quer que eu trabalhe como assistente dela. Quer vir comigo?
–Não, mas obrigada por perguntar.-respondo.-Vou dar uma volta, ver como estão as coisas agora. Nos encontramos depois. Tudo bem?
–É claro.-fala.-Tem certeza que vai ficar bem sozinha?
–Vou.Ficarei bem sozinha.-Digo me afastando.-Boa sorte na sua reunião.
E me viro. Poderia usar o ônibus ou até mesmo pegar carona com alguém, mas prefiro caminhar. Não menti quando disse que iria ver como está a cidade, só que não tudo. Tenho algo especifico em mente.
Sei o caminho como se fosse a palma da minha mão, tantas foram as vezes que andei caminhando por essas ruas quando ainda pertencia à Abnegação. Decido ir pelo caminho mais longo, o que eu fazia quando tinha tempo ao voltar da escola. Passando pelas ruas rachadas onde viviam os sem-facção e pulando as rachaduras como fazia quando tinha 12 anos. Essa região está toda vazia, é claro. Agora que as facções acabaram, vão transformar os antigos setores de cada facção em "monumentos históricos", seja lá o que isso for, não podem demolir, mas também não podemos voltar a morar neles. Vão servir apenas como lembrança do que foram as facções para as novas gerações e aqueles que eram novos demais para se lembrarem delas no futuro. Mesmo assim, quis vir agora, já que em breve minha antiga vida e o que restou dela vai virar um lugar de visitação e eu quero aproveitar a minha única oportunidade de voltar aqui e ver tudo antes que comecem as reformas.
Eu não tive tempo de lamentar minhas pernas nesses últimos meses, levando em conta tudo que aconteceu, mas agora que acabou eu sei que posso chorar pelos meus pais enquanto caminho pelas ruas da sede da Abnegação. Não gosto de demonstrar fraquezas em publico, mas só tem eu aqui. Eu e as lembranças da minha infância. Ao virar a esquiva da minha antiga casa, é quase como se eu ainda pudesse ver minha versão pequena pulando corda no jardim de casa com meu irmão e Susan, minha vizinha, e meus pais sentados em cadeiras na porta da minha casa, sorrindo ao ver suas crianças se divertirem. Mas agora eles não estão aqui, não tenho notícias de Susan há semanas e não sei o que pode ter acontecido com os abnegados que sobreviveram ao Ataque da Abnegação. Sinto um calafrio pelo que me lembra ao girar a maçaneta da minha casa e ela estar aberta. Nem sequer precisai fazer grande esforço, já que a porta abriu ao meu mínimo toque. Respiro fundo e tomo coragem para entrar nessa casa desde o dia da Cerimonia de Escolha. O dia que mudou minha vida para sempre. Naquele dia nunca pensei que deixar meu sangue cair nas brasas da Audácia seria a escolha mais arriscada que poderia ter feito. A guerra veio, mas não acho que teria mudado de idéia se me fosse dada a opção de voltar àquela tarde. Tudo que eu fiz, todos que eu conheci, todos que perdi contribuíram para tornar possível quem eu sou agora e não mudaria nada na minha história. Precisei perder para entender o valor da vida.
Minha casa continua exatamente como eu lembro, exceto pelo silencio e a escuridão desse lugar. Por algum motivo, mesmo depois de todo esse tempo, as coisas continuam onde deviam estar. A mesa arrumada com as amadas flores da minha mãe em cima dela, o único luxo que ela se permitia ter pois as flores que ela colhia ficavam no nosso jardim. Em homenagem a minha mãe e a tudo que ela foi para mim, retiro as folhas secas do vaso e as ponho fora, tirando da gaveta uma tesoura de ponta afiada e vou até o jardim colher novas flores. Vivas e velas como me lembro. Assim que as arrumo em um buquê, as boto com delicadeza no vaso e o ponho de volta no centro da mesa, da mesma forma que ela fazia todas as semanas. E depois guardo a tesoura de volta na gaveta, já que ninguém irá entrar aqui por um bom tempo, é o mínimo que poderia ser feito. Depois de ter arrumado tudo ali em baixo e lavado minhas mãos decido subir para ver como está o segundo andar.
Primeiro vou para o meu quarto, todo aberto como sempre esteve. Tento não demorar muito lá, não há muito o que ver aqui. Lembro desse lugar perfeitamente e ele não parece ser tocado desde que fui embora, meses atrás. Depois que dou uma volta pelo meu antigo quarto, tocando em tudo por onde passo, fecho a porta atrás de mim e vou até o quarto do meus pais. O qual eu nunca mais entrei desde que tinha cinco anos e ia até o quarto deles no meio da noite com medo da tempestade ou de pesadelos e dormia entre eles. Me surpreende a limpeza e organização daquele cômodo. A cama arrumada com os cobertores cinzas, a prateleira com livros e manuais de governo do meu pai, a cômoda bem arrumada da minha mãe. Não venho aqui há anos, então acho que não haverá problemas em mexer nas gavetas deles. Não estão mais aqui para me repreender por isso. O criado-mudo da minha mãe é exatamente como o meu, exceto pela gaveta que eu nunca havia notado. Abro a gaveta, sem motivo aparente, pensei que estaria vazio. Mas não estava. Uma pequena caixinha de jóias de madeira escura rolou até a ponta da gaveta quando a abri. Não sei o que é que tem nela, já que nunca a vi, mas minha curiosidade fala mais alto e fico com vontade de abri-la. E é o que eu faço. Tento abrir, mas está trancada. Vejo se há alguma chave para que possa abri-la em algum lugar, até notar que não há cadeado que a tranque. É uma senha, de quatro dígitos, aparentemente. Todos números, mas poderiam ser qualquer um. Milhões de combinações e poderia passar horas aqui e nunca acharia a resposta. -Vamos, Beatrice. Pense.-digo para mim mesma.-Você tirou Erudição, consegue pensar logicamente.
O que minha mãe poderia usar como senha? Quer dizer, o simples fato de ter essa caixa já é contras as regras da facção e duvido que meu pai não tenha discutido com ela caso soubesse da existência disso. Ele foi sempre tão a favor de seguir as ordens...
Decido arriscar minha opções. A idade dos meus pais? Não. O ano em que ela fez sua cerimonia de escolha? Não. Um tipo de anagrama, quem sabe, o nome de alguém? Já havia estudado isso em uma aula de matemática há anos atrás. Transformar letras em números para formar códigos. O nome "Prior" quem sabe? Não. Caleb? Também não. Tris? Também não. Agora só me resta uma escolha. Se não for essa, não tenho mesmo como saber qual poderia ser. Minha data de nascimento. Tento. E ouço o clique da fechadura se abrindo. Finalmente!
Com todo cuidado do mundo, abro a caixinha. Não há nada dentro dela além de um pequeno colar dourado e brilhante, com um pingente todo dourado em formato de uma estrela de cinco pontas em contorno, preenchida por uma pedra branca e brilhante como nada que eu tenha visto antes. É linda, delicada, simples e nada parecido com que a abnegação permitiria de se ter. Sorrio sentada na cama dos meus pais olhando aquele belo pingente. Minha mãe sempre foi tão suavemente rebelde, nunca nem sequer havia percebido. Me doe saber que nunca mais a verei, mas decido levar esse colar como uma lembrança dela. Como se fosse uma herança. A ultima coisa concreta para que possa me lembrar dela. Fecho a caixinha e a recoloco na gaveta, fechando-a em seguida. Vou até o corredor e abro a portinha de madeira que escondia o único espelho em toda casa. O abro e o uso para poder colocar o colar em mim. Depois que faço isso, fico um tempo me olhando no espelho, com uma das mãos por cima do pingente gelado em contraste com a minha pele. Depois fecho o espelho e o tranco de novo. Assim que faço isso, escuto passos na grama lá fora? Quem mais estaria aqui além de mim? Desço as escadas pulando os degraus para ser mais rápida, mal cheguei ao ultimo degrau e vejo a porta se abrir e Tobias entrar sorrindo na minha direção. É claro.
–Sabia que estaria aqui.-diz se aproximando de mim e pegando minha mão.-Venha. Tenho algo para te mostrar.
–O que?-pergunto curiosa.
–Vai ter que vir comigo se quiser saber.
Sorrio com sua resposta. Esse Tobias brincalhão é o meu favorito.
Ao cruzarmos a porta e irmos em direção à rua o sinto me segurar e parar no meio do caminho. Confusa, olho para ele e entendo. Ele está olhando para a casa ao lado da minha, a sua casa, e sei exatamente o que ele está pensando. A sua infância horrível passada naquela casa. O faço se virar para mim e olhar nos meus olhos, pedindo silenciosamente que ele seguisse em frente, como eu estou fazendo. Parece que ele entende, porque assente em minha direção e me abraça. Ali, no meio da rua. Mas não me importo. Depois que nos separamos, seguro suas mãos novamente e o vejo olhar para trás uma ultima vez antes de seguirmos caminhando. Eu também faço isso. Um adeus silencioso ao nosso passado. E um abraço ao nosso futuro. A nossa nova vida.


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