Dalila escrita por Nathalia S


Capítulo 4
3- Dança das emoções


Notas iniciais do capítulo

Olá meu povo,
não sei se alguém ainda lê essa história, mas...depois de muito tempo eu decidi voltar e agora pretendo conclui-la. Estive sobrecarregada com faculdade, estágio, estudar para concursos e sem inspiração...mas agora ela parece ter voltado =D

Boa leitura ;*



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      3- Dança das emoções

                        “Alguma vez você já recebeu um toque tão suave que teve vontade de chorar? Alguma vez você já convidou um estranho para entrar?”

— Pink.          

            A sexta-feira chegou e encontrou uma jovem passando o dia sonolenta trancada em um estúdio de dança treinando a coreografia para a apresentação que se aproximava cada vez mais. Dalila sentia seu corpo dolorido, sua cabeça doía e a vontade de pedir para dona Lourdes gritar menos aumentava a cada segundo, mas sabia que se o fizesse a professora ficaria muito zangada e ela tinha consciência de que deixar a professora zangada não era nada bom. Todos os dias durante aquela semana – com exceção da segunda-feira por causa do pequeno “acidente” - Dalila ensaiara arduamente. Todo o cansaço físico somado aos gritos da professora e a pressão que estava sofrendo em casa no poucos segundos que via seus pais estavam deixando a jovem com uma vontade imensa de fugir. Tudo o que ela queria era poder ser uma adolescente mais normal, que saia para se divertir com as amigas ou com o namorado, que bebia as vezes, que podia comer todas as comidas gordurosas que quisesse e que poderia estudar em qualquer universidade na sua própria cidade -ou, ao menos,  no seu próprio país. Mas ela não se encaixava nessas categorias. Não tinha amigas, nem namorado, não bebia porque não gostava, porque não tinha companhia e porque tinha medo de ser repreendida, não podia comer tudo o que tivesse vontade e teria de se mudar de país para fazer a faculdade. Muitos diriam que ela reclamava de barriga cheia e a garota sabia daquilo, mas, afinal, “muitos” não viviam sua vida e não sabiam o quanto ela queria poder ser mais livre.

            A mulher, que apesar de já contar com 42 anos não demonstrava sua idade, caminhou de forma elegante, com a postura digna de uma rainha, até o rádio localizado no extremo sul da sala coberta de espelhos. Dona Lourdes sempre se orgulhara de sua aparência, tanto quanto do seu trabalho. Seus cabelos pintados cuidadosamente de preto, desciam em cachos bem arrumados por suas costas, mas no momento estava presos em um coque bem apertado. Os olhos azuis faiscavam e o sorriso podia ser assustador ou encantador -dependendo a quem ela o dirigia. Esperou quatro segundos até acabar a música e então apertou o “stop”. Dalila respirou aliviada, aquilo significava que estava na hora de ir embora.

            -Muito bem, queridos! Estavam maravilhosos hoje. - Falou a mulher, arrancando sorrisos de alívio de todos os presentes.  - Como eu já havia comentado, não teremos ensaio amanhã, pois preciso repassar com a orquestra e os cantores de nossa apresentação, mas recuperaremos no domingo!

            Todos assentiram e começaram a retirar-se da sala em silêncio. Dalila foi uma das últimas a sair, como quase sempre ocorria. Nas vezes em que ela saíra rápido demais a professora dissera que aquilo era infantil e parecia que ela não gostava da dança. Não querendo dar aquela impressão novamente, a jovem sempre ficava entre as últimas pessoas a retirarem-se do ambiente.

            Assim que chegou ao vestuário a jovem trocou suas roupas. Naquela sexta não precisaria tomar banho ali, pois iria direto para casa. Pegou sua bolsa e saiu a passos largos do prédio, encontrando o táxi que chamara esperando-a na porta. Entrou no mesmo, passando seu endereço e acomodou-se confortavelmente no veículo, colocando seus fones e pegando seu celular em seguida. Enquanto passava pelas várias estações de rádio em busca de algo novo e bom para ouvir, pegou-se pensando, pela trigésima vez naquela semana, em Tomás. Ao contrário do que ela imaginara – e esperara, ele não ligara para cobrar seu almoço. Nem lhe mandara mais nenhuma mensagem. Remoeu aqueles pensamentos por metade do caminho, até que tomou uma decisão. Se queria tanto vê-lo, por que não tomar a iniciativa? Afinal não era ela que sempre se identificara como feminista? Para que então esperar que o homem desse o primeiro passo? Decidida, tirou o fone e procurou o número do “desconhecido” em sua agenda, discando em seguida. Precisava encerrar a ligação antes de chegar em casa, afinal não queria correr o risco de que seus pais a ouvissem e começassem um questionamento irritante. 

            No segundo toque a garota começa a morder o dedo nervosa. E se ele não atendesse? Mas no quarto toque ele alivia seu sofrimento, atendendo com um simples, mas reconfortante “alô”.

            -Oi, Tomás. Não sei se você se lembra de mim, mas aqui é a Dalila! - Diz a jovem, rezando para que sim, ele se lembrasse.

            —Olá, Dalila! Claro que me lembro de você, não teria como esquecer. Quero dizer, não é todo dia que “atropelo” uma pessoa. 

            Dalila solta uma risada tímida, a qual ele retribui.

            -Desculpa estar te incomodando, - Fala a garota, planejando ir direto ao ponto. - mas não terei de ensaiar amanhã e estava pensando se você não gostaria que eu pagasse seu almoço?! Sabe, não gosto de estender minhas dívidas!

            Embora mantivesse um tom ligeiramente brincalhão, a jovem estava ansiosa pela resposta. Tomás fez um segundo de silêncio no outro lado da linha, planejava ligar para a garota no dia seguinte, mas não pensou que ela fosse lhe ligar.

            —É claro que eu gostaria, não é todo dia que alguém me faz uma proposta dessa!—Responde ele, fazendo com que a garota relaxe instantaneamente. - Onde? E que horas?

            -Tem um ótimo restaurante perto da praça central, podemos nos encontrar na praça as 11h30min, o que acha?

            —Tenho que trabalhar amanhã e meu intervalo começa a essa hora, tudo bem se eu chegar uns quinze minutos atrasado?

            -Por mim pode ficar tranquilo, estarei lhe esperando! - Afirmou Dalila, bem no instante em que entravam na rua em que ela mora.

            —Tudo bem, até mais! 

            -Até mais! - Despediu-se ela e finalizou a ligação, no instante em que o táxi parava em frente à sua casa. Pagou o taxista, desejou-lhe um boa noite e saiu do veículo com um sorriso gigantesco. Sua dose de coragem valera a pena.

            Não conseguindo se conter, assim que fechou o portão deu uma pirueta. Não sabia exatamente porque estava tão feliz. Se era por arriscar-se, por sentir aquela adrenalina, se era porque realmente gostara da presença do rapaz ou porque via nele a possibilidade de não precisar passar um sábado sozinha. Só sabia que não via a hora de chegar o almoço do dia seguinte.

                                               ----xx----

            Todos que passavam pela praça central se deparavam com uma linda jovem de sobretudo branco, parada impaciente, olhando para seu relógio de pulso a cada 5 minutos e batendo o pé no chão.

Dalila acordara animada. Saltou da cama assim que seu despertador tocou, o que era algo muito raro. A primeira coisa que fez, após se espreguiçar, foi seus alongamentos matinais. Desde que começara na dança sempre os fazia, tanto que já eram algo praticamente automático. Após foi correndo para o chuveiro e se permitiu aquecer por longos minutos, enquanto cantarolava canções aleatórias.

            Agora estava esperando Tomás. Já era quase meio dia e o jovem homem ainda não havia chegado, o que a fazia pensar que talvez ele houvesse esquecido ou não estivesse a fim de almoçar com uma garota mimada. Sim, ela tinha consciência de que a maioria das pessoas a chamava assim.

            -Desculpe o atraso! – Falou uma voz máscula, gostosa de ouvir, pegando a jovem, que olhava para o lado oposto, de surpresa.

            -Oh, não se desculpe, você falou que iria se atrasar. – Respondeu Dalila, dando um sorriso a seu “atropelador”. Ela admitia cada vez mais para si que ele era lindo, ainda mais quando estava sorrindo daquela forma para ela. – Mas você deve estar com fome, afinal disse que trabalharia hoje pela manhã...

            -Na verdade, admito que estou. – Disse ele, dando uma breve risada que foi correspondida.

            -Então vamos indo, o restaurante é aqui perto e é magnífico.- Falou Dalila.

            O almoço transcorreu de forma tranquila. Ambos ainda não se conheciam, praticamente, o que fez com que alguns minutos de silencia reinasse em sua mesa, porém não era constrangedor, para Dalila aqueles silêncios eram mais agradáveis que suas conversas em família. E toda vez que pensava em família pensava na vaga que tinha em uma universidade do outro lado do mundo e se perguntava se comentava algo com o quase estranho sentado à sua frente, mas decidiu tentar esquecer aquilo e falar sobre não era uma forma de esquecer.

            -Você tem de trabalhar hoje à tarde? – Perguntou a jovem enquanto saiam do restaurante, plenamente satisfeitos com a refeição.

            -Na verdade tenho sim, preciso estar de volta em 15 minutos. Mas é tempo suficiente para lhe acompanhar até o ponto de táxi. – Respondeu ele, com um sorriso de lado.

            -Obrigada! Eu aceito.

            -E como estão indo seus ensaios? – Perguntou ele após alguns passos.

            -Estão bons. Mas eu não ando mais empolgada com a dança. Talvez porque o futuro esteja chegando. – Respondeu ela, com o olhar distante.

            -O futuro está chegando? –Perguntou ele, erguendo uma sobrancelha.

            -É, tipo...as coisas que pareciam distantes agora estão perto, como a faculdade. E eu não sei se estou pronta, nem se desejo o futuro que está preparado para mim.- Completou Dalila, enquanto parava ao lado do táxi que estava disponível, se virando para o homem a sua frente. – Mas, e você? Alguma super revelação sobre seu futuro que eu deva saber? –Perguntou ela, com um lindo sorriso dele que foi impossível ele não retribuir.

            -Na verdade a minha “super revelação” tem uma conexão mais forte com meu passado do que com meu futuro. – Respondeu ele, diminuindo um pouco o sorriso. A garota percebeu que ele ficou hesitante e meio nervoso.

            -O que quer dizer? – Perguntou a jovem, que tinha ficado com a curiosidade aguçada.

            Tomás estava prestes a contar toda sua história para ela quando seu telefone tocou, olhando o visor ele viu se tratar de seu chefe. Não atendeu a ligação, mas entendeu o que ela significava.

            -É meu chefe. – Falou ele, enquanto o telefone tocava insistentemente. – Tenho de voltar ao serviço agora.

            -Tudo bem. Mas eu ainda quero saber o que é que você esconde, mocinho. – Falou ela, fechando de leve os olhos, em tentativa de fazer uma expressão ameaçadora. Em resposta, ele riu.

            -Pode ter certeza que na próxima eu lhe contarei. – Respondeu ele, se aproximando e deixando um suave beijo na bochecha na jovem, que corou, mesmo tentando não reagir assim, e lhe devolveu o beijo, abrindo a porta do táxi e entrando.

            -Nos vemos outro dia?- Perguntou ele, como um adolescente. Havia adorado a presença dela, não podia negar. Há tempo não se sentia tão à vontade com alguém.

            -Claro que sim, agora que fiquei curiosa, você não vai se livrar de mim tão fácil. – Terminou ela, dando uma piscadela e arrancando uma risada dele, fechando a porta em seguida e passando seu endereço para o taxista.

                                                           ----xx----

            Dalila sentia o suor escorrendo por suas costas. Os músculos de suas pernas estavam doloridos. Mas ela não parava. Precisava extravasar todo aquele sentimento que estava sentindo.

            O dia com Tomás havia sido ótimo, tranquilo. Mas, ao chegar em casa, ela se lembrou de sua realidade, que não era nada parecida com o que fora seu dia. Tentara voltar a espairecer vendo séries, depois correndo na esteira, mas nada havia funcionado. Por fim apelara para sua antiga companheira, a dança.

            Fazia tempo que não dançava com tanto vigor, mas queria suar, queria cair e levantar. Queria ter a sensação de que tudo o que havia de ruim que tinha em sua vida teria ido embora ao último passo da coreografia.

            O frio que antes havia em seu corpo havia dado espaço para um calor forte. A janela estava com os vidros fechados, mas a cortina aberta mostrava que chovia fortemente na rua, com direito a alguns raios. A jovem sempre temia tempestades, mas naquele momento sentia-se parte da mesma, como se as duas se entendessem. Sua dança transbordava emoções, todas possíveis. E ela só queria não sentir mais nada.


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Notas finais do capítulo

Comentem pessoal. Sem comentários fica dificil escrever. ;)
Até a próxima!



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