Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 5
Mamãe...


Notas iniciais do capítulo

Kaos se sente um pouco nostálgica.



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Ali estávamos eu e Jack Sparrow, ele deitado na grama e eu por cima dele, um olhando os lábios do outro, pude sentir o coração dele na mão em que eu apoiava em seu peito e o meu batia desesperadamente.

– Temos que voltar para o Pérola - eu disse com dificuldade e voltei a olhar para os olhos dele.

– Ainda não entendi porque se recusa tanto.

– Eu não me recuso - eu disse um pouco histérico demais.

– Claro que sim. Seu coração está batendo tão forte que chega a atrapalhar os batimentos do meu - ele sorriu.

Fiquei com vergonha e fiz força para sair de cima dele e me colocar de pé. Ajeitei meu cabelo.

– Temos que ir Jack - eu disse de costas pra ele.

– Só acho que você não devia lutar contra sua vontade.

– Não é vontade.. é só... - o que era?

– Seu corpo pedindo para me beijar - ele se aproximou de mim e de novo meu coração acelerou.

– Não - eu o empurrei. - Isso é só um efeito de estar muito tempo com você.

– Bom, pelos meus cálculos, você passou muito mais tempo com o Will e pelo que você me disse, seu coração não dispara por ele.

– Jack, temos que sair daqui senão vamos morrer. Vamos nos focar nisso, okay?

– Sim Capitã - ele sorriu e começou a caminhar.

Suspirei pesadamente e comecei a caminhar logo atrás dele. Eu não estava apaixonada por Jack, era apenas uma necessidade física e eu não ia ceder aos desejos da minha vontade física, nunca precisei fazer isso para nada na minha vida. Então de repente, ouvimos um grande tumulto.

– Corre! - Jack gritou e eu fui logo atrás dele. - Hey! Ele gritou quando chegamos na praia.

Os homens nos olharam com animação e eu e Jack continuamos a correr o mais rápido que podíamos. E então o monte de nativos que estavam atrás da gente, apareceram na praia. Ai não, ai não, minhas pernas parecem que estão se tornando chumbo. Corre Kay, corre, mais um pouco...

Os homens começaram a subir no navio e preparar para colocá-lo ao mar.

– Mas e a Capitana? - ouvi Rato gritar.

– Vai! Vai! - gritei e apertei mais o passo, conseguindo passar de Jack.

Enquanto eles empurravam o navio para o mar, Rato ficou na escale de baixo, preparado para pegar minha mão. Entrei na água espirrando-a para todos os lados, dei um salto e peguei a mão de Rato. Depois fui colocando os pés na escale e segurando com minhas próprias mãos enquanto a água batia. Comecei a subir para o convés e a escale balançou, era Jack se pendurando nela enquanto íamos em direção ao mar e levávamos muitos tapas das ondas.

– Infelizmente queridos - Jack começou o discurso -, esse dia será lembrado como o dia em que vocês quase... - uma outra onda bateu em nós e eu comecei a piscar muito. E no fundo agradeci a onda por calá-lo em seu discurso. Eu ri. - ... o Capitão Jack Sparrow - ele disse baixo e sem animação.

Finalmente cheguei ao convés e Kyle me ajudou a ficar de pé.

– Encontrei isso durante a fuga - ele disse me mostrando meu chapéu.

– Obrigada! - eu disse animada o abraçando.

Coloquei o meu chapéu com um sorriso enorme no rosto. Jack chegou ao convés.

– Vamos nos distanciar dessa ilha e seguir para alto-mar - disse o Sr. Gibbs para Jack.

– Sim para o primeiro e sim para o segundo, mas só se ficarmos perto do raso o máximo possível - disse Jack com um sorriso.

– Isso é meio contraditório, Capitão.

Espera... o magrelo de olho de vidro e o gordinho careca estavam ali?

– Eu confio em suas técnicas de navegação Gibbs. Onde está aquele macaco? Quero atirar em alguma coisa.

– Jack - disse Will chegando perto dele. - Elizabeth está em perigo.

– Você considerou vigiá-la melhor? Veja só, a minha garota não está morta - ele apontou pra mim.

– Sua garota? - eu e Will perguntamos ao mesmo tempo.

– Desde quando? - Will perguntou.

– Exatamente Jack, desde quando? - cruzei os braços.

– Desde que você dorme no meu navio e navega comigo.

– Isso não me torna sua.

– Sssh... fica quietinha - ele abanou a mão pra mim como se estivesse cansado e com dor de cabeça.

Me aproximei rápido e lhe dei um soco na cara que fez ele cair no chão, assim que ele caiu eu dei um chute no estômago dele.

– Vou parar por aqui porque ainda preciso de você pro meu navio - eu disse nervosa e quando ele começou a se levantar eu lhe dei um tapa na cara. - Isso é por ter pegado em meu bumbum - eu disse baixinho para que só ele ouvisse.

Ele riu arrumando o queixo.

– Valeu a pena.

Dei mais um soco e ele caiu de novo.

– Agora acabei - eu disse me afastando dele.

– Gente, Elizabeth está em uma prisão, condenada à forca por ajudar vocês - disse Will chamando a atenção de nós dois enquanto Jack se levantava de novo.

– Chega a hora que alguém deve assumir a responsabilidade por seus erros - disse Jack e eu o olhei com estranheza.

Will então pegou minha espada e ameaçou Jack colocando-a em seu pescoço.

– Preciso da sua bússola Jack - ele disse. - Vou trocá-la pela liberdade dela.

Jack tirou a espada e a abaixou.

– Sr. Gibbs - Jack chamou a atenção dele, que estava no timão, ainda encarando Will. - Temos necessidade de viajar rio acima.

– Uma necessidade diria... temporária, fugaz... uma necessidade passageira?

– Não, uma necessidade forte e obstinada.

– O que temos que fazer é navegar para Port Royal à todo pano - disse Will.

– Não temos não - eu respondi.

– William, eu lhe dou a bússola se me ajudar a encontrar isto - Jack mostrou a chave no pedaço de pano.

– Quer que eu encontre isto? - perguntou Will. Nossa, Port Royal o deixou cada vez mais lerdo.

– Não - respondeu Jack -, você quer encontrar isto. Porque encontrar isto, encontra você capacitadamente encontrando ou localizando ou detectando um meio de salvar a sua bela amada.

– Isto vai salvar a Elizabeth? - ele pegou o pano com o desenho.

– O que você sabe sobre Davy Jones?

– Não muito - disse Will após pensar por um momento.

– É... vai salvar Elizabeth - disse Jack dando um sorriso.

Jack me pegou pelo braço e me fez aproximar dele quando eu estava saindo.

– Ainda vamos conversar sobre isso, não é? - Jack perguntou.

Suspirei pesadamente, soltei a minha mão da mão dele, passei perto de Will, peguei a minha espada de volta, a coloquei no lugar e saí de perto deles. Assim que terminei de descer as escadas, Will se aproximou de mim.

– Então Kay, como você está? - ele me perguntou.

– Viva - respondi rindo.

– E bem diferente - ele disse me olhando de cima a baixo.

– Oh... - eu me olhei, eu realmente estava bem diferente da última vez que nos vimos: minha calça prendia na minha cintura, mas era rasgada do lado até a metade da coxa, com dois rasgos e nas duas laterais, usava um top e um cinto atravessando meu corpo, onde um punhal ficava pendurado, mangas fofas e compridas, luvas pretas e um tipo de capa que eu usava quando chegava ao navio. Meu chapéu de Capitã e meu cabelo estava cheio de pedrinhas e mais curto até o ombro. - Pois é - dei uma risadinha e mexi na minha nuca embaixo do cabelo. - Você também está diferente.

– Aah sim. Eu fui contratado pelo Sr. Swan, então me visto mais ou menos assim agora.

– Vai se tornar um matador de piratas? - perguntei.

– Não. Pelo menos não dos piratas como você.

Eu sorri. Will ainda era Will e Jack o mandaria para Davy Jones. Eu sabia que Jack sabia exatamente onde estava o baú e a chave, mas eu não podia atrapalhar os planos dessa vez, não podia avisar a Will que Davy Jones era perigoso, mas também não o deixaria morrer, não depois de serem culpados por nos ajudar, principalmente porque pedi.

– Você ainda o tem - ele disse olhando para meu colar.

– É claro - eu ri. - Não me imagino sem ele.

Observei a pedrinha do meu colar e fui andando até a beirada do navio. Quando eu tinha quatro anos, eu estava na cabine do Capitão do navio do meu pai, eu estava brincando com a minha espadinha de madeira durante o ataque que eles estavam fazendo a outro navio. Eu lembro de ficar imaginando a minha luta contra um inimigo, de sentir os baques do navio, das balançadas fortes e dos barulhos de canhões. Não lembro o que estavam gritando lá fora por estar absorta na minha imaginação. A única coisa que me lembro bem é meu pai entrando na cabine, fechando a porta e me olhando com um olhar preocupado e com os olhos inchados.

– O que foi papai? - perguntei abaixando a minha espadinha. Fiquei preocupada com ele.

Ele foi se aproximando de mim, me pegou no colo, sentou na cama e ficou me olhando. Algumas lágrimas começaram a sair dos olhos dele e a boca dele começou a tremer. Ele me olhava nos olhos e parecia perdido. Coloquei minha mão em seu rosto, no meio da sua barba.

– Tá tudo bem papai?

Ele pegou a minha mão e a envolveu na dele, sem tirar do rosto dele e começou a chorar mais.

– Kay... a mamãe... - ele não conseguiu terminar de falar e chorou mais, parecendo ficar com raiva.

– O que tem a mamãe? - perguntei.

– A mamãe... - ele demorou um tempo e olhou para o teto, respirando fundo. - A mamãe... morreu.

Olhei para ele com os olhos arregalados. Ele chorou ainda mais e eu não consegui chorar, eu o abracei, envolvi meu pequenos braços em torno de seu pescoço e ele me envolveu nos braços dele, me abraçando forte e chorando muito. Lembro de olhar para a porta e ver Kyle nos observar. Abracei meu pai ainda mais forte, eu queria reconfortá-lo de alguma forma.

Dois dias depois, enquanto eu olhava para o horizonte, para o nascer do sol, eu lembrei que minha mãe sempre me abraçava, me dava um beijo no rosto e falava bom dia, ela me pegava no colo e me enchia de beijos e me chamava de sua garotinha, sua princesinha, foi então que meu coração doeu. Levei minha mão no meu peito e comecei a olhar para o chão sem enxergá-lo. As lágrimas começaram a vir em meu rosto.

– Kay? - papai me chamou e se abaixou para ficar da minha altura.

Olhei para ele com a respiração errada.

– A mamãe morreu - eu disse chorando.

– Oh meu amor, vem cá - ele me pegou no colo.

O envolvi com meus braços e pernas e comecei a chorar muito no pescoço dele. Não foi só um choro, foi um choro com gritos, eu chamava pela minha mãe. Eu não entendo ainda porque eu só chorei dois dias depois, mas lembro que foi o dia em que mais chorei em toda a minha vida, o dia em que finalmente caiu a ficha de que eu nunca mais sentiria os abraços e os beijos da minha querida mãe Marina. O dia em que percebi que seríamos só eu, meu pai e os marujos.

Dois anos depois, meu pai pegou o diamante pelo qual minha mãe morrera para roubá-lo. Era um diamante de um azul bem claro, era praticamente transparente, era possível ver a pessoa do outro lado. Lembro de meu pai querer vendê-lo, mas ele não conseguia, era tudo o que ele tinha do dia em que perdemos minha mãe. Meu pai então quebrou o diamante, deixando ele em vários pedacinhos pequenos. Ele então decidiu encher o navio com esses pedacinhos, para que minha mãe pudesse ficar por toda a parte, para que ela fosse parte do navio. Lembro do quanto Rato chorava e se emocionava quando falávamos da minha mãe, eles se deram muito bem desde sempre, minha mãe salvara a vida dele do canto das sereias, ele sempre me contava isso, afinal, ela era única que não era encantada por elas e eu lembro que sempre sonhei e ser corajosa como minha mãe.

Então, à noite, enquanto meu pai dormia, saí da cabine e o convés estava deserto. Fui sorrateiramente em uma parte do mastil e roubei uma das pedrinhas do diamante, fiquei olhando a pedrinha e pensei no quanto minha mãe lutara e se sacrificara para conseguirmos aquele diamante enorme. Peguei uma corda que havia trançado e fiz uma redinha bem resistente onde coloquei a pedrinha. Fiquei um tempo olhando aquela pedrinha girar na minha frente e comecei a chorar e sorrir. Olhando entre a pedrinha, pude ver minha mãe sentada na beirada do navio, seu cabelo curtinho voava de lado levemente e ela sorriu para mim, pude ver seus olhos brilharem com lágrimas. Eu sorri de volta pra ela, fechei a pedrinha na minha mão e a encostei em meu coração.

– Vou te levar sempre comigo mamãe - eu disse para ela.

Ela sorriu, me mandou um beijo e começou a desaparecer junto com o vento. Desde então escondo aquela pedrinha roubada do meu pai e agora eu ando com ela, ando sempre com a minha mãe perto do meu coração e agora ali, muitos anos depois, eu estou ali, parada no navio, observando aquela pedrinha e lembrando da risada suave da minha mãe e da risada destemida do meu pai. Me lembro de quando ele abraçava minha mãe pela cintura e lhe dava um beijo e eles se olhavam de modo apaixonado, lembro que ela ficava com vergonha por eu estar ao lado, vendo, meu pai então me pegava no colo e me levava para o meio deles.

– Vamos enchê-la de beijos também - era o que ele falava e depois fazia um rugido pirata. Eles então me beijavam até eu ficar sem ar.

Como sinto a falta de vocês...

Olhei para o horizonte, sorri e guardei o colar perto do meu coração.


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