Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 70
Capítulo Vinte e sete - Cheque os pulsos


Notas iniciais do capítulo

É chegado o tão esperado momento do prólogo e estamos chegando(faltando três capítulos) ao fim da segunda temporada. O que acham que acontecerá no próximo? Há uma margem de possibilidades... hihi
Boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/550248/chapter/70

Ele precisava vê-la.
Era insana a abrangente necessidade de tocá-la, abraçá-la, entrelaçar os dedos em seus cabelos e novamente beijá-la.
Queria tê-la em seus braços. Queria agarrar aquele corpo por debaixo do vestido vermelho que marcava sua cintura fina e, quem diria, deixava-a com um belo corpo.
Passou a mão pelos cabelos vermelhos como o fogo que queimava em seu corpo. Um fogo de ódio. Das mãos saltavam veias indecifráveis, a pele transpirava, o corpo estava quente, mas as mãos estavam frias. A cabeça girava, sentia-se tonto ainda pelo que colocaram em sua bebida. M*erda. Sabia que tudo o que pretendia fazer, naquele momento seria impossível de ser cumprido. Como havia sido tão estúpido? Como conseguiram enganá-lo tão facilmente?
Talvez seja porque ele estava ocupado demais olhando para ela. Para seu rosto de boneca. Para sua alma pura. Para aquele sorriso travesso ao fundo. Um sorriso de menina.
— Droga! — socou a parede de madeira à sua frente, provocando forte dor no punho que se misturou à outra que vinha se acumulando em seu peito. Uma que havia conseguido atingir seu coração marmóreo. Ele não podia ao menos salvá-la. E não tinha ideia do que faria se eles a machucassem. Matar era pouco para o ódio que ele sentia. Aqueles cretinos eram amigos da sua ex-namorada e haviam feito o plano perfeitamente. Aquela bruxa poderia estar torturando-a naquele exato momento. Lentamente.
Fechou os olhos e respirou fundo, tentando sem sucesso conter a raiva que crescia em seu peito e não o deixava pensar direito. Não podia imaginá-la sofrer. Justo ela que era tão pura, tão inocente, tão...
Ela era tudo o que ele precisava. E ele não poderia perdê-la. Não queria. E não deixaria.
Naquele momento, percebeu pela primeira vez, que ainda tinha um coração.
Castiel deixou a cabeça rubra tombar no braço direito, que com o soco havia atravessado uma pequena parte da parede que o prendia naquele ambiente insuportável e com cheiro de limo. E ferrugem.
Ele logo a levantou, olhando novamente para o punho ferido pelas lascas de madeira quebrada e pelas farpas que atravessavam sua pele.
Mas ele não ligava para isso.
Deu outro soco, que aprofundou ainda mais o buraco na parede. Depois, sorriu. Tinha um plano.
***
Ping. Ping. Ping.
Os olhos abriram-se lentamente, decifrando um mundo desconhecido, trajado de dor e fúria. Tudo era escuro, o breu a dava arrepios, o corpo doía, ela se sentia incapaz. Forçou os olhos para enxergar, aquela inconstância a dava náuseas. Não conseguia. Meu Deus, onde estava? Piscou mais uma vez, apertou os olhos e os abriu novamente, nada. Não havia nada. Só o preto. A escuridão.
E goteiras.
O choro chegou de repente, inundava seu rosto, descendo pelo pescoço sem piedade, o peito subia e descia rapidamente pelo desespero e la tentou se mover, mas não conseguiu. Meu Deus. Meu Deus.
— Socorro!
Ninguém a ouvia. Ninguém ouviria. Ela gritou mais umas duas vezes mais e mais alto, mas não tinha resposta. Ofegava como um cachorro sedento, mordia os lábios e sentia gosto de sangue, debatia-se com os braços, mas estavam presos, atados. Não. Eram grilhões. Puxou com força, debateu-se. A pior coisa era não poder enxergar. Ouviu o som aterrorizante das correntes velhas. Sim, era isso. Meu Deus. Fora acorrentada.
Apertou os olhos novamente, forçando o cérebro a lembrar-se do que acontecera. Ela lembrou-se do corpo de Castiel caindo diante de seus olhos. Desacordado. Seu coração apertou mais uma vez, como se estivesse revivendo aquele momento. Ela gritou no jardim tentando pedir ajuda e de imediato pegou o celular para ligar para Viktor, mas foi aí que ela acabou perdendo. Alguém a agarrou por trás e com um pano embebido em um líquido, a sufocaram. Ela se lembra da dor de ter prendido a respiração e tentado sair ao mesmo tempo, mas não teve jeito. Ela acabou inalando aquilo e em poucos segundos, a última visão que teve foi como a primeira aqui. Nesse lugar sem dono, sem nome, sem forma. Só a ausência da cor e a presença da dor.
Debateu-se mais e mais, na esperança de soltá-los. Precisava sair daquela posição, o pescoço doía, forçado a pender para frente, o corpo estava posicionado de forma desconfortável, as mãos acorrentadas para cima de sua cabeça, as pernas moles e sem força com os joelhos forçados para baixo. O cabelo caía em seu rosto, desfizeram seu penteado, e agora ela podia oficialmente declarar que sua noite estava acabada. Sua vida estava acabada. No meio daquela escuridão, tinha medo do desconhecido, de algo que poderia estar ali, algo que poderia surgir e machucá-la. Algo que poderia tocá-la. Tentou pôr-se de pé, os pés estavam descalços. Com dificuldade conseguiu, deitando primeiro um dos pés no chão e depois usando o outro para se apoiar também. Naquele momento os joelhos arderam. Sentiu um líquido escorrer. Podia ser sangue, podia ser suor.
Quando pôs-se finalmente de pé, sentiu a dor da maldição. Então era isso, afinal. Não havia prova maior. Quando resolveu ignorar a maldição que aplicava a si mesma, ela resolveu puni-la. Era a vida mostrando mais uma vez como ela não podia ser feliz. Se ela tivesse se colocado em seu lugar o tempo todo, se nao tivesse cedido , se não tivesse conhecido Castiel, não estaria ali. Mórbida, inútil. As correntes apertavam firmemente seus pulsos, mas ela não se manifestava. Estava domada. Sabia que a culpa a corroía e tudo o que estava acontecendo era um castigo do destino. Ela sentia-se um animal sedado. Não tinha mais força para reagir. Precisava fechar os olhos e esperar para morrer.
A luta contra as correntes durou mais algum par de horas. Ela debateu-se, jogou o corpo para os lados, girou. Mas nada. Não adiantou. Ela chutou a parede às suas costas, com cheiro de madeira velha e acreditou que poderia quebrá-la. Tentou uma, duas, três vezes, mas só conseguiu algumas farpas. Talvez com o corpo fosse dar certo. Ela passou a bater as costas com força, a madeira quebraria e ela pdoeria pelo menos gritar por socorro.
Mas também não adiantou.
Com as costas doloridas e raladas, ela perdeu aquela batalha e mais uma vez, diante do cansaço e da dor, viu-se de volta ao estado incial em que acordou.
Os olhos estavam embaçados pelas lágrimas, mas no fundo daquele breu, pôde enxergar uma luz. Fez esforço para abri-los um pouco mais. Um rangido de porta denunciou que era alguém entrando. Tudo o que viu foi uma silhueta masculina.

***
Viktor, o verdadeiro, adentrou Sweet Amoris com calças jeans e blusa amarela casual.
Ainda não havia chegado a hora que marcaram para o plano e tanto ela quanto o ruivo não obtiveram as provas com a diretora. Não havia muita necessidade, no entanto, nessas últimas semanas ele conseguira reunir bastante coisa, inclusive encontrando cópias com seu amigo detetive, de documentos que o bandido usou para fingir ter dezoito anos e ainda usar o nome dele.
Sentiu o clima estranho naquele ambiente enfeitado de flores e mesas de vidro. Uma menina passou chorando à sua frente, segurando um pedaço vermelho de pano. Logo atrás surgiu um grupo de garotas e à sua frente um rapaz loiro a abraçou. A menina tinha cabelos cacheados e o lembrava de alguém.
— Calma, Tsubaki, vamos encontrá-la.
O rapaz loiro a abraçou com força e o grupo continuou a conversa ao mesmo tempo, um falatório que ele não se preocupou em distinguir. Prosseguiu, tentando encontrar Natsumin até que teve a ideia de ligar para seu celular.
Um toque começou bem próximo à ele e notou que estava no meio daquele grupo em desepero.
— Alo? — uma menina atendeu.
— Natsumin? Estou aqui no colégio. Estou preocupado, onde você está?
— É Rosa. — a menina respondeu ao telefone e o grupo próximo a ele olhou para trás, identificando-o.
— Você a conhece? Sabe onde ela pode estar? — A menina com o telefone aproximou-se dele. Era bonita, usava um vestido roxo, os cabelos eram prateados.
— Desculpe, mas não. — ele soltou um suspiro. — O que está acontecendo aqui?
— Ela desapareceu. — a menina respondeu.
Vitkor arregalou os olhos castanhos. Precisavam chamar a polícia.
***
— Olá, querida.
Ela sequer teve forças para estremecer ao ouvir a voz dele. Sentia sede, muita sede e se sentia fraca por isso. Havia lágrimas presas nos olhos, a superfície do rosto com caminhos secos de lágrimas. Ela piscou vagarosamente, os olhos estavam voltados para baixo, bem como o rosto. Tentou se lembrar de como foi parar ali, mas tudo aquilo simplesmente não estava em sua mente. Tinha medo do que poderiam tê-la feito antes, tinha medo do que poderiam fazer agora.
— Temos alguns problemas a resolver, não é?
Ele ligou a luz e ela pôde finalmente notar o ambiente. Não era muito melhor do que a escuridão, mas tirar aquela dúvida era mais tranquilizador. Estava num local vedado, paredes de madeira, mas sem uma fresta sequer para contar história. O piso era de cimento puro, o que justificava os joelhos - agora ela podia ver com clareza - ralados. Ela não respondeu, não se moveu. Não iria falar nada com ele.
— Oh, não... — ele agachou-se à frente dela. — Seja boazinha. — ele agarrou o rosto dela tal qual fizeram com Alexy na semana passada, apertando suas bochechas contra os dentes com seu indicador e polegar. — Me conte... — ele beijou o rosto dela, o que a deu náuseas. Uma lágrima desceu. — Tudinho. — ele beijou o canto de sua boca dessa vez.
Não caíram mais lágrimas de seu rosto. Parecia que haviam secado. Ela estava inerte.
— Vamos. — ele apertou mais forte a mão direita no rosto dela. — Onde está aquele babaca?
Ela nada falou. Não tinha forças e sabia que nada adiantaria. Ela sabia que ele não falava de Castiel e não denunciaria Viktor. Nunca.
Ela permaneceu ali, estática. Um corpo etéreo.
— Tudo bem. — ele levantou-se, colocou o rosto entre os braços acorrentados dela, forçando-a a ficar de pé, abraçada a ele. Ela manteve os olhos baixos, não o olharia. — Uma última vez... Onde está ele?
Ela levantou os olhos para ele lentamente. E cuspiu na sua cara.
O falso Viktor inflou as narinas. Desvencilhou-se dos braços acorrentados dela com raiva, provocando um estalo que a fez gemer. Respirou fundo, limpando o rosto, depois abriu um sorriso que gelou a espinha da menina.
Ele aproximou-se lentamente, limpando a mão que passara no rosto nas calças. Com um sorriso macabro nos lábios, tocou a parte rasgada de seu vestido, acariciando sua pela com as pontas dos dedos, antes de voltar os lábios aos dela. Natsumin trincou os dentes e voltou os lábios para dentro. Isso não o impediu de continuar e ele começou a beijá-la, a língua cheirando a álcool esfregando a pele acima de seus lábios. Ele foi descendo dos lábios para o pescoço e naquele momento as lágrimas começaram a cair por seu rosto, ela estremeceu, o castigo era maior do que ela podia imaginar, pior do que merecia.
— Você vai se arrepender. — ele pronunciou em sua orelha , depois desceu a mão pelo seu corpo até sua coxa, entrando pela fenda em busca de sua pélvis...
Ela o chutou. Reuniu o que restara de suas forças para tal. Isso o afastou a uma distância de mais ou menos um metro, mas ele logo levantou o rosto raivoso, as sobrancelhas duras para baixo, os dentes abertos. Avançou em sua direção.
— Viktor. — Debrah abriu a porta. — Para com isso.
***
Chutou uma parede.
Notou a dimensão da fresta que se formou e a luz da noite ali adentrou. Os braços estavam amarrados a cordas às suas costas, mas as pernas estavam soltas. Pelo visto, estava sozinho, trancado naquela espécie de celeiro abandonado. Respirou fundo, levantou uma perna. Chutou mais uma vez. Estava progredindo. Chutou mais uma, duas, três vezes. Estava numa espécie de caixa de madeira velha, bem vedada, mas inútil. Abriu um rombo na madeira e respirou fundo para fazer um estrago suficiente para seu corpo passsar.
Depois de mais alguns chutes, notou que precisaria puxar as madeiras quebradas para conseguir sair. Apesar de moles e podres, só com chutes ele não sairia dali. Olhou à sua volta, apesar de estar escuro, ainda vinha claridade da rua e ele aproveitou para procurar algo, qualquer coisa que o ajudasse. Tinha esperança de encontrar um pé de cabra, mas não conseguiu. No meio daquela terra e feno - provavelmente encheram de terra para fixar a estrutura no chão - não havia nada para ajudá-lo. Observou a madeira envergada que ele chutara à pouco e direcionou-se. Puxou-a com força para trás, mas tudo o que conseguia era mais farpas nos dedos. Respirou fundo e retornou. Dessa vez, teve mais progresso. Tentou mais uma, duas, três. Estava tão podre que havia congelado naquela maneira.
— M*rda! — chutou-a com ódio e dessa vez caiu uma parte da madeira envergada no chão. Ele curvou os lábios com satisfação e sem hesitar pegou-a com as mãos. Voltou a chutar a parede que o envolvia, priorizando sempre o mesmo lugar até que foi envergando mais pedaços de madeira e com o que conseguira arrancar, ia batendo neles e forçando-os a quebrar. Continuou esse processo até conseguir uma abertura suficiente para que seu corpo passasse. Quando o fez, respirou fundo e passou primeiro as pernas, segurando-se por dentro nas demais madeiras farpadas. O buraco não era tão grande quanto parecia e os ombros acabaram ficando presos.
— PREJHGVGNPUR*QWERMNB! — ele xingou todos os nomes que vinham em sua cabeça até que conseguiu passar primeiro um ombro, depois o outro. Quando finalmente libertou-se, notou que estava num local estranho. Apertou os olhos e fixou-os no local. Era o antigo celeiro da cidade. O dono avia viajado para nunca mais voltar e abandonou as terras por ali. Ficava há umas quatro quadras de Sweet Amoris, não era tão longe quanto parecia. Tentando manter a calma, ele tateou os bolsos em busca do celular. M*rda, era lógico que iriam pegar seu celular. Quem deixaria o celular do sequestrado com ele?
Filhos da hrjtge*.
Ele foi andando com cuidado para não ser pego. Apesar do silêncio e aparência de que não havia ninguém naquele fim de mundo, precisava ser cauteloso e, acima de tudo, precisava encontrá-la. Notou um celeiro com a luz acesa. Algo o dizia que ela estava ali.
***
— Isso aqui não é da sua conta. — Viktor parou no caminho por alguns segundos e Natsumin deixou escapar o ar em breve alívio, os rosto sendo tomado por lágrimas. Viktor aproximou-se e seu coração gelou novamente, ele agarrou seu rosto como antes e forçou-o a olhar para Debrah. A garota tinha o cenho franzido e as mãos estavam na cintura.
— Você está exagerando com isso tudo. — Debrah aproximou-se e tentou afasta-lo de Natsumin, mas o homem a empurrou.
— Já disse que não é da sua conta! — Viktor soltou o rosto de Natsumin, que voltou virado para baixo, sem expressões. Debrah acabou caindo com o empurrão e tentou levantar-se o mais rápido que pode.
— Que se dane então. Se der algo errado, pelo menos não estarei aqui. — a garota deu de ombros e saiu pela porta que entrou.
Viktor voltou os olhos para Natsumin novamente. A garota tinha um belo corpo por debaixo daquele vestido. Só restava a ele descobrir.
Debrah, por sua vez, tinha os dentes trincados quando saiu por aquela porta. droga, estava se metendo em coisas demais, ela não pretendia chegar a esse ponto. Não esperaria que no meio de alunos de uma escola particular houvesse um maníaco daquele porte. Era barra pesada demais para o seu gosto e não podia fazer muito pela garota. Não morreria jovem e em início de carreira. Antes do Natsumin do que ela.
A noite pareceu-lhe mais fria depois do acontecimento. Ela se lembrava de Viktor passando a mão no corpo de Natsumin e, droga, sem ela por ali ele poderia estar fazendo coisa pior agora. Mas não, ela não retornaria. Seria demais.
— ONDE ELA ESTÁ?
A voz apareceu ríspida às suas costas. Era Castiel.
***
— Sim. Sim. — Lysandre tinha a voz passiva ao telefone, ao seu redor, diversos pares de olhos o observavam com esperança. — Estaremos a caminho.
— Quem era, Lys? — Rosa indagou com o rosto preocupado.
— Anônimo, mas a voz era feminina. — ele tinha o cenho franzido. Não gostava de especular, mas de alguma forma sabia que a voz era de Debrah.
— E então? — Tsubaki limpou as lágrimas nos olhos.
— Estão há quatro quadras daqui. — ele olhou para Viktor, o rapaz de fora que havia ligado para a polícia fazia mais ou menos uma hora. Os policiais já estavam na porta de Sweet Amoris fazendo algumas perguntas para os seguranças e para alguns alunos e com a ligação que Lysandre acabara de receber, imediatamente pararam o que faziam apra dirigirem-se ao local em silêncio para não provocar alarde. Viktor os acompanhou, bem como alguns rapazes como Lysandre, Nathaniel, Kentin e Armin. Eles foram dividindo-se entre os três carros na porta e seguiram em alta velocidade para o local.
Não muito distante, Debrah já se aproximava de Sweet Amoris, fazendo o caminho oposto. Ela viera a pé, esquecendo a culpa pelo caminho e agindo como se nada tivesse acontecido. Ela limpou os saltos no asfalto para não denunciar a terra e o feno e atravessou a rua. Era melhor ir embora ou voltar para o baile? O que a deixaria ser menos suspeita?
Diante da dúvida, notou os três carros de polícia passarem e torceu para que tudo desse certo e ela não tivesse nenhum peso de morte alheia nas costas. Podia ser egoísmo e era, mas não pouco se preocupava com isso. O que queria mesmo era esquecer a culpa.
Pelo menos fizera sua parte. Castiel tinha o olhar tão raivoso que ela podia jurar que ele iria matá-la naquele momento. Ela fingiu que não sabia de nada, sabia que isso funcionava com Castiel, mas ele nada ouviu, estava furioso perguntando onde estava Natsumin. Era ela quem estava com o celular roubado de Castiel e depois que ela disse onde a menina estava, o ruivo direcionou-se sem pensar duas vezes ao celeiro. Ela aproveitou para pegar o número de Lysandre e discar do seu telefone, jogando o de Castiel no chão por ali mesmo.
Em meio a esses pensamentos de poucos minutos, resolveu voltar à Sweet Amoris, portanto. Sentou-se sozinha no jardim e comeu algumas porcarias para se distrair e aguardar, por fim, o rumo dos acontecimentos.
***
Tudo aconteceu muito rápido. 
Quando ele subiu a mão pela fenda de seu vestido, tocando a lateral de sua calcinha, seu corpo inteiro enrijeceu. Ela não conseguia conter as lágrimas e debatia-se mesmo com as correntes. Não pedia piedade, o corpo tentava afastá-lo, dificultando os toques do bandido. Estranhamente, ele não estava armada, então ela se dava liberdade de fazê-lo, apesar das mãos atadas. Ele agachou-se aos pés dela e forçou suas pernas a abrirem. Ela fechava-as toda vez que ele o fazia e quando ele subiu a mão por entre as coxas dela, ela fechou-as nela, forçando o corpo para o lado para torcer o braço dele. Não teve muito sucesso, não tinha força suficiente e ao perceber sua intenção, ele conseguiu puxar a mão de volta. Com raiva, ele levantou-se e apertou ambas as mãos no pescoço dela, a menina sentia aos poucos ser sufocada, ela tentou puxar o ar mas não conseguiu, era uma sensação horrível.
— Diz logo onde ele está, sua p*tinha! — ele apertava seu pescoço mais forte, o rosto da menina estava rubro e ela não conseguia fazer nada. Suas maõs estavam presas acima do corpo, ela juntava as pernas e o chutava, mas eram fracas e inúteis. Quando achava que iria desmaiar, ele soltou seu pescoço.
— Você não vai apagar. — Viktor balançava a cabeça para os lados, o cabelo bagunçado, o corpo suando. — Você vai ver tudo o que vou fazer com você até que me diga onde ele está. — ele retirou o paletó e abriu alguns botões da calça.
A menina olhou para os lados, desesperada, buscava um local no qual se apoiar. Em desespero, ela voltou a forçar as costas na parede de madeira, apesar dos estrondos e "cracks", continuava sem adiantar nada. Ela juntou ambas as pernas novamente e ele se aproximou, desabotoando a camisa e expondo o peito peludo.
— Sabe, Natsumin. — ele pronunciou o nome dela com tanta repulsa, os lábios curvados para baixo, que a deu arrepios. — Eu o vi indo à sua casa na semana passada. — ela recordou-se de Viktor passando em sua casa para se certificar do plano, se estava tudo certo para a semana do baile. — Eu não desconfiava de muita coisa, até resolver segui-la e... Esperar. — ele levantou os ombros com um sorriso malicioso. — Você estava de olho demais em mim, ultimamente. — ele voltou a agachar-se aos pés dela, dessa vez prendendo bem as coxas dela abaixo de seu braço esquerdo. — Eu podia jurar que era um interesse em mim, mas percebi que o tipo de interesse era outro depois daquela história com o seu amiguinho boiola. — ele cuspiu ao lado dela e a encarou com os olhar fundo e macabro, depois baixou-os para suas coxas. — Sempre tive curiosidade, sabe? Você é bem gata, afinal...
Natsumin segurou a respiração, preferia morrer a deixá-lo tocá-la daquela maneira. Trincou os dentes, segurou-os para não rangerem, o peito queimava e o coração pulsava tão fortemente que podia senti-lo querer sair do peito. Era uma sensação quente e incomodava muito. Estava condenada. Ele iria traumatizá-la para sempre, iria abusá-la.
Mas ela iria resistir. Preferia morrer a não o fazer.
— Você não vai me acertar dessa vez! — quando ela disparou o chute, acreditando no balanço das correntes em seus braços para ajudá-la, ele segurou seus pés e prendeu mais forte suas pernas abaixo de seu braço nu. Ela voltou a debater-se, acima de sua cabeça as correntes presas no teto soltavam pedaços de madeira, dele caíam partículas de barro e palha.
Viktor foi tirou do bolso uma faca grossa de cortar carne e colocou em seu pescoço. Isso foi suficiente para fazê-la parar de resistir. Num sorriso diabólico, ele foi passando a mão livre lentamente por sua coxa, alisando sua pele e deixando arrepios ruins no lugar. Aos poucos foi aproximando-se da pélvis, a menina nada dizia, só tentava encontrar forças para tensionar os músculos na região e não permiti-lo separar suas coxas. Ela fechou bem as pernas, mas ele não desistiu e subiu aquela mão com as unhas sujas para a sua barriga, traçando uma linha de ódio e repugnância abaixo de seu vestido, tocando sua pele, visando chegar aos seus seios.
Ela queria morrer.
Mas então ele apareceu.
Vê-lo estava além do alívio. Castiel surgira com algo de tamanho significativo na mão. Natsumin viu o rubro de seus cabelos em meio à visão turva, o corpo todo tremia, os lábios estavam entreabertos, as lágrimas desciam por seu pescoço sujo pelas mãos dele. Castiel acertou Viktor quando ele ainda estava agachado no chão, a mão dentro de seu vestido. Ela apertou os olhos e viu que era um pedaço de madeira. O homem caiu com o rosto ferido e Castiel chutou a faca para longe antes de voltar os olhos para Natsumin, presa e vulnerável daquela maneira. Sua cabeça só via a primeira imagem com a qual se deparou. Viktor com a mão por baixo de seu vestido, o rosto entrando pelas pernas dela. Não conteve-se e voltou para o corpo no chão, acertando-o severas vezes no rosto, chutando seu corpo caído, o homem ainda conseguiu agarrar a perna dele, mas Castiel soltou-se depois de acertá-lo mais uma vez com a madeira.
Natsumin encontrou forças depois que seus olhos encontraram o seu Diamante Bruto. Ela segurou-se nos grilhões, forçando o corpo frágil a ficar de pé. Notando Viktor desacordado ao chão, Castiel voltou o rosto à ela. Natsumin estava quase nua, a parte de cima do vestido estava intacta, mas toda a sua extensão fora destruída. Ela tinha o olhar tomado por lágrimas, olhos e rosto vermelhos, os lábios sangravam de tanto que ela apertou os dentes neles, o cabelo desgrenhado, o corpo pálido.
Seus olhos se encontraram antes de ele a abraçar com ternura. Ela fechou os olhos, aliviada por estar finalmente naqueles braços, apesar de ainda pendurada aos grilhões. O ruivo separou-se de seu abraço e olhou para cima e ela notou que a mão direita dele, a que acertara Viktor, sangrava. Castiel verificou que haviam passado as correntes por cima das madeiras que sustentavam o telhado e prenderam com algo que ele não conseguia enxergar. Com raiva, o ruivo puxou as correntes, mas estavam muito bem presas, não conseguia tirar. Tentou mais um pouco, a raiva crescendo em seu rosto. O teto pareceu querer ceder com aquele gesto. Castiel não continuou, poderia atingi-la.
— Vai ficar tudo bem, garota. — ele passou a cabeça por debaixo dos braços acorrentados dela para apoiá-los nos ombros dele e tirar o peso dos dela. Ela amoleceu o corpo pelo cansaço e ficou ali.
Mas não demorou muito para acabar seu tempo de paz.
— Castiel. — ela quase sussurrou, mas ele entendeu. Soltou-se dos braços dela e virou-se para trás, mas não teve tempo suficiente e foi atingido com um soco pelo barman. Castiel revidou, soltando um urro pela dor que aquilo provocara. Provavelmente quebrara o pulso danificado, no mínimo torcera. Mas logo surgiram pela porta três policiais armados e o barman teve de parar e se render com as mãos para cima. Castiel teve de fazer o mesmo.
Natsumin sentiu um misto de aflição e alívio ao mesmo tempo e seu coração fraco não soube definir. A rebelde caíra do barco e estava afundando naquele oceano de emoções, a água turva e escura sendo tomada pela lava; Nem a rebelde conseguia se salvar das lembranças terríveis que aquele dia traria. Aquela montanha-russa emocional foi demais para a sua cabeça e Natsumin tombou para frente.
— Natsumin... Natsumin.... — Castiel parou de se render e a tomou nos braços antes que seu corpo tombasse, forçando ainda mais os pulsos atados aos grilhões.
— Solte-a! — um policial gritou.
— Fica comigo. — Castiel acariciava seu rosto com ternura diante daquele cenário turvo e escuro, o breu aproximando-se sem pudores enquanto a rebelde tentava acender uma lanterna velha no meio daquela lava, um misto de luzes vermelhas e azuis, tornando-o palco para um belo, mas terrível quadro impressionista.
***

— Já era hora.
Ele segurava sua mão com um doce sorriso no rosto. Os olhos também eram doces, uma luz forte vinha de trás da cabeça dela e o iluminava de uma forma que deixava sua pele mais clara que o habitual e seus olhos doíam. Ela os apertou com dureza e tentou abri-los novamente. A visão foi desembaçando aos poucos e ela retribuiu para ele o sorriso, sem mostrar os dentes.
— Os médicos falaram que você está com anemia. — ele acariciou a cabeça dela. — Por um acaso está comendo direito?
Ela nada respondeu. Apenas piscou os olhos. Ultimamente não estava sentindo muita fome, na verdade, desde que os pais morreram ela quase não comia, então isso já fazia quase um ano. Ela suspirou com a carinha triste.
— Eu suspeitava. — ele levantou os ombros ligeiramente. — Não faça mais isso ou vou ter de passar a cuidar de você regularmente. — ele beijou sua testa.
Ela não tinha muitas forças para falar, então apenas sorriu.
Em poucos instantes entraram Rosa, Ayuminn e Tsubaki e ele sorriu, cumprimentando-as. Há poucos metros dali, dois amigos trocavam poucas palavras, mas compartilhavam muito, sentandos nos confortáveis bancos de espera, as luzes brancas perturbando um deles e o ruído da TV ligada dificultanto a conversa.
— Por que aquele cara tem de ficar ali o tempo todo? Ele não é nada dela, afinal. — o de cabelos rubros tinha os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto de cenho franzido estava impaciente. — Não tem ninguém pra desligar a porcaria dessa TV?
— De fato parecem muito íntimos. — o outro, de olhos bicolores, pontuou com o rosto sereno.
— Você observa muito bem, meu caro. — o ruivo ironizou.
— Você poderia entrar e pedir licensa, se é visitá-la o que você quer. — Lysandre virou o rosto para ele, o olhar sutil era sugestivo.
— É claro que quero visita-la. Não perderia meu tempo num hospital, odeio hospitais. Não tem mesmo ninguém aqui com um controle para desligar essa droga? — levantou a cabeça. Não havia ninguém no saguão senão eles dois.
— Se pedir, vão deixa-lo entrar. O máximo de visitantes é três e já há quatro no quarto. — Lysandre apontou com os olhos para a porta de número 32 à sua esquerda, no corredor.
— Não vou pedir nada àquele idiota. Quando eu tiver de entrar, entrarei e pronto. — Castiel respondeu rispidamente.
— Ele pagou o hospital para ela, pode ser por esse motivo que ainda está lá. —Lysandre pontuou.
— Então agora ele também é dono do hospital? — Castiel sorriu ironicamente. — O pai dele é o prefeito por um acaso?
— Não. Mas é um dos maiores empresários do país. — Lysandre cruzou os braços.
— Que ele tinha dinheiro eu já sabia. — o ruivo revirou os olhos. — Agora então não é qualquer idiota, mas um idiota mauricinho.
— Provavelmente. — Lysandre balançou a cabeça e Castiel pôde jurar que havia uma parte de seus lábios levantados em um sorriso.
— Está julgando alguém à primeira vista? — Castiel alfinetou.
— De maneira alguma. — Lysandre franziu o cenho. — Só não gosto da maneira que ele se aproveita do que tem para tentar se aproximar dela.
Castiel nada disse naquele momento. Lysandre era um cara de poucas palavras, mas quando as dizia, eram muito perceptivas. De fato, Castiel não gostava do tal de Viktor que agora estava no quarto com Natsumin, mas não tinha notado essa particularidade. Agora, pensando um pouco mais friamente, via que fazia muito sentido. Por que ele havia pedido a ajuda dela, afinal, já que tinha policiais e detetives particulares investigando o caso do seu falso dublê? Não fazia sentido. Ele só quis ter um argumento para se aproximar dela. Desde o início. Só não esperava que Natsumin fosse chamá-lo apra ajudá-la.
Repentinamente, a porta 32 se abriu. Viktor saiu para pegar água ou algo do tipo e andou para o final do corredor. Lysandre apontou para a porta com a cabeça e Castiel assentiu. Sabia que era seu momento de falar com Natsumin. Vê-la depois do que ocorrera. Abriu o bolso e a rosa vermelha que havia arrancado da decoração do colégio havia desfacelado ali. Bufou, depois a compraria algo.
Quando aproximou-se da porta, havia um papel colado no vidro com um bilhete: "Conversa particular, quarto cheio. Não entrem". Ele revirou os olhos e olhou para dentro. P*ta M*rda, as três ainda estavam no quarto com ela.
***
— Acho que agora dá para o assunto ficar sério. — Rosa sentou-se na cadeira onde antes estava Viktor e Ayuminn e Tsubaki pegaram outras duas para sentarem-se ao lado da cama também.
Natsumin franziu o cenho e suspirou.
— Não faça essa cara de "o que que eu fiz?". — Rosa sorriu ligeiramente.
— A questão é o que você não fez. — Tsubaki alfinetou e Ayuminn a cutucou, balançando a cabeça para ela segurar a língua.
— Ele ainda não veio, não é? — Rosa segurou a mão da menina, com cuidado e dó pelo soro que entrava por suas veias, a agulha perfurando sua pele quase sem cor.
Natsumin balançou a cabeça negativamente e olhou com ternura para Tsubaki e Ayuminn.
— Já está na cara, Natsumin. — Tsubaki levantou os ombros. — O baile inteiro ficou desconfiado quando a diretora começou a gritar o nome de vocês dois no palco e vocês apareceram de lá dos fundos. — ela sorriu. — Se você visse a cara da Ambre e daquela garota, você ia cantar vitória com certeza.
Natsumin suspirou e levou a mão livre à testa.
— Não se preocupe, Nats. — Ayuminn levantou-se e acariciou seu cabelo com ternura. — A escola já acabou, ninguém tem nada a ver com a vida de vocês, agora só resta a você dar um pontapé inicial.
— Ou a ele. — Natsumin finalmente falou algo, a voz baixa e séria.
Tentou desviar o olhar, mas havia três pares de olhos observando-a naquele momento; Era quase impossível.
— Ah, Natsumin... — Rosa balançava a cabeça para os lados. — Ele é um teimoso mal humorado, mas às vezes você não fica para trás.
— Se você visse como ele ficou depois que te trouxeram para cá... — Tsubaki tinha as expressões mais aliviadas e ternas.
— Ele quase foi preso porque gritou com os policiais. — Ayuminn sorriu. — Ele não queria depor enquanto não o deixassem acompanhá-la na ambulância.
Natsumin sorriu. Era bem típico dele.
— Eles relevaram por causa da situação e colocaram como sendo resultado das fortes emoções. — Rosa balançou os ombros.
— E põe forte nisso. — Tsubaki sorriu maliciosa. — Fica boa logo, menina. Ele quer teu corpo nu!
As outras três presentes a olharam com reprovação. Tsubaki prendeu o riso. Depois as quatro caíram na gargalhada.
— Você é impossível. — Natsumin pontuou com a voz baixa.
— E você me dá agonia. — Tsubaki se levantou dessa vez e Ayuminn se sentou. — Sai com ele, troca uns amassos, fica com ele, Natsumin. — Tsubaki insistiu. — Ele ficou te olhando o tempo inteiro durante a troca de pares, é impossível não estar no mínimo a fim. O que atrapalha vocês dois?
Natsumin crispou os lábios. Não poderia explicar nada agora. Não poderia justificar seu castigo, sua maldição, explicar que não poderia ser feliz. Mas, depois de tudo o que passou, ela sentia que já era o bastante, já havia tido seu castigo. Então, em poucos segundos mudou de ideia. Precisava desabafar, tirar toda aquela mágoa do peito. Talvez fosse a melhor forma de conseguir redenção. No aparelho acima, os "Pi"s incessantes denunciaram que seu coração acelerava.
— Nats... — as três falaram juntas.
— Está tudo bem. — a menina respirou fundo. — Agora sentem-se que a história é bem longa.
***
— Mas que droga, o que elas tem tanto para falar? — Castiel sentou-se de volta ao lado de Lysandre. — E como eu desligo aquela TV?
— São amigas há algum tempo. É comum terem muito o que falar. — Lysandre pontuou, sereno.
— Sim. Fofoca, aposto. — ele balançou os ombros. — Já disse que essa TV está me irritando?
— Sim. — Lysandre sorriu. — Alguns pares de vezes.
— Pois daqui a pouco vou me levantar e desligar essa porcaria sozinho. Não tem ninguém para ver mesmo.
— Também achei estranho o pouco movimento. — Lysandre franziu o cenho.
— É um hospital para ricos, meu camarada. — Castiel levantou as sobrancelhas.
— Faz sentido. — Lysandre assentiu. — E você?
— Eu não sou rico. — Castiel franziu o cenho.
— Quis dizer como está. — Lysandre tinha os olhos sérios no amigo.
— Irritado. — ele curvou o lábios.
— É perceptível. — Lysandre sorriu. — Quis dizer depois da situação.
— Estou bem. — ele levantou a mão direita com atadura. Fora isso, uma ferida no canto de sua boca sarava. — Exceto por essa coisa fedida. Mas até sexta eu vou tirar de qualquer maneira.
— Até amanhã então. — Lysandre pontuou.
— É. Amanhã já é sexta?— Castiel trincou os dentes. Havia até mesmo perdido noção do tempo.
— Sim. — Lysandre afirmou.
Castiel bufou. Ficou em silêncio por um tempo, na cabeça passando um turbilhão de coisas. Ele ainda tinha a imagem de Natsumin presa às correntes, aquilo era torturante. Sentia por não ter chegado mais cedo e o impedido de fazer o que quer que tenha conseguido fazer. Precisava ver se ela estava bem, precisava saber o que acontecera ali.
— Eu queria mata-lo. — Lysandre ficou em silêncio, ouvindo o ruivo desabafar De vez em quando Castiel o falava o que pensava e o rapaz de olhos bicolores notou que a mão com pulso torcido e atadura dele tremia e o amigo ainda tentava controlá-la, segurando o próprio pulso. — Nunca gostei daquele cara, era como se... — Castiel crispou os lábios antes de continuar. — Como se soubesse o tempo todo...
Lysandre notou que o ruivo nada mais falara. Tomou a vez para pontuar. — Só era difícil suspeitar o nível disso tudo. A questão do envolvimento com crime, o disfarce. Sweet Amoris errou ao admiti-lo.
— Mas também ninguém ia adivinhar que ele era um marginal.
— De fato...
O silêncio manifestou-se mais forte naquele momento. Lysandre permaneceu pensativo, diante da conversa com o amigo e aproveitou para tocar num assunto que normalmente o era desconfortável.
— Você gosta dela de verdade.
— Como eu disse, você é um bom osbervador. — a reação de Castiel foi diferente do esperado. O rapaz não direcionou o rosto ao amigo. Fixou apenas o olhar na porta de número trinta e dois.

***

— Natsumin, você não tem culpa. Foi você que derrubou aquele avião por um acaso? — Tsubaki tinha lágrimas tomando os olhos amarelos e parte do cabelo caheado caía sobre o rosto.
Ela havia contado. Tudo, desde o início. Contou sobre a forma e o motivo de ter sido tão hostil com Tsubaki e Ayuminn na última vez em que se viram. Contou sobre a culpa, aquela miserável que a impedia de ser feliz nessa vida. Contou sobre a forma que se sentia, até sobre o castigo que aplicara a si mesma. Contou que ainda precisava de muito tempo para se recuperar, que toda vez que pensava nos pais a culpa caía ainda mais forte, como foi fraca todo esse tempo tentando esconder-se de sim mesma, como tentou se manipular para seguir o seu destino de acordo com o castigo que reservara para si e sobre como falahara miseravelmente para tal. O aparelho que checava os batimentos cardíacos logo acima de sua cabeça pasosu a apitar como mais frequência, a menina segurou as lágrimas por muito tempo, mas naquele dia pareceu que ela estava chorando pela vida inteira. Até Tsubaki ter seu comentário, ninguém entre as demais três presentes se atrevera a falar algo. Natsumin precisava tirar aquela culpa do peito, precisavam dar tempo para ela falar o que quisesse, desabafar o tempo que precisasse. Lidar com a morte de alguém já é difícil, imagina quando se carrega a culpa por duas mortes e das pessoas que mais se ama.
As três amigas sabiam que não estava sendo fácil para a menina. Natsumin tinha o rosto rubro de tanto chorar e o seus batimentos tornaram-se inconstantes. De imediato, Ayuminn saiu e direcionou-se à sala dos enfermeiros, no mesmo corredor, mas a três portas à esquerda de distância.
— Com licensa, poderia vir alguém aqui, por gentileza? — um rapaz alto de olhos doces e castanhos, trajado de branco e com os cabelos também castanhos, levantou-se. Primeiro, ficou admirado em silêncio com a beleza exótica da menina, depois assentiu e seguiu-a.
Ele adentrou o quarto, deparando-se com as demais três visitantes. Notou que o aparelho de verificação cardíaca apitava demasiado e aproximou-se da paciente. Notou que chorava, poderia ser consequência do trauma que passara no da anterior. Respirou e aferiu sua pressão rapidamente, havia três pares de olhos aguardando atrás dele. Suspirou, passou a mão na testa da pobre menina. Apesar de tudo, a pressão estava normal. Provavelmente aquela ansiedade tivera sido fruto da emoção que estava passando mesmo. Verificou o soro, estava com a frequência correta do líquido.
— Acalma-se e ficará tudo bem, tá? — ele sorriu para Natsumin, o que a trouxe um pouco de paz. — Ela está emocionada, não há muito fora do comum, podem ficar tranquilas. — ele voltou-se às três às suas costas. — Só não a permitam se emocionar demais, tá bem? Ela está num momento delicado.
As três assentiram e o enfermeiro fez um sinal para Ayuminn acompanhá-lo até a porta. A menina franziu o cenho e o fez, fechando o 32 às suas costas.
— Quantos anos você tem? — o enfermeiro indagou com a expressão séria. Ele era bem bonito.
— Dezoito. — ela respondeu serena.
— Você é muito bonita. — ele deu um sorriso tímido.
— Obrigada. — ela franziu o cenho, o rosto rubro.
— Gostaria de... tomar um café depois daqui?
— Eu...
— Está tudo bem, Ayuminn? — Lysandre aproximou-se tão sutilmente que ela mal o vira levantar da sala de espera, a poucos passos dali.
— Sim, a Natsumin só...
— Ah, desculpe, fui indelicado. — o enfermeiro observou Lysandre, depois retornou os olhos para ela. — Peço desculpas, não sabia que tinha um namorado. — e retirou-se rapidamente de volta para a sala.
A menina nada disse, apenas continuou ali, ruborizada.
— Desculpe, eu só achei que ele estava sendo inconveniente... — Lysandre passou a mão pela testa e não completou a frase, apenas a observou com o rosto vermelho e o olhar sereno.
Ayuminn pôs-se na ponta dos pés e tocou os lábios nos dele com intensidade, pouco se importando com o ambiente em que estavam. Era tão bom estar apaixonada daquela maneira e presenciar uma situação dessa. Ciúmes. Lysandre estava com ciúmes dela. E era diferente tocá-lo sem segredos, beija-lo diante das luzes e não apenas do escuro, ela pensava seriamente em assumir que estavam juntos. Gostava tanto dele, tinha todas as cartas que trocaram guardadas em sem armário. Se alguém as visse...Ela separou-se e sorriu antes de entrar novamente no quarto trinta e dois.
Não era o momento para trazer essa novidade. Natsumin não estava bem, diria depois.
Quando entrou, Natsumin estava mais calma e menos vermelha e ria de alguma coisa que provavelmente Tsubaki havia falado. Tsubaki ainda tinha o rosto rubro e os olhos também, de tanto chorar. Rosa tinha os serenos e tinha um tímido sorriso para a menina na cama.
— Tem uma atadura para amarrar a boca dessa menina? — Rosa indagou à Ayuminn assim que entrou.
A menina sorriu. — Não tem jeito, ela só se cala quando dorme.
— Você não sabe o que ela fez dessa vez. — Rosa pontuou.
— O que você fez? — Ayuminn franziu o cenho.
— Tá. — Tsubaki respirou fundo e segurou uma risada. — eu acabei com a raça daquela garota! — ela abriu um sorriso vitorioso.
— Meu deus. — Ayuminn levou as mãos aos lábios. — Com a raça de quem?
— Da Debrah. — Natsumin completou, da cama.
— Como assim? — Ayuminn tinha os olhos arregalados.
— Depois que acharam Natsumin, ela apareceu novamente na escola. — Tsubaki tinha as expressões mais sérias. — Eu tenho certeza de que ela estava metida nessa história e depois saiu do caminho para não parecer culpada.
— Isso é possível. — Rosa pronunciou sorrindo, lembrando-se da forma como Tsubaki deu um belo tapa na cara de Debrah e só não fez mais porque Jade a segurou e Dajan segurou Debrah. Tudo tinha acontecido tão de repente. Tsubaki primeiro só observou Debrah entrar sozinha pelo portão e vindo a pé do lado para onde a polícia foi após saber que encontraram Natsumin. Depois, quando a menina sentou-se no jardim e passou a comer os quitutes da mesa, Tsubaki não conseguiu se controlar e avançou tão rapidamente que ninguém sequer viu, até ouvir o grito de Debrah. "Maluca!". Foi vergonhoso, mas compensador.
— Isso é verdade. — Natsumin completou da cama. — as três voltaram os olhos assutados para ela.
— Você precisa dizer isso à polícia quando for depor. — Tsubaki tinha os olhos arregalados. — Ela saiu ilesa, Natsumin.
— Não... — Natsumin ajustou o pescoço no travesseiro e fixou os olhos nos de Tsubaki. Ela não podia denunciar Debrah. Pelo menos por enquanto. Precisava ter certeza se Castiel realmente ia embora, se realmente precisava de Debrah para seguir seu sonho. Quando ele se despediu dela no baile, foi com tanta intensidade, tanto apelo. Quando a disse na porta de sua casa que pensava em ir com ela, pela primeira vez, quando reafirmou isso na casa dele após o dia do assalto.. Ela não faria isso com ele. Pelo menos não por enquanto. — Preciso dar um tempo. Descobrir um pouco mais.
— Você está louca?— Tsubaki tinha os olhos arregalados.
Rosa comprimiu os lábios. Sabia, por ter ouvido algumas conversas de Lysandre com Castiel ao telefone, que o ruivo iria embora com a ex. Rosa não tinha certeza se eles tinham voltado ou algo do tipo, ou se Natsumin havia conversado com ele sobre isso ou não, mas podia ver pelos olhos azuis daquela menina na cama de hospital, que ela pensava nele quando abnegava do direito de denunciar Debrah. Natsumin era uma grande menina, sabia. Mas merecia justiça.
— Natsumin... — Rosa, ainda sentada de frente para a cama de Natsumin, pegou uma de suas mãos - a que estava livre das agulhas - e apertou levemente. — Você está fazendo aquele olhar de novo.
A menina crispou os lábios e suspirou. Sabia o que Rosa queria dizer com aquilo. Rosa sabia muito bem como ler as pessoas. Rosa sabia que Natsumin fazia isso por Castiel. E, apesar de não concordar, não poderia obrigá-la a depor ou espalhar essa informação sem a sua permissão.
— Vocês estão falando em códigos. — Tsubaki levantou uma sobrancelha, um pouco invocada por não estar entendendo muita coisa. Ayuminn tinha o cenho franzido e os pensamentos ainda estavam lentos, afetados pelo que ocorrera há pouco tempo, for do quarto trinta e dois.
— Desculpe... — Natsumin suspirou mais uma vez. — Rosa vai dizer.. — olhou para Rosa, como se a esperasse dizer o que ela não conseguia.
— Natsumin está apaixonada por Castiel. — Rosa foi direto ao ponto.
— Ah, e quem não sabia.
— Vocês dois ficam lindos juntos.
A primeira frase foi de Tsubaki, a segunda de Ayuminn, que falaram ao mesmo tempo. Natsumin franziu o cenho e Rosa abriu um sorriso.
— Depois da forma que você o defendeu no assalto e ele te levou no colo desacordada, Natsumin, ninguém duvidaria que você gostava dele. E ele de você.
— Você acha? — Natsumin levantou as sobrancelhas. De fato, nunca pensara exatamente se ele gostava dela da mesma maneira ou não. Preocupava-se tanto com o afastamento dele que sequer preocupou-se com reciprocridade. Ele beijá-la, acariciá-la, mesmo que por segundos já era suficiente para o que ela havia recusado-se durante a vida após a morte dos pais.
— Como não? — Ayuminn sentou-se no pé da cama. — Durante o baile ele não tirava os olhos de você.
— Quando você trocou o par e ficou com Nathaniel, ele quase morreu. — Tsubaki completou com um sorriso malicioso. — Você devia dar uma chance.
Natsumin ficou em silêncio. O rosto quase sorria.
— Não posso. — ela balançava a cabeça. O rosto pensava que estava no caminho para conseguir sua redenção e não podia atrapalhar o dele com seu egoísmo. Castiel precisava ir para essa turnê. Precisava ser visto, sair das quatro paredes de seu quarto ou do porão. Ele precisava mostrar ao mundo quem ele realmente era. Algo além de sua arrogância e às vezes prepotência. Estava na hora de seu Diamante provar que naquela brutalidade havia uma pedra preciosa. Ela não se sentia capaz de ser a pessoa a explorá-lo e lapidá-lo, não diante de suas incertezas, seus Castigos, suas fraquezas. Não enquanto não se sentisse segura o suficiente para voltar à música.
Era isso que os atraía, afinal. A música. Foi como ele a conheceu, foi sua voz que o trouxe até ela. Foi quando cantava que ele a descobriu, quando fizeram aquela aposta infantil que a levou a descobri-lo, a ver que, afinal, Castiel era mais que um "bad-boy", que tinha uma bela voz e tocava o violão com corpo e alma.
Ela precisava que ele seguisse seu sonho. Não é sempre que há oportunidades assim. Estava decidida a não falar nada sobre Debrah, por enquanto. Precisava deixar o tempo passar. Ele sempre resolve tudo.
— E então, Natsumin? — Rosa apertou levemente sua mão. O rosto tinha esperança de uma boa resposta.
— Não vou falar nada de Debrah. Mas também não vou atrás de Castiel. — levantou os olhos, decidida.
— Natsumin! — as meninas no quarto estavam indignadas.
— Ele precisa ir embora, Rosa. — ela virou os olhos para Ayuminn e Tsubaki e esta última não estava entendendo nada, pôde perceber pelo cenho franzido e os braços cruzados. — Ele vai ser guitarrista na turnê da Debrah. Ele precisa disso para conseguir aparecer para o público. — finalmente revelou.
— Mas isso o tira de você. — Tsubaki sentou-se aos pés da cama, o rosto triste encarava a amiga, a mão pegou a mão pálida dela, onde entrava a agulho do soro.
— As vezes achamos que nossas escolhas são as melhores, mas não são. — Ayuminn também tocou sua mão.
— Você está tão apaixonada que o está deixando ir. — Rosa a encarava com ternura nos olhos. — Isso pode fazê-la perdê-lo para sempre, sabe disso, não é? — Rosa acariciou seu cabelo, tirando a granja do olho da menina.
Natsumin assentiu. Nos olhos brilhava uma tristeza profunda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, recomendem, comentem, favoritem a fic! Deixem uma autora feliz *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diamante Bruto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.