Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 65
Capítulo Vinte e dois - Volte.


Notas iniciais do capítulo

Maratona!♥



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Ele soprou.
Na noite a fumaça escura dissipava-se disforme num piscar de olhos. O ruivo tragou mais uma vez e soltou vagarosamente, apreciando a sensação, sentindo a tensão diminuir, seus pensamentos tornarem-se mais vazios e despreocupados. Coçou a nuca, respirou fundo. Os olhos de um cinza escuro, para ser mais preciso, estavam negros como aquela noite sem estrelas. O vento frio restringia sua visão ao jogar a cabeleira rubra no próprio rosto e ele não a afastava, dificilmente se movia.
Levantou a manga da camisa preta, verificou os pulsos. Fazia exatamente... Ah sim... Exatamente trinta e cinco minutos que ele estava ali, como um perfeito idiota esperando-a. Sim, esperando-a. Não havia marcado nada, contentava-se com a vontade de vê-la e acabar logo com essa grande palhaçada que os afastou. Obviamente não conseguiria, estava farto de ser feito de idiota, então a única coisa que tinha era a vontade de vê-la mais de perto. De tê-la em seus braços. Obviamente isso também não seria possível, então contentaria-se com o convite para um estupidez de final de ano.
Tragou e soltou mais uma vez.
Não que não se importasse, é claro, ele não era um perfeito boboca. Se importava com Natsumin e de certa forma também se interessava por ela, isso era óbvio. Mais do que gostaria até, é claro. Mas, que se fosse mesmo obrigado, e sabia que estava sendo porque a velha Shermansky estava sendo estupidamente séria quando o ameaçou, então que ele fosse em boa companhia. Debrah o havia perguntadp e não era tão mal, mas não queria misturar as coisas por enquanto. Não queria confundir seus compromissos profissionais com sua antiga relação amorosa. Não que Debrah não tivesse chance, é claro que ela tinha, mas ele realmente...
— Eu não sei se vou a essa coisa, Kentin. Você devia chamá-la.
Ele levantou uma sobrancelha, aquietou-se. Não tinha frescuras, mas sentiu-se aliviado por finalmente chegar a hora de levantar-se daquele maldito asfaltou e pular o muro baixo que agora separava eles dois.
— Eu sei. O Armin me convidou hoje logo depois que a diretora Shermansky anunciou no ginásio que haveria o tão esperado baile de formatura.
Ele sentou-se novamente, escondeu-se atrás do muro. Ótimo, era isso que ele esperava. O viciadinho não era tão bobo, afinal.
Tragou mais uma vez, nessa demorou mais para soltar e quase se engasgou com a fumaça. Prendeu a respiração, sentiu-se tolo. Tragou mais uma, duas, três. Natsumin e o viciadinho.
— Mas eu... eu não queria ir com ele. Eu... Tudo bem, não esquece de ligar para a menina, Kentin. Ela não poderá ser seu par, mas a gente arruma um jeito. Ah e a chame pra sair logo, garoto!
Ela desligou o telefone, podia ver pelo canto daquele muro. Estava de costas, o cabelo preso num coque. Ele podia notar sua nuca alva e tensa. Ela respirou fundo antes de tocar a maçaneta e ele sentiu que era a hora. Sim, era aquele o momento. Deveria falar com Natsumin, deveria convida-la pra essa maldita farsa da qual todos gostavam, um dia idiota que todos consideravam feliz. Devia impedi-la de entrar, segurar sua mão, olhá-la nos olhos, pedi-la para...
Mas não o fez.
Preferiu ficar ali, tragou mais alguns pares de vezes. Pensativo, o olhar no vazio daquele céu, o joelho direito levantado, a mão direita que segurava o cigarro apoiada nele, o peito contentando-se com a solidão e a probabilidade de que, afinal, seria melhor ir com Debrah. Não seria idiota novamente. Odiava ser feito de idiota. Natsumin já era bem grandinha, Debrah estava certa quando o falou isso mais cedo. Provavelmente a ex o notou olhar demais para a menina em meio aos alunos no pátio. Não foi a melhor ou mais sensata das conversas que tiveram, mas, agora, podia ver que fora produtiva. Se Natsumin preferia ficar sozinha ou rejeita-lo por quais motivos que fosse, dane-se. Ele não era homem de correr atrás. Só seria negado uma vez. Para nunca mais.
Levantou-se rapidamente. Não demorou muito para mudar de ideia. Esperou uns dois, quase cinco minutos. Tempo de ela nota-lo ali, convenhamos. Tragou mais algumas vezes em silêncio e com seriedade, os cenhos duramente franzidos. Pensou, relutou, tragou, pensou mais uma vez, tragou mais duas ou três. É. Ele não correria mais atrás de Natsumin. Não valeria a pena. Os olhos encontraram de imediato o segundo andar da casa. A menina tola deixara a janela aberta enquanto se trocava. Ele desviou-os das costas nuas de Natsumin e tragou e soltou mais uma vez, a fumaça invadindo seus olhos, sua boca, seu nariz, seu rosto.
Após apagar o cigarro no muro, Castiel andou rápido naquela noite.
***
Ela sabia. Ele não fazia ideia, mas ela sabia. Sabia porque o reconhecia. Castiel tinha um cheiro distinto, um perfume de Castiel de sorriso de coiote que ficava no ar depois que ele ia embora. E foi assim que ela soube que ele estava perto. Que, pelo menos, passara em frente à sua casa. Só não sabia o horário, o motivo, mas isso no momento era o de menos. O fato de ele ter passado ali já a deixara sentimentos suficientes e tudo o que ela queria era fazê-lo voltar. Deixá-lo novamente entrar e, por Deus, nunca mais deixá-lo sair. Como doía pensar em tê-lo tido tão perto, como ardia aquela paixão, incandescente, mas que ela tinha que soprar para parar. Ela precisava apagar aquela vela. precisava esquecê-lo.
Porque Natsumin Havens não merecia ser feliz. Não enquanto não sentisse plena a vingança que planejara para si mesma.
Ela sabia que seria obrigada de alguma maneira a ir ao baile dos formandos. A diretora deixou bem claro que a presença dos alunos seria obrigatório quando praticamente gritou o tempo inteiro na reunião no ginásio pela manhã. Embora fosse impossível não ouvi-la, Natsumin tinha os olhos tão fixados em Castiel que de vez em quando sequer ouvia a voz da diretora, ou o que quer que ela tenha falado. Não o deixava ver, é claro. Quando notava que podia encontrar o olhar dele, virava o rosto. Mas quando a mulher anunciou que haveria pares e que quem quisesse independente do sexo, poderia convidar seu par. Natsumin pensou em convida-lo, já imaginando estar rodopiando nos braços dele e trocando carinhos, como no conto de fadas que ela nunca viveria. Mas, claramente não o faria, ainda tinha sua maldição. E grande maldição também foi ver a ex dele se jogando em cima e, convidando-o na lata para o baile. Foi o abismo pra sua consciência. Armin notou, o rapaz não era bobo. Talvez tenha sido por isso que a convidou também.
Ela trocou a blusa, sem notar a janela do quarto aberta. após vesti-la, o viu. Meu Deus, o coração de fato saltaria pela boca. Era ele, como sua intuição e olfato não falhariam. Como era bonito. Como sabia como provocá-la, mesmo que na maioria das vezes de forma irritante. Como ela estava apaix...
Não. Não, não, não, não, não. Não estava.
Mas... Não conseguia, não conseguia vê-lo partir assim. Precisa chamá-lo. Precisava... Fazê-lo voltar. Não soube o que houve naquele momento, mas sua tia não estava em casa para impedi-la, sua mente pesada estava bloqueada e nem mesmo Kovu apareceu de debaixo da cama, como sempre fazia, para impedi-la. Ela desceu aquelas escadas com agilidade, pronta para encontra-lo, gritar pelo seu nome. — Castiel!
Mas não havia mais ninguém naquela esquina. Ela ficou ali, ofegante, parada, ouvindo os ruídos do silêncio, pequenas farpas nas calçadas iluminadas pelas fracas luzes dos postes.

— Natsumin.
O coração palpitou ao ouvir uma voz masculina às suas costas.
***
— Boa noite.
Ayuminn terminou de lavar a louça e enxugou as mãos na própria camisa. Era uma camisa branca, com a qual normalmente gostava de dormir. Usava leggings e estava descalça. De soslaio, Lysandre observou-a deslocar-se para as escadas. Ele apenas respondeu cordialmente o "boa noite" e continuou a jantar sozinho. Ainda observando-a de soslaio, notou-a parar no primeiro degrau da escada. Ficou de pé, as mãos segurando o corrimão de madeira vitoriano.
— Pode dormir, Ayuminn. Eu posso lavar quando terminar. — ele virou o rosto para trás, pegando-a de surpresa. A menina, que usava um rabo de cavalo alto arregalou os olhos bicolores e levantou o rosto.
— E-eu não me importo de esperar. — ela murmurou tão baixo que pareceu um sussurro.
— Não há necessidade. Está tudo bem para mim. — ainda assim ele ouviu bem. Virou o rosto de volta para frente e voltou a comer.
— Para mim também. — ela se aproximou, voltando para a pia, de onde podia vê-lo mais de perto do que da escada. A mesa ficava na sala de jantar e atrás da sala de jantar ficava a escada que dava para os quartos. Tinha tons aconchegantes, o piso de madeira polida, o carpete em tons neutros do bege ao marrom. Harmonioso e belo. As cortinas eram  escarlate e havia poucas luzes acesas, que eram as do abajures de lâmpadas incandescentes, com temperatura de cor amarelada e solitária.
— Ayuminn... — Lysandre tinha um tom ríspido naquele momento, o que era difícil ver nele, sempre tão sereno. A verdade era que, Lysandre pensava mais em Ayuminn do que gostaria e não que aquilo fosse um problema, com exceção do fato de ela agora trabalhar para a família dele e, de certa forma, parecia um pouco antiético. Ele não queria parecer a ela uma espécie de pervertido ou afins, mas desde que ela chegou à cidade, ele não conseguiu tirar dos pensamentos a noite em que a conheceu, na praia. Quando a salvou do irmão, um tal de... Neal? Era esse o nome se sua memória não o enganava. Também ficava um pouco incomodado de vê-la bem mais íntima com Ian, e isso não era de hoje apenas, estavam conversando há tempos, não havia dúvida. — Você precisa dormir.
— Sr. Lysandre. — ela engoliu em seco e aproximou-se da mesa, apoiando a mão ali, perto do prato dele. Precisava usar formalidade pra separar as coisas, mas era tão estranho chamar um colega de classe de "Sr". — É o meu trabalho e amanhã é sábado.
— Lysandre, Ayuminn. — ele pousou a mão em cima da dela, o olhar levantou-se.
— Lysandre. — ela repetiu, o coração palpitava em meio à luz fraca do abajur que iluminava o belo rosto do rapaz. Nesse momento, Lysandre levantou-se com a cabeça baixa para o prato, Ayuminn poderia jurar que ele ruborizava, mas não ousaria mencionar nada. Ele rapidamente dirigiu-se à pia e foi lavar o prato.
— Lysandre, não é necess... — quando deu-se conta ela tentou im pedi-lo, mas Lysandre manteve-se rígido de frente para a pia e além de muito alto, ele tinha força, então era impossível batalhar com ele.
— Ayuminn... — Quando o rapaz finalizou, ele voltou o rosto para ela e, em silêncio, olhou-a por alguns segundos, os corpos próximos, mas não o suficiente. Ele deu um ligeiro passo na direção da menina, quebrando o limite.
— S-sim? — a voz dela saiu falhada, tamanha a ansiedade de tê-lo mais e mais perto.
— Você viu meu bloco de notas?
***
— Desculpa aparecer assim tão de repente, eu esperava que você fosse se lembrar de mim, mas, pelo visto, é a segunda vez que não dá certo.
Ela virou=se lentamente, temerosa do que poderia encontrar. Não reconheceu bem a voz, talvez tenha soado familiar, mas nada que a trouxesse lembranças imediatas. Ela parou os olhos atentos, órbitas belamente coloridas de azul analisando-o. O rosto dele tinha traços harmoniosos e ligeiramente sérios, maduros pra ser mais exata. Cabelos negros e bagunçados um pouco abaixo das orelhas. Olhos amendoados.
— Lembro sim. De você, quero dizer...
Ele abriu um sorriso largo e belo, como se esperasse a resposta com ansiedade.
— Ainda bem, eu sou o...
— O rapaz do restaurante, eu sei. — ela ruborizou. Naquela noite havia sido tão tola por não dar atenção a um rapaz como este. Reparando-o mais agora, ele era bem alto, parecia maduro e tinha o corpo esbelto, os ombros largos e fortes. Mas ela sabia que estava privada de qualquer coisa que a fizesse bem. Castiel, rapazes por quem se interessasse, mesmo que bem ligeiramente, como este, como Armin. — Você me chamou pra dançar e por causa de uma pessoa acabei te deixando mal. Me desculpe.
Ele franziu o cenho, mas tinha um sorriso no rosto.
— Você não lembra mesmo, né? — ele se aproximou e tomou uma das mãos dela na sua. Só naquele momento, ela notou que ele segurava um capacete na outra mão e aquilo a deu um aperto de medo no coração.
— Desculpe... — ela baixou o rosto e soltou a mão da dele.
— Eu sou Viktor. — ele deu um sorriso sem mostrar os dentes. — Pelo que lembro, fomos muito amigos no jardim de infância, eu te defendia de uns moleques chatos, o perebinhas e o Vinicius e desde então viramos amigos.
Natsumin pareceu um pouco confusa no começo com os cenhos franzidos, os olhos apertados e o maxilar rígido. Mas quando ele citou os dois garotos que a fizeram mudar de covarde para uma menina diferente, ela também lembrou-se de quem foi seu herói. Como pôde esquecê-lo? Por Deus, era Viktor! O rapaz que lhe deu seu violão! Meu Deus, como ele estava bonito...
— Viktor! — ela se jogou nos braços dele num abraço forte e nostálgico. Não sentiu vontade de comentar mais nada que a comprometesse ou a fizesse se apaixonar por ele novamente. Viktor foi seu amor na infância, depois se desencontrara, mas cá está ele. Tão bonito, tão gentil... Como pôde fazer aquilo com ele no dia do encontro com Debrah? Talvez nem mesmo ele se lembrasse dela, afinal. — É muito bom te rever. — ela soltou-se dos braços dele, as mãos nos bolsos.
— Pensei que nunca lembraria, foi fácil assim esquecer-se de mim? — ele ajeitou o capacete, passando para a outra mão.
— Não, de maneira nenhuma. — ela balançava a cabeça enquanto sorria. — Só... Aconteceram coisas na minha vida. — ela não conseguiu impedir a áurea azulada que pairou sobre ela. Triste como seus olhos.
— Eu entendo... — ele pousou a mão sobre seu ombro. — Bom, não vou te fazer falar se não quiser. Você quer?
— Não... — ela respondeu com sinceridade. — Mas... — ela pigarreou e levantou os olhos para ele. — Quer entrar? Eu fiz café à pouco e está um pouco frio esta noite.
— Eu gostaria sim, Natsumin. — o olhar dele nela era sereno como as expressões em seu rosto. — Até porque a minha vinda aqui não é por acaso. — suas expressões tornaram-se mais sérias e rígidas.
— Aconteceu alguma coisa? — ela tinha o cenho duramente franzido e os olhos arregalaram-se levianamente.
— É sobre o que aconteceu na casa de um de seus amigos recentemente. — ele pegou a mão dela novamente.
"Lysandre", Natsumin logo pensou. É sobre o assalto na casa de Lysandre.
***
— P-pra sua sorte sim. — ela afastou-se dele rapidamente, a aproximação que a provocou taquicardia, ainda resultando em gaguejos sutis. Ela dirigiu-se à sala de estar, onde abriu a escrivaninha ao lado do sofá, aquela com o abajur de porcelana em cima, e retirou o pequeno bloco de capa preta. — Aqui est... — ela parou de falar porque Lysandre estava já logo atrás dela.
— Obrigado. — ele tinha a voz doce e morna, como uma carícia. Ayuminn engoliu em seco e afastou-se, mas acabou batendo na escrivaninha e fazendo o abajur cair. — Cuidado. — Lysandre foi bem mais rápido e pegou o objeto antes que caísse. — Você poderia ter se machucado, mas confesso que já previa isso acontecer.
— D-desculpe, s-sou um pouco estabanada. — ela comprimira os olhos enquant dava um sorriso amarelado.
— Eu percebi. — ele sorriu um discreto sorriso.
Eles ficaram por alguns segundos trocando olhares, mas aquilo incomodava demais Ayuminn, principalmente pelo fato de ele ser charmoso além de lindo, cheirar muito bem, ter um estilo peculiar, olhar encantador, cantar como um anjo - sim, ela já ouvira cantar enquanto limpava o corredor e a porta do quarto dele estava entreaberta - e tê-la salvo naquela praia. A propósito, nesse dia ela agira por instinto e acabara roubando um selinho dele. Breve e molhado de lágrimas, mal algo que ela não poderia esquecer. A noite em que Neal quase acabou com ela e o pontapé pra sua decisão de ir embora dali. Ótima decisão, por sinal, senão não estaria ali, naquele momento, naquela mansão, admirando o grande homem que era Lysandre Chermont.
— E-eu tenho que dormir. — ela soltou um suspiro e notou que Lysandre está ruborizado. Ayuminn fingiu que não viu e correu para as escadas, tentando evitar a si mesma de beija-lo tão repentinamente e consagrar-se como uma completa aproveitadora. E de maneira alguma queria passar essa imagem.
***
— O café está delicioso. — Viktor colocou a xícara no suporte sobre a mesa de centro da sala. A casa de Natsumin tinha um aspeto harmonioso, principalmente na forma como as coisas eram organizadas. Mesa de centro entre a televisão e o sofá, sobre um tapete. Quadros nas paredes, pequenos e com pinturas usualmente sobre casas simples no campo. Prateleiras na sala com livros de conhecimentos gerais. A cozinha pequena e confortável acoplada à copa.
— Obrigada. — ela também tomou um gole do café e depois colocou-o sobre a mesa de centro. O líquido desceu desconfortável, ela estava nervosa e colocou a xícara na mesa para que ele não reparasse que tremia. Natsumin não teve boas lembranças daquele dia. Mas sabia que o que acontecera não fora por acaso e que reconhecera um pouco o olhar mascarado do homem que apontou a arma para ela. Não conseguia atrelar à um rosto, mas a lembrava vagamente de alguém. Os olhos eram castanhos como o deste Viktor, disposto à sua frente, mas diferentes. O formato era diferente, mais angulado e dissimulado, não doces e arredondados como os desse Viktor. Ela sentiu um aperto no peito. Aguardou.
— Você pod...
— Eu acho que...
Eles falaram juntos, depois sorriram.
— Pode falar. — ela concedeu ao rapaz a vez, mas ele insistiu que era ela quem deveria. Diante disso, a menina balançou os ombros e continuou. — Eu queria ir logo ao ponto. Não me leve a mal, mas estou ansiosa de uma maneira ruim.
— Eu entendo. — ele assentiu com a cabeça e seu rosto apresentou traços mais sérios. — Eu vou ser o mais direto possível.
Ela assentiu, aguardando.
— Há um impostor na escola de vocês. — ele disse firme.
— Como assim? — ela aproximou-se dele, estava sentada ao seu lado no sofá, os olhos ligeiramente arregalados.
— Natsumin, não sei se você sabe, mas... — chegou mais perto dela no sofá de forma que seus olhos amendoados fixavam nos dela com profundidade. — Meu pai tem dinheiro. — ele baixou o rosto, como se não se importasse com isso. — Mas não é algo imaginável, ele tem muito dinheiro mesmo. É dono de um dos maiores negócios na França e, com poderes não só vem grandes responsabilidades, mas também grandes riscos. — ele voltou o rosto para o dela, que estava atencioso naquele cenho franzido. — Ele provavelmente está usando meu nome, vestindo-se como eu. Isso já faz alguns meses, quase um ano.
Natsumin mordeu o lábio inferior. De alguma forma lembrava-se de alguém com essas características, cabelos pretos, olhos castanhos, lembrando-o e ao mesmo tempo não. Até ter uma memória ruim a respeito. O dia em que foi forçada a lembrar de seu passado. O dia em que Ambre e Viktor a fizeram recordar-se de tudo o que nunca quis.
— Natsumin. — ele notou o brilho provocado pelas lágrimas nos olhos dela, um brilho de aura azulada, triste como seus olhos. A menina Natsumin não era mais a mesma de que ele se recordava. Parecia muito mais triste e solitária. Diante disso, ela manteve a postura firme e ereta, evitando olhá-lo, as lembranças daquele dia amargurado quando Armin a beijou pela primeira vez, quando Castiel viu o beijo e a deixou na chuva. Quando depois ele a levou para dentro e tirou suas roupas. Lembranças ruins e boas que afastavam-a daquela casa naquele momento, lembranças mais frescas do que as que tinha de Viktor, o doce Viktor diante dela nesse momento.
— Você conhece algum Viktor? —ele apertou a mão dela com delicadeza.
Ela balançou a cabeça positivamente.
— Pois eu preciso que você me ajude. — ela baixou os olhos para ele, os rostos bem próximos. — Eu soube do que aconteceu na casa do seu amigo e fui à polícia para conseguir saber mais detalhes, ter acesso aos depoimentos de vocês, mas não foi possível. Eu já fiz pedidos de investigação também, mas sem provas a polícia não me permitiu. Eu tive de subornar um policial para ler seu depoimento e pela descrição você disse que o líder deles tinha olhos castanhos que te lembravam de alguém. É ele, não é?
Natsumin vagou suas lembranças mais a fundo, recordando-se dos poucos momentos em que esteve perto de Viktor, o falso pedido de desculpas, a situação no vestiário. Meu Deus. Era ele. O homem na casa de Lysandre era ele! O olhar era o mesmo, o porte do corpo. A voz... Era ele.
A menina balançou a cabeça positivamente mais uma vez.
— Que droga... — Viktor balançou a cabeça para os lados e apoiou a cabeça na mão que ainda segurava a de Natsumin. — Além de estar roubando minha identidade, ele está cometendo outros crimes... Eu não tenho detalhes de quem ele é, demiti o detetive porque ele não me encontrava nada de concreto... Vou ter de contratar outro.
— Viktor. — Natsumin sobrepôs a mão dela na dele e tocou o rosto do rapaz. — Quero participar nessas investigações. — ela lembrou-se de toda a humilhação que junto à Ambre o falso Viktor a fez passar e trincou os dentes diantes do ódio que aquilo a causava. — Quero te ajudar no que for possível. Eu não suporto esse cara e agora sabendo de tudo isso...
— Não quero você se arriscando, Natsumin. — ele pôs a mão sobre a dela que ainda estava em seu rosto. — Mas vou aceitar sua ajuda desde que seja como eu orientar, tudo bem?
— Sim. — ela balançou a cabeça positivamente e afastou-se um pouco, as mãos agora sobre as próprias pernas. — Você pode vir aqui pra minha casa todos os dias, vamos reunir e conversar sobre tudo que tivermos, eu ficarei de olho nele na escola e você.. Onde você estuda, Viktor?
— Eu ainda estudo no nosso antigo colégio. — ele sorriu. — Nada mudou lá, pode ter certeza. Venho para cá todas as sextas para investigar e numa dessas sextas encontrei você naquele restaurante com o sue namorado e uma amiga.
— Não, você entendeu errado. — Natsumin ruborizou. — Ele não é meu namorado e ela não é minha amiga.
Ele sorriu.
— De alguma forma me sinto aliviado. — ele acariciou o rosto dela e Natsumin ficou rígida. A aproximação de Viktor de alguma forma mexeu um pouco com ela. — Bom, eu preciso ir, Natsumin. — ele levantou-se e ela nada disse, apenas fez o mesmo.
Viktor pegou o capacete sobre a mesa e seguiu para a porta, Natsumin indo atrás. Ela abriu para o rapaz e ambos dirigiram-se para a entrada, do lado de fora, recentemente adornada pela tia com vasos de planta grandes e formosas e de folhas alongadas e escuras.
— Boa noite, Natsumin. — repentinamente o rapaz virou-se e beijou o rosto dela. — Foi bom te ver.
— Boa noite, Viktor. — ela acenou da porta, o coração apertado por ter sido balançado pela primeira vez por alguém que não era Castiel. De alguma forma, a presença de Viktor a lembrava da antiga Natsumin, aquela anterior à rebelde e que ela tentava resgatar. Mas sabia que independente de com quem, não poderia ser feliz e se uma dia pudesse, gostaria de estar ao lado de outra pessoa. Ela observou Viktor pegar a moto que deixara em seu jardim e por um momento perguntou-se como não o ouviu chegar. Ele pegou o capacete e partiu, mas ela só prestava atenção no caminho que uma outra pessoa seguira à pé. Aquele por quem ela estava apaixonada, um ruivo teimoso e arrogante, que ela gostaria que voltasse, o seu Diamante Bruto.
Mal sabia que ele esteve ali o tempo todo.


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Notas finais do capítulo

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