Prólogo – Black Widow

O som de tiros e mais tiros preenche o ambiente de caos e destruição a minha volta. Vários corpos jogados pelo chão, cobertos de sangue e sem qualquer sinal de vida, mas não eram somente o barulho dos disparos que me atormentavam e sim os gritos de desespero e agonia que invadiam minha mente de uma forma perturbadora.

Esses gritos eram das almas que torturei impiedosamente antes de fazê-las sangrar, das pessoas que matei sem um pingo de misericórdia, os homicídios que executei passavam como flashes em minha mente, tudo isso fruto do meu passado obscuro, das mentiras que alimentei durante toda a minha vida.

Abro os olhos, levantando meu tórax e permanecendo sentada na cama de solteiro qual antes eu dormia. Minha respiração estava descompassada, meu corpo tremia freneticamente, meus olhos vazios fitavam o nada, enquanto eu sentia minhas roupas ensopadas pelo suor.

– Natasha? – a voz de Clint chama por mim em tom de preocupação, me despertando de certa forma.

Olho para o lado, ele está deitado na cama de solteiro ao lado da minha, me olhando com uma expressão apreensiva em seu rosto.

Respiro fundo preenchendo meus pulmões com o ar que lhes faltava.

– Pesadelos? – Clint questiona, mas algo me diz que ele já sabia a resposta.

Escoro minhas costas na cabeceira da cama, pendendo a cabeça para trás e fechando meus olhos, tentando apagar as cenas do sonho torturante.

– Lembranças. – enfim respondo.

Percebo um movimento, e pelo canto dos olhos consigo ver Clint sentar em sua cama e olhar pra mim de forma solidaria.

– Você vai superar, não se preocupe. – ele diz tentando me transpassar esperança.

Solto um riso pelo nariz, um riso frio carregado de derrota.

– Não vou, Clint. – nego o fitando seriamente – Minha conta ainda está no vermelho, e até que eu quite isso, meu passado vai me perseguir, não há como me livrar dele.

Um suspiro pesado e cansado exala de seus pulmões. Clint era um bom amigo, sempre tentando me ajudar com meus problemas inacabados, mas às vezes ele fantasiava de mais, tentando me fazer acreditar que algum dia eu conseguiria superar meu lado sombrio.

– E o que pretende fazer? – ele questiona.

Desvio o olhar para a parede branca do quarto, iluminado apenas pela luz do abajur em cima do criado mudo.

– Boa pergunta. – respondo com um meio sorriso – Prometo que te respondo assim que souber.

Clint sorri minimamente, balançando a cabeça de forma negativa.

– Boa noite Natasha. – ele deseja voltando a deitar.

Não respondo, apenas sorrio torto voltando a fitar o nada, um olhar perdido, com a cabeça cheia de pensamentos.

Por mais que eu tente negar, eu estou me afogando, sou a vitima dos meus erros, do meu passado sombrio e tenebroso. Eu estou sendo atormentada pelos meus próprios demônios, e quanto mais eu tento fugir, mais eles me arrastam para a escuridão.

Eu preciso achar uma saída e me salvar desse terrível pesadelo antes que seja tarde, me livrar dessa onda de tormento que se aproxima cada vez mais. Nunca pensei que seria tão difícil vencer isso, mas parece que nem mesmo a Viúva Negra consegue lidar com seus demônios, quais ela mesma criou.

Eu tenho que me salvar... Me salvar de mim mesma.