A Sad Courtesan Story escrita por Isolde


Capítulo 9
The Yellow Flower of Qin Huai




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A sedução aparentemente havia sido aprendida. You Ya avisou que o tempo entre uma lição e outra era grande, portanto, Yu Mai deveria voltar para a casa das cortesãs.

Com certo pesar a garota assentiu sem questionar. Em um pequeno embrulho de seda alguns vestidos ganhos de sua mestra descansavam cuidadosamente dobrados. Em sua outra mão carregava uma pequena caixinha de prata onde havia alguns brincos de jade e um simples colar de ouro.

A não ser por sua fama, Yu Mai não tinha mais nada, até mesmo Yan Yan parecia negar aquela rala amizade que tinham construído.

Durante os dias que havia passado na casa da mais alta cortesã do Qin Huai, a habitual decoração fina do dormitório de todas as prostitutas havia mudado.

As paredes vermelhas estavam decoradas com ramos de cerejeiras, juntamente com um número incomum de incensos escarlate queimando no parapeito das janelas.

A brisa morna soprava as cortinas de seda, acariciando gentilmente o rosto das mulheres que dormiam tranquilamente.

Yu Mai fechou os olhos e suspirou. Sua mente cansada ansiava pela liberdade, mas tudo o que podia fazer agora era ouvir o sussurro do vento e esperar por notícias boas.

A tranqüilidade foi quebrada por uma voz suave, porém carregada de raiva:

– Não se sente incomodada?

A jovem virou-se, Yan Yan estava agora sentada em cima de seu baú, perguntando sem olhar no rosto da garota.

– Yan Yan – sussurrou Mai – Eu...

– Tai era o servo de seu pai e agora, você é servida a ele. Isso não incomoda você? Afinal, ele já deveria querer tomá-la desde que era uma nobre.

O semblante de alívio se dissipou mais uma vez no rosto da garota. Sua respiração tornou-se pesada, ela sentia a jovem Qiu chorar dentro de seu corpo profanado. Wan Qiu estava presa dentro de Yu Mai.

– Você e You Ya me ensinaram que o passado não significa nada aqui, se ele paga o bastante... – sentiu a voz sumir, mas forçou-se a continuar –... Por que não poderia me tomar?

A cortesã sorriu, mas não era um sorriso bom.

– Você está certa.

Um silêncio desconfortável se seguiu, enquanto Yan Yan apertava tão fortemente as mangas de seu quimono a ponto de rasgá-las.

– Desde que ele freqüenta o pavilhão, eu sou a única que ele requisita, por que agora eu não sou mais? – ela passou uma mão pelo rosto, secando uma lágrima solitária – Uma prostituta de sangue nobre é mais importante do que eu?

Yu Mai estava espantada.

Quando os raios da manhã entraram pela janela, Yan Yan levantou o rosto pela primeira vez.

O brilho em seus intensos olhos negros era um que jamais poderia existir em alguém daquele ofício.

Não eram apenas as lágrimas que desciam descontroladas por sua face, não era a maquiagem borrada de seus olhos, muito menos as mãos nervosas que retorciam o pano fino de suas roupas, era o modo em que olhava para Yu Mai, era o modo como soluçava ou como demorava a abrir os olhos ao piscá-los, era como retinha todas as memórias de um amor quebrado na sua frente, roubado por Yu Mai, a jovem e fútil cortesã que nada sabia sobre aquela vida.

Yan Yan amava Tai, e era um amor avassalador.

Yu Mai tentou encontrar palavras, mas nada do que tinha em mente poderia acalmar o coração da fera que estava a sua frente.

A cortesã de quimono branco fungou. De dentro de uma das longas mangas retirou um objeto tão reluzente quanto o reflexo de uma estrela.

Na forma de um crisântemo de prata, o adorno de cabelo foi jogado no chão, aos pés da garota mais baixa.

Quando o enfeite bateu no piso de madeira, produziu um ruído feio e rouco.

Yan Yan virou-se uma última vez para trás antes de deixar o lugar, a mágoa presente em seu olhar era tão intensa que Yu Mai sentiu vontade de chorar também, mas antes que uma gota de lágrima tivesse caído, a mulher já não estava mais ali.

E então a garota sentiu dor. Sentiu o vazio da solidão preencher o seu coração há tanto abandonado.

Para evitar maiores problemas por um dia, ela envolveu todos os pertences em um pedaço de tecido vermelho e os guardou embaixo de seu colchão.

E ali se permitiu dormir um pouco, sonhando com dragões vermelhos e guerras entre serpentes.

Quando Yu Mai abriu os olhos os incensos já não queimavam mais e todo aquele vento de fim de primavera já soprara o cheiro do lótus para longe.

A lua subia calma, ainda oculta pelo sol das três que brilhava intensamente na hora do macaco¹.

Um grupinho de pequenas criadas observava curiosa a garota acordar, mas logo sumiram entre burburinhos pelas cortinas coloridas do enorme dormitório.

O chão perolado do dormitório estava morno. Naquele quente começo de tarde uma capa de frio não seria necessária.

Yu Mai estava sozinha agora.

Seus brilhantes olhos negros miravam o chão onde quer que fosse.

O doce som de uma flauta de bambu acompanhava-a em seu trajeto pelos corredores ensolarados do pavilhão.

A garota virou-se em todas as direções, mas não conseguia distinguir de onde o som vinha. Era muito bonito, mas estava começando a irritá-la, como se alguém zombasse de sua dor.

Quando nada mais preenchia o corredor a não ser pela sombra da presença de Yu Mai, uma presença toda vestida em negro saiu das trevas da sala de música.

Rodopiava a flauta em suas mãos, os olhos inexpressivos procurando o gracioso ponto branco que diminuía ainda mais na imensidão reta das paredes chinesas.

...

A noite avançou morna e densa pelo horizonte.

As lanternas vermelhas queimavam mais quentes do que nunca e o cheiro do amor que exalava do Qin Huai atraia a atenção de todos os homens da província.

Yu Mai não estava disposta a vender seu corpo naquela noite. Sua produção estava tão singela, o cabelo negro pobre em adereços. Um simples e gracioso vestido amarelo cobrindo sua pele pálida.

Tinha uma pipa em mãos quando entrou pela primeira vez no saguão naquela noite.

Por um momento, as musicistas pararam de tocar. Olhavam muito curiosas para a garota, ambas sussurrando coisas que de ouvido em ouvido, chegavam aos clientes.

– Não é a cortesã que recebe visitas de dia?

– E ainda por cima de um rico!

– E como era rico...

– Ouvi dizer que era um nobre!

– Será que era da Cidade Proibida?

– Provavelmente...

– Ofereceu duas casas para se deitar com ela naquela manhã.

O salão estava em completo silêncio.

Todos os olhos miravam aquela figura de beleza natural. O aspecto muito jovem e virginal, em contraste com os negros e brilhantes olhos de mulher.

A seda amarela guardava como que uma jóia pálida, uma pele suave e macia que cheirava a jasmim, aguardando o suave toque do que melhor pudesse lhe pagar.

A música começou a ser tocada, mas de um ponto diferente já que as moças esqueceram-se de onde pararam.

O movimento continuou um pouco desajeitado. Todos desejavam saber quem era a nova cortesã do vestido amarelo.

– Uma protegida de You Ya... A única. Deve ter lhe ensinado todos os segredos do meio das pernas – disse uma com desdém, obtendo aprovação de várias outras consumidas pela inveja.

Yu Mai estava assustada por dentro, mas surpreendentemente caminhou suavemente pelo salão.

Os homens e mulheres abriam espaço para sua presença poderosa.

A cortesã cortou a multidão como a espada corta a luz, dividindo-a agressiva e graciosamente em um lampejo belo e atordoante.

Ela via a admiração nos olhos de todos e sentia a pulsação do coração de cada homem ali. Todos eles batiam por ela, contavam mentalmente os bens para possuírem a flor amarela apenas por uma noite. Eles queriam amor, um amor que agora, apenas Yu Mai poderia dar, apenas ela e somente ela.

Toda aquela atenção a fez sentir-se como uma nobre novamente, uma flor do jardim da casa Wan, onde era desejada por todos os nobres de Jiangsu. Agora não apenas os nobres, os guardas, os pobres, os mercadores, algumas mulheres...

Como uma flecha, sentiu a graciosa música sobre cortesãs que ouviu em sua infância, a música da Lenda do Rio Qin Huai voltar a sua mente.

“Eu tenho uma história,

deixe-me colocá-la em uma canção.’’

Um corajoso mercador de jóias iniciou um caminho em sua direção.

Sorridente, o homem alto e de finos bigodes negros ofereceu-lhe um pequeno anel com pedra de jade.

Curvou-se e então voltou a sorrir.

– Deseja uma noite comigo por esse anel? – perguntou Yu Mai, curiosa.

– Aceite como um presente, apenas por sua graciosa imagem.

Ela sorriu, mas apenas com os olhos.

– Aceitarei.

E então voltou a caminhar.

– Eu pago o seu peso em prata para passar essa noite com você, cortesã do vestido amarelo.

“Eu espero que cada um de vocês me ouça pacientemente’’

Yu Mai virou-se.

Embora ali estivesse movimentado, ela percebeu que todos esperavam por sua resposta.

Então assentiu com a cabeça, tocando gentilmente a mão do mercador e o conduzindo alguns andares a cima.

‘’Permita-me cantar a lenda do riu Qin Huai’’

Naquela noite, com aquele mercador, a cortesã sentiu a cortina entre Wan Qiu e Yu Mai se dissipar. Elas eram a mesma pessoa agora, uma cortesã de sangue nobre, a flor amarela do Qin Huai.

‘’Calma e pacientemente, para cada um de vocês...

Desde a era anciã, o rio vem flutuando graciosamente.

Essa é a beleza do sul, a elegância de Nanquim.

Caminhe no famoso palácio de Zhan, aproveite a arquitetura espetacular.

Olhe para a colônia de garças, com água ondulando ao redor.

É um paraíso. ’’

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¹ Hora do Macaco – Período compreendido das 15h00min até as 17h00min.


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Notas finais do capítulo

Essa música tão importante para Yu Mai realmente existe, se estiver afim, pode ouvi-la aqui:
www.youtube.com/watch?v=BkLwlmSrkII



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