Estava andando nos corredores. Tinha que ir ao jantar, mas minha mente estava totalmente perdida em pensamentos.

Naquele momento, eu teria que pensar em um plano. Como arrancar todas as informações que eu precisava sem causar nenhum tumulto. Minha mente estava cheia de ideias, mas qual seria a melhor de usar? Todas pareciam tão absurdas...

–Ei, orelhudo! – dizia, empurrando Legolas contra a parede e apontando-lhe uma faca. – Melhor me contar tudo o que sabe, se não vai morrer!

Não, não podia intimidá-lo assim. Provavelmente ele não me diria nada e só me jogaria no chão com algum ataque élfico ninja.

–Oi, bonitinho! Não tá a fim de me contar algumas coisinhas não? – dizia, com uma voz...estranha. E, claro, com uma roupa bem sugestiva. – Vem cá, vem.

Não, não posso tentar seduzir ele. Primeiro porque eu me dou ao respeito, não sou esse tipo de pessoa. Segundo, ele é um elfo. Não cairia nos charmes de uma humana tão fácil assim.

–Você irá me contar! – dizia, colocando uma das mãos em sua cabeça, seus olhos brilhavam. – Eu ordeno!

Não, magia era uma opção impensável. Nada disso. A Floresta das Trevas não era um lugar muito bom para usar dessas coisas, pois seria ridículo de várias criaturas sombrias detectarem a minha presença, o que seria bem...terrível.

Além disso tudo, eu provavelmente não poderia perguntar nada para ele no jantar, afinal, teriam outras pessoas lá. Teríamos que estar a sós para discutir esse assunto. Mas como e quando eu conseguiria um tempo sozinha com o príncipe? Ele devia ser uma pessoa muito ocupada.

–Para onde exatamente você está indo? – ouvi alguém perguntar.

Me virei, vendo que era Tauriel. Tentei não corar, lembrando automaticamente do ocorrido de mais cedo, mais uma vez, uma tentativa inútil.

–Ah, eu estou indo...para o jantar?

–Não é por aí. Me siga, eu te mostro onde é.

–O-obrigada.

Então, eu segui a elfa ruiva por uma quantidade incontável de corredores. Foi um caminho silencioso. Ninguém falou nada.

Então, chegamos no local do jantar. Era uma elevação afastada do resto do local, esculpida em madeira. No seu centro, uma mesa longa, com um banquete em cima.

Perto dela, vi vários elfos em pé. Parecia que só faltava eu. Senti uma pontada de vergonha por ter que fazer eles esperarem.

Legolas estendeu sua mão para mim. Ele tinha um sorriso sereno no rosto. Usava uma túnica verde de detalhes prateados. Seu cabelo com uma mínima trança no meio caía em seus ombros.

Ele me olhava com olhos totalmente diferentes agora. Parecia surpreso. Talvez me ver ajeitada, diferente de como eu estava antes quando estava encharcada, machucada e suja, o deixou surpreso. Corei um pouquinho ao perceber que ele me fitava, me analisando de cima para baixo, quase sem piscar.

Segurei sua mão e ele me conduziu para uma das cadeiras na mesa. Então ele a soltou e disse, em alto e bom som:

–Podemos começar, Melloneamin.

Então, todos se sentaram. Por alguma razão, ninguém tinha tocado na comida ainda. Por que será?

–Já podemos nos alimentar. – disse Legolas, batendo uma palma.

Então o príncipe precisava anunciar a hora que os outros deveriam comer. Tá bom né, cada um com seus modos.

Eu olhava fixamente para o meu prato. Não sabia o que fazer ou dizer. Não conhecia praticamente ninguém dali, com exceção de Legolas e Tauriel, gente que eu mal conhecia, para falar a verdade.

Comecei a pensar naquilo de novo. Como faria para Legolas desembuchar?

Mas foi perdida (mais uma vez) em meus pensamentos que nem percebi que sentado ao meu lado, Legolas se aproximou um pouco para sussurrar em meu ouvido.

–Desculpa pelo ocorrido de mais cedo.

NÃO PRECISA LEMBRAR, foi exatamente o que minha mente gritou naquele momento. Passei de branca a vermelha. Não sabia muito bem como reagir.

–A-ah, sem problema. Você não fez de propósito. – disse, gaguejando.

–Que bom que me desculpou. Estava começando a ficar nervoso quanto a isso. – ele completou.

Eu olhei para ele, e bem que eu percebi algo...ele era realmente fofinho. Sim, fofinho. Ver ele constrangido daquele jeito me fez perceber que ele era pura fofura as vezes. Deu vontade até de abraçar ele.

Putz, o que eu estava pensando. Que abraçar ele o que. Não viaja mulher. Acorda para a vida.

Decidi observar os outros, que conversavam entre si.

Bem na minha frente, estava um elfo de cabelos loiros escuros. Nunca tinha visto um elfo com aquele tom de cabelo, era uma grande novidade. Seus olhos eram de um profundo verde. Ele conversava com uma elfa loira de olhos azuis bem do lado dele. Podia jurar que ele estava jogando alguma cantada nela, mas ela parecia rejeitar. Só não tinha certeza disso, pois o jeito de cantar alguém dos elfos era um tanto...diferente.

Na minha direita estavam duas elfas de cabelo castanho conversando, eram parecidas como irmãs e concordavam em tudo, não importava sobre o que falavam. Ao contrário das outras duas que estavam na direita de Tauriel, sentada do lado do elfo das cantadas. Essa duas, uma de cabelo ruivo avioletado, e a outra de um ruivo alaranjado. Faltava pouco para as duas começarem a se esbofetear.

Além disso, o que Tauriel estava fazendo sentada à mesa? Ela não era a chefe da guarda real? Ela deveria comer com os nobres? Estranho isso...pensava que ela comia em algum lugar separado, tipo um quartel general, onde ela mandasse em tudo. Viajei? Talvez...quem sabe.

Bem, do lado de Legolas estava um elfo de cabelos castanhos, que me lembrou levemente dos gêmeos de Rivendell, me fazendo parar para pensar em o que será que Elrohir estaria fazendo naquele momento. Do lado desse, estavam outros dois elfos. Os três conversavam com Legolas, sobre assuntos diversos.

Nas pontas do outro lado da mesa, em uma tinha uma loira que tentava conversar com a elfa ao seu lado, mas o de cabelo diferente, ao ficar chamando atenção dela, não deixava. E na outra ponta, estava um elfo que tentava apartar a briga das duas inimigas ao seu lado.

Até que, parando para olhar assim, pareciam pessoas normais, não alienígenas de outro mundo. No final das contas, os elfos não eram tão diferentes assim dos humanos em certos aspectos.

Mas eu me uma intrusa ali no meio, sozinha. Ninguém falava comigo e eu não falava com ninguém. Um silêncio completo em minha mente.

–Pessoal, não podemos deixar nossa convidada de lado assim. Ana, permita-me apresentar meus companheiros. – disse Legolas, eu só assenti positivamente como resposta.

Então, o príncipe élfico começou a introduzir cada um dos elfos presentes naquela mesa.

–Bom, primeiramente essa é Tauriel, que, pelo visto, você já conhece. Aquele na sua frente é Bruinir, ele é...por isso...você...

O que? Não estava conseguindo entender as palavras de Legoas. Eu queria ouvir os nomes deles? Sim, eu queria saber mais sobre os elfos dali. Então porquê...porque eu não estava conseguindo escutar o que o príncipe estava falando?

Por um momento, senti meu corpo ficar cansado e me sentia indisposta. Minha visão ficou turva, mas depois de piscar um pouco, tudo voltou ao normal.

–Aquela ali é Cíwen...elfa de...

Ainda não conseguia escutar direito. Era como se minha mente estivesse se desligando daquele lugar. Mas porquê?

Decidi beber um pouco de água. Eu devia ainda estar me recuperando do que tinha acontecido na floresta e aquilo deveria ter me subido à cabeça. Talvez eu devesse ter descansado mais um pouco.

Segurei a taça em minhas mãos, quando um líquido começou a escorrer dela. Transbordando, aquilo que uma vez era a água transparente tinha se transformado em algo negro e grosso, e escorria para os meus braços, inundando a mesa.

Mas quando eu olhei em volta, todos pareciam totalmente normais. Só eu estava vendo aquilo? Tinha que manter a calma. Minha mente devia estar brincando novamente.

Coloquei a taça novamente na mesa e o líquido retornou ao seu recipiente.

–Na ponta temos...é um elfo de...

Senti um aperto em meu peito. Uma dor constante. Tentei comprimir aquilo. Tinha que aquentar.

Senti algo indo escorrer do meu nariz, mais puxei para dentro. Eu tinha que me acalmar. Tudo iria ficar bem.

Ou não.

Senti uma vontade de tossir. Tentei fazer isso da forma mais discreta possível. Mas logo a tosse se tornou um som destruidor naquele ambiente, pelo menos para mim, porque os outros não pareciam se importar.

Logo comecei a tossir sangue. Sangue que começou a tomar um tom roxo e logo preto. Começou a escorrer da minha boca, do meu nariz e logo dos meus olhos.

Sentia uma dor alucinante. Por que nenhum deles olhava para mim? Por que ninguém tentava me ajudar. Comecei a gritar. Minhas unhas se arrastavam em meu rosto, numa tentativa inútil de para aquilo.

Ninguém mais falava, eles só olhavam para mim. Sorrisos em seus rostos. Por que? Como eles podiam estar felizes com aquilo. Logo seus olhos se tornaram negros. Os cálices transbordavam aquele líquido preto. Seria aquilo...o meu sangue?

A comida apodrecia rapidamente e o pano escurecia, se desfazendo aos poucos. A luz do ambiente se tornava azulada e tudo parecia ficar mais escuro.

O líquido caía para fora da mesa me sujando toda. Mas eu não conseguia sair dali, como se estivesse presa àquela cadeira.

E depois, bem depois, os corpos desapareceram, transformando-se em trevas, infestando o ambiente. Era como se aquela mesa não estivesse mais na fortaleza da floresta.

Mas não Legolas. Ele permaneceu ali. Sua túnica verde escureceu. Seus cabelos ficaram mais claros. Logo suas feições mudaram e um capuz de escuridão cobriu seus olhos.

Aquilo não era mais Legolas...aquilo era...

Aquele homem. Aquele homem de preto, que eu conheci quando Argárir me salvou.

Ele se virou para mim e sorriu. Seus dentes pálidos a mostra. Ele tocou em mim, perto de onde deveria estar o meu coração. Eu queria dizer alguma coisa, mas não conseguia.

Meu vestido logo se tornou negro e minha pele se tornou mais pálida.

Aquele líquido se tornou um mar negro. A mesa começou a sumir, assim como as cadeiras. Transformavam se em aves negras que me cercavam e logo eu caí, naquele mar de escuridão. A luz ficava cada vez mais longe, assim como a imagem daquele homem, que não deixava de sorrir.

Eu afundava cada vez mais. Mas não conseguia me mexer para cima. Sentia uma falta de ar horrível, mas não conseguia respirar.

Sentia que iria sufocar a qualquer segundo. A dor continuava.

Logo, uma escuridão completa.

***

A dor tinha parado. Não sentia mais a necessidade de respirar. Estava no escuro, mas não queria luz. Estava lá, na água, só afundando na eternidade.

Fechei meus olhos, não havia o que fazer. Tinha que aceitar o meu destino e morrer ali.

Depois de um tempo, atingi o fundo. Mas não sentia como se estivesse molhada. Era como se não tivesse caído na água. Conseguia respirar normalmente. Era como se tudo tivesse voltado ao normal.

Olhei para o chão, vendo um piso de madeira. Aquilo...aquilo não era a fortaleza da floresta. E eu, eu não usava mais aquele vestido negro. Estava com uma calça jeans, tênis, uma blusa azul e um casaco branco. Me levantei, dando com um espelho. Eu também estava...usando a minha boina vermelha.

Sim, tudo tinha voltado ao normal...aquilo era...

...a minha casa.

Palavras em élfico:

Melloneamin = meus amigos.