Pov. Zahra Guardiã

Eu ria, vendo Rilian correr atrás da melhor amiga. Eu gosto de observar os habitantes de Nova Nárnia, ou Nárnia Eterna, como eles chamam. Este em especial. Rilian tem um frescor de juventude muito raro, algo que apenas aqueles que mantiveram sua alma jovem e sua consciência pura a vida toda conseguem ter. Observá-lo assim, em pleno sorriso de alegria, me encanta. Ele tem o brilho de uma estrela. Tem o mesmo brilho de Lilliandil.

– Mas Zahra, você precisa entender... Não é que eu não goste dele... é que eu só.... - eu ouvi lá embaixo uma voz chamar meu nome.

Desci da minha nuvem e voei, batendo minhas brancas asas, em busca da voz que me chamava.

– Você me entende, Zahra? - a voz continuou a falar.

Eu pousei no local de onde vinha a voz. Era a Aurora quem falava. Denovo.

– Falando sozinha outra vez, Aurora? - eu perguntei, fazendo-a se virar.

– Achei que estava falando com você... - ela caminhou até mim - Você parece ter vindo atender a minha oração.

– Anjos não atendem orações, atendem pedidos de socorro urgentes. - eu retruquei, sentando em uma pedra - E pessoas normais costumam vir quando chamadas pelo nome. Diga, Aurora, qual o problema?

– Ai, Zahra, estou começando a ficar pilhada com essa história de casamento... - ela começou - Quer dizer, será que ele falou sério mesmo? Ele quer realmente passar o resto da eternidade comigo? Ter filhos? Uma família? Ai Zahra, eu ouço tantas coisas das flores!.... Elas dizem que ele é apenas um canalha, que quer se aproveitar de mim...

Eu virei os olhos. Não é a primeira vez que tenho que vir tranquilizá-la sobre esse casamento. Ajudaria se o Caspian viesse conversar mais vezes com ela. Ou se eu me livra-se dessas flores venenosas que sussurram coisas para ela. Mas isso Aslan não permitiria. Este é o jardim preferido dele.

– Aurora... - eu falei.

– Eu sei, eu sei, já falamos sobre isso. Mas eu simplesmente não consigo entender. - ela caminhou pelo jardim.

Estava visivelmente abatida, e até as flores de seus cabelos estavam tristes.

– Você, Zahra, que do céu pode ver a tudo e a todos, que observa por sobre as nuvens os homens e suas mentes. - ela olhou para mim, suplicante - Acha que ele me ama? Mesmo e de verdade?

Eu respirei fundo. Como posso dizer para ela? Eu preciso ser sincera.

– Aurora, eu entendo de amor. Entendo mesmo. Eu já vi. Vejo há centenas e centenas de anos. É a única coisa que me faz querer continuar a, como você mesma disse, observar os homens. Vocês, com todas essas guerras, dor, mentiras, ódio... me fazem querer dar as costas e nunca, nunca mais olhar. - eu suspirei - Mas... o jeito que vocês conseguem amar... não existe em nenhum outro lugar do universo.

Aurora olhava atentamente para mim. Esse discurso não é meu, eu admito. É de Lilli. Mas eu o tomo para mim, pois nunca ouvi nada mais verdadeiro, nem que resumisse mais tudo o que eu penso.

– Por isso, eu sei que o amor é incondicional. Mas também sei que ele pode ser imprevisível, incontrolável, incontido, inesperado e impulsivo. - eu falei, lembrando de todos os casais que já observei na vida - Por tudo isso eu.... eu acho que posso afirmar que ele ama você. Porque simplesmente ele não consegue mais ser dono de seu coração. Ele sente, fala, pensa e respira você. Estar com você é tudo o que ele quer e... por isso ele mal se contém ao pensar em você. Porque ele quer ter você, e quer ter pra sempre.

Ela me olhava. Em seus olhos, lágrimas cristalinas ameaçavam rolar.

– Oh Zahra! - ela me abraçou, soluçando em meus ombros - Eu fiquei com tanto medo de isso tudo não ser verdade... Medo de que eu estivesse apenas me enganando. Mas você é um anjo. Você me deu a resposta que eu precisava ouvir. Obrigada, minha amiga.

Eu abracei Aurora, sentindo ela soluçar em meus ombros. Eu sei bem o que eu disse. Eu entendo muito de amor, embora nunca tenha sentido de fato. Mas eu espero que nesta eternidade sem fim eu tenha a chance de sentir. E quem sabe, de ser correspondida.