Uma névoa muito branca e espessa grudava em minha pele no meio daquele escuro angustiante. Era tudo o que eu podia ver. Névoa, névoa e mais névoa.

 Tudo o que eu queria era sair dali. Voltar pra minha vida, pras minhas garotas, guitarras, irmão e banda. Mas não podia.

 De repente, meu corpo foi tomado por um frio e um arrepio percorreu minha espinha. Ouvi um pequeno barulho e olhei.

 - Quem está aí?- Perguntei para o nada e me surpreendi com o eco. Senti medo. Muito medo. Vi um vulto a minha frente. Tinha curvas, então supus ser uma mulher. Ela se aproximava mostrando seu corpo num vestido branco que confirmou minhas suspeitas. Tinha um capuz em seu rosto.

 - Quem é você? Por que não tira esse capuz?- Perguntei. Ela gargalhou por um tempo. Uma risada doce, não parecia ser assustadora. Uma mancha vermelha surgiu em sua barriga e foi aumentando. Era sangue.- Hei, você está sangrando!- Gritei.

 - Ela parou de rir imediatamente e pôs as mãos na barriga. Dei um passo até ela para ajudá-la mas ela estendeu a mão pedindo para que parasse. Um choro de bebê inundou o lugar estranho. Ela riu mais uma vez e apontou a mão tremendo para mim como uma breve despedida. Em seguida, ela caiu, pareceu ter desmaiado. O choro do bebê aumentava cada vez mais me deixando desesperado. Gritei. Não queria que ela morresse, eu deveria ter ajudado. Queria abraçar seu corpo frágil coberto de sangue e ficar ali para que o bebê parasse de chorar. Mas eu não me movia. Gritei novamente.

 - Tom! Tom! Acorda, cara!- Despertou de seu sonho suado e exausto. Bill olhou para o irmão com preocupação.- Você está bem?

 - Estou. Foi só um sonho, Bill.- Tom respondeu ofegante. Mas não parecia um sonho. Era tudo tão real.

 - Não vai mais conseguir dormir. Depois desse sonho, eu também não vou conseguir.- Bill suspirou e se sentou na cama do irmão.

 - Teve o mesmo sonho?

 - Névoa. Mulher de capuz. Sangue. Choro de bebê? Sim, mas não era eu, era você. Foi estranho.- Os dois ficaram um tempo em silêncio refletindo sobre o sonho. Tom se levantou e foi até a janela.

 - Esse sonho tem que significar alguma coisa não?

 - Não sei. Espero que não. Isso foi horrível. Agora eu tenho que ir. Aproveitar as horas de sono que ainda me restam. Tchau.- Bill saiu fechando a porta.