Boneca Humana escrita por SweetAmmy


Capítulo 3
Capítulo 2 — A raiz do problema


Notas iniciais do capítulo

→ Dessa vez, acho que não tenho nada a falar. Espero que gostem! ^-^



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Quarta-feira, 6h15 da manhã e eu já estava pronta para ir com minha mãe à Sweet Amoris para me matricular. Não posso negar, levei quase uma hora para ficar pronta, mas é a rotina que eu tenho diariamente e já me acostumei com ela.

Em primeiro lugar, eu não durmo como as pessoas comuns. Por ter mecanismo interno movido à bateria, não preciso dormir, apenas recarregá-la. A recarga deve ser feita diariamente e leva em torno de 6 horas para estar completa (E você aí achando que seu IPhone demorava demais para carregar e a bateria durava pouco), então normalmente faço isso de noite, quando todos estão dormindo e não faz sentido estar acordada.

Depois, vem a pior parte: Me arrumar, para deixar de ser uma boneca-medonha e me transformar num ser-humano-comum-e-apresentável. Então, se você pensa que as patricinhas de sua escola fazem um verdadeiro "ritual de beleza" antes de ir para a aula, ainda não viu nada. A primeira coisa que faço é colocar meus olhos de vidro, que guardo em um copo com água ao lado de minha cama. Eu consigo enxergar perfeitamente sem eles, mas provavelmente seria estranho demais ver uma garota andando por aí com dois buracos no lugar dos olhos e ainda conseguir caminhar perfeitamente, sem trombar em nada pela frente. A segunda é vestir a pele-falsa - e essa é a parte mais complicada. Ela é como um macacão que começa dos pés, passando pelas pernas, tronco, braços e cabeça. Só que é muito justa, e tenho que ter um cuidado extremo para colocá-la e não danificar nenhuma parte; por isso levo, no mínimo, 20 minutos para fazer isso. Eu poderia muito bem dormir com ela, mas foi aí que Agatha errou: Ao colocar o sentido do tato na pele-falsa, Agatha exagerou um pouco, fazendo com que minha pele tivesse uma sensibilidade bem maior que o normal. Resumindo, é muito desconfortável dormir com algo que vai te incomodar a noite toda.

Feito isso, tenho que escolher uma peruca. Tenho vários tipos, mas todas da mesma cor para não levantar suspeitas (ruivas, é claro, como as da Kaplan original). E para aumentar ainda mais o disfarce, todas as perucas são feitas com cabelo humano. E aí vem a parte da maquiagem. Mas não no estilo patati patatá - como fazem algumas meninas, que acordam no mesmo horário que eu para dar tempo de passar aquela maquiagem exagerada -, apenas colo cílios postiços (afinal cílios não vêm inclusos na pele-falsa), passo um pouco de rímel para disfarçar e um gloss para fazer com que meus lábios não pareçam tão “emborrachados”.

Depois só preciso escolher minha roupa, arrumar a mochila e ir para a escola. Eu já mencionei que não tomo café-da-manhã? Bem, tecnicamente eu não preciso comer, já que a única energia que preciso para ficar de pé é a que vem da minha bateria. Se eu ingerir algum alimento não me fará mal algum, mas também não irá me trazer benefícios significativos. A não ser alimentos muito “aguados”, gordurosos ou moles, porque eles podem grudar e danificar meu sistema interno. Então dou preferência para coisas secas e como apenas quando estou perto de outras pessoas, pra ninguém ficar perguntando se eu estou de dieta (acreditem, é irritante).

É árduo ter que esconder a verdadeira essência para satisfazer os interesses de uma sociedade metódica e interesseira. Mas não estou triste por viver assim. Muito pelo contrário! Vejo minhas diferenças como uma vantagem, afinal não tenho que aguentar uma fila enorme no refeitório para poder almoçar ou me preocupar em cair porque, no final, não irei me machucar. Entretanto, não é por isso que saio contando meu segredo para todo mundo. E o motivo disso vai muito além de “tenho medo de julgamentos”: Em um mundo capitalista, onde ganhar dinheiro é o que move as pessoas, Agatha não está segura se revelar a verdade. Imaginem se sequestrarem-na e a obrigarem a fazer um exército de robôs do mal para comandar o planeta? Agatha criou uma invenção que vai muito além da mente de qualquer um, e revelar isso poderia custar a vida dela e o bem da humanidade. Então acabo guardando o segredo para mim mesma. Se querem saber, essa é minha parte favorita, afinal ter um segredo te torna misterioso. E quem não gosta de desvendar um bom mistério?



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— Não deve demorar muito para fazer sua matrícula, o que significa que hoje mesmo você já vai poder assistir a algumas aulas. Não está empolgada, Kaplan? — Lucia perguntou enquanto estávamos no carro, a caminho de Sweet Amoris.

— Sim. — Respondi, apesar de não ter certeza daquilo. Na noite anterior, fiquei me perguntando se estar em um país diferente seria um obstáculo para minha convivência social. Os franceses tinham costumes diferentes dos americanos? Se sim, o quão diferentes eram? E se eu fizesse alguma burrada que correria o risco de expor meu segredo, poderia dizer “Ah, isso é coisa de americano”? Espero que sim, porque não sou tão boa para formular desculpas.

Quando chegamos à escola, ficou claro o motivo de ela ser procurada até por adolescentes de Paris: A fachada era impecável, não havia pintura descascando e o jardim da frente era bem cuidado. Qualquer um da alta-sociedade parisiense consideraria este o primeiro ponto para matricular seus filhos em uma escola de uma cidade vizinha.

— Não está um pouco cedo para chegarmos aqui? — Perguntei.

— Bom, pelo menos a diretora já deve ter chegado. — Lucia respondeu.

Ela estacionou o carro em uma das vagas e nós duas adentramos a escola. Eu tinha razão, não havia nenhum aluno circulando pelos corredores. Acho que nem os professores estavam lá!

— Onde deve ser a diretoria? — Lucia perguntou, carregando uma pasta transparente na mão. Lá dentro, havia meu histórico escolar.

— Provavelmente atrás da porta que tem uma placa escrito “diretoria”. — Falei em um tom irônico.

— Meus parabéns, Capitã Óbvia. — Lucia também foi irônica. — Agora, será que você consegue encontrá-la? Porque parece que nenhuma porta aqui tem identificação.

Olhei ao redor e era verdade: As portas do corredor principal não tinham placas de identificação. Como iríamos achar a diretoria?

— Quem sabe se você gritar? Não deve ter ninguém aqui mesmo além da diretora.

— E me passar por louca? Vá sonhando! — Lucia disse. Ela começou a bater em cada porta do corredor para ver se encontrava a diretoria. Resolvi ajudá-la, mas como não sou de perder tempo, eu não bati: Já fui logo abrindo as portas - o que não deu muito certo porque, na primeira tentativa, aconteceu um desastre: Havia alguém atrás da porta com um monte de papéis nas mãos. A porta atingiu o garoto, que caiu para trás e os papéis se espalharam.

— Meu Deus, eu sinto muito! — Falei, já me abaixando para ajudar a recolher os papéis.

— Você deveria prestar mais atenção por onde anda! — O garoto falou, um pouco impaciente. Quando os papéis caíram, consegui visualizar o rosto dele por completo. Cabelos louros, olhos cor de mel e uma vestimenta formal demais para ir à escola. Ele usava uma camisa branca com uma gravata azul, calças retas feitas com um tecido semelhante ao de ternos e um sapato social.

— Me desculpe! — Falei, mesmo que minhas desculpas fossem falsas. Eu só abri a porta, qual o problema dele? Deveria ter deixado a porta aberta, se ia apenas pegar uns papéis e sair logo! — Estou procurando a diretoria.

— Bem, como você pode perceber, ela não é aqui. — Ele disse. Eu tive que me segurar para não dar um tapa na cara dele.

— Educação é grátis, sabia? — Falei, sendo sarcástica. Isso o fez parar por um momento e suspirar.

— Tem razão, me desculpe. — O garoto se levantou, terminando de recolher os papéis. — Tive uma longa noite, fiquei acordado até às 3 da manhã estudando para as provas da semana que vem.

Franzi o cenho. Acho que nem eu, que não preciso dormir, consigo ficar estudando até esse horário.

— Que determinação, hein? — Dei uma risadinha. — Seus pais devem ficar orgulhosos.

Ele desviou o olhar e murmurou alguma coisa que não consegui ouvir.

— Você disse que estava procurando a diretoria, não é? É aluna nova, suponho. — Disse. Confirmei com a cabeça. — Bem que eu notei nunca tê-la visto por aqui.
Venha, vou te levar até ela.

Ele saiu da sala e o segui. Lucia estava no corredor, e apenas fiz um sinal para ela vir conosco. Foi o que ela fez. E então, o garoto abriu uma das portas do corredor principal e nos levou até uma pequena salinha onde haviam duas portas - uma delas, com uma placa ao lado escrito “Diretoria”. Ele bateu na porta e a abriu.

— Diretora Shermansky? — Chamou. — Há duas moças aqui querendo falar com a senhora.

"A formalidade dele me assusta!", pensei. Uma voz lá de dentro pediu para entrarmos. Entretanto, Lucia impediu que eu adentrasse a sala junto à ela.

— Posso fazer isso sozinha. — Ela disse. — Por que não fica aqui, conversa com seu amigo e pergunta mais sobre a escola?

— Hã… — Olhei para ele, como se estivesse pedindo aprovação. A expressão facial dele era neutra, como se não se importasse de me falar mais sobre Sweet Amoris. — Tudo bem.

Lucia sorriu e fechou a porta da diretoria.

— Se não se importa… Tenho alguns papéis para organizar antes de os outros alunos chegarem. Incluindo esses que você me ajudou a derrubar. — O garoto disse. Não sei se ele estava fazendo uma piada para descontrair, ou tinha a intenção de me alfinetar. — Mas você pode vir comigo, e depois eu te mostro a escola.

— Tudo bem. Mas não se sinta obrigado a me mostrar tudo apenas porque minha mãe disse. Normalmente eu consigo me virar sozinha.

— Não, será um prazer! — Ele disse, já abrindo a outra porta da salinha, ao lado da diretoria e me convidando para entrar. — É sempre ótimo mostrar tudo para os alunos novatos. Ah, desculpe não me apresentar antes: Meu nome é Nathaniel Armitage.

— Kaplan Foxy. Sou americana. — Falei.

— A grande potência imperialista! — Ele disse, abrindo umas gavetas de um armário ao canto da sala e tirando uma pasta preta. — Dizem que morar lá é muito bom, por que veio para cá?

— Meu pai é empresário musical, ele descobriu uma boyband aqui e agora vai gravar com eles.

— Está falando de Os Engravatados? — Nathaniel perguntou.

— Sim. Você os conhece?

— Já ouvi falar. Minha amiga Melody gosta muito das músicas deles. Espero que consigam fazer sucesso fora de Bridgeport.

— Eles são realmente bons e merecem isso. — Falei. — Você chega todos os dias mais cedo para organizar papéis?

— Sim. É o trabalho de um representante de turma. — Nathaniel falou. Representante de turma… Era um termo bem sexy. Me senti falando com uma autoridade jovem e ao mesmo tempo linda. Sim, apesar de toda aquela formalidade que me dava nojo, Nathaniel era um rapaz muito bonito.

— Interessante. — Falei, mesmo achando o trabalho um pouco entediante.

Nathaniel e eu conversamos por mais alguns minutos, até que os alunos começaram a chegar. Então, outra garota entrou na sala. Ela tinha cabelos castanhos e usava uma roupa meio certinha demais pro meu gosto.

— Bom dia Nathaniel, desculpe o… — Ela parou quando me viu. — … atraso.

A garota me olhou de cima a baixo, com uma expressão de espanto e repulsa disfarçada. “O que há de errado, fofa?”, pensei. Cara feia pra mim é fome!

— Bom dia, Melody. — Nathaniel disse. — E não se preocupe, só tente ser mais pontual da próxima vez.

— Eu… Estou atrapalhando algo? — Melody perguntou de maneira inocente.

— Não, de modo algum. — Nathaniel respondeu. — Oh, esta é a Kaplan Foxy, uma aluna nova que veio dos Estados Unidos. A mãe está fazendo a matrícula e estou fazendo companhia para ela. Kaplan, esta é Melody Fletcher, ela me ajuda aqui no Grêmio Estudantil.

— Prazer. — Melody disse, ainda me encarando de uma maneira estranha.

— Igualmente. — Respondi. Depois me virei para Nathaniel. — Escuta, os outros alunos já chegaram e daqui a pouco minha mãe termina a matrícula. Não vou mais ficar tomando o seu tempo. E não se preocupe em me mostrar a escola, você tem outras ocupações e eu consigo me virar sozinha. A gente se vê! Tchau, Melody. — Falei, me retirando da sala. Assim que saí, suspirei de alívio. Aquela garota, me olhando como se eu estivesse coberta de gosma, fazia eu me sentir desconfortável. “Antes coberta de gosma do que vestida como um poodle de madame, sua vadia nojenta!”, pensei. Se existe amor à primeira vista, existe ódio à primeira vista também. Era pouco provável que Melody viesse a se tornar minha amiga algum dia.

Minutos depois, descobri que eu poderia assistir às aulas daquele dia. Porém, apenas depois do intervalo. O que eu iria ficar fazendo até lá? Oh, é claro! Conhecer a escola. Assim não teria problemas para transitar dentro dela nos próximos dias.

Tive medo de sair abrindo porta por porta e atrapalhar alguma aula, então fiquei apenas andando pelo corredor. Ao final dele havia uma escada que levava para o segundo andar. Decidi subi-la e lá encontrei outro corredor, até maior que o do andar de baixo. Todas as portas estavam fechadas e sem identificação, exceto por uma, que estava entreaberta. Caminhei até ela e olhei pela fresta da porta. Não era uma sala de aula, era uma biblioteca. Perfeito! Poderia passar meu tempo livre até a hora do intervalo lendo.

Não havia ninguém lá dentro, então eu teria paz para ler. Caminhei entre as estantes de livros, procurando por algum que me interessasse. Entretanto, ao chegar ao final dela, pisei em alguma coisa. Era o pé de um garoto, dessa vez de cabelos vermelhos, que estava sentado no chão da biblioteca ouvindo músicas.

— Ai! — Ele arrancou com voracidade os fones de seu ouvido e se levantou. — Que merda, hein? Se você tem olhos, use-os!

Jesus! Não era possível que a primeira conversa que eu iria ter com todo mundo daquela escola seria do mesmo jeito.

— Você não deveria estar na sua sala? A aula já começou! — Falei, tentando quebrar o clima tenso.

— Oh, jura? Muito obrigado por me avisar. Eu não ouvi o sinal meia hora atrás. — Ele disse, sentando-se novamente e colocando os fones.

— Então… Por que não vai assistir à sua aula? Eu não vou porque tenho que esperar até depois do intervalo. E você? Também é novato e tem que esperar?

— Não é da sua conta. Agora some daqui e me deixe em paz! — O garoto falou, dando play na música que estava ouvindo antes de eu esbarrar nele.

Epa, epa epa! Quem ele pensa que é? Eu nunca aguentei tratar bem pessoas que não me tratam da mesma forma. Se ele estava sendo rude, nem sonhando eu iria ser boazinha com ele!
Me abaixei e puxei os fones do ouvido dele de uma vez.

— Escuta aqui, ruivo-de-farmácia, qual o seu problema? — Fitei-o.

— Você ainda não foi embora?

— Não e nem vou. A biblioteca é um lugar público e você não manda em mim. Fui clara o suficiente ou prefere que eu desenhe? — Meu olhar demonstrava raiva. Naquele momento, o garoto me olhou com uma expressão surpresa e ao mesmo tempo furiosa. “Merda, o que eu fiz?”, pensei. E se ele resolvesse fazer alguma coisa comigo, tipo me espancar? Não havia ninguém por perto e eu não tinha certeza se ele teria piedade pelo fato de eu ser uma garota.

Mas, ao invés disso, ele abriu um sorriso que me pareceu meio sarcástico.

— Nossa! Como você é irritadinha, hein? — Ele falou.

Eu não sabia o que falar. Em um segundo, toda a minha raiva passou e agora eu estava confusa. Era impressão minha… Ou o garoto havia gostado da minha atitude?

— Bem… Não me culpe! Estou apenas retribuindo o “ótimo tratamento” que você me deu. — Falei.

— Você pisou no meu pé.

— Foi um acidente e isso não é motivo para ser rude. Além do mais, você é o errado na história. — Argumentei. — Eu tenho o direito de estar aqui, você não. Está matando aula!

— Brilhante! — Ele bateu palmas com ironia. — Descobriu isso sozinha, ou precisou de um curso?

— E você? É imbecil por natureza ou fez pós-graduação? — Alfinetei.

— Pós-graduação. Inclusive, nós dois estávamos na mesma sala, se lembra?

— Oh, é claro que me lembro! Infelizmente, eu fui reprovada. Você, por outro lado, se formou em primeiro lugar! Então, meus parabéns! — Dessa vez, as palmas irônicas partiram de mim. — Estou com um imbecil diplomado bem na minha frente!

— Sinta-se honrada! — Ele ergueu uma das sobrancelhas, o que o fez ficar com um olhar MUITO sexy. Dei uma risada.

— Não se ache tanto. Me chamo Kaplan Foxy, e você?

— Meu nome é…

— Castiel Dumont. — Alguém disse, chegando subitamente e interrompendo-o. Era Nathaniel, e sua expressão não era nem um pouco amistosa. — Nunca lhe disseram que o aluno que mata aula é punido com detenção?

— Olha só, se não é o “Doutor Representante”. — Castiel disse com ironia, se levantando. — Você não deveria estar em aula também?

— Precisei vir à biblioteca porque o professor Faraize pediu um livro. Mas e você? Não tem motivo algum para estar aqui! O que significa que terá que ser punido.

— E quem é que vai me dar uma detenção? Você? — Castiel gargalhou. — Acho que não.

Nathaniel revirou os olhos.

— Você está em uma escola e tem a obrigação de respeitar as regras daqui. — Disse.

— Sabe aonde eu vou enfiar essas regras se você continuar me enchendo o saco? — Castiel disse em um tom ameaçador.

Nathaniel não pareceu se intimidar. Ele se virou para mim.

— Está vendo só, Kaplan? Sweet Amoris só não tem uma reputação melhor por causa de incompetentes como ele, que parecem não levar nada a sério. Isso é deplorável!

Aquilo foi o suficiente para que Castiel explodisse. Com um olhar furioso, ele foi até Nathaniel e segurou o colarinho da camisa dele, pressionando-o contra uma estante de livros.

— Olha só, estou começando a perder a paciência com você e esses seus discursos idiotas! — Castiel gritou.

— Se você assumisse suas responsabilidades como um homem, não teria que ficar ouvindo-os. — Nathaniel rebateu.

"Nathaniel, não cutuque a onça com vara curta!", pensei. Em que problemas aquele rapaz estava se metendo!
A fúria de Castiel se triplicou e ele deu um soco na boca de Nathaniel, que o fez cair. Merda, merda, merda!

Nathaniel colocou as mãos na boca sangrando, mas ainda conseguiu dizer:

— Vai ganhar suspensão de uma semana por ter feito isso!

— COMO É QUE É? — Castiel arregalou os olhos e foi andando até ele. Sinceramente, eu sempre adorei assistir a brigas na escola. Em Malibu, última cidade em que morei nos Estados Unidos, eu e meus amigos até fazíamos apostas sobre quem iria ganhar as brigas que aconteciam. Mas… Não sei o que me deu nesse dia. Eu não podia simplesmente ficar parada lá vendo os dois se baterem. Pra falar a verdade, eu não podia ficar parada vendo o Nathaniel ser totalmente massacrado. Ele podia acabar quebrando alguma coisa, eu tinha que fazer alguma coisa!

Imediatamente, corri até eles e me posicionei entre os dois antes que Castiel resolvesse dar outro soco em Nathaniel.

— Parem com essa palhaçada agora! — Gritei. — Dois rapazes brigando como crianças, deveriam ter vergonha disso!

— Quem é você, afinal? Minha mãe? — Castiel gritou para mim. — Saia da minha frente agora! Se não for por bem, será por mal!

— Ah, é? Experimenta! — Desafiei, encarando-o.

Castiel me fitou por alguns segundos. Antes que pudesse tomar alguma atitude, uma senhora chegou e colocou a mão no ombro de Castiel.

— Posso saber o que está havendo aqui? — Ela perguntou. Castiel engoliu em seco, mas tentou não ficar tenso demais. Acho que esta era a diretora Shermansky.

— Não está havendo nada demais. — Falei, tentando contornar a situação.

— Tem certeza, senhorita Kaplan? — Shermansky perguntou, erguendo uma sobrancelha. — Toda essa gritaria que está atrapalhando as aulas não pode ser “nada demais”. E por que os dois rapazes estão fora da sala de aula?

Dei um suspiro, esperando que um espírito baixasse em mim pra eu conseguir formular uma boa desculpa e bem rápido.

— Nathaniel precisou procurar um livro para um professor, ele caiu e cortou a boca, então eu saí pra procurar ajuda. Castiel chegou atrasado e ainda estava no corredor, então eu o encontrei e o trouxe até aqui para me ajudar. Desculpe se gritamos demais. — Falei. É, acho que sou melhor em desculpas do que eu pensei.

A diretora torceu o nariz, não querendo acreditar nessa história.

— É verdade isso, meninos? — Ela perguntou.

Castiel fez que sim com a cabeça e lançou um olhar mortal para Nathaniel, do tipo “se você disser alguma coisa, eu mato você”. Nathaniel apenas concordou, fazendo a diretora Shermansky suspirar.

— Não me parece que essa seja a verdade, porém vou deixar passar. Acho que a senhorita Kaplan não gostaria nem um pouco de receber uma punição em seu primeiro dia de aula.

— Não senhora. — Falei. Credo, como aquela mulher me dava arrepios!

— Sábia decisão. Senhor Nathaniel, vá à enfermaria imediatamente para ter certeza de que não quebrou nenhum dente. E senhor Castiel, volte para a sala de aula.

Castiel apenas concordou com a cabeça, revirando os olhos sem que a diretora percebesse. Nathaniel foi o primeiro a deixar a biblioteca, logo seguido pela diretora. Castiel foi saindo também, mas logo se virou e me encarou.

— Por que não falou a verdade? — Perguntou.

— Chega de problemas por hoje. — Falei, suspirando e cruzando os braços.

Castiel continuou me encarando por um momento, até que deu um meio sorriso sem mostrar os dentes.

— Não espere que eu te recompense por isso, Foxy.

— Vindo de você eu não espero nada. — Ergui uma das sobrancelhas e também dei um sorriso com o canto da boca.

— Diz isso agora, mas daqui a um mês estará completamente apaixonada.

— Claro! No seu melhor sonho e no meu pior pesadelo! — Dei uma risadinha.

Castiel não riu, mas esboçou novamente aquele meio sorriso. E saiu da biblioteca.


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