Eu e a Lisa combinamos de ver filmes com os meninos aqui em casa. Como hoje era domingo, ela tinha dormido aqui ontem. Eu não fazia ideia do que aconteceria se deixássemos o Logan e o Scoot no mesmo lugar. Mas não custa tentar algo pacífico.

– Cara, esse salgadinho é muito bom! - Ela falou com a boca cheia.

– Era pra comermos vendo o filme, não antes de eles chegarem. - Falei.

– Isso daí é um perigo! Cuidado com o culote. - Minha mãe disse e Lisa fez careta.

– Mudando de assunto, como é namorar? - Olhei pra ela com uma sobrancelha arqueada.

– Oi?

– É que assim… Com exceção da Penelope, todas as minhas amigas namoram. Até o Logan namora! Isso é tipo… Sei lá… Milagre. To sentindo que tem tipo uma conspiração pra eu arranjar um namorado.

– Achei que você já tivesse namorado algum dia, Lisa. - Minha mãe comentou.

– Ah… É, mais ou menos. Nada oficial. Nunca precisei falar pras pessoas “olha, fulano, esse é meu namorado”.

– É normal, ué. Tá pensando no Scoot? - Perguntei sorrindo.

– Não! - Ela disse quase indignada e eu dei risada. - Nada contra ele, claro. Se eu começar a gostar, quem sabe. Mas não quero nada sério agora.

– Então, deixa rolar.

– Você é psicóloga. O melhor conselho é “deixar rolar”?

– Consulta é 90 conto a hora, amorzinho. Estou aqui de graça. - Ela revirou os olhos.

Ficamos comendo alguns salgadinhos enquanto esperávamos os meninos. Logan chegou meia hora antes do combinado. Certeza que era porque queria chegar antes do Scoot. Francamente… Não dá pra entender algumas infantilidades do universo masculino. É um pouco difícil a compreensão da psique humana. Mas a psique masculina é um nível completamente a frente de dificuldade.

– Scoot sempre se atrasa? - Ele perguntou impaciente.

– Falta dez minutos, Logan. Ele não tá atrasado. Para de graça. - Falei. Lisa achou graça.

– Ele tá comigo e mesmo assim você tá com ciúmes. - Ela comentou ainda rindo.

– Ele queria namorar minha garota desde o tempo que ela estava com o ex. É um pouco preocupante.

– “Minha garota”. - Falei sorrindo. Ele sorriu também e me beijou.

– Ai meu Deus! Eu to aqui, minha gente! - Continuamos nos beijando. - Eu to é trau-ma-ti-za-da! Devia ser proibido por lei alguém colocar a língua na garganta de outra pessoa em público. - Paramos o beijos.

– Não estamos em público. Estamos na minha casa. - Falei.

– Na frente de uma terceira pessoa, então. Cara, é nojento! - Dei um selinho no Logan.

– Não queira nem saber o que já aconteceu nesse sofá que você tá sentada. - Comentei como quem não quer nada. Ela semicerrou os olhos.

– Muito feio, vocês dois. Muito feio!

– Quem ouve, pensa que é puritana. - Minha mãe apareceu na sala. Eu e o Logan gargalhamos. Ela fez bico. - Passando pra avisar que to saindo. Marquei de fazer compras com a mãe do Logan.

– Manda um beijo pra ela. - Ele pediu. Achei bonitinho. Dei um beijo na bochecha dele. Minha mãe se despediu de todos nós e saímos. Scoot entrou logo depois. Ele deve ter chegado enquanto ela saía. Ele cumprimentou todo mundo e eu levantei, indo até o DVD.

– Temos várias opções, claro. Não curto terror, não, gente. Sinto muito. Tem um monte de comédia.

– Comédia é uma boa. - Lisa falou.

– Para de graça, Meg. É só um filme. Coloca terror. - Logan pediu.

– Você vai ficar o filme inteiro querendo agarrar a Meg. Sua opinião não conta. - Lisa argumentou e eu ri com o bico que ele fez.

– Sabe… Você cuida da pessoa, ajuda, dá até presentes pra ela fazer isso com você. O mundo é muito injusto. - Ele resmungou. Coloquei um de comédia e me sentei do lado dele. Scoot não falava nada. Ele nem olhava pra gente. O clima estava um pouco estranho. Eu e a Lisa tentávamos fingir que tudo estava as mil maravilhas, mesmo não estando.

– Amor, tem uns engradados de bebida lá na dispensa. Você podia pegar, né? - Pedi e ele levantou. - Scoot podia ajudar. Tem dois e tals…

– Eu pego sozinho. - Logan falou.

– Pode deixar que eu ajudo. - Scoot insistiu e lá se foram os dois.

– Que ideia foi essa? - Lisa perguntou. Dei de ombros e me levantei, seguindo os dois escondida. Ela veio atrás de mim.

– Antes de a gente voltar pra lá, - Começou Scoot. - eu to com uma dúvida sobre algo. Você e a Lisa são amigos há muito tempo, certo?

– Certo. O que tem ela?

– Vocês já tiveram algo? Porque assim… Seria estranho eu ficar com duas que você já ficou. Parece que to indo atrás dos teus rastros. - Logan segurou a risada e eu também.

– Nunca tive nada com a Lisa. E você? Só ficou com a Meg depois que voltou? - Logan nunca tinha me perguntado isso. Mas eu não omiti nada.

– Sim. Antes, só uma vez que foi quase. - QUE VEZ?! - Mas ela já estava com o Cameron e estava muito bêbada. Acho que aquela foi a única vez que ela foi pra uma festa sem ele. - Logan cruzou os braços. Lisa fez menção de ir até lá, mas eu coloquei o braço na frente dela. Eu lembro dessa festa muito bem. Digo que foi a melhor festa do Ensino Médio! Apesar de as consequências terem sido bem amargas. Cameron ficou puto porque eu deixei ele doente em casa e fui pra festa. Pensando bem, não me arrependo agora e nunca me arrependi. Não aconteceu nada, claro. Mas quero só ver o que o Scoot vai falar.

– Você tentou aproveitar então?

– Não. Quando eu vi que ela tava bêbada, tirei a Meg de lá e a levei pra casa. Eu queria, mas não assim, né? Cara, que tipo de pessoa você acha que eu sou?

– Só… Cuida bem da Lisa, tá? E não seja o senhor certinho toda vez. Ou ela vai se cansar de você.

– E não é que ele tem razão? - Ela sussurrou pra mim e eu concordei. Voltamos na ponta dos pés pra sala. Depois disso, percebemos que eles estavam mais “soltos”. Fingimos que não sabíamos de nada. E eles nem desconfiaram.

(…)

– Oi, Simon. - Falei quando ele abriu a porta. Hoje seria o dia em que eu e o Logan sairíamos com as crianças.

– Boa tarde, Megan. As crianças estão terminando de se arrumar. - Entrei e ele me guiou até a sala. Ficamos em silêncio. - E como você tá? - Olhei pra ele.

– Bem. Tá tudo bem. E você?

– Bem, também. - O assunto morreu. Fiquei lá, sentada no sofá balançando os pés e fingindo que prestava atenção na TV até os gêmeos terminaram de se arrumar, o que não demorou muito. Eles me abraçaram e se despediram do Simon.

– Que horas você quer que eles venham? - Perguntei já na porta. Simon olhou pra mim.

– A hora que você quiser. - Assenti. Ia fechar a porta, mas voltei atrás.

– Quer… Sei lá… Levar as crianças pra jantar lá em casa? - Perguntei. Ele sorriu de canto.

– Claro. Só falar o horário e aparecemos lá. - Sorri sem mostrar os dentes e fechei a porta. Os gêmeos pareciam animados.

– Onde a gente vai? - Mathew perguntou.

– Parque de diversões. Nós, o Logan e os irmãos dele.

– Logan é o cara bonito que tava na sua casa? - Mary perguntou.

– É ele sim. - Meu irmão respondeu por mim. - Eles se beijam! Ew! - Ri baixo.

– Quero só ver daqui a 6 anos, mais ou menos. Você vai adorar beijar. - Comentei e ele continuou fazendo careta. Coloquei o CD da Bey pra tocar. Já que eu tinha uma irmã, ela teria que ouvir assim como eu.

Quando chegamos ao parque, Logan já estava lá com os pequenos. Tínhamos combinado de ele levar alguma coisa pra nós comermos. Eu só aparecia com os gêmeos e com o meu estômago.

– Boa tarde, amor! - Falei e dei um selinho nele.

– Eu quero ir na montanha russa! - Um deles gritou.

– Não! Prefiro o carrossel!

– Roda gigante!

– Vamos com calma. Nós vamos em todos os brinquedos possíveis. - Falei. - Agora, eu preciso de um algodão doce. - Logan olhou pra mim.

– Algodão doce? Você é velha demais pra isso, Meg. - Ele falou.

– Nunca serei velha demais pra algodão doce. - Parei na barraquinha e comprei pra mim e pras crianças. Enquanto comíamos, fomos pra fila. Quer dizer, eu e o Logan ficamos na fila. Os quatro ficaram perto, mas brincando de correr um do outro. - Quer?

– Não. Obrigado. - Logan me abraçou. - Isso é tão diferente do que estamos acostumados, né?

– É… Aqui não tem bebida nem cigarro.

– Nem pessoas chapadas.

– Posso dizer que evoluímos bastante. - Dei um selinho nele.

– Ei, ei, ei! Não é pra ir pra muito longe! - Logan foi atrás do irmão e eu fiquei na fila. Terminei de comer enquanto o observava. Ele não ficou minutos atrás do irmãozinho. Voltou rápido.

– Posso dizer que você parece alguém responsável cuidando dos seus irmãos. - Ele sorriu.

– Eu sou responsável. - Ele me deu um selinho. - É bonitinho ver os quatro brincando juntos.

– É.

– Sempre imagino como vai ser daqui a uns anos. Daqui a pouco eles entram na adolescência. Me sinto tão velho, Meg.

– Não vai demorar muito pra chegarmos aos trinta. Mas ainda faltam alguns anos. Não precisa começar a ter uma crise de meia idade agora. - Apoiei minha cabeça no peito do Logan, enquanto ele mantinha os braços envolta da minha cintura. Olhei pras crianças. Elas pareciam animadas. Olhei pro Logan de canto de olho.

Engraçado que, quando nos conhecemos, no dia seguinte ao meu ataque de ex, corna, desequilibrada, eu realmente não achei que isso iria durar. Não pensei que ele fosse virar meu amigo, muito menos namorado. Eu achava que ele era daquele tipo de cara que não conseguia manter nem uma relação de amizade com alguma garota. Pra mim, o Logan era aquele típico machista que acha que mulher só serve na cama ou na cozinha. E eu queria mostrar pra ele que ele significava o mesmo pra mim. Mas aí descobri que o Logan é uma pessoa legal, que ele não iria querer me fazer de trouxa. E começamos uma amizade. O jeito como tudo aconteceu é tão maravilhoso pra mim. Adorava o fato de conhecê-lo mais do que ele mesmo.

Pra completar o final de novelinha perfeita, ainda tinha os gêmeos. Eu me via nos dois. Em Mary eu me via na aparência. No Mathew eu me via no jeito de se expressar. Eu queria poder acompanhar o crescimento deles desde quando eles eram nenéns. Não que eu não os tenha visto quando nasceram, mas não acompanhei nada da vida deles. Até agora.

Ver os quatro felizes e o Logan enchendo o saco de cada um só pra arrancar um sorriso de todo mundo era maravilhoso. Eu adorava ficar do lado de todos eles. Podia ficar o dia todo assim. Ainda tem várias coisas que preciso resolver na minha vida. Mas, por ora, não me importaria se tudo ficasse assim.