Quando cheguei à pousada e abri a porta do quarto, estava vazio. Eu comecei a me desesperar. Onde esse menino se meteu? Ouvi um barulho no banheiro e respirei fundo de alívio. Ele estava no quarto. A porta do banheiro abriu. E o Logan estava com uma cara péssima.

– Desculpa ter te deixado sozinha. - Ele falou. - Desculpa por… Você sabe. Aquilo lá.

– Não precisa pedir desculpas. Você tá legal?

– Como vai ser agora? Eu estraguei a amizade, não foi?

– Lógico que não. Você vai continuar sendo o mesmo Logan pra mim. Só um pouco diferente.

– Então!

– Mas diferente pra melhor. - Sorri tentando parecer confiante, mas ele continuou com a mesma cara de bunda. Que ótimo!

– O que acontece agora? A gente devia esquecer sobre hoje.

– Eu não quero esquecer. Vou continuar te tratando do mesmo jeito. Só com um pouco mais de carinho.

– Não quero a sua pena, Meg.

– Não é pena. É a possibilidade de haver alguma coisa entre nós.

– Então, existe um "nós"? - Ele se aproximou de mim com um sorriso.

– Sempre existiu um “nós”, Logan. - Ele veio até mim e me beijou. - Consumação de “nós”?

– Uhum. - Ele resmungou no meio do beijo. Levei minha boca até o ouvido dele.

– To usando aquela lingerie de Natal. - As mãos dele já foram pra barra do meu vestido.

– Eu disse que era pra ser usada. - Rimos.

(…)

Logan ainda dormia. Eu acordei com uma fresta pequena da janela aberta, por onde entrava o sol, que bateu bem na minha cara. Peguei meu celular pra ver as horas. Era um pouco mais de dez horas. Tirei o braço do Logan que quase me esmagava e fui tomar banho. Quando saí, coloquei um biquíni e uma saída de praia.

– Ei. - Balancei seu braço. - Quer ir pra praia?

– Tá mó cedo ainda. Volta a dormir.

– Essa hora deve estar vazia. Quero pegar um bom lugar. Bom, até mais tarde, então. - Beijei a bochecha dele e, primeiro, fui tomar café da manhã. Depois fui para a praia. Já tinha gente bebendo a essa hora da manhã. Me segurei pra não fazer uma careta. Aluguei uma cadeira e um guarda-sol e pedi um suco pro cara do quiosque.

– Você é europeia?

– Cara, já me perguntaram até se eu sou da Austrália, sei lá por que, mas essa é nova.

– Perguntei só pra puxar assunto. E você tem cara de francesa. Sabe… Colonização da França em vários países…

– Eu sei. - Respondi e revirou os olhos por debaixo do óculos de sol. Não precisaria de aula de história em pleno primeiro dia do ano.

– Não sabia como puxar assunto. Desculpa. - Ri baixo.

– Você é péssimo.

– Sou da Inglaterra. Você não perguntou, mas… Que seja.

– Americana. - Tirei o óculos. - Sou Megan.

– Stuart. - Apertamos as mãos. - Então… Posso te pagar outra bebida?

– Digamos que só o meu… Amigo pode isso.

– E esse seu amigo tá por aqui? - Assenti dando um gole no meu suco. - Mais que amigo, na verdade?

– Hm… Acho que sim.

– Certo… Foi um prazer te conhecer.

– Igualmente.

– Feliz ano novo, Megan.

– Feliz ano novo. - Falei sorrindo. Botei o óculos de novo.

– E eu? Posso te pegar uma bebida? - Meu sorriso alargou.

– Idiota. - Logan me deu um selinho.

– Não, espera. “Você é europeia?”. - Ele falou imitando o cara e depois deu risada.

– Para de zoar o coitado.

– Ingleses… Um dia vão me fazer morrer de rir.

– Eles têm seu charme. - Logan já fechou a cara. - Prefiro você. Sabe disso. Como sabe que ele me perguntou se sou da Europa?

– Eu tava vindo quando ele se aproximou. Aí fiquei curioso com o que ele ia falar.

– Ou o que eu ia responder? Francamente, Logan…

– Ei! Eu falei a verdade!

– Tá. Achei que ia continuar dormindo.

– Na verdade, eu ia. Mas saber que você ia ficar desfilando de biquíni na frente de todo mundo não foi muito legal.

– Olha quem fala. Já olhou pra aquelas duas vadias sentadas no quiosque? Não tiram o olho de você.

– Eu sou gostoso, né, Meg. Fazer o que? - Bufei.

– Qual seu plano pra hoje?

– Pedi pra recepcionista alugar um carro. Quero te levar pra conhecer o Chichén Itzá. Ponto turístico e tals…

– Deve ser lindo.

– É um passeio meio que de nerd. Mas você gosta dessas coisas. Depois, podíamos almoçar em algum lugar lá perto, curtir uma outra praia que não seja em frente à pousada e ir a alguma balada. Não posso voltar tarde, porque tenho reunião amanhã.

– Que horas é o voo dia três?

– Uma da tarde. Dá pra aproveitar hoje a noite e a tarde toda amanhã.

– E pegar uma praia dia três de manhã também.

– Só se for você, porque eu respeito meu sono. - Ele deitou na espreguiçadeira que estava do meu lado e, poucos minutos depois, percebi que ele dormia. Deixei meu óculos do lado dele e fui pra água.

Fiquei me sentindo a Pequena Sereia por mais tempo do que eu tinha imaginado. Quando voltei, Logan já tinha acordado.

– Já tá tarde pro nosso passeio. - Ele disse. Nos arrumamos na pousada e seguimos para o monumento Chichén Itzá. Almoçamos antes, porque estávamos morrendo de fome. Eu fiquei animada conhecendo o lugar. Logan se esforçava, mas não era a mesma coisa.

– Mais uma foto! - Pedi.

– Só sua, né?

– Não. Quero uma foto com você. Pra colocar no perfil.

– Não rouba minha ideia. E a que eu acabei de tirar vai ficar muito melhor. - Fiz biquinho. - Você tem que parar com isso. É totalmente injusto. - Sorri e ele bateu a foto. Peguei a câmera da mão dele e fiz carão pra lente me sentindo a próxima vencedora do American’s Next Top Model. Logan sorriu olhando pra mim e eu fiquei envergonhada. Ele beijou minha bochecha.

– E agora? – Perguntei passando meus braços pelo seu pescoço.

– Agora o que? Nós vamos pro paraíso. El Mirador é o nome da praia. É perfeita. – Ele me deu um selinho. – Você vai gostar.

– É uma boa, mas não falei disso. – Ele arqueou uma sobrancelha. – A gente. Vai ficar tudo na mesma?

– Que eu saiba, você não quer nada sério. Ainda, espero eu.

– A gente pode… Sei lá… Tentar. – Mordi a parte de dentro da bochecha.

– Acho melhor não. – Oi?!

– Pensei que você quisesse.

– Você não sente o mesmo que eu, Meg. Não me leva a mal, mas as coisas estão boas entre a gente.

– Eu não fico querendo namorar com qualquer pessoa.

– Então, tá me pedindo em namoro?

– Ainda não.

– Você é confusa, sabia? – Dei de ombros, voltando a fotografar até se tivesse uma planta pelo meio do caminho.

(…)

Pedi pro Logan comprar alguma coisa pra eu comer enquanto eu fiquei sentada na areia me sentindo um frango dentro do forno. Mas, tirei a garrafa de vinho - que comprei no posto que paramos pra abastecer - de dentro da bolsa térmica junto com dois copos. E ele vinha me trazendo uma Coca bem gelada, além da comida.

– Então, donzela Price, o que acha de um copo de vinho? – Logan me olhou de soslaio.

– Que?

– Comprei um vinho pra gente. Sei que não combina com o ambiente, mas foda-se. É pra ser bonitinho.

– O que é pra ser bonitinho? – Ofereci o copo com vinho pra ele, que pegou com desconfiança.

– Já disse que você é estranha? E que porra é essa aqui dentro? – Ele falou olhando pra dentro do copo.

– Você é tão romântico, Logan. – Falei irônica. Eu coloquei um papelzinho dentro. Pedi isso pro cara da loja de conveniência também. Ele bebeu uma parte do vinho e pegou o papel. Eu já sabia o que ele leria. “Você aceita ser o príncipe com cara de sapo na minha vida?”. Ridículo. Mas até que era engraçadinho. Ele até riu!

– O que é isso?

– Ridículo, eu sei. – Falei o que pensei. Ele me beijou. – Mas eu não tinha muitas opções pra fazer algo diferente.

– Melhor que escrever “Quer namorar comigo?” na areia. – Rimos.

– Com certeza. – O beijei de novo. E ficamos assim o resto da tarde, o que não demorou muito, já que o sol estava quase se pondo. Já estávamos recolhendo as coisas quando minha mãe resolveu ligar.

– Por qual desculpa esfarrapada você não me ligou?! – Misericórdia… Ela estava histérica!

– Eu esqueci. Desculpe. Esse lugar é incrível!

– Não se meteu em nenhuma confusão, né?

– Mãe, não sou mais uma adolescente. E já terminei a faculdade. Sou adulta e sei me virar sozinha.

– Isso é o que acontece normalmente, mas vamos combinar, meu amor, que você não é muito normal. – Revirei os olhos.

– Mudando de assunto, feliz ano novo!

– Feliz ano novo pra você e pro Logan também! – Conversamos por mais alguns minutos e depois eu desliguei.

– Por que não falou da novidade? – Ele perguntou.

– Ela iria surtar e ficar falando sem parar. É mais fácil pessoalmente. – Ele assentiu. – Que horas vamos sair pra ir pra boate?

– Umas nove horas acho que tá bom.

– Ok. – Me aconcheguei no banco enquanto ele dirigia pra pousada. Nós estamos namorando. Parece que nada mudou. Quer dizer, nada mudou ainda. Quero só ver daqui a algumas semanas.