Asa Negra escrita por Claire


Capítulo 7
Doce Realidade


Notas iniciais do capítulo

Escrevi o mais rápido que pude, esse é pra vocês que pediram uma pitadinha a mais de Gabriela u.u É curtinho, mas é pra deixa aquele gostinho de 'quero mais' haha Aconselho que leiam escutando a música You - The Pretty Reckless



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Era madrugada, eu havia acordado com um estrondo vindo do lado de fora da janela, provavelmente da colisão de dois carros... Levantei assustado, suando frio, depois de uma noite mal dormida, e olhei no relógio: 4 horas e 10 minutos da madrugada de uma sexta-feira. Passei a mão pelos meus cabelos suados e olhei para fora, destrancando e levantando a janela, sentindo o vento gélido de uma manhã de inverno ressecar meus lábios e me fazer estremecer.. Focalizei na rua, esperando ver a causa do estrondo que ouvi anteriormente, mas não encontrando nada além de uma rua vazia e árvores dançando conforme o sopro do vento gélido. Totalmente confuso, criei em minha mente possibilidades absurdas para explicar aquele barulho vindo do nada.. Batidas leves na porta, eu meio zonzo, apenas respirei fundo, esperando que a pessoa decidisse por ela mesma se deveria ou não entrar. No primeiro momento, acreditei que o sujeito tivesse preferido não invadir a privacidade, de uma noite que ele julgava ter sido bem aproveitada, de um padre cansado e confuso. Foi quando senti o vento me agredir com mais um soco frio no estômago, seguido por braços, um pouco mais gélidos do que o próprio inverno, me abraçando pela cintura, e palavras vindas de uma boca que eu ansiava há algum tempo em ter para mim, mas que negava para mim mesmo esse desejo, pronunciando com aquela tão conhecida voz de veludo “Ah Cícero, eu senti tantas saudades...”. Estremeci, e por um único momento apenas na minha vida, esqueci completamente de quem eu era, e de qualquer regra que me limitaria a qualquer desejo que eu pudesse ter. Me virei e, poupando o máximo de tempo que consegui, fui de encontro aos seus lábios de neve, e sem demora, a permissão de aprofundar o beijo me foi concedida, até mais do que o que eu esperava dela.. Com minhas mãos fortes em sua cintura, empurrei-a de encontro com a parede mais próxima e deixei com que minhas mãos percorressem seu corpo, e percebendo falta de algo, interrompi o beijo, e fixei meus olhos nela. Seus longos cabelos ruivos estavam enrolados, com cachos que caíam até a cintura, seus flamejantes olhos de gato, marcados com uma exagerada maquiagem preta, me transmitiam emoções que nunca tinha sentido antes, seus lábios possuíam um tom vermelho forte, contrastando com sua pele branca, mas o que mais me chamou atenção foi seu corpo, suas asas negras e macias como pluma, caíam cansadas no chão, como se houvessem desistido de voar, seu corpo acinturado e magro vestia um corselet e uma calcinha de renda preta, e sua pele branca era coberta apenas por um robe negro transparente, e seus pés usavam um sapato de salto preto fechado até metade da canela, com cadarço de cetim. Minhas mãos que antes seguravam sua cintura, agora percorriam suas costas, enquanto minha boca novamente sentia o sabor da dela. Foi quando, percorrendo a extensão de sua coluna, percebi que eu podia ver as asas de Gabriela, mas eu não as sentia, percebendo esse estranho acontecimento, abri meus olhos repentinamente, e ela, mantendo os seus ainda fechados, colocou a boca perto de meu ouvido e sussurrou:

–Eu desisti por você.. Agora sou só sua..Desista por mim também Cícero....

Ouvindo isso, automaticamente senti um frio na espinha, que percorreu toda a extensão do meu corpo, e movi minhas mãos até o laço que fechava seu corselet, desatando-o, fui abrindo até retirá-lo, enquanto ela arranhava meu corpo magro, retirando minha camiseta.

E assim moveu-se aquela noite, enquanto retirávamos tudo um do outro que nos impedisse de sermos apenas nossos, lutando contra tudo o que nos repelia, e nem Kakabel, quando entrou pela janela para observar, e nem as rajadas fortes de vento que vinham para nos tirar do transe, nos avisando que o inverno chegou, e nem mesmo quando quebrei sem querer o abajur azul de cinquenta anos atrás que antes habitava a minha bancada, nada disso nos fazia parar, ou simplesmente esquecer que, pelo menos naquele instante, pertencíamos apenas um ao outro, sem mais nada nem ninguém nos ditando regras que deveríamos seguir. E ao raiar do sol, com o suor de uma vida de medos e escolhas mal feitas nos descendo pelo rosto, e colando nossos cabelos aos corpos, peguei na sua mão, e sentados na cama entoando canções que nem existiam, ríamos de tudo e de todos, sem medo de sermos pegos ou de sermos julgados por algum crime que não existia, e ouvindo o entoar dos pássaros da madrugada gélida, beijei-a com calma, dizendo palavras de significado inexplicável e capaz de nos trazer à tona os sentimentos mais estranhos e indiscretos

–Eu te amo...

Coloquei a primeira roupa que vi, e ajudei-a a fechar o espartilho e o robe, e descemos as escadas sem medo de sermos pegos, ou de alguém acordar com nossas risadas. E guiando-a pela mão, saímos da igreja e andamos algumas quadras adiante pelas ruas vazias, até chegarmos no lado aposto ao Barcelona Café, onde ficava um pedaço de floresta, que alguns costumavam chamar de “parque”, por causa dos pequenos espaços cuidados pelo governo, para o lazer dos cidadãos da cidade, mas que não tomavam nem um quinto do que tínhamos realmente. Levei-a até o interior da floresta, isenta de animais selvagens naquelas redondezas, e, parando em alguma árvore qualquer, ajoelhei-me a seus pés e, tirando uma velha caixa de madeira de meu bolso, olhei em seus olhos de pupilas alongadas que exibiam felicidde e ansiedade, abrindo a pequena caixa e exibindo nela um delicado anel de diamante que foi pertencente à minha bisavó, pedi-a em namoro.

Sei que pode ter sido cedo demais para quem vê de fora, mas pelo menos para mim, era impossível negar, naquele momento, que o amor que eu sentia por ela era recíproco, e que eu era capaz de tudo para lutar por ele.

De repente, aquele barulho novamente, se repetindo em meu ouvido, e transformando Gabriela em apenas um despertador, a floresta foi trocada pelo meu quarto na igreja, e aquela sensação de felicidade foi transformada em cansaço. Eu não queria acreditar que aquilo não tinha sido real, por que a realidade não pode ser doce para alguns? Já eram seis e meia da manhã, e o gosto dela já havia saído de minha boca. Não haviam roupas jogadas, e o abajur azul ainda estava intacto. E qual o motivo de todas as vezes que acho que consigo esquecê-la, algo me faz lembrar que Gabriela não foi apenas um belo sonho em minha vida? Pelo menos antigamente... Kakabel não passara a noite em casa, e sua comida e água permaneciam intocadas. Já haviam se passado exatos três anos que não a via...


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Notas finais do capítulo

Comments, comments, comments amores!! Eu tenho outra história postada nesse site também, é só ir lá no meu perfil e dar uma espiadela :3



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