– Eu preciso de um tempo - falou quase sussurrando

– Acabei de te dizer que recebi a melhor notícia de toda a minha vida, e você vem e me pede um tempo? Você ta prestando atenção no que está falando? Você tem noção de quanto isso me magoa? - pausou e respirou fundo antes de voltar a falar – Você quer se separar é isso? - sentia o desespero querendo tomar conta dela enquanto aguardava a resposta de Clara

– Você não vai me responder? FALA ALGUMA COISA CLARA! - gritou a fotógrafa

– Eu não sei o que dizer, estou confusa com tudo isso - sussurrou a morena– Eu não quero ter filhos

– Tem que ter algum motivo pra você não querer ter filhos

– Não existe motivo profundo... ­- foi interrompida pela fotógrafa

– Tem que existir - afirmava Marina

– Não existe! Eu não sofri abuso, eu não tenho nenhum segredo, eu não fui espancada na infância, EU SÓ NÃO QUERO TER FILHOS! - gritou

– Todo mundo quer ter filhos! - Marina contestou – Daqui a um tempo você vai mudar de idéia e vai se arrepender de estar dizendo isso, vai sentir culpa por ter rejeitado seus filhos

– E quando esse dia chegar, eu vou saber compreender que eu fiz uma escolha. Eu escolho a mim, eu escolho a minha vida, eu escolho correr o risco de um dia me arrepender de não ter querido ter filhos, não tem nada de errado em não querer filhos. - disse Clara

– Por que você está agindo assim Clara? Eu nem te reconheço mais. Você nem de longe parece com a mulher que eu casei. Não casei com essa mulher fria, egoísta, que só pensa em trabalho e deixa a família de lado.

– É isso que você pensa de mim?

– Não. É isso que você está demonstrando ser! Nunca pensei que a mulher que eu amava fosse assim... - foi interrompida por Clara

– AMAVA? - falou espantada– Espera aí, você não me ama mais? - seus olhos ficaram marejados

– É claro que eu amo você, amo nossos filhos, amo nossa família - viu Clara revirar os olhos quando ela disse "nossos filhos"'

– Para e pensa caramba! O que está em jogo aqui é o nosso casamento, o nosso amor Marina - pausou– Mas você insiste em por ISSO - apontou para a barriga de Marina referindo-se aos bebês – nas nossas vidas.

– NÃO FALA ASSIM DOS MEUS FILHOS!!! Se você não quer eles DANE-SE, mas não admito que você fale assim deles. - a fotógrafa falou tentando não perder o último fio de paciência que lhe restava

– Tá vendo, não dá, não dá - Clara falou gesticulando e andando de um lado para o outro– Eu preciso realmente de um tempo pra pensar

– Não faz assim amor - Marina falou quase implorando para que a publicitária repensasse sua decisão

– Eu preciso disso Marina, tenta me entender. Eu não estou querendo me separar de você, eu só quero um tempo pra pensar - colocou uma das mãos na cabeça– só estou te pedindo um tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu - a morena ainda não tinha aceitado a idéia e nem se permitia aceitar que Marina estivesse grávida– Eu tenho que viajar amanhã cedo, tenho alguns negócios para resolver fora do Rio, fechar contratos e etc. Recebi a ligação da minha assessora hoje enquanto estávamos no hospital. Não sei quanto tempo vou precisar ficar fora para resolver tudo - respirou fundo e continuou– É isso, eu não sei quando eu volto.

– Clara você está indo embora logo agora que eu preciso de você - a voz da fotógrafa saia baixo de tamanha decepção que sentia– Mas tudo bem, pode ir para sua viajem, nós vamos ficar bem - acariciou novamente a sua barriga­ - não acredite que ficaremos te esperando pra sempre, a vida segue com ou sem você - tentou mostrar segurança e coragem na última frase que disse, mas seu rosto mostrava sua fragilidade, e apontava que a qualquer minuto poderia desmoronar ali mesmo.

Clara não se aproximou de Marina, o contato com sua mulher agora, era como se ela tivesse contato com os bebês que estavam sendo gerados no ventre da fotógrafa. Não quis continuar aquela conversa que estava machucando as duas. Virou as costas e caminhou na direção da saída do quarto, mas antes de sair disse:

– Tudo bem, vou pedir para uma das empregadas subir e arrumar minhas malas, viajo amanhã bem cedo - ao terminar de falar, a publicitária saiu, deixando no quarto uma Marina destruída de tanta mágoa e decepção por tudo que tinha sido dito até agora, as lágrimas molhavam seu rosto como se quisessem tirar a tristeza que habitava ali.

A publicitária desceu, deu ordens para a empregada subir e arrumar suas malas, mas tentasse não incomodar Marina que precisa descansar. Clara tentou jantar, mas não conseguiu, ela simplesmente não conseguia comer, parecia que tinha um nó na garganta, a tristeza e todas as dúvidas não permitiam que se concentrasse em nada, então voltou para seu quarto, onde viu que Marina já dormia de tão cansada que estava. A morena colocou o pijama, e foi para o quarto de hóspedes, deitou na cama, mas não conseguiu dormir porque sua mulher não estava ali. Viu o dia amanhecer. Ainda era cedo quando ela levantou, fez sua higiene matinal, foi tomar seu café da manhã, e quando voltou passou pelo quarto onde Marina ainda dormia um sono profundo, se permitiu ficar observando sua esposa dormir, mas enfim havia chegado a hora de viajar, e não teve coragem de acordar a fotógrafa para se despedir, deu um beijo de leve para ela não acordar e sussurrou um “Eu te amo”.

Um pouco depois quando a fotógrafa acordou, procurou Clara e não a encontrou, percebeu que sua mulher já tinha ido viajar, mas Marina decidiu que seguiria com sua rotina, não ficaria chorando e esperando por Clara. Resolveu focar no seu trabalho e tentar amenizar a dor que tomava seu coração. Levantou, fez sua higiene matinal, e foi para o estúdio, chegando lá encontrou Flávia - fotógrafa e assistente de Marina– e Vanessa - sócia e assessora de Marina, e esposa de Flávia

– Bom dia meninas! - Marina falou adentrando no estúdio

– Bom dia Marina - respondeu Flávia, sem olhar para Marina, estava concentrada no notebook que estava no seu colo.

– Bom dia, a senhora enfim vai voltar a trabalhar? - falou Vanessa esbanjando toda a sua ironia

– Para com isso amor, deixa a Marina - Flávia disse repreendendo a Vanessa

– Deixa Flavinha, eu conheço a Van, se ela não for irônica pelo menos uma vez por dia, pode mandar internar que ela ta mal! - a fotógrafa falou e Flávia começou a sorrir

– Mas não é ironia, é apenas a verdade! Ultimamente você nem vem trabalhar, só vive passando mal - contestou Vanessa

– Por falar nisso, eu preciso conversar com vocês, porque essa notícia mais cedo ou mais tarde vai afetar o estúdio

– É tão sério assim? - perguntou Vanessa

– Sim.

– Então fala ué, vai me matar do coração com todo esse suspense - a ruiva falou já morrendo de curiosidade

– Bom, ontem eu passei mal novamente, desmaiei, e a Clara acabou me levando para o hospital. Fiz uma série de exames, e o resultado deles diz que estou grávida, eu não desconfiei disso antes, porque um tempo depois da última tentativa de fertilização, eu fiz um exame de farmácia, e ele deu negativo. Ah, tem mais uma coisa... – pausou– são gêmeos - olhou para a cara de susto das duas mulheres a sua frente– Mas enfim, esta é a novidade que tinha para contar pra vocês.

– Não sei o que te dizer... pa...parabéns? - disse Vanessa meio em choque com a notícia

– Parabéns Marina! - Flávia falou e levantou para abraçá-la– A Clara deve estar morrendo de felicidade com a notícia - Marina abaixou a cabeça e falou:

– Na verdade, ela não recebeu muito bem a notícia, brigamos feio e ela viajou, disse que tinha que fechar alguns contratos fora do Rio... - respirou fundo e levantou a cabeça– Mas independente do que a Clara acha ou deixa de achar dessa notícia, eu estou feliz, foi a melhor notícia que eu recebi até hoje - sorriu– E não quero mais falar na Clara, tenho que pensar nos meus filhos, e tenho que pensar na minha carreira, não posso parar minha vida e ficar chorando pelos cantos - falou em tom de desabafo