Não Podia Ser Você! escrita por Marcio Lank


Capítulo 6
É o fim? Sim


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último capítulo da história. Espero que gostem!



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Joe... não ía muito com a cara dele, mas, desejá-lo morto? Não chegava a esse ponto.

Jake, Emilly, Mike ou Luize, um dos quatro. Mas Jake não foi, sobrando três. Emilly..., ela conseguiu minha confiança e, prometeu que não era a assassina. Ou seja, Mike ou Luize! Clarisse... ela não pode ser porque depois de ir embora, uma morte ocorreu.

Ashley... de alguma forma foi parar no banheiro, mas será que a morte realmente ocorreu lá? Talvez sim. Mas talvez não. O pano usado para tapar sua boca que deve ter sido colocado para não ouvirmos os gritos, acho que era um pano de prato e os cortes certamente feitos com o facão colocado em sua mão. Isso tudo veio da cozinha. Será que conseguiria encontrar alguma pista lá? Mas ela também tinha hematomas, pelo jeito estava resistindo e foi espancada. Só de pensar nisso sinto meu coração sendo esmagado. Ashley deve ter sentido tanta dor... Mas quem teria algum motivo para fazer isso ou mesmo a capacidade de não deixar pistas?!

O Joe estava na cama... com certeza foi pego de surpresa enquanto dormia! Agora que parei para pensar, percebi que, ele estava com seu travesseiro embaixo da cabeça - como fica o travesseiro de qualquer um quando dorme - e outro travesseiro cobria seu rosto. Ou seja, devia ser o travesseiro que Clarisse usava enquanto estava aqui. Sua morte deve ter sido rápida, com o facão fincado no coração... é, realmente era o mesmo facão que fizera os cortes em Ashley. Nós descemos até o banheiro - que já estava aberto desde que tia Mary e Clarisse tinham ido embora - e ele não estava mais lá.

Vasculhei rapidamente a cozinha mas não encontrei nada.

Ainda estávamos com fome e ela foi maior do que a tristeza e o medo. Fomos até uma pequena pizzaria que levou meia hora a pé.

Não estava muito cheia. Sentamos logo na primeira mesa que vimos. Havia sobrado uma cadeira desocupada. Chegamos em oito, mas agora estávamos apenas em cinco. Um garçom perguntou se usaríamos a cadeira, todos negaram e ele a retirou. Em seguida, uma moça loira de cabelo preso em uma trança, vestindo um avental vermelho se aproximou. Uma garçonete. A mais bonita que já tinha visto.

–Olá, boa tarde! Vocês vão querer pagar a pizza a parte ou o rodízio? - perguntou ela.

Cochichamos por alguns segundos e resolvemos que queríamos o rodízio. A garçonete assentiu, retirou do bolso pedaços de papéis com vários quadradinhos (denominadas como: comandas) e disse que para pedirmos bebidas ou outras coisas, deveríamos apenas apresentar nossas comandas.

Não estávamos comendo muito pois não tínhamos tanto apetite devido ao decorrer dos fatos. Menos Jake. Ele sempre está com muita fome. Sorte que é rodízio, o preço é o mesmo ele comendo mais de vinte fatias de pizza ou menos.

–Pizza de carne seca? - perguntou um garçom com a bandeja equilibrada em uma das mãos.

–Eu, eu, eu!!! - gritei.

Pizza de carne seca era o meu sabor favorito. Quase nunca o encontrava.

Cortei em pedaços. Pareceu levar uma eternidade pela tanta vontade que eu tinha de sentir aquela pizza na minha boca.

Finquei o primeiro pedaço, levantei o garfo e estava direcionando...

O gosto era bem melhor do que eu me lembrava, porém, no mesmo momento, ouço um barulho, um barulho de tiro, que fez eu cuspir a pizza na mesma hora com o susto.

–Eu quero que todos deixem tudo em cima das mesas e deitem no chão agora! - disse um dos três moços - gordinho - um suposto ladrão.

Puxei Jake que estava sentado ao lado e fiz ele deitar. Ficou bem colado comigo, segurando uma de minhas mãos e pude sentir o quanto tremia. Por debaixo da mesa, via do outro lado Luize e Mike deitados próximos e um pouco mais afastada Emilly que estava bem estranha. Ela tremia, mas não de medo, de raiva. Seu rosto literalmente vermelho e os olhos seguiam friamente os movimentos dos três ladrões, como se fossem seus piores inimigos de infância.

O mais alto dos ladrões veio a nossa mesa. Pegou o celular de Mike, de Emilly e fez Luize entregar o dela. Levou todas as carteiras e quando se deu conta perguntou:

–Cadê o seu celular garoto?

Isso me fez lembrar que, alguns minutos antes, Jake estava com ele jogando e provavelmente guardou no bolso de seu casaco.

–Ah, eu... não tenho, quer dizer, não trouxe. - respondi.

Ele não pareceu ficar nada satisfeito com a minha resposta, parecia furioso.

–Olha só garoto, eu não nasci ontem! O único que não teria um celular aqui é aquele garotinho - apontou para Jake - você prefere levar um tiro?

Estou falando sério! - tentei convencer - Vai em frente, pode me revistar!

Ele fez um sinal com a mão indicando que eu levantasse. Me levantei e ele chamou um de seus parceiros, o que tinha um bigode - o único que não usava máscara - e os dois começaram a me apalpar. Ele tirou minha jaqueta e o outro olhava todos os bolsos dela. Conseguiram encontrar um papel de bala, mas, acho que eu não seria culpado por não ter colocado isso na mesa.

O ladrão mais alto me jogou de volta ao chão, assim que percebeu a verdade - tecnicamente, melhor, não era exatamente uma verdade, pois era uma mentira - mas continuou com minha jaqueta em mãos. Pelo jeito, ficaria pra ele.

Depois eles se separaram e dirigiram-se as poucas outras mesas ocupadas por clientes tremendo no chão. Estavam fazendo a limpa nessa pizzaria.

Quando notei estar fora das atenções, me aproximei de Jake, fiz uma conchinha com as mãos em seus ouvidos e comecei a cochichar:

–Jake, por acaso ainda está com meu celular?

Ele fez a mesma posição em meus ouvidos e diz que sim.

–Acha que consegue me passar sem ser notado? - cochichei.

Ele faz que sim com a cabeça e, calmamente, começou a movimentar seu braço em direção ao bolso da calça. Notei que o ladrão - o gordo - estava de olho e, no mesmo instante coloquei minhas mãos por fora de seu bolso, impedindo que ele retirasse sua mão de lá com meu celular.

Ele estranhou, mas logo entendeu que alguém poderia estar nos observando e não mexeu nem mais um músculo.

Logo ele parou de observar e Jake passou o celular.

Rapidamente o coloquei no bolso da bermuda, fechei os olhos e, comecei a pensar como seria a melhor forma de ligar para a polícia.

Poderia arriscar tudo, escondendo celular por debaixo do corpo, enquanto dígito... mas teria que falar, dar informações de onde estamos e tal. Não daria certo. Seria percebido e quem sabe, morto.

Já sei! Tinha a ideia perfeita - bem, nem tão perfeita - mas o suficiente bastante para ter 90% de chances dessa ideia funcionar. Porém, nela não posso trabalhar sozinho.

Mike e Luize estão longe, mas não confio neles já que são meus principais e únicos suspeitos pelos assassinatos. Emilly, nela confio, porém, como os dois, também está distante. O que me sobra a opção da qual menos gostava para esse plano, Jake.

–Jake! - cochichei em seu ouvido. - tenho um plano mas preciso muito que você ajude e faça tudo o que eu disser, ok?

–Ok - responde cochichando e tremendo bastante.

Me posiciono de uma maneira mais confortável, com cuidado olho para ver ser não estou sendo observado e cochicho o plano para Jake. Agora só lhe resta cumpri-lo.

Nós dois, em um plano arriscado, que pode custar vidas, nossas próprias vidas, mas que pode também ajudar muitos outros.

–Aaaaaah vou explodir! - grita Jake - Por favor moço vem aqui!

O ladrão gordo vem rapidamente e grita:

–O que que tu quer garoto?

–Eu preciso... preciso... - começa ele - Preciso muito usar o banheiro!

–Ah dá um tempo! - responde.

–Por favor, por favor, por favor!!! - até a mim conseguiu convencer que ele era um garotinho desesperado para ir ao banheiro.

Argh, vem longo! - responde o ladrão gordo. - Mas não ouse aprontar nada, hein!

Ele se levantou e em sua cola, o ladrão gordo o acompanhou até o banheiro.

Daqui pude ver que ele entrou junto com Jake, o que concluí que estava certo em não deixar a missão do telefonema com ele.

Só espero que demore o suficiente. Não estava livre das vigias, mas, enquanto o ladrão alto estava na área dos funcionários - provavelmente para furtar algo - apenas o de bigode olhava a pizzaria toda.

Posicionei meus braços por debaixo do corpo, como no primeiro plano e, após discar, deitei a cabeça apoiada nos dois braços fechados por baixo. Por dentro dos meus braços, bem na direção de meu ouvido, o celular chamando.

Ignoro tudo o que a atendente diz e, tirando o ouvido da direção do som, afundo a cabeça nos braços para começar a falar. Consigo explicar exatamente a localização, graças a eu ter observado bem o caminho e os nomes das ruas por onde passamos antes de chegar aqui.

Após isso, ela pergunta se posso continuar na linha mas desligo a ligação.

Lentamente coloco o celular de volta no bolso e percebo que cumpri com sucesso o plano. Mas e Jake? Acho que ele está demorando mais do que qualquer ser humano para ir ao banheiro... só falta ele ter improvisado...

Pensando nisso, vejo ele e o ladrão gordo - com uma cara feia e de nojo - saindo do banheiro.

Quando deita ao meu lado e o ladrão volta para sua posição de observação, pergunto cochichando:

–Você não fez... número dois, né?

Ele assente com a cabeça em concordância e solta um risinho. Jake cumpriu o plano perfeitamente. E eu também. Agora só falta... esperar.

Uma sensação horrível me ocorre de todo esse plano ter sido em vão quando vejo o ladrão alto saindo da área dos funcionários com um saco preto cheio.

Ouço o ladrão alto perguntando aos outros dois se confiscaram tudo dessa área. Eles concordam. Percebo que em pouquíssimos minutos o assalto deles terá sido totalmente feito. A única escolha que tenho é... outro plano.

Penso que, se eu contasse aos funcionários sobre o telefonema, eles poderiam me ajudar a segurá-los por mais um pouco de tempo. Dez minutos. Tenho quase certeza que esse foi o tempo que se passou desde que desliguei a chamada. E acho que não demorariam mais tanto tempo pra chegar já que eu disse que era uma emergência.

O ladrão de bigode estava dando uma volta por todo o local, provavelmente para conferir se não esqueceram de nada. Tenho que agir! E tem que ser agora! Mas o que?

Me concentro ao máximo que posso nos pensamentos, mas, com o tão restrito tempo que tinha, até o plano mais idiota seria melhor do que nada.

É engraçado o fato de que, praticamente a qualquer segundo, conseguimos ter uma ideia idiota, menos quando realmente é preciso. Bem, algo realmente sem noção me veio à cabeça. Arrisquei tudo nisso.

Quando ele termina sua última vasculhada, os três estão lentamente - observando a todos - saindo da pizzaria.

Sem me preocupar com as possibilidades, arriscarei tudo com a ideia idiota que me veio à cabeça.

–Vocês não vão ter isso aqui! - falo alto para todos ouvirem, enquanto na mesma hora me levanto e automaticamente no exato instante que mostro o celular, tempo suficiente para que vejam que é um celular, disparo o mais rápido que já consegui na minha vida toda em direção ao banheiro.

Não consegui distinguir quem era, mas pude ouvir passos de, provavelmente dois vindo atrás de mim. Bato a porta, mas ela não tem chave. Entro em um dos compartimentos do banheiro e finalmente dá para trancar. Mas é tão simples que, se for forçado, qualquer um consegue arrombá-la.

–Sai daí seu idiota! - grita um dos ladrões.

–Sai da frente babaca - gritou outro - vou derrubar isso agora!

Nenhuma avaliação, momento constrangedor, ou situações difíceis me deixaram tão nervoso quanto estava naquele exato segundo. Encolhido em um apertado compartimento, tremendo mais do que qualquer coisa que treme, estava meio protegido por trás de uma porta velha de madeira que, daqui a um segundo, não estaria mais em modo que pudesse me proteger.

–Cacete!!! - grita alguém, provavelmente o outro ladrão que não veio atrás de mim.

Um segundo... dois segundos... três segundos... o que houve? - me pergunto. Mas, por que questionar? Pelo menos me resta mais tempo de vida.

Abro lentamente a porta e vejo que não estavam mais lá. Por curiosidade vou a caminho da saída do banheiro. Antes que eu abra a porta, ouço sirenes tocarem. A polícia! Consegui!

Depois de quinze minutos, tudo já havia sido resolvido. Os ladrões levados para a cadeia, os pertences devolvidos e muitos elogios pra mim, Jake e para um cozinheiro. Ah sim, naquela hora, quando o ladrão que não me seguiu - que era o alto - se distraiu, esse cozinheiro arremessou uma faca que lhe esfaqueou em um dos ombros. Os outros que tinham me seguido - o gordo e o de bigode - foram saber o que houve mas, antes que pudessem fazer qualquer coisa, a polícia chegou.

Estávamos indo embora, mas, antes de sair, me lembro da pizza de carne seca. Volto correndo ao lugar que estava e, mesmo fria, começo a comer a fatia toda que havia restado. Teve um lado bom nisso tudo: ninguém que presenciou o assalto pagou conta alguma.

Assassinatos, assalto... o que mais pode acontecer? Por que a situação não pode melhorar? É como se eu estivesse dentro de uma história que tudo de ruim acontece e ninguém pode mudar esse destino!

Enquanto caminhávamos de volta pra casa, Emilly começa a falar:

–Foi bem feito eles serem presos! Você está bem? Sabia que foi um completo idiota em se arriscar daquela forma?! Você podia ter morrido, por causa de dinheiro e alguns celulares! Essa coisa de mocinho não acontece na vida real! Por favor, me prometa nunca mais fazer esse tipo de coisa!

–Ah, calma... eu só senti que devia ajudar. - respondi.

–Promete?! - continuou ela, me forçando a responder.

–Ok, ok! Eu prometo...

Enquanto só nós dois estávamos próximos, chamei Jake, pois não queria que ficasse tão perto de Luize ou Mike.

–Você foi demais Jake! - disse Emilly.

–Eu sei! Os fiz de bobões! Caíram direitinho! - começou a se gabar.

–Ei, vai com calma. - comecei - não se esqueça que o plano foi do cara aqui.

–Estou sentindo cheiro de... ciúmes? - diz Emilly.

–Claro que não! - respondi.

–Sei... sei... - respondeu - Você também foi demais Jack... - e piscou.

–Acho que vou deixar vocês a sós... - e Jake começou a se afastar.

O puxei pela manga do casaco.

–Você pode ficando aqui! - disse.

E continuamos a caminhar. Então tive a ideia de explicar para Jake sobre o perigo de estar com Mike ou Luize, mas não podia falar, nem cochichar, daria para ouvir. Então, abro o bloco de notas do celular e comecei a digitar um textinho pra ele explicando.

Passei o celular e pedi para ler na mente e não em voz alta.

Depois de um tempo lendo, apenas disse ok. Pelo menos o alertei.

Chegando na casa, percebi o quanto desarrumada estava. Os desodorantes em spray não faziam mais efeito sobre o corpo de Ashley. E Joe também transmitia um cheiro nada agradável. Tirando o fato de que eram cadáveres! Tínhamos que dar um jeito... escondê-los, queimá-los, jogá-los ao mar, não sei! Só sei que não consigo imaginar um final feliz nos esperando ao final dessas férias.

–Gente... - começo a falar - O que vamos fazer?

–A Respeito dos corpos? - diz Mike.

É... - respondo.

E ninguém fala mais nada. Todos com feições de que estavam pensando.

Luize dá um suspiro e então fala:

–Podíamos pelo menos cobri-los e, quem sabe, levar os corpos para outro lugar... onde ninguém precise passar.

Ninguém pareceu negar e Emilly disse que ía pegar o lençol que cobria a cama de onde Ashley dormia.

Logo voltou e, nós cinco fomos até o banheiro central. Eu não entrava mais naquele banheiro. A última vez foi para conferir sobre o facão. Sempre usava o banheiro que fica no quarto onde Joe e Clarisse dormiam...

Nem gostava de observar Ashley daquela forma. Estava muito pálida e, não quero entrar em mais detalhes. Ninguém estava chorando, é como se tivéssemos acostumados com o fato de ela estar morta.

Sem mais delongas, como ninguém parecia disposto a fazer, puxei o lençol das mãos de Emilly e cobri o corpo morto.

–Agora o Joe. - falei.

Ritmado e em silêncio, subimos até o quarto dele. A cena era feia e não gostava de vê-la.

Emilly pegou um lençol de dentro do armário e o cobriu.

Gostaria de ter uma oportunidade para conversar com Emilly e Jake a sós, sobre os suspeitos, mas não era possível. Eles não desgrudavam de nós. E não posso culpa-los já que um é o assassino, mas o outro simplesmente é inocente!

Jake boceja e diz:

–Vou dormir!

Não estava com sono e duvido muito que eu dormiria essa noite. E falei que também iria. Olho no celular e já estava bem tarde.

No final de contas todos foram para seus quartos. Gostaria de separar Emilly de Luize. Que estivessem em quartos diferentes e também não queria estar no mesmo de Mike. Mas causaria suspeitas e acho que Emilly deve pensar o mesmo por não ter sugerido nada.

Emilly me olha mais uma vez antes de entrar no quarto com Luize. Retribuo o olhar tentando transmitir um: cuidado.

Assim que meu irmão deita, praticamente já está dormindo. Mike descalça os pés e simplesmente senta na cama com o celular. Desligo as luzes e me guio até a cama pela pouca claridade que seu aparelho transmite e, sento na cama encostado na cabeceira. Fico imaginando as duas lá no outro quarto, preocupado, mas, acho que Emilly pediria por ajuda se Luize fosse... a assassina e tentasse algo. Começo a ficar nervoso com a grande possibilidade de ser Mike. Nós três, no quarto, Jake dormindo, totalmente vulnerável. Ele não foi dormir, impossível que eu consiga apagar com a possibilidade de estar com um assassino no quarto e ainda mais, com ele acordado. Por falta do que fazer, tento conversar com Mike:

–E aí cara, como está levando isso tudo?

–Ah, não sei dizer ao certo - responde - acho que... aconteceu tudo muito rápido.

–É, concordo. Suspeita de alguém? - pergunto.

–Impossível não, né? - e dá uma risadinha - mas sei que não foi você.

–Como sabe?

–Se alguém saísse desse quarto eu saberia. Tenho um sono bem leve. - responde.

–E se eu andei na pontinha dos pés? - começo - sem fazer barulho nenhum?

–Ah, não inventa. - responde - Sei que não somos de se falar muito mas confio em você. Você não é do tipo de pessoa vingativa. - e não sou mesmo.

–Vingativa... você acha que mataram Joe por ter me socado?

–Achar eu acho. Ter certeza não. Afinal, não podemos ter certeza de nada nesse mundo. Apenas que um dia... todos nós morreremos. - responde.

E começo a me atormentar com a ideia de que deixei Emilly isolada a quatro paredes com... a assassina! Não estava aguentando mais essa sensação. Não iria aguentar perder outra pessoa que... que não sei, talvez... eu gostasse da Emilly. Quando digo gostar, estou me referindo a... gostar mais do que como minha amiga. Mais do que como melhor amiga... mas não era hora de pensar nisso.

–Mike - falo - Se não foi você, não fui eu, não foi Jake, é claro... no outro quarto... está uma assassina e uma vítima.

–Você quer ir até lá conferir as coisas?

Rapidamente respondo que sim.

Nós dois nos levantamos, com cuidado para não fazer barulho e andamos em direção à porta. Ele abre calmamente e seguimos o corredor até a porta do quarto delas. Novamente com calma gira a maçaneta e assim que abrimos a porta somos surpreendidos:

Emilly... Luize... as duas... não estavam lá!

Por alguns segundos paralisamos. O silêncio toma conta de todo ambiente. Um ensurdecedor silêncio. Sinto calafrios por todo meu corpo e quando finalmente me dou conta de que tudo é real, meu pulmões voltam a se encher e consigo dar comandos a meu corpo para vasculhar por debaixo das camas o quanto antes conseguisse. Mike faz o mesmo, porém, nada. Nenhum sinal, nenhum ser vivo.

–O-o que-e aconteceu?! - gaguejo.

–Eu não sei! - grita Mike - Rápido, vamos olhar no quarto do Joe!

Nada, ninguém.

–Lá embaixo! - grito.

Descemos correndo as escadas - ele na frente - e agora estávamos na sala de estar. Também ninguém. Olhamos a cozinha e nenhuma alma sequer. Faltava o banheiro. Olhamos um para o outro no mesmo instante, percebendo que restava lá e disparamos para o último local de esperança. No caminho, paro repentinamente assim que passo pela porta de entrada - que se encontra entre a cozinha e o banheiro - pois percebo que está encostada, não fechada. Mike continua correndo mais alguns passos até notar que eu parei, voltando, e me seguindo quando começo a abrir a porta e corro pra fora de casa.

Continuo correndo um pouco, está bem escuro - apenas os postes de luz iluminavam, que ficam um pouco distante, na estrada - e percebo duas pessoas no local mais à frente. Acelero ao máximo que posso mas me aproximo demais e, antes que eu consiga parar de correr, uma voz de garota - a qual não consigo identificar - grita:

Para!

E sinto uma terrível dor no braço esquerdo, parando de correr.

Após mais ou menos dois segundos olhando, finalmente consigo identificar quem são: Luize, com uma cara de pavor e Emilly, com um sorriso assustador e um facão em uma de suas mãos. Logo Mike chega.

Noto meu braço sangrando. Um enorme corte e me toco que foi Emilly a culpada por ele.

A situação vai finalmente ficando clara em minha mente. Luize, a vítima e... Emilly, a assassina!

–Ah, que droga... - diz Emilly com um tom de voz psicótico - Não era para ter sido assim...

–Não pode ser, não...

–Por favor, diga que me perdoa! - grita ela.

Não podia ser você! Eu confiei em você! - falo alto, enquanto meu braço ardia e gotas de sangue pingavam no chão.

–Me escuta! - Luize estava tentando sair de lá, mas ela a segurava com um dos braços. Mike estava do meu lado e parecia ter muita raiva. -Você amava Ashley! E eu sempre amei você! Tentei fazê-lo me amar, mas não consegui! Viajando para cá, tinha uma oportunidade perfeita pra matá-la! - e começava a rir assustadoramente.

–Solte essa faca e Luize agora! - grito.

–Aquele babaca do Joe socou você meu amor! - começou ela de novo - Não podia permitir deixar aquela inutilidade humana viver! Ele machucou minha coxa, sabe aquela marca roxa? Foi ele quem fez. E consegui fingir que não. O plano estava perfeito!

–Emilly, por favor, me escute. Solte essa faca e se afaste de Luize.

Ela me encarou por um tempo e, abaixou o braço que envolvia Luize. Na mesma hora Luize saiu correndo para trás de Mike enquanto Emilly continuava parada lá, sorrindo, com o facão nas mãos.

–Ela... ela me disse que sabia quem era o assassino - começa Luize a falar em um tom baixo - E... me trouxe aqui dizendo que se falássemos dentro de casa, o tal assassino ouviria.

–Por que você fez isso, Emilly? Por que queria matá-la?!

–Luize era minha grande chance. A matando deixaria um bilhete... fazendo pensarem que era a assassina e se suicidou.

–Você é maluca! - grito sem pensar, esquecendo o fato que ela estava com uma faca.

Meu braço ardia mais ainda. Apertei por cima do corte pois sangrava demais, porém ainda doía bastante.

–Meu amor, vamos esquecer disso tudo, tá bom? - diz ela - entramos e faço um lindo curativo! Prometo cuidar de você!

Olho para ela friamente e digo o que eu tinha que dizer:

–Nunca poderei amar alguém que matou quem eu amava. Eu te odeio. E minha opinião nunca irá mudar.

Emilly fica parada, olhando pra mim. E vejo Jake saindo de casa. Ela ainda parada e ele chega. Ninguém ousa fazer nada pois ela está armada.

–Por que você estão aqui fora? - pergunta Jake sonolento.

–Jake, pra trás. - eu falo.

Ele percebe que meu braço está sangrando demais e que Emilly está com uma faca na mão. Na mesma hora, olha novamente meu braço e sai correndo, entrando em casa. Provavelmente ficou com medo. Tirando o fato de que ele nunca agiu assim.

–Você... nunca... vai... me amar? - pergunta Emilly.

–Solte essa faca, por favor! - respondo.

–Nunca? - e lágrimas caem de seus olhos.

–Me desculpe, mas, nunca. Nunca vou te amar! Você é maluca! - desabafei.

Ela estende o facão. Mike e Luize já ficam nervosos, mas, percebo que ela não irá atacar ninguém.

–Solta o facão, por favor. - repito.

–Eu te amo. E sempre te amarei. - diz Emilly.

Ela faz um talho gigantesco no pescoço. Cai no chão e estava perdendo muito sangue. Quando estou indo em sua direção para tentar ajudar, caio sentado. Acho que perdi muito sangue também. E ouço Jake gritando:

–Já estou chegando!

Ele ignora por completo o fato de Emilly estar caída no chão, muito provavelmente morta. Luize e Mike envolta de mim também. Ele trouxe uma tala e pede ajuda de Mike. Ele enrola bem forte em meu braço para estancar o sangue.

–Ela está morta. - diz Luize, que agora se encontrava abaixada ao lado do corpo dela medindo seu pulso.

Mike carrega Emilly pra dentro, para que ninguém a visse. Jake e Luize me ajudam a entrar. Agora eram três corpos para serem escondidos. O que podíamos fazer? O que não podíamos fazer? Tudo só complicou. A assassina estava morta. Mas duas vítimas também. Como explicaríamos aos policiais e sejam mais quem forem? Será que acreditariam, ou não? Precisávamos de muita ajuda.

Enquanto pensava, o telefone começou a tocar.

Me dirijo até ele e, dizia ser tia Mary. Como prometeu, iria perguntar se estávamos bem. Estávamos bem? Eu não sei de mais nada.


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Notas finais do capítulo

Então é isso! Espero mesmo que tenham gostado. Estarei disposto a responder qualquer comentário, crítica, o que for.

Não pretendo fazer uma continuação, ao menos, não agora...

Logo começarei um novo projeto. A fanfic será denominada como "Não Gosto do Escuro".

Obrigado por ler até o final!

—Márcio Lank.



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