Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 74
Próximos ao precipício (e por dentro dele).


Notas iniciais do capítulo

EIIIII
Eu ainda estou viva!

Acho que passei do limite de atraso dessa vez, já tem mais de um ano que não atualizo isso aqui. Cinquenta por cento é culpa da minha procrastinação e os outros cinquenta são provavelmente culpa da minha não-tão-recém descoberta hiperfixação por Bungou Stray Dogs (e soukoku, principalmente... quem sabe, sabe).

Sinto muito por deixá-los esperando por tanto tempo, de qualquer forma!
Esse cap foi uma luta pra escrever e já não sei dizer se está bom ou não visto que o começo fluiu muito bem e o resto foi saindo diferente do que eu tinha em mente enquanto escrevia.
Enfim, parando de enrolar... boa leitura a todos!



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Em algum lugar de Iron.

 

Anne havia partido. O grupo estava desfalcado e eles mal haviam encontrado obstáculos reais durante o caminho. Parecia uma brincadeira de mal gosto. Lidrin questionou-se o quanto Destiny ainda estava puta com Nyx ou se em algum momento eles haviam feito algo para irritá-la também, porque parecia que nada dava certo como o planejado. Haviam sempre mil e uma maneiras de ferrar com tudo e sentia que já havia passado pela metade delas a esse ponto.

— Talvez eu deve-se ter procurado mais… — Ryan disse, parecendo um pouquinho deprimido enquanto conversava com Skylar.

— Se voltássemos atrás da garota perderíamos muito tempo. Além disso não é da nossa alçada resolver problemas que os outros causaram.

Se Nyx percebeu a alfinetada ela não deixou a entender tal coisa, porque continuou em silêncio.

— Mesmo assim é perigoso deixá-la sozinha por ai afora, não é?

— Ela se vira. — Nyx finalmente respondeu, puxando os cabelos negros para trás e estreitando seus olhos adiante. Ela estava cuidando de manobrar o barco mas aquela área não era das melhores para fazê-lo, havia uma névoa persistente que parecia grudar-se ao redor deles. Lidrin não ficaria surpreso se desembocassem em um pântano.

— Mesmo que ela se vire bem. — ele interrompeu. — Anne estava nervosa. Você poderia ter sido mais razoável com ela, é uma criança.

Meio que estava esperando uma resposta áspera da parte dela, mas como nada veio, o djinn revirou os olhos e apoiou seu rosto na mão. Sinceramente as vezes ele ficava de saco cheio daquilo tudo. Todas as discussões, brigas estúpidas, picuinhas que transformavam-se em uma tempestade em copo d’água. Ele adorava cada uma daquelas pessoas que estavam presentes, algumas até mais do que poderia esperar, mas tudo o que queria após aquilo se arranjar eram férias prolongadas deles. Talvez deve-se passar um tempo com sua mãe.

Ele não queria se lembrar do porquê deixara-a, para começo de conversa. Fora porque Trixia partira. Porque ele não conseguiria viver num mundo em que ela não estava lá… ela tinha razão quando dissera que estava obcecado por isso.

Rejeitado…

Selene acertara em cheio quando argumentara sobre o assunto. Quando ele enfim havia tomado coragem para contar o que sentia realmente por Trixia, fora acertado com uma rejeição. Não soube dizer o porquê disso tê-lo deixado tão chocado. Nem tão irritado. Os últimos dias que haviam passado juntos pareciam ter mudado algo em sua relação, acreditar nisso fizera-o se confessar, e isso dera terrivelmente errado.

“Nós somos amigos. Nós somos família.”

“Você só me vê como um irmão mais velho, então?”

“Sim. Não é o suficiente para você?”

“Não. Porque eu amo você.”

Ele ainda conseguia ver os olhos dela um pouco arregalados e confusos por conta das palavras. Compreendendo plenamente seu significado, mas ao mesmo tempo não querendo acreditar que aquilo havia sido dito, Trixia meneara a cabeça de um lado para o outro.

“Não. Você está confuso, nós todos passamos por um inferno nos últimos tempos, você está apenas projetando isso.”

“Eu não estou projetando nada, como pode dizer isso!? Você não acredita em mim!?”

“Lidrin…” — e então ela fizera uma pausa. Seu olhar tornou-se duro. — “Você me viu crescer. Eu te conheço desde que me conheço como gente. Como você espera que eu te veja de maneira diferente?”

“Engraçado você achar que consegue tentar explicar para mim mesmo o que eu estou sentindo!”

“Você passou tanto tempo obcecado por me reencontrar que acabou misturando as coisas, o que mais eu poderia interpretar!?” — ela também acabara erguendo a voz. Acertou violentamente as palmas das mãos contra a mesa que os separava. — “Eu não vou aceitar esse tipo de sentimento falso. Mesmo que seja de você. Principalmente por ser de você!”

Ela tinha saído da sala em que estavam logo depois daquilo, batendo os pés e praguejando. Mesmo que tivesse ficado irritado na hora e nos dias que se seguiram, o sentimento já havia amainado e se tornado constrangimento. Havia remorso também, com certeza. A plena consciência de que ele havia estragado tudo, e que talvez não tivesse nenhuma chance de concerto. Ele queria acreditar que a amizade de ambos poderia suportar aquele estremecimento, afinal ela suportara o fato inegável de que ambos estavam em grupos rivais no começo daquela jornada. E, ainda assim, seu peito estava pesado. Um pavor silente havia infiltrado-se em seu coração, sendo alimentado com o passar das horas e dias enquanto se aproximavam mais do Santuário de Metal. Lidrin não tinha um bom pressentimento sobre aquele lugar, nenhum de seus colegas de grupo parecia ter. Ele não se entendera com Trixia antes de partir, e a mera perspectiva de que nunca pudesse fazê-lo era assustadora.

Suas conjecturas pararam quando o avanço do barco ficou ainda mais lento. A névoa havia tornado-se ainda mais espessa, a ponto que Nyx simplesmente desistira de tentar enxergar algo e apenas deixara o transporte seguir pela lenta correnteza. Ele ouviu-a resmungar baixo algumas coisas consigo mesma, mas não conseguiu entender uma palavra sequer disso.

— Nós já estamos em território de Iron? — questionou Ryan, se esforçando para ver algo ao seu redor.

— Sim, eu acho. Imaginei que desembocaríamos no pântano seguindo o curso do rio, mas a névoa está cerrada demais. — Lidrin respondeu. Ele escutava nitidamente o tamborilar inquieto dos dedos de Skylar na madeira do barco, quando este ofereceu sua opinião:

— Encontrarmos a entrada vai ser um saco assim.

— Ela provavelmente está em terra firme.

— Não faz muito sentido cavarem e construírem em baixo de um pântano, não é? — Ryan falou outra vez, logo gemendo baixo de inquietação. — Bem, é claro que com magia…

— Está em terra firme, com certeza. — Nyx interrompeu, suspirando. — Ainda assim, perderemos um tempo até encontrarmos uma trilha decente. O terreno é instável demais, e há a névoa para nos atrapalhar.

A mestiça desceu um remo o máximo que conseguiu para tentar verificar a consistência da água ao redor, e puxou-o. Um amontoado de matéria morta veio junto.

— Selene está fazendo falta, não é? — o djinn argumentou, desgostoso.

— Nós temos lamparinas pra isso. — Mesmo assim, pareceu-lhe que ela concordava.

— Poderíamos ter alguém para invocar o vento também e afastar a neblina. — Skylar reclamou de seu lado. Então cruzou os braços e suspirou, parecendo repensar suas palavras. — Certo, não faz sentido chorar pelo leite derramado. Alguma ideia de como podemos nos localizar?

Os quatro se entreolharam por um tempo. Então Lidrin percebeu que os outros três acabaram convergindo seu olhar na direção dele. Engoliu em seco, já imaginando que teria algum tipo de trabalho pesado para fazer.

— Eu posso me transformar e sobrevoar a região. Verificar o quanto de espaço a névoa está cobrindo, se há alguma trilha visível, talvez algum indicativo do Santuário visível de cima.

Não houve objeções. É claro que não haveria, afinal de contas era a única opção que tinham naquele momento. O djinn rapidamente assumiu a forma de um falcão, batendo as longas asas e subindo ao céu, quase que instantaneamente sumindo em meio a névoa. Os três que ficaram para trás no barco trocaram mais alguns olhares antes de começarem a se mover para recuperar e acender as lamparinas.

Elas foram praticamente inúteis.

— Fantástico. — até mesmo Ryan parecia insatisfeito a esse ponto, e ele simplesmente deixou-se cair a estibordo do barco, pondo-se a encarar o espaço ao seu redor, em busca de qualquer coisa que parecesse com um caminho a seguir. Como não havia nada, não demorou para que começasse a bocejar – fruto do tédio – e pouco tempo depois estava ressonando sobre os próprios braços.

— Nós estamos mesmo amaldiçoados. — observou Sky com irritação, deixando-se cair sentado em um banco enquanto aguardava.

— Falando com a propriedade de uma, já passamos por coisas piores.

— Ah, agora você admite com todas as letras, não é?

— E há algum ponto em esconder, sendo que é algo que qualquer um com o mínimo de inteligência poderia descobrir? — Nyx deu de ombros casualmente. Mais uma vez, ela passou o remo ao redor do ponto em que estava. Skylar resmungou numa voz fina, o que provavelmente era alguma tentativa de provocação. Passado um tempo, porém, ele olhou sobre os ombros para verificar Ryan antes de recomeçar a falar.

— E então… qual o joguinho da vez?

— Hum…?

— Não se faça de desentendida, você tem toda essa sua pose arrogante e indecifrável, mas já estou tempo o suficiente do seu lado pra perceber quando está armando algo.

— Uh, eu estou começando a ficar transparente para a Bola-de-pelos-caolha, eu deveria começar a me preocupar?

— Sério, é por isso que as pessoas te odeiam.

— Não tenho argumentos contra isso. — Nyx respondeu, puxando o remo de volta e colocando-o ao seu lado. Ela mordiscou de leve o lábio inferior, e então bateu suavemente com o cabo de madeira contra o fundo do barco. — Você já se questionou sobre suas próprias ambições?

Skylar parou para pensar sobre aquilo.

— Algumas vezes.

— Principalmente quando começamos a buscar as Chaves Principado?

Ele desviou seu olhar, tentando não deixar tão claro que aquela pergunta batera no ponto certo.

— Bem, mesmo você não pode negar que fomos confrontados por muitos pontos de vista diferentes.

Houve um pequeno silêncio depois da frase dele. Viu quando Nyx entreabriu os lábios como se fosse dizer algo, mas ela fechou-os novamente. Então puxou uma das mechas pretas de seu cabelo para trás da orelha e moveu sua atenção para o lugar onde Ryan cochilava.

— Eu sou fraca quando o assunto é sobre crianças. — ela calou-se novamente. Parecia fazer uma confissão vital, embora tal coisa já fosse bem óbvia a essa altura. — Eu não suporto vê-las feridas. Eu não sou tola a ponto de acreditar que posso manter todas seguras sob a minha asa, porém… eu cheguei a tentar. Com Neco, e depois com Anne. Eu não vi outra forma de ajudá-las sem trazê-las comigo para esse mundo em que vivemos, e eu acreditei que estaria tudo bem, desde que estivessem sob os meus olhos. Nada de mal poderia acontecer, não é verdade?

Pergunta retórica, é claro, então Skylar apenas a ignorou. Por mais que estivesse disposto a alfinetá-la por toda a irritação que normalmente lhe causava, chegou a conclusão que não era hora. Pensando bem, era a primeira vez que aquela mulher estava sendo honesta consigo, não era?

— Mas elas se feriram, mesmo debaixo dos meus olhos. E não foram apenas elas. Sucessivamente, aquilo que eu prezo continua a se desmantelar sem que eu possa fazer nada para impedir. Mesmo que eu preveja dois passos a frente, não há nada a se fazer quando as pessoas ficam para trás.

— Então, você está dizendo que rompeu os laços com sua pequena elfa pra protegê-la, é isso?

Nyx deu de ombros. Era um movimento indiferente, mas um tanto quanto triste.

— Teria feito o mesmo por Ryan se pudesse, mas isso seria passar do limite. Você é o líder dele, não eu. E de qualquer forma, tenho que admitir que está fazendo um trabalho muito melhor do que eu fiz por todos esses anos.

— Tsc… isso é desagradável.

— Eu sei.

— Você pensa que sabe. E é tudo sobre isso. Sobre o que você pensa que sabe, mas ignora. Por que você acha que eles continuaram ao seu lado por todo esse tempo? — Skylar bateu vigorosamente contra seu peito com a mão direita aberta. Sua expressão tinha algo de selvagem. — Nós somos Caçadores de Recompensas. Não importa qual a nossa origem, nós permanecemos unidos porque compartilhamos uma visão. Isso é verdade para nós, e é para vocês também, estou errado?

Nyx não respondeu. Seus olhos, porém, demonstravam certa surpresa.

— Eu aposto que aquelas duas pirralhas ficariam irritadas se te ouvissem agora. Aqueles filhotes de elfo tem andado com você e aprendido com você por todo esse tempo. E ambas são talentosas, posso dizer por experiência própria. Não me venha com essa de “eu não sou boa o suficiente” para mim agora, Nyx de Saint Ignis, eu não vou aceitar que você se menospreze na minha frente. Se você não for uma boa líder como você acha que vou justificar todas as vezes que empatamos? Você está tentando me dizer que sou medíocre, é isso!?

— Não é bem o que estou…

— Então mostre seu orgulho! Todos nós cometemos erros e falhamos o tempo todo. Nós não somos deuses. Nós não somos perfeitos… desde que estejamos dispostos a admitir que erramos e dar nosso melhor para melhorar, está tudo bem.

— Oh, certo, você está um pouco exaltado, eu estou vendo. — Nyx cortou-o, balançando a mão num gesto para que ele se acalmasse. Por alguma razão Skylar pensou ter visto um sorriso suave e amigável na sua face, mas ele desapareceu rapidamente. — É fofo o que está fazendo para me consolar, mas o que está feito, está feito. A JusticeBlade acabou, e nós seguiremos caminhos separados depois daqui.

— Não me chame de fofo, é revoltante, vindo de você. — ele cruzou os braços novamente e relaxou os ombros. — Mesmo assim… você age como se não houvesse uma forma de resolver isso. E bem, mesmo que não haja, não é como se vocês deixassem de ser uma família porque estão vivendo em lugares separados.

Nyx mais uma vez tomou um tempo longo antes de responder. Ela parecia genuinamente prestar atenção ao que ele dizia, o que era ao mesmo tempo satisfatório e assustador. Seus dedos envoltos no cabo do remo moveram-se para segurá-lo com mais força e sua cabeça pendeu para um dos lados.

— Você tem razão nisso também.

— É claro que eu tenho. É porque minhas emoções estão bem calibradas, obrigado. — assentindo consigo mesmo ao deixar a satisfação vencer, Skylar voltou a checar Ryan. Suas palavras altas não pareceram ter acordado-o, e dessa forma poderia estender aquela conversa um pouco mais. Já que a Boneca-Mestiça estava disposta a falar, por que não aproveitar disso?

— Você ainda pretende levá-lo? Nós não entramos no Santuário do Metal, ainda dá tempo de voltar atrás.

— Mesmo que ele seja uma criança, não sou eu que vou tirar essa escolha dele. Mesmo sendo jovem, Ryan é um BeastHunter. Ele tem orgulho do que é, e orgulho do que pode fazer.

— Bem. Então eu respeitarei isso.

— Obrigado. Eu respeitarei quando Gravor desejar se juntar a você, em troca.

As sobrancelhas da mestiça se juntaram e ela deu-lhe as costas, apoiando os braços na madeira. Ótima maneira de fugir de uma questão. Skylar já havia desistido de insistir, mas é claro que quando se tratava de Nyx, as coisas nunca corriam como esperava.

— Você fala como se isso fosse uma certeza.

— Porque é uma.

— Está tudo bem para você perder seu vice-líder para mim?

— Está tudo bem para você levá-lo junto nessa jornada que está planejando fazer sozinha?

Skylar ouviu-a clicar a língua, enquanto erguia um pouco o rosto. Para fitar a neblina sobre suas cabeças ou algo em seus próprios pensamentos, não fazia muita diferença.

— Ah… nós realmente passamos tempos demais juntos, ter você fuçando nos meus planos é bem desagradável.

— Não vou pedir desculpas por isso, já estou avisando.

— Bem. É justo. — houve outro pequeno dar de ombros. — Eu creio que seja uma decisão dele, exclusivamente.

— Independente de qual seja, acho que nós dois podemos cuidar muito bem de um shifter. — Ele tinha certeza disso. Da sua parte porque convivera com Gravor a tempo o suficiente e sabia como lidar com ele. E da parte dela… bem, algo lhe dizia que Nyx se esforçaria por aquilo, mesmo que sua personalidade fosse muito questionável.

Era de certa forma um alívio.

Mesmo que provavelmente fosse ficar de coração partido quando seu irmão partisse.

— Há algo que queira fazer, quando tudo isso acabar?

— Se tudo isso acabar bem… eu vou simplesmente deixar meus passos me levarem. Ser um pouco caótica de vez em quando não deve fazer mal.

— Parece divertido.

— Realmente parece, não é? — o timbre da voz dela soou quase como sonhador. Então seus músculos retesaram e ela moveu-se da posição em que estava, seguindo algo com seus olhos. — Lidrin está voltando.

Skylar ergueu seu único olho para acompanhar os dela e percebeu o vulto se aproximando. Ele esperava, realmente, que Lidrin tivesse encontrado alguma coisa. Mesmo que aquela troca de palavras tivesse lhe mostrado um caminho mais otimista, não estava com um bom pressentimento sobre o local para o qual estavam indo. Não sabia se era apenas um eco da preocupação de sua contraparte ou um sentimento próprio, mas faria o que estivesse a seu alcance para que todos os presentes retornassem daquela missão vivos.

Ele lutaria por isso com garras e presas, com toda certeza.

 

 

oOo

 

Em algum lugar de Iron. Muito, muito, muito abaixo…

 

Um pouco distante do ponto em que o pequeno grupo de relicários estava:

Abaixo da terra;

Profundamente incrustado no subsolo;

Está aquele lugar.

Uma imensidão metálica, para um observador desatento poderia ser chamado de um amontoado de nada. Era um túnel gigantesco e segmentado, que se ramificava em muitos outros. De começo, não parecia levar para lugar nenhum, mas chegando próximo ao seu centro, coisas estranhas à visão começariam a surgir: seres, de todos os reinos, coexistiam, produzindo sons similares, mas nunca realmente iguais, aos da superfície. Eram uma cacofonia metálica insistente. Poderia até mesmo ser incomodo para aqueles que não estavam acostumados.

Entretanto, para uma criatura ali dentro, isso era tudo o que conhecia: A luz artificial e mágica disposta pelos tetos dos vários níveis, mantida por sua própria força de vontade. O canto dissonante de pássaros. Um rumor sussurrado pelos insetos.

O lugar onde seu pai repousava.

Ela mantinha-se vigilante pelo bem dele.

Sua mente estendia-se por aquele conglomerado inteiro, e portanto, qualquer coisa fora do comum era notada por ela. E, depois de muito tempo, tanto que não saberia nem sequer como começar a contar, ela sentiu algo anormal.

A chegada de visitantes.

Mas, é claro, visitantes nem sempre eram uma boa notícia.

 

 

oOo

 

Em um dos vários túneis que deixavam o principal, o ar ondulou. Num instante, apenas para juntar o fôlego, o espaço ali foi preenchido por três pessoas. O primeiro exibia um sorriso vitorioso bastante típico, o tipo de sorriso que fazia as pessoas ao redor desejarem matá-lo. O segundo permanecera agachado na posição que aparecera, rilhando os dentes, pronto para saltar por cima da primeira coisa viva que cruzasse seu caminho. O terceiro era claramente feminino, mantinha uma das mãos na cintura enquanto um mangual estava apoiado em seu ombro direito. Ela fitava de maneira desafiadora a sua frente.

— Bem… parece que a Morte decidiu dificultar um pouco para o nosso lado. — Lyla foi a primeira a falar, fechando mais ainda a própria expressão ao perceber que estavam em um túnel que não parecia levar a lugar algum.

— Se um certo filho da puta não tivesse irritado-o…

— Ou, ou, vamos poupar a agressividade por enquanto, nós estamos no Santuário, é o que importa. — Loki moveu-se da sua posição, dando uns passos para a frente, enquanto juntava suas mãos atrás do corpo. Ele já esperava que, apesar de Surm não evitar teletransportá-los para o local que desejavam por conta do domínio da bruxa, o deus estava irritado o suficiente consigo para jogá-lo em um vulcão fervente, se tivesse a oportunidade.

Atrapalhar a sua jornada era pouco comparado ao que a entidade estava planejando para ele quando se libertasse. Loki apenas considerava que isso só ocorreria quando já estivesse morto. Corine não largaria seu osso tão cedo, ela demorara muito para consegui-lo.

Usar Surm apenas como um meio para entrar no Santuário poupara muito trabalho, tempo e dinheiro deles, mas era também um desperdício. Entretanto, sua mente pensaria coisas mais interessantes para fazer com ele depois. Agora os Seguidores do Pesadelo tinham um objetivo em mente, e se o conseguissem, a sua vitória estaria a dois passos de ocorrer. Era preciso ter foco.

— E então… como vai ser dessa vez? Separar e conquistar?

— Apenas obliterar tudo que estiver no nosso caminho me soa bem. — Kenai complementou a fala de Lyla, recebendo um olhar interessado da parte dela. Okay, com aquilo ela provavelmente podia concordar.

— E faz diferença? — Loki riu suavemente, abrindo ainda mais seu sorriso. Tornando-o quase sádico. — Vamos abater a Rainha do Falso Paraíso.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo!

Espero que não esteja tão confuso quanto parece na minha cabeça (mas talvez seja porque estou postando isso quase onze horas da noite e meu cérebro já parou de funcionar a muito tempo).

Vou deixar passar as notas finais extremamente longas desta vez.
Em contrapartida vou tentar voltar em menos de um ano com um capítulo novo (se eu conseguir eu ganho um biscoito?).

Kisses kisses para todos vocês e até a próxima!



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