Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 14
Dance comigo...


Notas iniciais do capítulo

Chegou o dia do tão esperado baile (morrendo de medo de não ter ficado bom o suficiente e preparando uma baioneta caso queiram me linchar)!
Kali pede perdão pelo erro na data, e lembra que o capítulo dos BH sai no próximo sábado. E manda dizer que é lesada também, mas vamos dar um pouco de crédito a ela, são tantas coisas a fazer que as vezes a gente dá umas escorregadas mesmo.
Bom, sem mais de longas... aqui está, divirtam-se.



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Anne fez um bico de decepção, enquanto batia os pés, com seu uniforme padrão de empregada (o qual se consistia em um avental por cima de um vestido de tom neutro, meias claras altas e algo que lembrava uma sapatilha). Os cabelos brancos estavam presos num coque, o que deixava seu rosto ainda mais visível.

– Mas eu queria ir!

– Não dava pra saber que você ia trabalhar logo essa noite. - Frosty argumentou, coçando a bochecha. Usava roupas sociais: uma calça de tom azul claro, uma blusa branca simples aberta no peito e o que parecia ser um sobretudo azul escuro com ornamentos prateados, que ia até suas canelas, ainda que ele fosse bem alto. Na mão livre, segurava uma máscara que cobria apenas a parte superior do rosto, cujo nariz era mais adunco, como um bico de pássaro. Esta era da mesma cor da calça, com relevos também em prata, ao redor dos olhos, principalmente.

– Isso é injusto... a Selene nem quer estar lá. - a jovem apontou um dedo fino, com cuidado para não derrubar a bandeja que segurava na outra mão, em direção a Selene.

A elfa estava com um vestido longo e armado, preto com detalhes vermelhos. A parte superior continha uma fita trançada em todo o seu meio, começando um pouco abaixo do busto e indo até a linha da cintura, onde começava a parte inferior, uma “saia” cheia, mas não muito, com babados vermelhos na ponta. Luvas negras cobriam suas mãos e braços, até o cotovelo, um sapato de salto ornamentava seus pés, e seus cabelos, normalmente rebeldes, estavam presos em um penteado intrincado que fazia lembrar um rabo de peixe, para quem visse Selene de trás. No entanto, toda aquela vestimenta pomposa era inútil. A expressão de ódio que ela trazia (e fazia questão de lançar exatamente sobre Frosty) praticamente tirava todo o brilho da situação.

– Não quero mesmo, esse infeliz me obrigou, com essa cara falsa de cachorro sem dono. - Ela ficou tentada a atirar a sua própria máscara na cabeça dele. O objeto era para o rosto todo, perfeitamente oval, com uma lua crescente desenhada no lado direito, em tom de preto contra o fundo prateado. Arabescos em vermelho percorriam-na completamente. Selene se perguntara como iria enfiar aquilo no seu rosto sem desfazer o penteado (já que o que era usado para prendê-la era um elástico transparente), mas logo chegou a conclusão que não se importava.

– Mas... Eu nem encostei em você. - argumentou ele, abrindo as mãos e fechando os olhos azuis, parecendo ofendido por tal acusação.

Selene rosnou de volta, ou chegou bem perto de fazer tal coisa. - Deixa de ser sonso...

Uma ruga de estresse surgia no rosto de Anne, enquanto ela gritava que “já estava indo” para um grupo de clientes que ainda não fora atendido. Logo, porém, voltou-se a dupla que discutia. - Quanta injustiça... bom, se precisarem de algo, sabem onde me encontrar.

E com um aceno ainda chateado de adeus, e dizendo algo como “divirtam-se, seus traidores”, girou nos calcanhares e voltou para dentro da taverna que trabalhava. Ela também fora uma daquelas jovens elfas órfãs, recrutadas para servir de empregadas em vários pontos de comércio. Ao contrário de Neco, porém, sua vida era menos atribulada, afinal a Taverna do Grifo não era tão frequentada, e por vezes ela podia dar suas escapadas, usadas principalmente para caçar com os outros. Neste dia, a despeito disso, o movimento tinha aumentado, o que a impossibilitou de ir à tão comentada Noite de Máscaras, em homenagem ao deus da Trapaça, do Engano e dos Jogos, Hildyn.

Hildyn poderia até não se incomodar com tal honra em seu nome - Ele tinha muito mais coisas para se preocupar, sendo o deus que era, o que consistia em enganar o maior número de pessoas possível - Mas as outras pessoas de Hathea quase matavam para estar entre os convidados do grande baile. Por Nyx ser filha de uma das organizadoras, facilmente conseguiu as entradas para seus parceiros. Não era qualquer um que podia participar sem ter uma ajuda interna...

Frosty e Selene se puseram a caminho novamente. O primeiro, em um dado momento, passou os olhos pela amiga, antes de comentar:

– Não vai conseguir lutar assim, você sabe...

– Lutar? Eu mal consigo respirar com essa coisa! - ela protestou, ajeitando o corpete rapidamente e acoplando a máscara em seu rosto. O elfo fez o mesmo, e ambos se entreolharam uma vez mais.

– Então é melhor que não tenha nenhum problema, né?

– Sim... mas não posso dizer que estou com um bom pressentimento quanto a isso.

– Você fala isso só porque está indo para um baile de máscaras.

– Cale a boca, Frosty...

oOo

Quando ambos adentraram o enorme salão onde estava sendo realizada a festa, sentiram automaticamente o impacto da riqueza. Candelabros de diamante iluminavam o local, e as mesas com aperitivos se estendiam, tomando boa parte do lado direito do espaço. Garçons vestidos como lordes e também mascarados rodavam por entre os convidados, servindo todo o tipo de bebida alcoólica disponível. Faixas de tecido negro desciam do teto para decorá-lo, e mais ao fundo havia um palco, onde no momento era possível discernir algo como artistas de circo se apresentando. Um deles tentava fazer malabarismo com garrafas vazias de vinho.

– É muita ostentação por causa de um deus como Hildyn.

– Deixe eles se divertirem. - Frosty alegou, pegando uma taça de vinho quando um garçom passou por ele. Tomou um pequeno gole, e com o canto dos olhos notou uma figura descendo as escadas gigantescas que levavam ao segundo andar. Como toda mansão de poderosos que se preze, esta tinha duas escadas, uma subindo pela direita e outra pela esquerda, e ele agora observava a da esquerda. Era uma elfa que descia os degraus, que usava um vestido branco como a neve, de plumas. Parecia um cisne, com sua silhueta esguia. Os longos cabelos negros estavam presos num coque, emaranhados com fios brancos também. Em compensação, um colar de ametista pendia de seu pescoço fino, e os brincos que adornavam suas orelhas pontudas também. A máscara que ela usava também era negra, com o mínimo de brilho, e era simples, apenas escondendo a área ao redor dos olhos.

Frosty jamais haveria de descobrir quem era, se não tivesse reparado naqueles insondáveis olhos verdes da figura quase fantasmagórica. E da garota um pouco menor que descia com ela.

Nyx, a despeito de sua preferência clara por vestir-se de preto, havia aberto uma exceção naquele dia, apenas para relembrar o que já sabia: o branco não contrastava, obviamente, com sua pele, o que a deixava parecendo mais um espírito do que uma dama da nobreza. Mas isso realmente não a incomodava em nada, apesar de uma pessoa ou outra perguntar se ela se sentia bem. Lógico que não se sentia, afinal aquele ambiente lhe era desagradável. Ainda mais com os olhares enfezados que de vez em quando recebia da mãe, ofendida por ver a filha desfilando por ai, mostrando as orelhas herdadas do pai. Claro que sabia que Nyx havia feito tal coisa de propósito, como uma vingança velada.

A Lady de Saint Ignis não havia chegado aos quarenta anos ainda, havia se casado pela primeira vez demasiado cedo. Engravidara da jovem aos vinte anos, o que não era nada fora do comum. Partilhava dos longos cabelos negros da filha, mas seus olhos eram escuros. A pele era alva, combinando com o vestido turquesa que escolhera para aquela ocasião. Parecia sempre sorrir, mas na verdade, não sentia coisa alguma. No entanto, apenas os mais próximos dela saberiam esse traço terrível de personalidade, o qual Nyx também herdara. Em especial, a mulher se sentira incomodada com a garota que agora acompanhava a filha, achava-a suspeita demais. Tentou manter-se focada em todos os seus conhecidos da festa para tirar tal incomodo da mente, sem sucesso algum.

E quem poderia ser? A ultima integrante dos JusticeBlades, logicamente. Neco se destacava pelo vestido de mangas compridas e abertas que usava, de um tom amarronzado, detalhado por caprichosos relevos de cor verde. Não tinha decote, o que mostrava o lado mais recatado da pequena elfa, e seu comprimento chegava até um pouco abaixo dos joelhos. Nunca gostava de chamar atenção para si, então aquela fora a melhor opção. Simples, mas bonita. Os cabelos de corte excêntrico haviam sido penteados de forma que se enrolassem um pouco nas mechas da frente, que eram maiores, enquanto a parte de trás, bem mais curta, fora cuidadosamente ajeitada. A máscara que escolhera, entre tantas outras, era toda feita de renda esverdeada, prendendo-se também apenas na área em torno dos seus olhos.

Ela e Nyx faziam uma dupla e tanto, afinal. Não foi difícil para Edgar encontrá-las, depois de chegar -completamente atrasado -ao local do Baile. Por este ainda não ter colocado a máscara, foi fácil identificá-lo de inicio. Vestia-se todo em tons de negro e cinza, com calças escuras, uma camisa de tom acinzentado e um colete negro por cima desta. Os cabelos estavam alinhados cuidadosamente (embora isso não fosse durar muito) e a máscara que carregava também era pontuda, como um bico de ave. Aparentemente os homens preferiam aquele estilo, o que não ajudava muito quando tentavam cortejar uma dama. A dele era prateada com detalhes negros por toda a sua extensão, partindo do centro do “bico”, onde deveria ficar o nariz.

Nyx não perdeu tempo e se adiantou até o mesmo, planejando arrancar qualquer informação útil por entre seus lábios e deixá-lo o mais longe possível de Neco. Paralelamente, Selene se dirigiu a um balcão mais reservado, para pegar suas bebidas lá mesmo, afinal os garçons estavam espalhados pelo lugar, e nenhum carregava algo que lhe apetecesse.

– Vodka, por favor - ela pediu ao homem atrás do balcão, com sua maneira seca habitual de falar. Frosty foi até ela, ainda carregando sua taça de vinho, e postou-se ao seu lado, franzindo o cenho.

– Não vá se embebedar.

– Eu não fico bêbada...

– Certo... se você afirma com tanta certeza...

Os olhos do elfo percorreram o lugar, e repararam em Nyx, que dançava ao som da melodia com aquele rapaz, o qual nunca lembrava o nome. A jovem não transmitia emoções, mas ele sabia pela longa convivência que ela não estava nada feliz.

– Aposto que ela não vai conseguir nada útil. - argumentou Selene, que olhava na mesma direção.

– Aposto que Nyx conseguirá algo se lhe oferecer um beijo em troca.

– Pelo que sei, não é só um beijo que ele quer.

– Mas eu duvido muito que ela vá tão longe por informações.

– Que seja.

Ele viu quando Selene pegou a taça que lhe era oferecida e virou-a, bebendo quase todo o seu conteúdo num gole só, antes de baixá-la e observá-lo, estendendo-lhe a mão vazia.

– Apostado?

– Apostado.

E os dois apertaram as mãos.

Nyx estava se cansando rapidamente daquela dança. E Edgar não parecia disposto a dizer nada que lhe fosse útil. Na realidade, parecia mais disposto a tentar levá-la para a cama.

– A senhorita não parece muito confortável hoje. O preto lhe cai melhor, também.

Ela girou o corpo, já que este erguera o braço, fazendo uma pirueta e logo voltando a posição inicial, voltando a segurar sua outra mão. A música que tocava era lenta, de modo que seus passos também eram. E as respostas que dava eram mais lentas ainda.

– Isso não é da sua conta.

– Sempre tão adorável. Sabe, nós podíamos subir lá para cima, eu posso sumir com essa sua tensão.

– Ahn, disso eu duvido.

– Que garota de pouca fé.

– Nenhuma, para falar a verdade. - Ela sentiu nitidamente que ele puxava o corpo dela para mais perto, mas por enquanto não estava disposta a fazer nada quanto aquilo.

– Tu sabes muito bem que essa rejeição só me deixa ainda mais interessado, não é?

– Nunca imaginei que você fosse masoquista.

– Não sou. Se deixar que eu mostre, terá certeza absoluta disso.

Nyx engoliu uma risada sarcástica, aumentando a velocidade da dança, pois a música também mudara.

– Você é persistente demais.

– E tu és muito teimosa.

–Isso porque eu dou valor ao meu corpo e a minha moral, ao contrário das moças que ficam se derretendo aos seus pés. - ela respondeu num tom ácido. E sentiu seu corpo ser jogado para trás, num típico movimento de dança de salão. Piscou, sendo puxada de volta, e os corpos se colaram mais uma vez. Realmente Edgar tinha o dom da sedução, mas Nyx parecia ser imune a isso.

– Que gatinha mais encrenqueira! Pense como seria agradável. - ele desceu a cabeça para sussurrar em seu ouvido. - Nós dois... sozinhos...sem mais ninguém para dizer o que é certo ou errado... eu posso lhe dar prazer até te satisfazer completamente.

Naquela posição, a boca dela também ficaria perto da orelha dele. O aperto da mão que segurava a dele ficou mais forte, o suficiente para machucar, enquanto ela falava, no mesmo tom de voz: - E depois eu poderia arrancar esse membro que você tanto se orgulha e dá-lo para os cães comerem. Gosta da ideia?

Edgar abriu um sorriso malicioso, mas logo este se transformou na sua habitual cara de alegria. - Oh, que fofa... então isso é um sim?

– Não. - Protestou por sua vez Nyx, claramente começando a ficar irritada com tal situação. Ela se desfez do aperto do mesmo, lançando-lhe seu mais calculado olhar cético, e avisou, antes de dar as costas e sumir no meio de tantos outros casais que também dançavam na pista.

– Vou pegar uma bebida.

Frosty conseguiu ver quando a companheira atravessou o salão na direção deles. Coçou a bochecha, suspirando brevemente. Assim que Nyx se juntou a ele e Selene, perguntou:

– Como foi com o Edgar?

– Tão inútil quanto espremer uma fruta verde, não sai nada que preste... - ela bocejou longamente, passando por eles. - Preciso beber pra esquecer tanta idiotice - ergueu a mão e pegou a taça que Frosy segurava, continuando a andar em direção à varanda.

– Hei... O meu vinho!

– Agradeço... - Foi a única coisa que ela disse, antes sair do salão.

Frosty resmungou qualquer coisa, ajeitando a máscara e pegando uma nova taça com vinho branco de um criado que passava ao seu lado. Desceu seus olhos para Neco. A mais jovem havia juntado-se a eles minutos antes, sentindo-se completamente deslocada. Bem que tentara pescar alguma informação útil entre os outros convidados. O máximo que conseguiu foram comentários sobre a equipe que capturara Red Eyes (mal sabiam que conversavam com um de seus integrantes), e a falação de sempre. Ainda bem que todos eles estavam mascarados, ou com certeza poderiam levantar suspeitas.

– Quantas taças ela já bebeu? - O elfo perguntou, referindo-se a Nyx.

– Sei lá, umas cinco... - A elfa mais jovem deu de ombros. -Isso é ruim né?

– Ahn... creio que não... O pior que pode acontecer é ela encostar em algum canto e dormir... - Ele dissera isso, mas não fora nada convincente. Sua preocupação maior era Selene, ao seu lado, que definitivamente já passara das cinco taças de vodka há muito tempo, e parecia exibir um sorrisinho alucinado. - Hei... você está se sentindo bem?

– Sim! - ela ergueu a taça como se fosse brindar com alguém invisível.

Frosty piscou por alguns segundos, focando seu olhar nela, e então debruçou-se sobre o balcão. - É verdade que está apaixonada por mim?

Aquele sorriso inebriante continuou, enquanto ela respondia novamente: - Sim!

– Eu preferia ouvir isso de você sóbria, sabia?

– Sim!

– Acho que ela vai dizer sim pra qualquer coisa que você pergunte, Frosty. - comentou Neco, levando uma mão a boca antes de começar a rir.

– É... já reparei. Onde você está indo? - le reparou que Selene havia levantado, e agora o puxava para a pista de dança.

– Vamos dançar.

– Não... espera... calma, eu não quero...

– Deixe de resmungar e ande logo!

É, talvez ela não estivesse tão bêbada como ele pensava, mas preferiu não discutir, apenas deixou-se ser arrastado até que chegasse a um ponto qualquer e ambos pudessem dançar ao menos uma música. Neco, vendo-se sozinha, percorreu os olhos por entre os rostos, até perceber Edgar, que vinha agora em sua direção.

– Oi pequena dama. Viu para onde Lady Nyx foi?

– Er... não, não vi não. -Ela mentiu, e passou a mão sobre a cabeça.

– Uma pena. Quer ser minha parceira de dança no lugar dela?

Neco pensou por alguns instantes. Nyx deixara bem claro que não era pra ela se envolver com Ed, ou iria se arrepender. Mas talvez tivesse uma sorte melhor do que a amiga. Talvez conseguisse arrancar algo do Caso Red Eyes de Edgar. Então assentiu com a cabeça, lembrando-se de que, mesmo que estivesse investigando, tinha que tomar muito cuidado. E logo se viu sendo puxada para o centro do salão, em meio a vários vestidos e máscaras. Quando os dois começaram a dançar, ela suspirou. A noite estava apenas começando. E pelo visto seria longa...


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Notas finais do capítulo

Aqui está! Espero que tenham gostado.
Isa, veja se gostou da imagem... eu achei muito a cara da Selene, mas posso ter me enganado.
Bom, é isso, minhas queridas almas penadas que tanto adoro... até a próxima