Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 15
Uma excursão debaixo d'água e um crime às escondidas.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, antes de qualquer coisa, nós duas agradecemos muito à 4 V3ry Str4ng3 G1rl e a Isabela Braga pelas recomendações, fizeram o dia de duas escritoras muito feliz! Muito obrigada pelo carinho, suas divas!
Cahan... depois de receber esse duplo ataque cardíaco, e sobreviver para contar a história, vamos aos nossos Pesadeletes!
Boa leitura, e como sempre, perdoem os erros. :v



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Loreh do Sul

Kenai e Liam finalmente chegaram ao destino daquela empreitada. Depois de vários dias fazendo o caminho de Iron até Loreh do Sul, sem grandes imprevistos senão os causados pelo gênio explosivo do Mokolé, a dupla foi contemplada com uma bela visão do lago Moira.

Chegaram ao local pelo meio do dia, e encontraram dúzia e meia de pessoas circulando por lá. Turistas guiados pela curiosidade, mais do que verdadeiros fiéis. O lago tinha agora fama menor do que nos dias ancestrais.

Pois o tempo era implacável: pouco restara da beleza de outrora. O grande lago dominava um descampado estéril onde tufos de grama ousavam crescer aqui e acolá, quebrando a visão do chão seco e rachadiço. A própria água do lago era escura, sem vida. Parecia uma grossa mistura de lama.

Ao redor marcas de uma antiga cidade ainda existiam, provando que houvera vida e civilização próspera graças ao lago Moira. Mas as pessoas acabaram migrando e rumando atrás de novas condições de vida.

A Deusa Irmã podia ter nascido ali e provavelmente se mudara para locais mais bonitos. Ou, o mais certo, talvez as lendas de Loreh do Sul não passassem disso: meras lendas.

De qualquer forma Liam aproveitou para misturar-se aos poucos que ali rondavam, estudando e observando o lago. Não encontrou nada de diferente ou que desse uma pista sobre a Chave Principado.

Kenai apenas arrumou um canto à sombra de uma das raras árvores e esperou.

No decorrer das horas as pessoas foram embora até enfim restar apenas os dois Seguidores do Pesadelo. Anoitecia quando ficaram totalmente sozinhos e Liam aproximou-se de Kenai, uma expressão pensativa deixava seu belo rosto sombrio.

– E então, Quatro Olhos? Qual o plano brilhante? Esse lago não parece grande coisa. E se a chave está aí no meio dessa lama toda deixo as honras pra você...

O rapaz não se abalou pela zombaria.

– Na magia espelhos são vistos como portais – Liam disse distraído – Eles servem como ligação entre dimensões e mundos.

Kenai ergueu uma sobrancelha enquanto se levantava e batia o pó das roupas.

– Se você não percebeu não tem nenhum espelho aqui, Inteligência.

Antes de responder inabalável Liam apontou para a grande lua cheia no céu, depois apontou para as águas negras. Nem uma leve brisa pairava por ali. O ar estava tão estagnado que não se via ondulação no lago. Por esse motivo refletia perfeitamente a imagem do céu. Como um perfeito espelho.

– Não precisa interpretar literalmente – ele respondeu insolente, adorando exibir seus conhecimentos.

– Oh, interessante. Então tem um portal no meio desse barro?

Liam apenas mordeu os lábios em incerteza. Ao invés de responder avançou sem hesitar em direção ao lago. O primeiro passo dentro da água fez seu pé afundar até quase o joelho. Não se assustou, pois já esperava algo do gênero. Foi assim até chegar ao meio exato, onde o nível de água nodosa era o mesmo.

Ele aguardou que algo acontecesse, mas os segundos escoavam e nada mudou.

Desejo é o que abre um portal”, ele pensou. Não bastava apenas encontrar a passagem, a pessoa tem que querer atravessar. Ainda que muitas pessoas às vezes passassem de uma dimensão para o outro de forma inusitada, lá no fundo de seus corações elas queriam que isso acontecesse.

Confiante respirou fundo e fechou os olhos. Ouviu Kenai dar uma risadinha debochada, assistindo tudo da margem as suas costas. Concentrou-se por segundos, tentando entrar em harmonia com alguma magia remanescente. Nada aconteceu.

Frustrado, abriu os olhos de novo. Olhou para trás: seu rastro começava a se dissipar, com as águas se acalmando e voltando a dar à superfície aquela aparência espelhada. Quando virou-se para frente, notou de relance algo brilhando no fundo, envolto em barro marrom, mas não o bastante para ocultar a luz tênue.

Seu coração disparou. Imediatamente abaixou-se para agarrar aquilo que parecia uma chave! Fácil! Absolutamente fácil!

Não podia estar mais enganado. Assim que fechou os dedos envolta daquela luz o chão desapareceu de seus pés. Liam despencou no absoluto nada por momentos que pareceram infinitos, surpreso demais para sequer gritar. Então seu corpo mergulhou no que parecia um outro lago.

Debateu-se um pouco com a respiração presa no peito, acalmando-se o bastante para não sucumbir ao pânico. Olhou para cima e nada viu além da escuridão. Pouco podia ver através das águas surpreendentemente límpidas em comparação com o lago Moira.

A coloração e pureza das águas que o cercavam davam a impressão de que estava no fundo de um mar ou mesmo oceano! Embalado pelas ondas mansas, tentou pensar no que fazer. Nadar para cima? Rumo a escuridão que parecia gêmea ao negrume que se espalhava pelo fundo?

Acalme-se”, ordenou em pensamentos. Uma coisa era certa: não podia ficar flutuando naquelas águas, pois mesmo ele acabaria sem ar em determinado momento! Já conseguira uma parte muito difícil da missão e entrara naquela dimensão provavelmente criada para esconder a Chave Principado. Devia apenas manter o foco e avançar.

Seguir em frente. Sim. Sempre em frente.

Com esse pensamento deu a primeira e a segunda braçada antes que algo gelatinoso e frio envolvesse seus pulsos como amarras, impedindo-o de prosseguir. O susto foi tão grande que Liam gritou dessa vez, embora som algum escapasse de seus lábios, além de preciosas bolhas de ar que deslizaram rápidas para cima. Sentiu-se tonto.

Liam não conseguiu enxergar o que prendia seu corpo, apenas sentia aquilo envolvê-lo mantendo-o preso no lugar. Vozes surgiram direto em sua mente. Não como quando Pesadelo falava consigo, mas vozes desconhecidas e assustadoras, sussurrando em um idioma que nem mesmo ele reconhecia, algo tão arcaico que fora banido da face da Terra.

As vozes diziam coisas que Liam não compreendia, mas ele sentia seu significado. Eram ameaças, juras de morte e vingança. Como se todos os sentimentos ruins das pessoas que já viveram estivessem ali, para derrotá-lo e impedi-lo de seguir em frente. Saiba que era uma maldição de proteção muito forte! Tentou levar as mãos aos ouvidos, mas elas ainda estavam presas!

Então o tiro de misericórdia. Lentamente vários metros a frente, também flutuando nas águas calmas, surgiu uma mulher. Seu corpo delgado envolto em uma diáfana vestimenta tecida de ondas, uma obra tão bela que palavra alguma poderia descrever. Seus longos cabelos agitavam-se apesar da calmaria dentro daquele mar, como se movidos por uma brisa que apenas a ela atingia.

Seu rosto resplandecia a ponto de ser impossível reconhecer. Apenas os grandes olhos vermelhos sobressaiam-se na visão de conto de fadas. Inconfundíveis. Ainda que nunca os tivesse mirado, Liam soube imediatamente que aquela mulher era sua mãe.

Ambos se fitaram por um ínfimo instante, antes que o rapaz sucumbisse atingido por forte emoção jamais experimentada antes, permitindo que uma última e preciosa lufada de ar escapasse de seus pulmões. O tempo parecia correr lentamente, mas era mera ilusão. Estava ali o bastante para que mesmo sua espécie sofresse com os efeitos de ficar sem respirar.

Cansado, fraco, com a percepção e os sentidos confusos, viu a bela figura estender uma das mãos em um convite claro e irrecusável. Queria que Liam seguisse com ela!

O rapaz estendeu a mão lentamente, conseguindo movê-la um pouco, apesar das amarras invisíveis. Desejou com todas as forças poder ir com aquela que tinha a imagem de sua mãe, que morrera ao dar-lhe a luz e a quem nunca conhecera.

Mas antes que se seduzisse pelo forte encanto sentiu uma dor excruciante na altura do quadril. Abriu os lábios para gritar, todavia nem ar escapou daquela vez. O mar tremulou abalado por uma surda explosão e o corpo de Liam começou a mover-se impulsionado para frente!

Assustado abaixou a cabeça e compreendeu o inusitado da situação. Um crocodilo de proporções anormais o mordera na cintura! Cravara as presas de leve, mas ainda assim de modo doloroso e nadava veloz para frente.

Só podia ser Kenai.

O Mokolé nadou intrépido em direção a mulher que enfeitiçara Liam. Mas as surpresas pareciam longe de acabar. A figura feminina desaparecera! Em seu lugar surgira um castelo magnífico, antigo e enorme! Com as portas da frente bem fechadas, para evitar intrusos. Pena que não havia tempo para admirar tal obra impressionante.

Castelo Submarino

O crocodilo, nem um pouco impressionado, abriu a boca um pouco, o suficiente para que Liam se libertasse e escorregasse para suas costas, onde o rapaz agarrou-se tonto e com dores, mas fortemente. Pois sabia que disso dependia sua vida.

E Kenai fez o que fazia tão bem. Jogou-se destemido e inconsequente contra as portas do castelo submerso tentando derrubá-las a força. Liam fechou os olhos preparando-se para o pior. A construção aquática aproximou-se mais e mais. Quando o choque parecia inevitável eles caíram em solo seco e firme. O interior de uma caverna.

Tentando recuperar o fôlego, Liam rolou das costas do companheiro e caiu no chão arenoso. Respirou fundo, exausto. O coração batia forte, suas roupas estavam rasgadas onde os dentes do crocodilo o prenderam, sujas de sangue que escorriam de feridas superficiais. Também havia filetes de sangue em seus ouvidos e nos pulsos marcados pelas amarras.

Mas estava vivo. Graças ao Mokolé.

– Tsc – o rapaz não podia esperar um desenrolar mais surpreendente.

Minimamente recuperado focou na caverna onde estavam. Era fria e quase totalmente escura. Quase. Pois a parca luminosidade que existia vinha direto de um objeto que flutuava dois metros acima do solo. Lindo, mistico, muito desejado...

A Chave Principado da Água.

oOo

Hathea

Loke sabia que iria se atrasar para a famosa Noite de Máscaras, mas de acordo o plano que traçara com tanto esmero, agora era o momento de promover baixas nas fileiras inimigas. Enquanto seus dois parceiros seguiam na busca pela chave da água, este retornou a Hathea e voltou a reorganizar suas informações no curto período de tempo que lhe sobrava.

O Dorehan não estava presente aquela noite, afinal não era o tipo de criatura que podia ficar andando por ai sem chamar atenção. De maneira que o homem dispensou prontamente seu parceiro, e seguiu em direção a taverna sozinho, daquela vez.

Ainda podia se lembrar do dia em que tomou o cão demoníaco sob seus cuidados, ou melhor, roubou-o. Antes mesmo que a lenda do Despertar de Pesadelo chegasse aos seus ouvidos, e que Liam viesse recrutá-lo, Loke já era um criminoso, um mestre na trapaça. Fingia trabalhar para os homens, quando na verdade, mesmo sendo um, jogava do lado das criaturas das trevas. O caos era seu alimento preferido. Ele gostava de ver o circo pegar fogo.

Um dia, porém, ele fez o impensável. Traiu um dos seus, em prol de uma “pessoa boa”. E fez tal coisa visando manter a própria vida. Fora pego numa armadilha, e o ser, muito mais forte que ele e nada suscetível a sua manipulação, fez-lhe um acordo: lhe concederia a liberdade se, e apenas se, Loke trouxesse um certo necromante para si. Era uma briga de peso, duas forças muito poderosas se encontrando, e o homem não queria participar daquilo. Mas não teve outra escolha. Com muito custo conseguiu passar a perna no Necromante, e então aprisionou-o, trazendo-o a presença do Mago Branco que o “contratara”. O mago manteve o outro preso, sem querer matá-lo, e descobriu-se que ele tinha contrato com um Dorehan. A criatura, logicamente, morreria se seu parceiro morresse, então aceitou trabalhar com Loke de bom grado, afinal o Mago Branco não via qualquer lógica em ter um monstro tão repelente como montaria.

E as coisas ficaram nesse pé... por enquanto.

Caminhando nas sombras, se esgueirou para dentro, mantendo o rosto cautelosamente escondido por sob o capuz grosso que usava. Repassou mentalmente os dados sobre sua vitima em sua mente, enquanto verificava os bolsos, tendo certeza que o “veneno” ainda estava lá.

Anne Skyter. 16 anos. Elfa. Usa como arma um par de manoplas, que podem copiar por um temo relativamente curto o poder dos inimigos em que são usadas. Armas mágicas, dadas a ela pela sua fragilidade. Não serão problema para mim...

Controla o ar. Vivia sempre mudando de cidade por causa de seu pai. Após o incidente que resultou na morte da mãe, e com o sumiço do pai, começou a viver sozinha com seu irmão no fundo de uma taverna trabalhando de servente. Seu irmão Ched foi sequestrado quando descobriram que eles eram filhos de Azaél o líder da cavalaria de elite vermelha. Ela busca por ele até hoje...um bom motivo para se unir aos JusticeBlades.

Loke passou tais detalhes em sua mente com verdadeira indiferença. Aquilo era apenas trabalho, e cuidado, para que não houvesse imprevistos em seu plano. Ele não se importava se ela era órfã ou coisa do tipo. E seu único impedimento era a manipulação de ar dela, o que forçava-o a ser, acima de tudo, discreto.

Tomou uma dose da cerveja que pedira, e que antes que percebesse, foi posta em sua mesa por outra empregada. Com o canto dos olhos, observou sua vítima à porta do estabelecimento, conversando, indignada, com um casal que ali estava. Loke calmamente ligou os rostos a nomes, afinal ambos ainda não haviam colocado as máscaras. A mulher de expressão fria, cabelos negros e olhos violetas, era Selene, A Rainha de Copas. O homem, de sorrisos calorosos, cabelos loiros e olhos de um limpo azul, era Frosty, o Príncipe do Vale das Estrelas.

Ou melhor, antigo príncipe, ele lembrou a si mesmo, agora vendo os dois se afastarem e Anne voltar a entrar. Ela protestou com um grupo que fazia muita algazarra em uma mesa mais a frente, e então achegou-se dele, carregando uma bandeja de canecas já vazias. - Já foi atendido, senhor?

– Sim, eu diria que sim... mas se não for incômodo, eu queria algumas informações.

– Pois diga, então. - Anne não parecia ser muito boa para com os clientes, ou essa maneira grossa era parte dela. Mas sua atitude mudou completamente quando ele começou a falar.

– Eu ouvi falar que aqui já foi a sede dos Cavalheiros Vermelhos.

Ele sabia que a Cavalaria de Elite Vermelha outrora fora uma força avassaladora, até um dia em que começaram a ser caçados sob a desculpa de deslealdade ao Imperador. Uma a uma, as famílias com integrantes da cavalaria foram expulsas ou completamente destruídas. Viraravam alvo até mesmo de renomados ladrões e sequestradores, como no caso do irmão de Anne.

– Você é um caçador?

– Não, de maneira nenhuma. Eu sou o que chamam de informante. - ele tomou outro gole, e piscou os olhos para ela. Podia sentir sua duvida como se fosse algo material, ali, na frente dele.

– De que tipo?

– Digamos que eu não gosto de ver pessoas como você nessa situação. Ou melhor, elfos. Você é da família de Skyter, não?

Não ia adiantar nada ela mentir sobre isso, afinal ele buscara tais memórias bem no fundo, levantando poeira entre os papéis velhos e surrados nos quais estava sempre mexendo. Sabia que ela ficaria interessada. Era da família dele que estavam falando.

– E se eu for?

– Então sei de algumas coisas que poderiam ajudá-la em sua busca.

A menina mordeu o lábio inferior e literalmente deixou-o falando sozinho. Virou as costas e foi atender outro cliente que pedia por sua atenção. Loke esvaziou a própria caneca e debruçou-se sobre a mesa, cismado. Ela teria de voltar.

E de fato o fez. Sem nada na mão desta vez, achegou-se a ele, abaixando a voz.

– Vamos lá para fora. Esse tipo de coisa, não é bom conversar aqui.

Era exatamente o que queria. Sem demonstrar suspeitas, ela saiu, e ele esperou um tempo, até ir atrás.

Os dois estavam num beco, agora, e Anne cruzou os braços, esperando Loke se explicar. Ele apenas deu um sorriso sutil, antes de continuar.

– Sabe, talvez eu conheça a localização de Ched.

– Mas você não vai me dar ela de graça, certo?

– Infelizmente para a senhorita, o custo está além da sua comodidade.

Ela chegou mais perto, decidida, e a luz do poste incidiu diretamente sobre seu rosto.

– Fale o que você quer.

O mais provável era que ela estava esperando outra coisa, quando o homem tirou o capuz de sua cabeça e mostrou seu rosto. Tão bonito, caloroso, nada comparado aquelas pessoas que a cercaram uma semana atrás. Talvez esperasse que fosse ter de doar seu próprio corpo para ter seu irmão de volta. Era claro que estava preparada para driblar aquilo. Sentiu quando o rapaz passou seus braços pelo seu diminuto corpo. Qualquer movimento suspeito, e ela deceparia sua cabeça num golpe apenas.

Loke chegou perto o suficiente para que seus narizes se tocassem, seu jeito encantador fazendo-a ceder minimamente. O que foi seu pior erro, desde que cruzara aquela porta, achando, inocentemente, que poderia lidar com ele.

Seus lábios roçaram, e ela deu um passo para trás, como que acordando do encanto, mas já era tarde. Sentiu alguma coisa picar seu braço, enquanto ele se afastava, mostrando uma seringa vazia.

E então ele sorriu, um sorriso quase estúpido, antes de abrir os olhos. E o sorriso tornou-se algo maligno demais para que ela pudesse suportar.

– Eu quero sua vida, senhorita Anne.

Foi uma sensação lenta, atrasada, de dormência que foi percorrendo os seus membros, a começar pelo local do braço onde a agulha havia sido inserida, espalhando-se para o resto do corpo agora mais rapidamente. Loke sabia qual seria a sensação causada pela droga.

E via tal coisa acontecer com os próprios olhos. A garota tentou praguejar, mas foi inútil. Suas pernas amoleceram, e ela caiu no chão imundo, sofrendo espasmos, antes que, de maneira gradual, seu corpo se transformou em pedra polida.

Loke chegou mais perto, tocando o rosto dela, estático numa expressão aterrorizada, para ter certeza que ela estava mesmo petrificada. Levantou-se, e com um movimento leve tirou a capa com capuz, jogando-a sobre seu corpo. Seria difícil alguém achá-la. E mesmo que achassem, já seria tarde demais.

Naquele mesmo local, refugiou-se em um canto mais escuro e fora da vista de qualquer pessoa que passasse, e trocou-se, vestindo roupas limpas. Ele já havia deixado ali uma trouxa com tudo que deveria precisar, antes de adentrar a Taverna. Quando estava novamente apresentável, voltou a enrolar a sua antiga roupa na lona, fechou-a com um nó bem apertado e saiu do beco, ainda tomando cuidado para que ninguém o visse. E mesmo que vissem, ninguém suspeitaria dele.

Com passos lentos se dirigiu a rua principal, atirando a trouxa em um amontoado de lixo que havia mais perto. Espreguiçou-se. De fato ia se atrasar para a Noite de Máscaras, mas sabia que tal blasfêmia tinha valido muito a pena...

Compêndio dos Anciões

Sobre os amaldiçoados moradores da antiga Ragadash.

Quando o povo de Ragadash, a Cidade da Magia, começou a desvirtuar-se, na busca pelo poder supremo, eles também iniciaram uma longa pesquisa sobre universos paralelos. Depois do sacrifício de vários dos seus, sua tecnologia se aliou à magia e à matéria, e em alguns anos eles criaram uma passagem para um desses mundos.

Contudo, eles temeram o que viram, pois do outro lado havia apenas o vazio. E o vazio parecia sugá-los, atrai-los para dentro de si. E mais uma vez eles precisaram se reunir para tentar selá-lo. Diz-se que, a partir desse poder e energia, começou a surgir o próprio Pesadelo.

Foi criado um grande portão, e para selá-lo, foram sacrificados cinco magos de Ragadash: um especialista do fogo, um mestre da água, um serviçal da terra, um invocador do ar e um manipulador do metal. Suas almas, contudo, ao invés de ficarem completamente presas as suas respectivas chaves, se partiram em três pedaços. Apenas uma de cada foi moldada para criar as Chaves Principados. As outras se espalharam antes que os sacerdotes pudessem recolhê-las. Dizem as más línguas que, um dia, todos eles irão se juntar, pois um sempre atrai os outros...


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Notas finais do capítulo

Prevejo pessoas odiando o Loke em 3,2,1.
Prevejo pessoas do Team Liam e do Team Kenai se engalfinhando.
Prevejo muitas tretas :v
Sayume (espero não estar me confundindo), não consegui achar uma imagem condizente com o Kenai, então adaptei a original.
Bom, como podem ver este capítulo tem um "extra", vindo dos manuscritos dos Anciões de Meroé. Espero que isso explique algumas coisas e abra caminho para mais teorias mirabolantes, que vocês gostam tanto de fazer.
Próximo capítulo, o desfecho do drama de Trix
Até lá, pessoas lindas