O sol batendo em meus olhos. Acordo gradativamente. Me viro para o lado... Ai! Eita Geovana, que dor é essa? Minhas costas doem. Poxa, dormi em cima dos livros mais uma vez. Me estico para colocá-los sobre o criado mudo, que por sinal está meio longe, visto que, tanto me estiquei, que caí da cama. Me sento no tapete esfregando os olhos. Dou uma espreguiçada seguida de um suspiro. Olho no relógio digital em cima da cabeceira e salto, despertando do meu estado vegetativo. 7:43. Droga. Eu estava MUITO atrasada. Tipo muito. Corro para o banheiro, tomar um banho. Apesar do leve frio, lavo o cabelo. Saio enrolada na toalha e os fios medianos pingando, marcando meu caminho, o que comparo ao rastrinho de uma lesma. Visto uma jeans escura skinning e uma blusa estilo nadador creme e calço meu all stars de couro preto. Coloco uma tiara para conter a cabeleira e pego minha bolsa. Agarro uma maçã qualquer na pressa e saio. Antes de fechar a porta, verifico o relógio: 7:58. Ando quase trotando enquanto mordo minha maçã, que limpei na blusa. Já estou fora do bloco do dormitório feminino, quando me dou conta, caminhando até as salas de aula. Chego no corredor e corro quando vejo que está vazio. Se o dormitório não fosse tão longe do Prédio Escolar.

Bato na porta, abro uma fresta e olho para o Professor Jordan suplicando que me deixe entrar. Ele parece entender e apenas acena com a cabeça. Entro e vou para meu respectivo lugar. Ele continua sentado em sua cadeira como se nada houvesse acontecido. Com a maioria dos outros professores, eu com certeza seria deixada para fora. Mas ele não. Ele parecia gostar de mim. E era mútuo. Não, não desse jeito, tá? Somos apenas bons amigos sem a confirmação exata disso. É. Essa é uma boa definição para o nosso relacionamento. Portanto, pra mim, ele é o melhor professor do Sistema. E dá a melhor matéria. Sou simplesmente fascinada por ECH (Estudos do Comportamento Humano). Falamos sobre reconhecer sinais de mentira, como mentir sem sermos descobertos (sim, é meio irônico e controverso, mas não estou aqui para julgar '-'), linguagem corporal, leitura labial, sentimentos e emoções... É a melhor aula da semana, não costumo me atrasar. Talvez por isso ele não tenha se importado. Ele se levanta e escreve no quadro. "ALTOS E BAIXOS". E se senta novamente, olhando para a classe. Passam-se alguns constrangedores segundos sem que ninguém se manifeste.

- Professor? - Michael levanta a mão

- Pois não?

- O que exatamente seria isso? - ele aponta para a lousa.

- Isso? - Jordan se vira e parece contemplar a frase - É o mecanismo que rege a vida. - ele começa a caminhar entra as carteiras - Os altos são as coisas boas, momentos felizes, lembranças, ou atributos que você tem. Os baixos, as decepções, mágoas, traições, injustiças, problemas, tudo de ruim. - ele para na frente da sala - O que eu quero que vocês façam - após uma pausa, ele continua - é fazer uma lista, de um lado seus altos, e do outro seus baixos. Agora. Sintam-se à vontade - ele estende os braços.

Arranco uma folha do meu caderno, marrom, porque ele é reciclado (Save the Tree!). Faço um risco, dividindo a folha. Vamos pensar nos meus altos. Sou bonita e inteligente (tenho autoestima, tá). Tenho uma irmã mais nova linda! Sou perfeita (no sentido não ter deficiências). Sorrio muito. Posso dançar (o dia em que não puder mais, eu morro). X Baixos. Meu pai me odeia. Isso me faz rir, não sei porque. Não sei assoviar :( . Minha mãe morreu. Isso dói um pouco. Mas não a ponto de me matar por dentro.

Não percebi, mas Jordan se aproximou de mim e se curvou para ler o que tinha escrito. Ele ri. Em seguida fica com um rosto triste e surpreso. Ele me encara, como quem pensa no que dizer.

- Eu não sabia. - se lamenta. Dou de ombros.

- Ninguém sabia. - dou um sorriso amarelo. Ele continua andando, falando com a classe.

- Agora, pensem nos seus baixos. Eles são ruins, certo? Tristes, talvez. Trágicos. Mas, a questão é como vocês vão encará-los. Há duas opções: A) Se penalizar por isso e lamentar-se todos os dias. B) Ver isso como lições e superá-los. - 'É o que venho fazendo', penso, 'ou pelo menos, tentando'. - E agora, olhem seus altos. Pensem neles como compensações pelos baixos. Cada baixo, tem que ter pelo menos um alto que o compense. Sempre tem. E se sobrarem altos... bom pra você. Como finalização desta aula: se tiverem que se esquecer de todas as nossas aulas, e lembrar de apenas uma coisa, lembrem-se disso: Se você não tiver altos e baixos, você morre. - Ninguém havia entendido. Nem eu. - Quem entender o sentido dessa frase até a próxima aula... ganha... um pirulito. - Ele sorri. Sorri pra mim. Ele sabe que minha irmã ama esses pirulitos, e sempre me dá um pra que eu leve pra ela. Eu pisco de volta, como que dizendo, 'esse pirulito vai ser meu'. Ele sempre foi cheio dessas coisas, jogar frases pra gente descobrir seus sentidos, portanto já ganhei alguns docinhos. O sinal toca, ele sai. Agora, Química! Lá vamos nós...