O vento era um amigo constante, fazendo sua presença ser notada. Os campos de trigo moviam-se ao seu toque como serves seguindo o mestre, uma hora inclinados para um lado, outra em outro. A brisa gentil também atingia os lobos, que estavam sentados no topo de uma colina. Os dois eram grandes, mas o maior era tão negro quanto a noite, enquanto a menor era uma mistura de cores e sentimentos.

Hihijo brilhava tanto quanto o próprio sol. Seu pelo naturalmente branco havia se transformado em ouro ao toque do anoitecer, e suas tatuagens tribais estavam tão vermelhas que pareciam ter vida própria. Seus olhos verdes cintilavam de uma alegria que não parecia poder ser contida somente nela. Sua alegria parecia transformar não somente o seu corpo, mas também o mundo ao seu redor.

Nigos sentia um grande orgulho a seu respeito. Não era um sentimento fácil de nomear, mas era o que o nome que mais se aproximava do que sentia. Tinha sido uma batalha árdua para os dois, e ambos haviam se saído bem, embora de maneiras diferentes. Ela tinha conseguido; ele descobrira que era possível.

– Nigos...

O lobo negro olhou-a. Sua expressão era de uma alegria pura, capaz de fazer o mais tristonhos dos corações sorrir.

– O que foi?

– Já faz um tempo que tenho essa ideia na cabeça... – Ela pensou um pouco antes de responder. – Você é o irmão que eu nunca tive, sabia? E também... É o irmão que eu escolhi ter.

O lobo negro olhou para o chão, a expressão ainda neutra. Viu as plantas que esmagava com as suas patas, além de um pequeno gafanhoto numa folha. Ficou em silêncio muito tempo antes de responder.

– Obrigado... Por tudo, Hihijo. Obrigado por ter estado lá.

Ela se iluminou mais ainda.

– Sempre vou estar lá

– Eu sei. De uma forma ou de outra, sempre estará... Minha irmã.

O vento passou por eles mais uma vez, fazendo os trigos inclinarem-se para outra direção. O lobo negro passou a observar o sol. Se ele tivesse cores, estaria tão colorido quanto ela.