No dia seguinte, ela se encontrou com Suelen indo para a escola.

–Olá Suelen, tudo bem?

–Tudo sim, e com você? Ontem não deu para eu vir para a escola, tive que ver umas coisas da herança de meus pais…

–Entendo… Estou bem, e você? – e então ela notou que a amiga usava pesados óculos, e seus lindos cachinhos estavam presos em um coque. - por que esta assim?

–Ideia do meu empresário, sabe, para não ser reconhecida… Só você saberá do meu segredo.

–Entendi… Então, vamos?

–Vamos.

E chegaram na sala, onde estava escrito na lousa:

“Michele Montanhesi, aluna desta sala, já transou com vários caras e fez dois abortos.”

–Isso é verdade, Michele? – as garotas chatas da sala chegaram até ela.

–Claro que não! – e saiu correndo.

Suelen ficou para trás, e as meninas se viraram para ela.

–Quem é você?

–Suelen. – ela não iria dizer seu sobrenome, como disse seu empresário.

–E por que entrou só agora para o Elite?

–Eu morava em Paris. Meus pais faleceram e eu decidi voltar.

–Em Paris? – elas riram. – Com esses óculos ridículos? Nunca.

–Par hasard, avez-voua été a Paris? – ela disse. (tradução: por acaso, vocês já foram a Paris?)

As duas ficaram sem graça. Suelen sorriu. Ela não era nada igual ao que Michele pensava.

Enquanto isso, Michele chegava na sala dos F4, com raiva de Deus e o mundo. Fernando, que não sabia de nada, afinal não foi ele quem havia planejado aquilo, cumprimentou-a:

–Olá Michele! Veio visitar-nos?

–Visitar? Eu vim apenas dar um recado ao senhor: pare de falar mentiras ao meu respeito, ok? Eu sou virgem ainda! Não tem nexo aquilo!

E voltou para sua sala, deixando um Fernando surpreso e sem entender nada para trás. Lion quebrou o silêncio:

–O que será que ela quis dizer? Aprontou de novo, foi?

–Não! Eu prometi que iria deixá-la em paz, e deixei… Mandei mensagem a todos do colégio, para que deixassem-na em paz. A não ser…

–A não ser…? – Alex e Lion fizeram coro.

–A não ser que ela disse isso, com o pretexto de dizer que está louca por mim! Só pode ser! Como várias meninas do colégio!

Os dois se entreolharam

–Essa foi a melhor ideia que veio a sua cabeça? – caçoou Alex.

–Claro! Só pode ser isso!

–Será?

Renato, que observara a cena toda da porta, finalmente falara algo.

–Tenho minhas dúvidas quanto a isso… – e suspirou. – Mudando de assunto, Safira me mandou mensagem dizendo que está vindo para cá nas ferias, logo após o próximo desfile. Em breve, irá me dizer a hora do voo, que talvez seja antes do cruzeiro. Se for, ela está pensando em ir conosco.

–E logo será o aniversário dela, não é? Provavelmente, quer passar ele com os pais e você. – disse Fernando. Seu português era péssimo.

–Deve ser… Até aprendi a fazer o doce favorito dela, pudim.

–Pra quê? A empregada faz…

–Vocês sabem que eu gosto de cozinhar, não é? Aprendi a fazer o caseiro, é melhor.

–Entendi… Quero provar esse pudim, hein? Espero que não tenha veneno – caçoou Alex.

–Muito engraçado da sua parte… Só de raiva, apenas farei para ela.

–Ah, não vale! Também somos seus amigos! – disse Lion. – Ah… mas ela é mais do que amiga, não é?

–Pare com isso… Irei dar mais uma volta.

E foi até a escada, onde Michele observava a paisagem.

–Já gritou?

Michele olhou, assustada, até ver que era o Renato.

–Ah… Oi, Renato. Vim apenas ficar olhando hoje. A paisagem, sabe. Semana que vem é a competição, e não consigo me concentrar…

–E as notas?

–Eu sempre tiro notas boas, ok? – e fez cara emburrada. – Só aquela sala que me irrita, só o Miguel e a Suelen falam comigo, isso antes mesmo da carta preta.

–Muitos ricos são assim mesmo, se acham superiores a tudo.

–Inclusive o Fernando. – desta vez até Renato riu. Então ela notou uma revista na mão dele: - Ei, é a Safira?

–Quê? Ah, sim… Conhece?

–Só pelas revistas, e sei que é modelo famosa e advogada… Acho o trabalho dela lindo. E sei que era estudante daqui.

–Entendo… Ela é minha amiga de infância.

–Sério? Que legal! Eu acho que ela vai achar um cara bem legal na Europa, não acha também?

–Já vi que você realmente não sabe nada sobre ela. Não fale do que não sabe, ok? – Renato parecia irritado.

–Ok, ok, não está mais aqui quem falou. Bom, tenho que voltar a aula, até depois.

–Antes, eu fiz o pudim, e trouxe pra você provar um pedaço.

E entregou a ela.

–Nossa, simplesmente maravilhoso! – Michele lambeu os dedos.

–Esse é o doce favorito da Safira… Será que ela vai gostar?

–Definitivamente sim! Eu amei. É o primeiro que você fez?

–Segundo, pois alguém me esqueceu de falar do banho Maria, não é?

–Ops… Esqueci. Mas pelo menos ficou bom.

–Sim, verdade… Bom, agora vai. Até depois.

–Até.