Alexi

Meus olhos pesaram e eu lutei para mantê-los abertos. Mas foi em vão. Lembro do sorriso prazeroso de Simon ao me ver tirar a adaga de meu abdômen, lembro de seus dedos passando pelos meus cabelos, e lembro dele provando meu sangue, com uma enorme satisfação.

~''~

Abri meus olhos e dei de cara com um teto pálido e vários rostos virados para mim. Aquilo era desagradável.

Fiz um esforço para me levantar,mas tudo o que eu consegui foi sentar. Olhei em volta e vi um enorme salão, com um enorme lustre pendurado no enorme teto e um piso de madeira que se estendia até a entrada, onde haviam duas colunas decoradas em espiral com um dourado vibrante. Percebi que estava sentada em uma pedra lisa, polida e decorada e estremeci. Eu tinha morrido. Como raios eu tinha acordado? E o mais importante. Mas que diabos eram aquelas pessoas?

–Onde eu estou? -perguntei hesitante

–No salão do conselho -respondeu um garoto alto, de pele branca e cabelos negros. Ele tinha uma voz rouca e suave ao mesmo tempo, e olhar para ele me causava nostalgia.

–Conselho...? -perguntei e ele arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços

–Ótimo! Além de "ressuscitar" ainda é burra -falou uma garota de cabelos azuis com raiva

–Wicht! -repreendeu uma mulher mais velha. Ela tinha cabelos brancos e olhos dourados -Se for para falar besteira se retire, por favor! -a garota de cabelos azuis resmungou algo e andou na direção da porta de mármore do salão

–Quem são vocês? -perguntei quando percebi que ninguém iria falar nada. Um garoto loiro e um pouco moreno se pronunciou.

–Somos meros cidadãos do mundo da escuridão que te achamos mor... -a mulher o cortou

–Pode nos dizer o que aconteceu?

–Não até souber quem são vocês. -falei -Todos vocês -completei quando percebi o rosto do garoto loiro

–Somos Alex -ela apontou para o loiro -Dylan -apontou para o de cabelos pretos -e Carmen -e apontou para si mesma -Agora pode contar o que aconteceu?

–Eu morri -falei tentando segurar o tom de sarcasmo e Alex riu

–Por favor, não brinque com a gente -disse Dylan

–Não estou brincando. -afirmei -Ou posso ter só desmaiado.

–Não acho que você desmaiou -falou Alex

–Viu? -perguntei apontando para Alex

–Se você morreu,quem te matou? -perguntou

–Carmen... -começou Dylan

–Quieto Dylan! Vamos garota, quem te matou?

–Simon... -falei e praguejei mentalmente depois

–O amaldiçoado? O que se encontra com uma garota misteriosa toda noite? -perguntou Alex

–Como vou saber? Não sou daqui! -afirmei com raiva

–Espera, você veio da Terra? -balancei a cabeça afirmando -Porque alguém te mataria? -dei de ombros

–Se eu soubesse, teria fugido. Mas sei que tem algo a ver com a namorada dele ou algo assim -gesticulei com as mãos e revirei os olhos. Dylan me olhou de cima a baixo e depois fixou seu olhar em meu rosto

–Eu era amigo do Simon, nunca pensei que ele fosse fazer algo assim

–Também, mas pelo visto, as pessoas mudam -coloquei a mão no corte e percebi que ele nem sequer tinha cicatrizado -ué -sussurrei. Pessoas que faziam parte do mundo negro, tinham o poder de se curar. Era a parte que eu mais apreciava.

–Você o conhecia? -ele perguntou

–Ele era meu primo -falei sem tirar os olhos da faixa que envolvia meu abdômen

–Era? -perguntou Carmen e direcionei meus olhos para ela

–Não acho que você pode chamar de primo alguém que te mata -falei sem nenhuma emoção na voz

–Você pode dormir aqui hoje, se quiser -disse Alex

–Não posso...-Carmen me interrompeu

–Porque não pode?

–Porque eu tenho família na Terra -falei -E essa "Família" por mais difícil que seja, precisa de mim

–Não acho que sua família vá sentir sua falta -falou Dylan

–Acredito que minha irmã, por mais fria que ela aparente ser, não seja assim -falei mais seca do que pretendia

–Então sua "família", é na verdade sua irmã? -perguntou

–Digamos que eu perdi o resto -falei

–Bem-vinda ao time -falou Carmen

–Não é o tipo de time que eu gostaria de participar -respondi

–Não é o tipo de time que se deve escolher - contra-atacou Dylan

–Mas poderia

–Mas não é, o destino fez esse time

–Não acredito em destino

–Acredita em que, então?

–Duas balas, uma arma, três pessoas, duas mortes -respondi e um longo silêncio se instalou no ar

Eu não estava incomodada com o silêncio. Só queria voltar para minha vidinha chata, para minha casa aconchegante, e para minha querida irmã considerada "problemática".

–Tudo bem, você pode ir para sua casa -suspirei de alivio

–Ótimo -falei

–Mas Dylan vai com você -meu queixo caiu

–O que?! -perguntei -Sabe, de onde eu moro, geralmente as pessoas convidam para isso -falei com raiva

–Você quer ir para casa ou não? -ele perguntou com raiva

–Quero, mas... -ele me interrompeu puxando meu braço e atravessando um portal que o mesmo havia aberto.

No momento em que eu atravessei o portal, senti a dor da facada voltar e o colar arder em minha pele com ferro quente. Soltei um grunhido de dor e quando Dylan me soltou acabei caindo no chão. Não sei bem o que aconteceu depois, só sei que uma parte de mim gritava para voltar para o conselho. Gritava para voltar ao mundo negro. E a outra gritava para ficar ali, cair e morrer.

–Está tudo bem? -perguntou

–Não -respondi secamente

Dylan me ajudou a levantar, e segurou discretamente o corte da adaga.

–Não era para estarmos aqui -falei -Era para estarmos na minha casa

–Não é bem assim. O portal te leva no lugar onde você está pensando -ele olhou para frente e abriu a boca -ou em quem está pensando

–O que? -perguntei e ele apontou

Simon estava encostado em uma parede do outro lado da rua conversando com uma garota ruiva. Samantha. Demorou um pouco para levar o choque de realidade, mas quando o levei não sabia se gritava ou corria. Sei apenas que senti o medalhão queimar novamente e o corte da adaga abrir mais do que já estava aberto antes de tudo cair em uma escuridão.

Uma escuridão profunda e estranhamente aconchegante.