Duas Faces - Continuação escrita por Palloma Oliveira


Capítulo 37
Capitulo 82




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Capitulo 82

(Frederico está nervoso e enfurecido com a ideia de que tudo foi uma armação e tenta ir para cima da Patrícia mas é impedido por Victoria e Telmo que chega na hora exata).

Victoria – Calma, Frederico! Agora não deves perder a cabeça. Acalma-te!

Frederico – Como podes pedir para eu ter calma diante desta assassina? (Grita) Eu mato-te!

Patrícia – Não me fales assim, Frederico. Tudo o que eu fiz foi por amor… porque eu te amo.

Frederico – Amor? Ninguém mata por amor, sua maldita. És uma assassina desgraçada.

Patrícia – Eu não matei ninguém… pelo menos não diretamente ou intencionalmente.

Victoria – Tu te gabaste de a teres tirado do caminho. É claro que tinhas a intenção.

Telmo – Deus não há de perdoar as tuas maldades… o que é teu está guardado.

Frederico (agarra-a pelo braço, violentamente e expulsa-a para fora de casa) – E não voltes a por os pés aqui, desgraçada, porque eu arrasto-te pelos cabelos.

Patrícia – Vais te arrepender disto que me fizeste, Frederico Moreno. Eu vou-me vingar.

Victoria – Vingança? Acredita que verás a vingança virar-se contra ti. Sai já!

(Fecham a porta e abandonam Patrícia atirada ao gamado como um cão vira-latas).

Telmo (preocupado) – Está tudo bem consigo, minha senhora?

Victoria (sussurra) – Está… quantas vezes tenho que dizer que não me chames assim?

Frederico (abraça-a) – Vem, querida. Vamos para o quarto e vamos esquecer disto tudo.

(Victoria olha para Telmo assustada, sem querer imaginar o que Frederico queria dizer ao chamá-la para o quarto. Telmo faz sinal de que ela deve obedecer. Era tudo por um bem maior, afinal. Victoria submete-se a subir as escadas… parecia estar num manicómio. Entra no quarto e os seus olhos têm as pupilas dilatadas e tremia. Frederico leva-a até a cama e deita-a. Victoria não impede, só torce para que ele vá embora. Mas invés disso, ele deita-se ao lado dela e acaricia-lhe o rosto. Fecha os olhos e desata a balbuciar incoerências).

Frederico – A tua pele segue macia, meu amor… oh, que perfume de anjos… mas sinto-o diferente. Talvez violado por uma pele alheia. E estes cabelos… louros como o brilho do sol…

Victoria (interrompe-o) – Frederico, sou eu… Victoria. Estás bem?

Frederico (levanta-se rápido) – Perdão, Victoria… sabes que ultimamente ando a alucinar.

Victoria (levanta-se) – Compreendo perfeitamente. Deves manter certa distancia para o teu costume… em breve não estarei mais contigo. Lembra que volto já para o meu Cesar.

Frederico (suspira) – Eu invejo-o… ao menos ele terá a sua amada consigo.

Victoria (abraça-o) – Eu lamento imensamente… o destino foi-te cruel, Frederico. Sabes, eu liguei ao doutor Queirós para agendar o dia do divórcio. É para de hoje a oito dias.

Frederico – Já? Tão cedo… sinto-me viúvo e em breve serei divorciado.

Victoria (sorri) – Olha pelo lado bom: vais-te livrar de mim, finalmente.

Frederico – Victoria, já fazem quase dois meses desde aquela desgraça… um mês e duas semanas contados. Tu foste o meu amparo e a minha base. Já não te tenho desprezo algum.

Victoria – Fico tão feliz em saber. (Desvia o olhar) Bem disseste… um mês e duas semanas exatas que não vejo Cesar. (Suspira) Que saudades tenho do meu amor.

Frederico – Nunca voltaste a vê-lo desde que vieste morar comigo? Vá lá… é um avanço.

Victoria (sem perceber) – Avanço de quê, Frederico?

Frederico – Foste-me fiel à minha tristeza e fiel ao teu amor sem ceder aos desejos da carne.

Victoria – Quando se tem um amor como o do Cesar, não precisa-se de mais nada.

Frederico – Um mês e duas semanas sem dar-lhe noticias? E se arranjou outra?

Victoria (aterra-se) – Será? Vira a tua boca para outro lado, homem. Cesar não é capaz.

Frederico – Foi a falta disto que me tirou o meu único e grande amor… não lhe tive confiança.

Victoria – Vá… não te martirizes mais pelo passado. Já se foi. Há que se viver o hoje.

Frederico – Já é quase noite. Meu quarto é tão frio… e neste verão… que estranho.

Victoria – Compraste uma mansão antiga. O material é de mármore… tende a ser fria.

Frederico – As vezes sinto calafrios com o vento gélido que entra pelas frechas e gretas. Abro a janela e está tudo abafado e parado, como se o inverno tivesse se instalado no meu quarto para sempre. Vê o teu? Quente e confortável. Ligo o aquecedor e é inútil. É assombroso, Victoria. Eu tendo acender as luzes mas nem o candeeiro funciona mais. Já chamei um eletricista e ele diz nunca ter visto algo igual… como se o quarto rejeitasse qualquer tipo de luz. Ando a dormir sob velas que se apagam com o sopro das paredes encrostadas em negro, cobertas por cortinas verdes em veludo escuro. Paula dava luz à esta casa… agora, mesmo cheia, está silenciosa e sombria. Este velho Ramalhete nunca foi assim. Outro dia encontrei uns retratos antigos no sótão. Deve ser dos antigos moradores. Soube que o filho do dono suicidou-se diante do retrato da sua própria mãe… um crime passional. Parece que a esposa abandonou-o por um falido príncipe italiano. Todos os personagens pintados no retrato olhavam para o mesmo lugar… para a esquerda como se vissem algo de extraordinário.

Victoria (sente um calafrio) – Aí, Frederico… não digas estas coisas que tenho medo e sabes.

Frederico (pega-lhe a mão) – Sinto-me tão só, Victoria. Dorme comigo esta noite!

Victoria (apreensiva) – Frederico, eu… por favor não me peças o que não posso cumprir.

Frederico – É só para dormires. Nada de mal intencionado. Por favor, Victoria, só esta noite?

Victoria (engole em seco) – Está bem. Mas exijo que me tenhas respeito durante a noite.

Frederico (beija-lhe a mão) – Eu terei… preciosa… (sussurra) Ofélia.

(Em Lisboa há uma tempestade feita em raios e trovões, tanto alvoroço fez acabar a luz no velho casarão. Cesar padecia sentado em frente à lareira. Havia uma taça de vinho que leva à boca regularmente. Desvia o olhar para o tenebroso retrato de Paula, que antes fora o mais belo da casa agora parece um memorial. O fogo refletia-lhe nos olhos, e as sobrancelhas franzidas faziam notar tristeza e odio no coração. Dolores entra com um castiçal de velas).

Dolores (segue o olhar de Cesar para o retrato) – Era bonita, a desgraçada.

Cesar (frio) – Cuidado, tia! Nunca ouviste dizer que não se fala mal dos mortos?

Dolores (senta-se ao seu lado, saca dum cigarro, acende-o nas velas. Cruza as pernas e debocha) – Aquela prostituta não me pode fazer nada agora. Deve estar no inferno.

Cesar (assombrado, rir-se) – Talvez a sua alma siga entre nós… presa nesta paredes que chamou de casa por vinte anos… vinte anos, feitos amanhã.

Dolores – Hum… ainda? Para mim eram mais de cem. Mas devo reconhecer que ela sempre foi melhor que o outro demónio. Por falar no Diabo, ela nunca mais deu noticias?

Cesar (pega no cigarro que estava entre os dedos de Dolores. Inala e exala) – Um mês e duas semanas sem uma única ligação. Não tive coragem de ligar… não era minha responsabilidade.

Dolores – Espertalhona. Quando viu o cerco a fechar-se, decidiu regressar à vida antiga.

Cesar – Certo que a esta hora deve estar nos braços do marido… o verdadeiro marido.

Dolores – Mentirosa. Agora vês que sempre tive razão? Ela é a culpada pela morte da Paula. se nunca tivesse aparecido com aquela ideia ridícula… a tua esposa estaria aqui, ainda.

(Cesar olha para sua tia que murmurava heresias no seu ouvido. Levanta-se e sai).

Dolores (rir-se) – Por fim as coisas começam a andar no eixo como sempre deveria ter sido. Livrei-me das duas lembranças de ti, Afonso. As tuas filhas que mais eram a imagem fiel da maldita esposa que tinhas, agora estão bem longe dos meus olhos santos.

(Cesar entra no quarto… o seu quarto onde dormira e fizera sua à Victoria. Deita-se sobre a cama e deixa escorrer uma lágrima de saudade. Está escuro e frio sem ela).

Cesar – Victoria, já não me amas? Estou com tanta saudade, meu amor.

(Em Sintra, Frederico entra no quarto sem bater e vê algo que seria a sua provação. Victoria está completamente despida. Ouvir: Victoria - Te amé. Não tem ao alcance algo que lhe cubra, então permanece pálida a olhar para ele. Frederico deixa os olhos passearem pelas curvas de Victoria, a procura de alguma semelhança com o corpo da sua Ofélia, mas é inútil… nada ali o empolgava ou excitava. O membro permanecia quieto e nenhum pensamento proibido lhe vinha à cabeça. Pega numa toalha que estava perto e aproxima-se de Victoria para lhe dar).

Frederico – Cobre-te. Olho, olho e nada vejo. És uma mulher sedutora, Victoria mas os meus olhos têm o seu feitio. Só havia uma única mulher capaz de me acender apenas com um sorriso. Está morta, pobre amor, pobre corpo.

Victoria (sente-se aliviada) – Ainda encontrarás uma mulher igual à Paula.

Frederico (olha para ela e rir-se da sua ironia) – Igual? Já a encontrei. Sou casado com ela.

Victoria – Tontinho. Não falo do físico… falo da essência. Alguém que tenha o feitio dela.

Frederico – Não me será suficiente sem aqueles olhinhos meigos e aquelas mãozinhas macias.

Victoria (suspira sem sucesso) – Bem… podes sair para eu me vestir, por favor?

Frederico – É claro… eu havia me esquecido. Vim aqui para pedir que vistas isto. (Estende a camisola de seda branca com rendas perfumadas que a Paula costumava usar).

Victoria (engole em seco) – É tão bonita… mas porquê não posso vestir uma das minhas?

Frederico – Era da Paula. Tem-me grandes recordações. Era a que eu mais gostava.

Victoria (estende-lhe a camisola para lhe devolver) – Não posso vestir, Frederico.

Frederico – Por favor, Victoria. Significa muito para mim… é importante.

Victoria (aceita ainda reticente) – Está bem, mas retira-te, por favor. (Frederico sai do quarto).

(Vestida em trajes alheios, Victoria entra naquele quarto assombrado e Frederico tem os olhos cegados imediatamente ao vê-la. O que era negro como a escuridão, torna-se doirado como os raios do sol, a pele rustida clareia-se a europeia, os olhos claros de cigana agora são cor de café e os lábios vermelhos tornam-se rosados como o interior de um morango. Ele levanta-se, hipnotizado e vai até ela. Victoria chora, Frederico seca-lhe as lágrimas doentiamente).

Frederico – Oh, Ofélia minha, porquê estás a chorar assim, meu amor?

Victoria – Por favor, Frederico, deixa-me voltar ao meu quarto, por favor!

Frederico (sorri como se tivesse escutado outra coisa) – Deita-te! (Victoria vai deitar-se no lugar da Paula mas Frederico volta a lucidez e ordena) Não neste lado da cama. (Victoria deita-se no lado que lhe pertencia à ele. Frederico deita-se ao lado dela e acaricia-lhe as curvas).

Victoria (chora a sentir-se suja) – Para, Frederico. Deixa disto, por favor.

Frederico – Victoria, deixa-me sonhar por uns instantes, eu te imploro!

Victoria (levanta-se) – Não às minhas custas. Procura outra para o teu teatro, a mim não.

Frederico (segura-a pelo braço) – Desculpa! Tens razão, eu me excedi… mas por favor, não vás!

Victoria (volta e deita-se) – Tu no teu lado e eu no meu. (Vira-se para a esquerda e ele continua a olhá-la. Sente-se melhor e menos sozinho, mas ainda sente um vazio. A luz do quarto pisca como se quisesse acender mas continua no escuro. Se fosse Paula, abraçá-lo-ia imediatamente mas Victoria nunca faria isto. Não tinha necessidade de abraçar-se àquele homem).

Frederico – Victoria, não quero mais me divorciar de ti. Vamos continuar casados, sim?

Victoria (vira-se assustada) – Que raio de disparate é este, agora, Frederico?

Frederico (pega-lhe nas mãos) – Vamos tentar… ainda podemos ser felizes… vamos continuar pelos nossos filhos e para o nosso próprio sossego. Sei que ainda há chance. O que achas?

(Será que a Victoria vai aceitar em prol dos filhos? Desistirá do seu verdadeiro amor para sempre e sacrificar-se-á mais uma vez? Cesar aceitará a situação?)

FIM(CAPITULO 82)


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