Duas Faces - Continuação escrita por Palloma Oliveira


Capítulo 21
Capitulo 66




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Capitulo 66

(Desencantado com a sua flor de lótus, Frederico volta para casa, afito, nervoso, morto no coração. Já não lhe importa mais nada, nem a sua própria vida. Seu maior desejo era estar morto. Não vê mais nada a sua frente, conduz o carro sem cuidado. Os olhos semicerrados enalteciam aquele olhar desfalecido de alguém que morrera em vida. É noite já, tudo é trevas, parecia condizer com a sua alma. Chega a casa e sobe para o quarto, ele quer encontrar a mentirosa, a enganadora, a naja que se pôs na sua casa para fazê-lo de estupido. Ouvir: Rita: Preciso de Ti. Entra e só encontra um anjo vestido em seda branca, repousando sobre lençóis macios e aquecidos pelo seu calor feminino. Frederico não vê a maldade que esperava, vê apenas aquela donzela que dormia fazendo-se o espelho da formosura duma rainha ou alguma figura mística que encantasse os homens como ela o encantava. O seu coração, que havia se congelado naquela tarde, ao ver aquela maharani, derreteu-se. Os seus olhos cegaram-se daquela deusa de fios doirados que eram luz para os seus olhos. As trevas da noite não podiam contra aquele brilho e aquela luz incandescente que Paula exalava de si. Aproxima-se dela e ao invés de a enforcar, ele acaricia-a fazendo com que despertar-se. Paula abre os olhos e olha-o com tal meiguice que ele não resiste e sem dizer uma única palavra, toma-a nos seus braços. Paula deixa-se levar e entrega-se àqueles beijos quentes que faziam-na arrepiar-se toda. Frederico deita-a e deita-se sobre ela, tira-lhe a camisola, sem a mesma gentileza de antes, beija-lhe o pescoço sem o mesmo carinho de antes. Está desejoso mas não amoroso. Paula suspira nos seus braços derretendo-se no prazer de um amor sem mentiras que ela não tinha conhecimento ainda. Frederico sente-se estranho, diferente… por mais que tentasse reconhecer o seu corpo, sentia-se com uma estranha. De repente, com o passeio das suas mãos, ele procura comparações entre o corpo de Victoria e o da sua Ofélia. Após deixá-la completamente nua, faz algo inusitado, afasta-se para observar as curvas e as virtudes daquele corpo pequenino que ele tantas vezes tocou, mas que nunca procurou descobrir. Observava como um voyeur e ela corava-se, envergonhada com os seus olhares famintos. Não estava acostumada. Frederico atira-se à cama e agarra-a de maneira selvagem como nunca antes havia feito. Ele não se importa em satisfazê-la, só quer satisfazer-se à si mesmo. Naquela noite, Frederico não fez amor... apenas teve relações sexuais com uma mulher que parecia ser qualquer uma)

Paula (ouvir: kites(2010)sad theme. Desperta-se e depara-se com Frederico sentado no cadeirão antigo. Está a observá-la com um ar castigador e sério. Vestido já, num terno negro, fez parecer que ia à um velório… o seu. Paula cobre-se com os lençóis e aproxima-se dele, deitando-lhe um cálido beijo que congelou nos seu lábios com a frieza de Frederico) – Que tens, meu amor?

Frederico (acaricia-lhe a face rosada e macia) – Nada… estás especialmente linda, esta manhã.

Paula (sorri) – Mas eu ainda nem maquilhada estou… não sejas mentiroso!

Frederico (olhando-a nos olhos) – Quem és tu, para falares de mentiras, Ofélia? (aproxima-se do seu ouvido e sussurra) – Ou deveria dizer: Paula!

(Paula estremece-se da cabeça aos pés. Quase desmaia ao ouvi-lo dizer o seu nome. Está gelada, os olhos lacrimejam arregalados. Olha-o com aflição e ele sorri e vai embora. Paula cai sentada sobre a cama, a respiração está acelerada, o coração bate rápido como se fosse parar. Estava aterrorizada, sem ar, sem chão, sem vida. Nervosa e sem saber o que fazer, veste-se e faz as malas rapidamente. Corre ao quarto de Telmo, está desesperada)

Paula (a chorar) – Telmo, acabou… acabou! Frederico já sabe de tudo… estou perdida. Vamos, vamos embora já! Arruma as tuas coisas! Temos que sair antes dele chegar.

Telmo (nervoso e atoa) – Acalme-se, minha senhora! Como sabe que ele descobriu tudo?

Paula (nervosa) – Porque me chamou Paula, me chamou Paula! ele já sabe! (a soluçar)

Telmo (assustado) – Minha nossa senhora de Fátima! (levanta-se rapidamente e põe-se a arrumar as suas coisas) – Tem que ligar à senhora Victoria para que ela venha para o seu lugar.

Paula (desorientada) – Vou fazer isso agora… (pega no telefone e liga) Victoria… acabou… ele descobriu tudo. Frederico já sabe da verdade… tens de vir para cá, imediatamente.

Victoria (quase enfarta) – Que dizes? Mas como foi isso? Como ele descobriu?

Paula (a chorar desesperadamente) – Eu não sei… juro que não sei. Vem logo! Não demores.

Victoria (pensa em Cesar e o seu coração se parte em dois) – Mas… está bem! Eu já vou. (desliga e olha para o lado mas não encontra Cesar. Levantou-se mais cedo para trabalhar. Mas ela não tinha tempo de se despedir dele. Vestiu-se e fez as malas. Saiu sorrateiramente olhando para trás a pensar no fim da fantasia) – Adeus, meus pequeninos filhos da Paula! A mamã já volta. Adeus meu único amor! Eu juro voltar à ti.

Paula (a sair do Ramalhete, olhando-o com lágrimas nos olhos, a soluçar em prantos) Adeus, meus malandrecos filhos da Victoria! Não temam, que a vossa mãe já vem. Adeus, meu adorado Frederico, dono da minha alma! Viva ou morta, Frederico, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo. (Telmo toma atenção àquelas formais palavras)

(Duas horas de quem foi e duas horas de quem vem, são quatro. Cesar chega à casa, feliz, entusiasmado e contente. Traz consigo um ramo de tulipas vermelhas que quer dar à sua amada deusa. Entra no quarto e depara-se com uma figura de cabelos doirados, vestida numa saia cor-de-rosa, num blazer acinzentado, de costas, virada para a janela. Ouvir: The Gift – Primavera. Deixa as flores caírem ao chão, ela vira-se e sorri. Cesar arregala os olhos e sente uma profunda dor de quem perde alguém)

Paula (emocionada por vê-lo outra vez) – Cesar… (a disfarçar) Voltei à antiga cor do cabelo.

Cesar (aproxima-se dela e agarra-a nos braços) – Paula! Onde ela está?

Paula (confusa e com medo) – Ela quem? Porquê estás assim?

Cesar – Não te faças de desentendida comigo, Paula! Onde está a Victoria? Que lhe fizeste?

Paula (fica ainda mais assustada ao perceber que não tem escapatória) – Tu… tu também já sabes da verdade? Mas… mas como, Cesar?

Cesar – Eu vi-vos juntas naquele hospital. Desde aquele dia eu soube da verdade. Paula, estarás perdoada se me disseres onde ela está.

Paula – Em Sintra… (pega num papel e escreve) Este é o endereço. Vais ter com ela?

Cesar – Vou buscá-la! Sem ela eu não sei viver. (sai a correr)

Paula (desata a chorar como uma criança) – Meu Deus! Estou sozinha… abandonada e terrivelmente sozinha. Quando os meus filhos souberem… meu Deus… ajuda-me!

(Frederico chega a casa, vai para o quarto esperando encontrar o seu anjo, mas vê, repousar sobre a cama, um demónio sedutor, em vestes de rainha vermelha. Frederico aproxima-se e constata, é Victoria. Ela abre os olhos e sorri, mantendo-se no personagem)

Frederico (acaricia-lhe o rosto com as duas mãos) – Victoria… (sorri) Victoria… (as mãos que acariciavam-lhe o pescoço, são as mesmas que, devagar, apertam e enforcam. Victoria fica aflita, não consegue respirar. Frederico sufoca-a com força) – Eu mato-te, maldita meretriz, as-de morrer, concubina dos demónios.

Victoria (agoniada) – Frederico… Frederico, solta-me, que não consigo respirar.

Frederico – Vais morrer pela tua mentira. Desgraçada mentirosa! Eu mato-te.

Victoria (grita desesperada) – Solta-me, Frederico, solta-me! Vais-me matar.

Frederico (sorri enquanto tira-lhe a vida) – É mesmo isso o que eu quero.

(Os filhos entram rapidamente e salvam Victoria da morte certa. Estão assustados)

Heitor – Pai, estás louco? Ias matá-la! O que é que tens na cabeça?

Paloma – Mãe… o teu cabelo… o que se está a passar aqui? Porquê esta briga?

Victoria (corre a abraça-os) – Meus filhinhos… meus pequeninos. A mamã ama-vos imenso.

Santiago – Mamã… estás como antes. O que houve aqui?

Frederico – Diz-lhes, Victoria! Diz o porque de teres os cabelos negros oura vez, diz-lhes!

Victoria (a chorar) – Frederico, por favor, não me faças isso. Eu imploro-te!

Frederico (agarra-a pelo braço) – Diz-lhes o que fizeste, maldita. (grita) Diz-lhes!

Paloma (aflita) – Dizer o quê? Papai, estou com medo. Solta-a!

Frederico (atira-a ao chão) – Esta… esta prostituta… é o que és! Ela… meu Deus! Aquela mulher de cabelos doirados que esteve nesta casa durante quase um ano… era… era uma impostora que a vossa mãe pôs nesta casa para substitui-la e ocupar o seu lugar.

Heitor (assustado) – Mãe… que loucura é esta? O que o pai está a dizer?

Paloma (incrédula) – Uma… uma impostora… aquela mulher… era uma estranha?

Santiago – Mãe, responde-nos. (grita) Diz-nos que é mentira.

Frederico – Exato… nega, Victoria, nega que nos enganaste durante todos estes meses.

Victoria (vencida pelo cansaço e pela pressão. Grita) – É Verdade! Sim… eu troquei de lugar com uma mulher idêntica a mim para viver uma aventura… (ajoelha-se diante dos filhos) Eu sei que não mereço nem o perdão de Deus e por isso eu peço-vos que me deem o vosso.

Paloma (cheia de odio e rancor) – Como foste capaz de por uma desconhecida dentro da nossa casa? Ela poderia ser uma assassina ou coisa pior… tu não mereces misericórdia, mamã!

Santiago – Vai embora desta casa! Se tu nos abandonaste é porque não nos amas então não precisas sacrificar-te mornando connosco. Vai e sê livre… (tom irónico) Senhora!

Victoria (humilhando-se) – Heitor, filho, tu não me vais abandonar, não é?

Heitor (frio e severo) – Nós é que fomos abandonados… e pela nossa mãe.

Victoria (levantando-se) – É mesmo isso o que vocês querem? Que eu vá embora?

Santiago (aos gritos) – Mas não entende? Hã? Não entende que não a queremos nesta casa? A senhora não tem filhos, senhora! Perde-os quando pôs uma impostora nesta casa. Não sabe o quanto a desprezo. Quem a senhora pensa que é? Quem?

Paloma (aos berros) – Será que não entende? Meu Deus… não, não, não entra na sua cabeça que já não a suportamos?

Heitor (enfurecido) – Nós a odiamos , a desprezamos!

Santiago – E não queremos que fique mais aqui! Vá embora!

Victoria (a chorar desesperadamente) – É verdade? Querem que eu saia?

Paloma (sarcástica) – Aí, meu Deus! Estamos a pedir com todo o coração.

Victoria (quase sem forças para falar) – Está bem! Dou-me conta que os meus esforços para conseguir o vosso perdão foram inúteis. Sou só uma mentirosa, uma mulher desprezível que não merece a oportunidade de demonstrar o quanto se preocupa convosco.

Santiago – E… e o que pensas em fazer, mãe?

Victoria – Ir… ir embora… sair agora mesmo desta casa, para vocês poderem ser felizes. (Victoria abaixa a cabeça e sai da casa expulsa pelos próprios filhos. Está destroçada, como uma morta viva a perambular pelas ruas, sem fim e sem rumo)

(Enquanto uma mãe é rechaçada pela sua família, a outra espera aflita pelos seus filhos)

Cristina (entra no quarto com Francisco) – Mamã? (admirada) Outra vez mudaste o cabelo?

Paula (vira-se para eles, com lágrimas nos olhos) – Não… na verdade… nunca mudei o meu cabelo. Nunca o pintei, nem pus de lado… não vesti calças, não fui extravagante, não cantarolei musicas que não fossem portuguesas, não deixei o habito do chá cordial, não amei o vosso pai, não fui mais flexível quanto aos vossos interesses, não vos fui mais carinhosa do que o costume, não deixei de cozer, não adormeci até as tantas, não expulsei a vossa tia, não, não e não! (fecha os olhos, suspira, aproxima-se deles, segura-os pelas mãos, olha-os nos olhos e diz em tom sereno e tremulo) Aquela mulher de cabelos negros como a noite, não era a vossa mãe, senão uma impostora que eu mesma pus debaixo do vosso teto para viver a minha vida.

FIM (CAPITULO 66)


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