A notícia de que Jason era namorado da Audrey me pegou completamente de surpresa. Jamais imaginei que um cara doce como aquele poderia se encantar com uma pessoa mesquinha como a minha irmã. Precisei de alguns minutos até conseguir processar aquela informação.

Carlla precisou ir de encontro ao seu avô e eu continuei ali, desfrutando o restante do meu horário de almoço.

Quando olhei para o bar, vi que Mike estava sem fazer nada, então fui até lá.

– Você não desiste mesmo de ficar perto de mim, não é NI? – ele disse com o sorriso sarcástico de sempre.

– E você não cansa dessas suas piadinhas sem graça!

– Mas foi você quem veio até aqui, anda desembucha, o que você quer perguntar? – Mike cruzou os braços e ficou esperando que eu começasse a falar.

Como eu não sou muito de rodeios fui direto ao ponto. Eu queria saber se o que ele havia dito era mesmo verdade. A ficha ainda não tinha caído. Eu custei a acreditar, mesmo sabendo que Carlla havia confirmado.

– Você ficou mesmo interessada pelo garoto de ouro, não é?

– Queria saber por que você o chama assim?

– Não sou eu que o chamo assim, é a cidade inteira. O Jason sempre foi o garoto exemplar, o cara que fazia as meninas suspirarem no colégio, foi artilheiro do time de futebol americano, e como se não fosse o bastante, foi para Nova Iorque estudar Medicina. – ele disse, dando de ombros.

– Nossa isso tudo é bem legal! Mas como ele e a Audrey começaram a namorar?

– Isso você tem que perguntar a ele.

– Por favor, Mike!

– Agora eu sou Mike? Não era Michael?

– Poderia ser caipira, ogro, convencido e vários outros, mas estou te chamando pelo seu apelido oficial. Anda me conta. – pedi. Ele apenas ficou rindo da minha cara e apontou para trás. Sim, Jason estava ouvindo tudo o que estávamos falando. Ele sentou-se ao meu lado na bancada do bar-restaurante e me encarou por alguns segundos, antes de dar um sorriso tímido. Mike foi atender algum cliente que o chamou, e acabamos ficando sozinhos ali.

Poucas vezes na vida eu havia ficado com tanta vergonha a ponto de ter o rosto corado, mas tinha certeza que naquele momento eu estava assim.

– Percebi que você quer muito saber como sua irmã e eu começamos a namorar. – ele disse risonho. Eu apenas assenti com a cabeça.

– Se não for muito incômodo, sim, eu gostaria de saber. – disse, e logo em seguida percebi que ele sabia o nosso grau de parentesco.

Jason olhou em volta do bar-restaurante e avistou uma mesa vaga. Me convidou a ir até lá, e eu o acompanhei. A mesa ficava meio isolada do restante e ali poderíamos conversar abertamente.

Ele, cavalheiro que era, puxou a cadeira para que eu me sentasse. Logo depois sentou-se de frente pra mim, cruzou as mãos e perguntou o que especificamente sobre o que eu queria saber.

– Sinceramente? – perguntei. Ele assentiu e eu terminei minha pergunta. – Como um cara como você pôde se encantar com a Audrey?

Jason riu timidamente pelo nariz, e pareceu procurar as palavras certas antes de me responder.

– Na verdade eu não me encantei pela sua irmã. – ele disse. Não sei dizer direito qual foi a minha reação, mas ele deve ter achado divertida, pois abriu mais o sorriso.

– Então por que começaram a namorar?

Jason explicou que aconteceu tudo muito rápido. Foi em uma tarde de verão há pouco mais de dois anos. Ele estava acompanhado de Mike em uma celebração na cidade, e uma das amigas de Audrey a empurrou em cima dele, e então ela o beijou. O problema foi que meu pai estava por perto, e acabou vendo a cena. Audrey acabou ficando grudada nele durante toda a celebração, e ele com vergonha acabou não dizendo nada. E com isso o tempo passou, mas Jason não conseguiu se livrar das garras da minha irmã, e lá estavam eles: juntos.

Ele contou também que um dos motivos por ter ido pra tão longe foi esse. Ele queria arrumar um motivo para que pudesse terminar o relacionamento, mas como ele voltou pra cidade, isso não aconteceu.

Alguns minutos depois, eu percebi que havia perdido a hora e voltei correndo para a Prefeitura. Papai já estava lá, mas não falou nada a respeito do meu atraso. É claro que eu compensaria esse tempo, afinal por mais que eu seja a filha do chefe, eu agora sou uma funcionária.

– Sabe, eu acho que você tinha que conhecer o Pegasus, e o Kirk. - meu pai disse, enquanto voltávamos pra casa, já no final da tarde.

– Kirk? - perguntei. Ele disse ser o outro bichinho de estimação que tinha, mas não me disse o que era.

Assim que chegamos em casa, Johnny praticamente me arrastou até seu quarto, ligou o notebook, e me mostrou algumas fotos de uma menina.

– Você ficou interessado por ela, não é? - eu disse e ele afirmou, deixando escapar um sorriso tímido.

– Sim. Ela estuda junto comigo, mas não tenho coragem de chegar perto dela.

– E por que não?

– Porque ela é muito bonita, e todos os caras ficam babando em cima dela. Eu seria só mais um.

– Se não tentar nunca vai saber. - respondi docemente, e ele concordou. - Qual o nome dela?

– Alanis.

– Bonito nome. É sério Johnny, você só vai saber se daria certo ou não se chegar nela.

– Você está certa. - Ele disse, e descemos para jantar.

[...]

5:30AM e o galo do papai já começava a acordar a cidade inteira com aquele canto irritante.

Tomei meu banho, coloquei uma roupa confortável, e desci.

Quando cheguei à cozinha, notei que a mesa ainda estava vazia, e dei graças a Deus por poder tomar meu café preto bem forte sozinha.

Minha única companhia era Anna, a senhora que cuidava da casa.

– Bom dia senhorita...quer dizer Haley. Quer que sirva seu desjejum?

– Bom dia Anna. Não se preocupe, eu mesma me sirvo. - ela me sorriu, e voltou a seus afazeres, enquanto eu bebia o maravilhoso café feito por ela.

Anna seria talvez o mais próximo de uma amiga que eu teria ali, tirando é claro a Carlla que eu já considerava como uma irmã.

Não demorou até que os outros começassem a chegar. Jenny foi a primeira, e ficou meio sem graça de se retirar quando me viu. Ela acabou sentando-se o mais longe possível de onde eu estava e esperou que Anna a servisse.

Em seguida papai, Johnny e Audrey chegaram juntos. Meu irmão como sempre muito bem humorado, saiu beijando todos que estavam sentados à mesa.

– Bom dia família! - Johnny nos cumprimentou alegremente.

– Filha hoje você conhecerá o Pegasus. - meu pai disse carinhosamente.

– O que? - intrometeu-se Audrey. - Pai você nunca me levou pra conhecer o Pegasus.

– Audrey, você nunca gostou de cavalos, porque o espanto? Além do mais eu já tentei te levar pra conhecê-lo umas três vezes. - ela se calou.

Terminamos o café da manhã em silencio, e já ia me retirando quando Anna voltou à mesa, dizendo que alguém aguardava meu pai na sala.

Ele se levantou e pediu que eu o acompanhasse.

Para minha surpresa o caipira estava sentado em um dos sofás a nossa espera.

– Bom dia Mike! - disse papai cumprimentando-o.

– Bom dia prefeito Sullivan. - cumprimentou de volta, e se virou para me cumprimentar também. - Bom dia NI.

– NI? - perguntou meu pai.

– Sim NI de Nova Iorque. - nossa, eu devia ser muito tapada pra só ali perceber o por que do apelido. Mike deu uma piscada singela que somente eu pude perceber, mas o que me importava era o motivo pelo qual ele estava ali.

– Bom meu rapaz, você é o único que eu confio de cuidar do Pegasus, e como tenho alguns compromissos importantes, gostaria que levasse a minha Haley para conhecê-lo.

– Claro Sr Sullivan. Estou mesmo com saudades daquele cavalo.

– Ei, espera aí. Ninguém vai perguntar se eu quero isso? Pai era pra você me mostrar o cavalo, e não ele! – retruquei emburrada.

– Filha, sei que ficou empolgada com o Pegasus, e infelizmente agora eu não tenho como tirar um tempo, mas não se preocupe, eu faço questão de lhe ensinar a montar.

Não quis falar mais sobre o assunto, e com as mãos em forma de rendição eu acabei cedendo.

Papai foi trabalhar e eu acabei tendo que ir conhecer o tal cavalo na companhia do caipira mal educado.