POV Mike

No final das contas, aquela briga com o Garoto de Ouro acabou sendo boa. Todos nos olhavam sem acreditar nos próprios olhos. NI não se importava mais em esconder, muito menos eu. Na verdade eu até preferia que fosse assim desde o início, porém, antes de irmos embora o Prefeito Sullivan apareceu na nossa frente pedindo que nós o acompanhássemos.

– Os dois, venham comigo agora. - Ele chamou. NI me olhou e em uma tentativa de passar segurança segurei sua mão.

Fomos até a sala. O senhor Sullivan sentou-se em um dos sofás e nos ofereceu o outro, contudo, eu preferi ficar de pé e NI me acompanhou.

– Mike será que pode me explicar o que foi aquilo tudo lá fora? Em um minuto você e o Jason estão brigando feito dois animais, e em outro você está beijando a minha filha.

Enchi os pulmões buscando a coragem necessária para falar, mas ela foi mais rápida. NI disse somente o necessário: Estávamos juntos, e aquilo era o suficiente. O prefeito pareceu pensar se dizia alguma coisa ou não, mas no final apenas reforçou que se ela sofresse ele saberia onde me achar.

Haley mostrou-lhe um sorriso e foi até ele. Deu um beijo em sua bochecha e despediu-se. Saímos de dentro da casa de mãos dadas, e muitos, principalmente os mais velhos, nos olhavam, talvez pelo fato de acharem que eu nunca superaria o meu pasado.

A verdade é que eu ainda não sei se realmente o superei, contudo, estar na companhia dela me faz bem. Toda a raiva que eu tenho acumulada se esvai, e ficam somente as sensações boas.

Levei-a até sua casa e antes que eu pudesse dizer que iria embora, ela me puxou para dentro. Me colocou sentado em um dos bancos e buscou uma malinha de primeiros socorros, dizendo que precisava fazer um curativo.

– Fala a verdade, garota. Você quer que eu fique!

– Não se ache tanto, caipira! Estou apenas zelando pelo seu bem estar.

– Sei. Mas já estive em situações piores, no entanto ainda estou vivo, e pretendo continuar por muitos anos.

Ela não deu trela para as coisas que eu estava dizendo, apenas continuou limpando o ferimento, e fazendo outro curativo, mesmo já tendo feito quando estávamos na casa do Prefeito. Depois fomos para a sala e ficamos conversando sobre como seria dali para frente. NI acabou dormindo por cima de um dos meus braços e quando olhei no relógio já era madrugada, provavelmente eu também havia dormido. Coloquei-a na cama e fui embora.

Andava devagar, com as mãos no bolso da calça quando avistei alguém no trailer. Era uma silhueta feminina, mas não dava pra saber de quem se tratava. Apertei o passo e quando cheguei Nathalie estava sentada em uma cadeira, com as pernas cruzadas e um copo com algum tipo de bebida na mão.

– Pensei que não voltaria nunca! - Ela disse com um olhar malicioso.

– O que quer aqui?

– Queria lhe ver. E trouxe essa belezinha para degustarmos. - Nathalie mostrou uma garrafa de champanhe, que provavelmente deveria ter sido pega na festa de Audrey e Johnny. - Sei que você adora um bom champanhe.

– Não estou interessado. - Nathalie levantou, e eu dei um passo para trás.

– Sabe, você está mudado. Está mais mais arisco, e mais bonito também. Aposto como deve ter dezenas de garotas aos seus pés, mas não vamos negar os fatos, meu bem - Ela se aproximou rapidamente enquanto falava, e segurou o meu queixo. - Você sabe que nenhuma outra será como eu....

– O que você quer aqui, Nathalie? Depois de tanto tempo.

– Eu já disse o que eu quero, é você, Mike.

– Duvido muito que seja somente por isso.

– Já disse que estou arrependida de tudo o que fiz, e quero acertar meus erros. - Ela voltou a se sentar e cruzou as longas pernas.

– Olha só, estou cansado e quero dormir, então, por favor, vá embora. - Nathalie não mostrou resistência ao meu pedido, contudo ainda tentando me provocar, deu-me um beijo bem próximo aos lábios e que muito provavelmente deixou a marca do batom vermelho que ela usava.

– Eu vou, mas não pense que se livrou de mim, meu bem! – Ela disse antes de sair rebolando pela estradinha de terra que dava na praça.

Esperei até que meus olhos não mais a enxergasse e entrei, tranquei a porta, tomei um banho e caí na cama feito uma pedra.

Acordei com o som de batidas na porta que mais pareciam martelos devido a dor de cabeça que eu estava. Levantei e fui até lá do jeito que estava: Cabelo desgrenhado e uma cueca box verde musgo surrada. Era NI e estava com cara de poucos amigos.

– Bom dia gatinha!

– Pra você realmente deve ser um ótimo dia, não é, já que provavelmente teve uma excelente noite!

– O que? Do que você está falando?

NI parecia realmente furiosa, e eu não estava entendendo absolutamente nada, então ela foi até uma cadeira, e mostrou duas taças e uma garrafa de champanhe vazia, acompanhado de nada menos que um sutiã de renda vermelha que, na certa devia ter sido colocado por Nathalie na noite anterior.

– Você não vai acreditar nisso, não é? Eu estava com você o tempo todo.

– Engano seu, meu querido! Você ficou comigo até que eu pegasse no sono, o que aconteceu depois eu não tenho como afirmar. – Ela disse praticamente aos gritos.

– Olhe bem nos meus olhos, Haley, você acha mesmo que eu faria isso? Você está tirando suas próprias conclusões, sem me dar a oportunidade de explicar. – Respondi no mesmo tom.

– Então explique! - Ela cruzou os braços esperando que eu respondesse. Passei a mão no cabelo a fim de arrumá-lo e comecei a contar o que havia conhecido na noite anterior. Contei todos os detalhes, sem esconder absolutamente nada e não sei se ela estava ou não acreditando, já que sua expressão era indiferente.

– Foi exatamente assim que aconteceu.

– Por que eu acreditaria? E por que essa garota tem tanto interesse assim em você?

– Pelo amor de Deus! Se todos me dão a fama de garanhão da cidade, por que raios eu mentiria? Além do mais, ontem mesmo eu falei com o seu pai, e assumimos um relacionamento pra cidade inteira ver. A Nathalie é uma mulher louca. Ela nunca me amou só me usou como um fantoche enquanto eu fazia os seus caprichos, depois simplesmente sumiu levando tudo o que eu tinha, e o que não tinha. Provavelmente deve estar quebrada de novo, e achando que eu vou ser trouxa de cair na conversa dela mais uma vez.

– E como você quer que eu reaja a essas provocações? Quer que aplauda tudo o que ela faz de pé?

– Não, quero apenas que me dê um voto de confiança. – Minha paciência estava por um fio, e se ela não acreditasse em mim, então não haveria o porquê continuar naquela relação. – Não me importo com o que os outros pensam, mas sim com o que você pensa de mim. Não sou esse tipo de idiota, sou muito melhor que esses garotinhos de ouro que têm por ai!

Quando terminei de falar, a raiva parecia ter ido embora e talvez o meu jeito malandro tenha feito-a amolecer, porque ela já estava relaxada, e um sinal de sorriso brotava em seus lábios.

– Você é convencido em nível extremo, sabia Mike Matson? – Mesmo com os braços cruzados e tentando não ceder ao riso, aquela era a NI marota que eu conhecia.

– Baby, eu tento, eu tento mesmo não repetir sempre a mesma coisa, mas às vezes você não me dá outra alternativa. Quantas vezes vou precisar dizer que não é convencimento, mas sim apenas uma constatação de fatos?

NI semicerrou os olhos e eu agarrei sua cintura, beijando o lado direito de seu pescoço. Ela tentou se esquivar, então peguei-a no colo, e a coloquei por cima de meus ombros, fazendo-lhe soltar uns gritinhos agudos em protesto. Enquanto entrava novamente no trailer, Haley dava uns socos leves nas minhas costas para que eu a colocasse no chão.

Fizemos as pazes, e concordamos em não tirarmos conclusões precipitadas das coisas antes de falarmos um com o outro.