Quando O Mar Fala Conosco escrita por Pinguim Pirata


Capítulo 1
Você me abandonou


Notas iniciais do capítulo

Antes de começarmos, gostaria de deixar registrado que eu quero fazer uma coisa dramática o suficiente pra tomar meu toddynho com lágrimas daqui pra frente.



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Nós sempre íamos até praia juntos, eu e meu irmão. Para algumas pessoas, o mar perde a graça quando é visto todos os dias, mas não para nós. Íamos depois da escola e sentávamos em uma daquelas pedras, meio afastadas do resto da praia e seus quiosques, e assistíamos o pôr-do-sol. Quase sempre havia alguém na praia àquela hora, mas suas silhuetas eram distantes. Naquele momento, era como se fôssemos apenas nós, o Sol e o Mar.

Não sei dizer o que nos fascinava tanto no pôr-do-sol; talvez apenas a beleza do momento,a maravilhosa visão dos tons de dourado, laranja e vermelho sobre a superfície brilhante da água. Ou talvez aqueles momentos significassem mais,como algum tipo de ritual quase religioso que eu e meu gêmeo mantínhamos; uma coisa pessoal e quase sagrada.

Não falávamos nesses momentos - não era preciso. Aliás, era provavelmente o único momento do dia em que ficávamos calados. Apenas fitávamos com quase adoração aquele majestoso pôr-do-sol,com um silêncio ininterrupto. Somente quando o sol já havia baixado totalmente é que voltávamos a conversar, e falávamos sobre qualquer assunto banal, só para pontuar o momento. Gabriel frequentemente me falava que queria viajar pelo mar, velejar até não ter nenhum pedaço de terra á vista. Era seu maior sonho,e eu podia imaginar seus olhos brilhando por trás dos óculos escuros quando ele falava sobre isso. Uma vez ele chegou a me dizer que queria morrer no mar, por mais mórbido e poético que isso soasse.

Por isso, quando me disseram que acharam seu corpo, tudo que pude pensar foi que ele estaria no mar.

Na verdade, ele estava no banheiro da nossa casa, encostado na parede. Gabriel cortou os pulsos, num dos raros momentos em que não havia ninguém em casa. Simples assim. Não houve bilhete, não houve um adeus, nenhuma explicação. Ah, mas houve dor, muita dor. E lágrimas. E perguntas. Por quê? Por que ele fez isso? Por quê? Por que abandonou a família, os amigos, todo o futuro pela frente?

Por que me abandonou?


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