Sacrifício de Garota escrita por Allegra


Capítulo 5
Não me descubra


Notas iniciais do capítulo

Bom, muito obrigada á: Alice Sophia; Chicletinha; AnaLu e tatasama, por não terem desistido de mim



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– Alexy... – sussurrei um pouco decepcionada. - Ele não é o melhor tipo de... -

Ele suspirou e se espreguiçou. – Eu sei, ele não presta, mas nós não escolhemos por que nos apaixonamos. –

Eu o abracei e ficamos vários minutos assim. – Bom, pelo menos as provas acabaram. –

– O que você vai fazer, se conseguir sair? – perguntou ele.

Eu pensei por alguns instantes. – Vou primeiro cumprir a minha promessa de ir nesse maldito bar, depois eu vou para casa. E você? –

Alexy deu um sorriso bobo. – Eu também, ver meus pais, fazer compras, ver os boys-magia... – nós rimos, ele tirou do bolso uma foto dos pais, lá um homem loiro de barba espessa com olhos verdes sorria gentilmente, ao seu lado uma morena de cabelo preto cacheado e olhos verdes se apoiava gentilmente em seu ombro, dando um leve selar. – Esses são as pessoas que me acolheram, Arnaud e Vitória. São boas pessoas. –

– Vocês são adotados? – perguntei, dando atenção especial á palavra “acolheram”. Eu não percebi que estava sendo direta de mais.

Ele assentiu e jogou um travesseiro no meu rosto. – É melhor você dormir, Ed-zinha, amanhã saem os resultados. –

Eu anuí, tomei banho, pus o pijama e dormi.

{...}

As pessoas que tiveram média a cima de oito foram: eu, Alexy e Armin, Nathaniel por incrível que pareça, Castiel, sim o ruivo que me fez sair de sala e que mal se esforçava para fazer qualquer coisa. A média dele ficou dez, assim como a de Nathaniel, a minha e a dos gêmeos ficou em suados oito e meio. Lysandre infelizmente ficou com sete e Kentin felizmente com cinco.

Ás duas horas da tarde daquele dia, todos os alunos que conseguiram uma média a cima de oito se dirigiram até os portões e saíram escola á fora.

Alexy foi conversando com o irmão á frente e Castiel com os meninos do clube de basquete, assim eu e Nathaniel fomos conversando.

– Parabéns pela média! – parabenizei, com um sorriso no rosto.

Ele colocou a mão atrás do pescoço e sorriu. – Obrigado. A sua também foi muito boa. – elogiou.

– Nathaniel, por que você e o Castiel se odeiam tanto? – perguntei, olhando firme em seus olhos.

– Não é como se tivéssemos brigado ou algo do tipo. – explicou. – Nunca nos gostamos... Somos pontas opostas, não conseguimos conviver, é só isso. –

– Mas segundo a física, dois pontos opostos se atraem, senhor nota dez. – comentei.

– Nessa você me pegou. – riu, ele estava tão descontraído, o que o deixava dez vezes mais sexy. – É tão bom deixar o conselho estudantil! –

Eu concordei baixinho. – O que vai fazer agora? –

Ele coçou a parte de trás da cabeça. – Acho que vou levar minha irmã de volta para casa. –

Eu arregalei os olhos – Você tem uma irmã? – perguntei, quase gritando. Na minha imaginação, um Nathaniel travesti era o que me esperava.

– Tenho, o nome dela é Ambre, mas não acho que ela faça o seu tipo... – comentou, dando uma risada logo depois. – Ela estuda na academia vizinha, o internato de garotas “Crimson Roses”, é uma boa escola, sabe? –

Eu sabia, sabia muito bem... O quanto aquele internato era machista, na verdade, ambos os internatos, tanto o “Crimson Roses” tanto o que eu estudo o “Blue Carnations”, no feminino, aulas de etiqueta, dança e toda aquelas coisas chatas, sem nunca pensar em matérias extras como cálculo, pintura e esportes. É extremamente injusto, pois as mulheres são tão boas quanto os homens.

– Nathaniel, você não acha estúpido um internato masculino não dar as mesmas matérias extras que o feminino? E se a menina não quiser fazer dança? E se ela quiser fazer... Luta, por exemplo. – argumentei, chutando as pedrinhas do chão.

Ele pensou um pouco e suspirou. – Mais uma vez Eden, nessa você me pegou. –

{...}

Quando chegamos á cidade havia várias meninas com o uniforme da “Crimson Roses” espalhadas, enchendo a pequena cidade com risadas e vozes femininas.

De repente, uma garota de cabelo castanho longo, ondulado nas pontas, e grandes olhos azuis veio correndo em nossa direção, pensei na hora que era a namorada do Nathaniel, pois era do seu estilo; certinha e bonita, uma menina exemplar.

Quando chegou á nossa frente ela parou para respirar e depois sorriu. – Nathaniel! Oi! –

– Olá Melody, tudo bem? – cumprimentou, de uma forma educada... Até de mais. Eu esperava que Nathaniel fosse um pouco mais gentil com a garota que tinha acabado de correr meia-maratona por ele. – Esse é o Eden. –

Ela virou as iris azuis mais escuras que as minhas para mim e me encarou de cima á baixo. – Oi, eu ou a Melody, amiga do Nathaniel. – disse finalmente, dando um sorriso.

Eu retribuí o sorriso e apertei sua mão. – Eden, Eden Carmon. – eu me afastei um pouco dos dois e puxei minha mochila contra o ombro. – Me desculpem sair tão de repente, mas tenho que ver uma coisinha na estação de trem. –

Os dois anuíram, e eu saí em disparada em direção á estação, driblando todos os alunos contentes de se encontrar e os bêbados febris. Lá eu vi uma garota meio esquisita, com cabelos castanhos enormes, presos em um penteado estranho e olhos azuis com algumas manchas rosas, suas roupas eram extremamente desconjuntadas e parecia ter vindo de um show de rock. Eu reparei que perto dela havia um menino de cabelo vermelho cor de menstruação, e soube na hora que era Castiel.

Por algum motivo bem idiota, cobri meu rosto e fingi olhar os horários, minhas bochechas estavam coradas e eu queria um trem para a China o mais rápido possível. Ela passava a mão pelo peito e dorso de Castiel, que parecia estático.

Fiquei olhando até que uma mão masculina encostou em meu ombro e ainda bem que era só Dajan.

– O que você está fazendo? – perguntou com um sorriso travesso.

– Olhando para o mapa de trens, vendo o horário que posso pegar um para voltar para casa. – expliquei um pouco aliviada por ter alguém que desviasse a minha atenção.

Ele levantou a sobrancelha. – O horário, hã? Pode parar de fingir, já vi que você está olhando para a “amiga” do Castiel. – dito isso, ele também virou para olhar. – Ela é gostosa de mais, mas é uma garota-problema, vive pegando todo mundo, além de ficar mentindo para o Castiel, jurando que ainda só gosta dele. Ele ainda tem uma queda por ela, mas finge que não e a rejeita, vai entender. –

– Ainda? – questionei curiosa.

Dajan passou o braço no meu ombro. – Vamos conversar sobre isso no bar, como você prometeu. Quando você comemorar com todo mundo, eu te conto até a cor da minha cueca. –

Eu tentei fazer o mesmo com ele, porém meu braço só foi até sua cintura. – Isso realmente, não é necessário. –

{...}

Fomos á taverna da cidade, lá vários adolescentes riam e jogavam, na mesa em que Dajan me mandou sentar havia um garoto de cabelo verde chamado Jade, Alexy, Armin, uma ruiva chamada Iris, o irmão de Lysandre, Leigh, moreno bem diferente do albino, e sua namorada albina Rosalya. Todos foram bem simpáticos e me explicaram a situação de Castiel e sua ex-vocalista, Debrah (sim, esse era o nome da garota esquisita e “gostosa” segundo o Dajan).

Castiel e Debrah têm uma relação complicada. Os dois saíram até cerca de seis meses antes do início das aulas, tinham uma banda juntos e mantiveram um bom relacionamento até Debrah decidir romper com ele para perseguir uma carreira sozinha em sua própria banda. Castiel entendeu seus motivos e aceitou a separação, embora ele ainda a ame.

Por telefone, comprei uma passagem para o trem das oito, o que me deu muito tempo para ficar conversando com todo mundo. Nós éramos a mesa mais bagunçada, principalmente quando eu, Alexy e Rosalya resolvemos cantar. Por causa disso eu tive de ficar ouvindo a albina perguntar várias vezes se eu realmente não era gay, o que fez muita gente rir.

A alegria contagiante da nossa mesa só acabou quando Castiel entrou, fazendo a porta atrás dele bater com força. Ele se sentou, chamou o garçom e pediu cinco rodadas de bebidas alcoólicas para todo mundo, eu e o dono do bar arregalamos os olhos, por que todo mundo ali era novo de mais para beber, mas ele mostrou uma nota de cinqüenta, que fez o dono do bar mudar de opinião.

Poucas pessoas não beberam, eu não bebi, Iris também não, assim como Armin e Rosalya.

Iris olhava fixamente para Castiel e depois para mim, e assim que tentei levantar por não gostar daquele ambiente cheio de bêbados segurou minha mão e se levantou, me guiando para o lado de fora. Percebi o olhar de Jade, como se dissesse: “Boa garoto!”

Iris me levou para o beco ao lado do bar, seus olhos azuis reluziam á luz da lua. – Eden... –

Eu comecei a corar violentamente. Meu coração explodia no peito, mesmo que soasse um pouco gay se eu dissesse, eu não iria beijá-la. Apesar de ela ser bonita e muito gentil, eu ainda era uma garota, afinal de contas. – Iris, você é muito legal, mas... –

– Você é um travesti ou uma garota? – perguntou, inclinando a cabeça para o lado.

O meu queixo caiu e a primeira coisa que me veio na cabeça foi: - Eu sou um travesti! Desculpa fazer você descobrir isso assim! –

Aí ela riu, riu alto e me fez ficar com cara de idiota. – Eu sei que você é uma garota. – eu fiquei sem-graça. – Quero sua ajuda. –

– Para que? – perguntei não muito animada com a ideia.

– O Castiel está muito bêbado, você pode me ajudar a levar ele? – pediu, com olhinhos brilhantes.

Ela sabia o meu segredo, estava em débito com ela, então eu pensei: “por que não, né?”, respondi sim e depois perguntei: - Como você percebeu que eu sou uma garota? –

– Alexy me contou. – respondeu. – Mas fica sossegada, Eden, só eu e a Rosa sabemos. –

Eu sorri e a segui em direção á dentro da taverna, pensando em maneiras de matar uma gazela azul com chutes.

{...}

Demorou uns vinte minutos para tirar o Castiel de dentro da taverna, isso por que Iris queria conversar com ele e o obrigar a levantar; durou dezenove minutos. O meu método de sucesso foi dar um chute no saco do Castiel e depois o arrastar para fora do bar.

– Filho de uma bela puta! – ele choramingou, ainda com a garrafa em mãos.

– Tá, ta, agora cala a boca. – eu respondi, o jogando na calçada.

Iris me olhou impressionada em quanto eu estalava os dedos e esticava os braços sobre a cabeça. – Você é bem forte, Eden. – elogiou.

Castiel deu um sorriso sacana. – Ela quer dar para você! –

E aquela foi a vez de Iris chutar o saco dele. – Abusado... – Ela continuou resmungando em quanto tirava da bolsa pílulas vermelhas e uma garrafa d’água, com determinação fez Castiel engolir e dez minutos esperando depois ele vomitou. Vomitou muito, de mais, mais do que qualquer outra pessoa e tudo isso no cantinho do beco.

Depois de uns cinqüenta saquinhos de vômito eu e Iris pegamos cada uma em um braço de Castiel e fomos andando pela rua, o apartamento de Castiel ficava á três quarteirões dali, então tivemos que ouvir o ruivo falar um monte merda, tipo como fazíamos um bom casal, que nós deveríamos ir ao motel, que eu gostava era de um macho, que Iris era uma delícia.

Nós paramos em frente á um conjunto habitacional, ou seja, seis casinhas do tamanho de apartamentos muito fofas, três lado-a-lado em baixo e três lado-a-lado em cima. Eu adivinhei que a sem decoração no lado de fora, no segundo andar e marrom era dele.

Nós três subimos as escadas, Iris roubou as chaves do bolso dele, abriu a porta e eu o joguei no sofá. Com o Castiel são e salvo eu poderia pegar o meu trem das oito e estaria em casa lá para as dez, olhei para o relógio que marcava nove e meia e quase dei com a cabeça na parede.

– O que foi? – perguntou Iris, fazendo chá na cozinha

Eu suspirei. – Perdi meu trem, não tenho onde ficar. –

Ela deu um peteleco na minha testa. – Pode ficar aqui. Ele não vai... Fazer mal, ele nem desconfia. – dito isso seu celular tocou. – Eu tenho que ir, minha mãe veio me buscar, e se ela souber que estou aqui, me mata. – ela me abraçou, pegou a bolsa no chão, andou até a porta e me jogou as chaves. – O Cast tem o meu número no telefone e o da Rosa no celular, me liga se precisar, tchau. – e saiu.

Com um suspiro, resolvi tomar banho e quando entrei no banheiro dei de cara com uma banheira, uma banheira de verdade. Eu pensei que esse tipo de coisa só existia em sonho. Apesar de todos em minha casa termos um talento, nunca fomos ricos e nunca pudemos comprar coisas tão legais.

Eu sabia que corria o risco de Castiel acordar e me ver pelada, mas não podia deixar aquela oportunidade passar, dei uma olhadela para sala e ele dormia como um bebê bêbado. Mordi o lábio e tranquei a porta, ele não iria entrar.

Puxei minha mochila para o banheiro e tirei as roupas, formando um montinho no chão e liguei a banheira, logo no primeiro jato, percebi que iria demorar para encher, então me sentei logo e joguei minha cabeça para trás, tentando esquecer o vômito de Castiel.

E quando a água estava perto da minha barriga, a figura cambaleante do ruivo apareceu no banheiro. Seus olhos, quando me viu, quase pularam das orbitas.

– Quem é você? – perguntou, se apoiando na pia.

Eu não respondi. Não, não iria responder para o Castiel naquela situação. Coloquei a mão sobre meu busto e me sentei

Ele se aproximou. – Quem é você? –

Não respondi, não responderia nem se ele implorasse.

Ele segurou em meu pulso e tentou me puxar para fora da banheira. – Quem é você? –

– Eden! – respondi para acabar com aquele sofrimento e ele enfim me soltou.

Castiel abriu a gaveta em baixo da pia e atirou uma toalha em minha direção.

– Como você abriu a porta? – perguntei, olhando fixamente para a chave já acoplada á parte interna do objeto.

O mal-encarado tirou um molho de chaves do bolso. – Surpresa, Nanico... Ou Nanica, eu já não sei. –

Minhas bochechas coraram, senti um misto esquisito de vergonha, raiva, frustração e tristeza. Só de ver o seu sorriso, meu corpo ardia de fúria. - Você pode sair? Eu vou colocar minhas roupas e vou embora. –

– Esse é o meu apartamento, faço o que eu quero. – respondeu com um sorriso sacana. – A intrusa aqui é você. – dito isso, saiu do banheiro.

Eu saí da banheira, e vesti a roupa de novo, estava em choque, prestes á chorar e com um gosto metálico ruim na boca. Ao sair do banheiro dei de cara com o meu demônio ruivo.

– Por que fez isso? Por que se travestiu? – perguntou, me empurrando contra a porta recém fechada. – Você é uma daquelas feministas loucas? –

– Isso não é da sua conta. – respondi, o empurrando e pegando minha bolsa no chão.

– A partir do momento que eu encontro meu amigo Eden pelado na minha banheira, com o corpo de uma mulher, acho que é sim. – retrucou.

– Eu só queria estudar pintura no instituto, só isso. – expliquei indo em direção á porta.

–Vai para casa, chorar no colo da mamãe? – questionou Castiel parecendo nem um pouco preocupado.

Eu lhe lancei um olhar afiado. – Meu trem partiu, eu o perdi por sua causa, bêbado. –

– Então, onde irá dormir? –

– Isso é da sua conta? –

– Se não fosse não estaria perguntando. – e cruzou os braços.

– Não sei. – respondi com franqueza.

Ele apontou para o sofá. – Durma aqui. –

– Não. –

– Por quê? –

– Porque não. – retruquei mais rápida que um raio. – Não conte á ninguém sobre isso. –

– Por quê? –

– Porque não é da sua conta. Nada disso é. Foi um erro ter vindo aqui, então, só peço que esqueça isso e aceite minhas desculpas. – pedi de cabeça baixa. – Só finja que nunca me conheceu, e prometo não entrar mais em seu caminho. – ele ia dizer algo, mas eu abri a porta e corri, descendo escada á baixo mais rápido do que um trovão.

{...}

Eu me refugiei em uma loja de CDs que fechava ás quatro horas da manhã, graças á uma balada com cheiro de drogas que acontecia no porão. O balconista me deixou tomar um café na pequena cafeteria á pouco fechada e dormir em uma poltrona, desde que eu não contasse á policia.

Olhando pela vitrine da loja, vi meu reflexo triste e envergonhado e tive raiva dele, e como que por mágica, uma chuva com trovões começou a cair na mesma hora em que eu chorei.


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