Open Your Heart escrita por Ally Faria


Capítulo 34
Você é meu… e eu sou sua!


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta amores ♥ não me matem, pois eu sei que eu vacilei com vocês.
Já não posto capítulos faz muito tempo, mas aqui estou eu, novamente, tentando me redimir pela minha ausência.

Só quero agradecer pelo carinho, pelo amor... pelos comentários e recomendações de vocês. Obrigada Melissa Freitas ♥ suas palavras me inspiraram ♥

Leiam as notas finais, pois elas são MUITO IMPORTANTES!
Enquanto isso, fiquem com esse capítulo novinho em folha... espero que gostem, pois ele tem uma surpresinha ♥

Enjoy!



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A atmosfera que reinava dentro da minha casa, repleta de alienados imbecis e sem um pingo de inteligência, era de pura agitação. O que poderia não ser caraterizado como algo estranho, se a protagonista dessa agitação fosse eu. A contaminação veio por via aérea, começando por afetar os mais fracos, para atacar os menos improváveis. O rebuliço e desassossego já estavam instalados mesmo antes de Brady e eu colocarmos os pés (no caso de Brady, as patas) dentro de casa. Todavia, meu irmão pareceu aderir a esse espírito irrequieto, seguindo o exemplo do nosso progenitor, após receber uma ligação misteriosa de Rydel.

Justo no dia em que meu frágil e cansado corpo decidiu fazer uma pequena pausa, que consistia em não mexer um músculo, fio de cabelo ou fazer qualquer coisa que fosse considerada um movimento, minha família decidiu substituir o meu tão desejado momento de sossego (bem merecido), depois de uma longa semana de trabalho no colégio a mando do diretor, que certamente nos tinha confundido com trabalhadores de mão de obra voluntária para pintar a porcaria da nova sala de teatro, por longos minutos de pura terapia de choque e stress.

Atacando o meu sistema nervoso, cuja paciência estava no auge do limite humanamente aceitável, meu irmão berrou pela milésima vez meu nome e se posicionou estrategicamente no alto da escada, aproveitando-se do ato acriançado e infantil para me atirar com um dos seus sapatos à cara. O que, por sua vez, evidenciou com clareza que os seus 17 anos de idade não passavam de apenas um número que Brady adorava exibir para se declarar muito adulto. Embora, e como estava estampado na sua cara de bunda de macaco, ele não o fosse.

—O que você quer? – perguntei, esparramando meu rosto contra a almofada fofinha que adornava o sofá, em que meu corpo confortavelmente se amparava.

—Vem cá! — exigiu ele, curto e objetivo.

—Não! – respondi, personalizando o meu grande e redondo “não” com uma leve gargalhada no final.

—Ally eu não estou brincando. VEM CÁ!

—Brady, eu não estou interessada no que você tenha para dizer ou fazer. – concluí e em resposta obtive silêncio. Um silêncio nada habitual e que me estava deixando desconfortável. Porém, minha preguiça não me deixa procurar uma resposta para aquela estranha falta de palavras de Brady.

Um segundo e meio depois, com a mesma rapidez com que veio e se fez anunciar, Brady foi embora, agarrando o meu tornozelo e arrastando meu corpo perplexo com ele. LITERALMENTE!

O que, em meio de uma tortuosa viagem pelas escadas a caminho do quarto do idiota do meu irmão, me fez questionar o seguinte:

Por que eu estava jogada no chão? Por que eu estava sendo arrastada por tudo quanto era canto, como se não passasse de um trapo velho ou brinquedo de criança? Por que eu estava questionando esse tipo de coisa, quando eu devia estar batendo em Brady? Por que eu não estava batendo em Brady?

Depois de ser devidamente empossada de hematomas por todo o corpo, fui largada de forma desleixada sobre um monte de cueca boxer, que eu desejava com toda a fé que eu tinha em Deus que estivesse limpa.

Tentei dar uma de inteligente, concebendo em minha mente um plano para me vingar de Brady, que se baseava no simples ato de pular nas costas dele e arrancar todos os fios de cabelo plantados em sua cabeça. Contudo, meu corpo decidiu não entrar em acordo com a minha mente, pois, assim que meu quase cadáver se ergueu do chão, minhas pernas cambalearam, criando um encontro inevitável entre a minha testa e a esquina da cama de Brady.

A colisão fora tão grande que até meus sentidos se esqueceram de quais eram as suas funções. Eu podia jurar que meus gemidos de dor estavam saindo dos ouvidos e não da boca.

—Meu santo picles! — murmurei, esborrachando minha testa com as mãos, numa tentativa frustrada de amenizar a dor.

—Você se machucou? — perguntou Brady, com a casualidade de uma pessoa que assiste esse tipo de acidente todo o santo dia. Eu não sou assim tão desastrada! — A pancada foi forte!

—Acho que perdi um pedaço de cérebro!

Ganhei coragem para abrir os olhos e a imagem que vi não foi a de um irmão preocupado, mas, sim, a de um irmão não estou nem aí pra você, se foda, porque eu estou cagando pro mundo!

—Nossa, sua preocupação pela minha saúde, física e mental, me deixa comovida! — grasnei com ironia.

Ele me olhou com desdém, mas logo encurtou o espaço entre nós e me ajudou a levantar no chão. Já com minha bunda devidamente instalada na cama de Brady, fui agraciada por um beijinho na testa, que me fez relembrar da dor despertada naquele local segundos atrás.

—Perdão. — pediu ele, adotando um olhar dócil, quando se apercebeu que eu estava com alguma dor. – Machucou muito?

—Quando? Quando bati com a testa na SUA cama, por SUA causa? Ou quando fui arrastada pela sala, pelas escadas, pelo corredor e pelo seu quarto, por VOCÊ?

Brady sorriu. Sorriu de um jeito macabro. O desgraçado estava se divertindo com o meu sofrimento.

—Eu tinha te avisado. Você é que não quis me escutar.

Me concentrei em seus olhos, que me observavam de um forma bastante ameaçadora, o que chegava a ser algo irónico, pois meu irmão, por mais que me custasse admitir, era extremamente adorável.

Levantei o dedo do meio e, orgulhosa de puder vangloriar-me com aquele gesto obsceno, esbugalhei o referido dedo bem no meio da cara de Brady.

—Ai, sua idiota!

—Idiota é você. — repliquei, empurrando o rosto dele para longe do meu. — Mas e então, vai me dizer o que você quer ou eu vou ter que adivinhar?

—Se você adivinhasse seria ótimo, mas, visto que, você é burra até para isso, eu vou te contar o que está rolando. 

Deslizei os dedos pelos meus lábios para abafar o projeto de grito que se formava na minha garganta, e respirei fundo para controlar os instintos homicidas que afloravam no meu ser a cada instante que meu irmão abria a boca.

—Eu e Rydel vamos acampar. – revelou ele com entusiasmo.

Revirei os olhos e espalmei minhas costas na cama dele. Uma boa dose de arrependimento deu sinal de vida, já que minhas costas não estavam nos seus melhores dias, mas me mantive na mesma posição para não dar parte de fraca.

—Você quase acabou com a minha vida por causa disso? Sério? Sério mesmo?

—Você não está entendendo, pois não?

Não respondi. Não tive tempo. Brady agarrou em minhas mãos e me puxou para cima, reerguendo meu tronco.

—A gente só volta domingo à noite. — continuou ele, como se aquela frase fosse desvendar o resto do quebra-cabeças que era a mente dele e as suas loucuras. O que na verdade, aconteceu!

Balancei a cabeça, em sincronia com meus ombros, e apoiei meus cotovelos nos ombros de Brady, encostando nossas testas lentamente.

—Você acha que dessa vez a coisa pode rolar, não é? — perguntei, com delicadeza. Aquele assunto não era algo que eu e Brady falávamos com frequência. E, com certeza, não era a nossa zona de conforto.

—Exatamente. Você e o Austin já… enfim, deram corda ao mecanismo. Mas…

Joguei a cabeça para trás, explodindo em gargalhadas. Meu peito subia e descia de forma descontrolada e frenética. Brady arregalou os olhos, indignado, e rosnou contra o meu rosto, insatisfeito com minha atitude.

—É suposto você me ajudar e não rir de mim.

—Ai desculpa macaquinho, mas é que foi muito engraçado o jeito como você se referiu ao facto de Austin e eu já termos — congelei na hora em que a palavra quase serpenteou para fora da minha boca. Entendendo o desconforto de Brady em usar o termo certo para se referir ao ato em si, falei a primeira coisa que me veio à cabeça. -, feito nhanhada.

Com uma reação, seguramente, duas vezes mais escandalosa do que a minha, Brady gargalhou até sufocar com a sua própria imbecilidade. O que ele tinha de fofura faltava-lhe em inteligência.

—Não foi assim tão ridículo! Não vejo a necessidade de você estar se descabelando todo por causa do que eu falei! — reclamei com a voz tão chiada que gerou desconforto nos meus próprios ouvidos.

—E você ainda teve a lata de rir de mim!? — sibilou Brady, esboçando um olhar cínico e completamente detestável.

Prendi a respiração e avancei com minha mão, moldada com o formato de uma pinça, na direção do rosto dele.

—Se você continuar rindo eu vou embora! — ameacei, assim que consegui capturar o nariz do imbecil.

—Ai Ally, deixa de ser violenta!

—Você me arrastou pelas escadas! – relembrei, sentindo meus olhos fumegarem de raiva. Sim, os meus olhos!

—Verdade! – respondeu ele, seguramente orgulhoso do seu feito.

Antes que eu tivesse tempo de rebater a imbecilidade de Brady, e, possivelmente, pontapear suas partes íntimas, ouvimos um barulho vindo do corredor. Um estrondo, para ser mais precisa, seguido de uma forte manifestação de raiva, que por sua vez estava repleta de palavrões que me fizeram questionar o tipo de ambiente que meu progenitor andava frequentando, quando eu e Brady não estávamos em casa.

—Está tudo bem pai? — gritou Brady, contendo por pouco a vontade de rir.

—Devo ter quebrado duas costelas, mas vou sobreviver. — Ouvimos ele dizer. — Para onde foi a porra do relógio?

Brady me olhou com um falso ar de melancolia que, juntamente com o praguejo indecente de meu pai, me levou a reconsiderar o facto de minha família ser constituída por dementes mentais.

—Podemos voltar ao assunto pelo qual você me arrastou até aqui? — pedi, desejosa de puder ir de encontro aos lençóis fofinhos de minha cama… ou da cama de Brady. Que importância tinha de quem era a cama, afinal? Eu só queria um sítio para descansar.

—Do que você está falando?

Brady enlouqueceu de vez, pensei.

—Como assim, do que eu estou falando? Está de brincadeira comigo? Eu estou falando do assunto nhanhada, dar corda ao mecanismo, fazer coiso coiso minhoca, pôr aquilo naquilo — comecei a falar sem parar, esbravejando feito louca, enquanto nomeava todos os novos possíveis e imaginários que se pudessem relacionar com a palavra começada por “s” e acabada em “exo”. -, rechear a lasanha com queijo, pôr o pão no forno, arrombar a porta… Deu para entender agora, ou você quer que eu faça um desenho?

Brady permaneceu estático. Sua expressão facial estava congelada, mas seus olhos estavam contendo um sorriso, que eu sabia que estava desejoso por ser exibido. Algo estava errado… Principalmente, porque eu sabia que alguém estava examinando minhas costas. Virei-me, pronta para encarar meu pai, parado na porta do quarto com a maior cara de paisagem, choque e desgosto emocional.

Eu iria ser completa e totalmente morta, assassinada, esquartejada... Não que fosse possível ser apenas parcialmente assassinada, ou morta, que na prática significam a mesma coisa. Minha mente já estava se consciencializando de que aquele seria o meu fim e o do meu legado. Dentro de dias alguém encontraria o meu corpo dentro de um caixote de lixo, num beco fedorento e cheio de ratos, com evidências de tortura, física e mental, e várias mordidelas das malditas ratazanas. Austin choraria por um ano, lamentando-se pela destruição do sonho de construir uma família, com treze filhos, um gato e um cachorro, comigo; Brady usaria o meu quarto para guardar suas roupas sujas, para sempre se puder recordar do dia em que me jogou em cima de um monte de cueca boxer por lavar; e meu pai seria condenado com uma pena de 13 anos, mas sairia mais cedo por ter assumido o crime e por bom comportamento.

Contudo, o que aconteceu foi somente o seguinte:

—A educação imposta pelos seus avós está me deixando muito perturbado. – Meu pai limitou-se a dizer, antes de desaparecer a todo o vapor por um dos compartimentos da casa.

Encarei o chão como se dele fosse surgir a maior arma de tortura alguma vez criada e, quando vi que de lá não sairia nada, acertei um soco no peito de Brady que, mais pelo susto do que pelo soco em sim, caiu no meio do chão. Minha intenção inicial era acertar um soco no olho dele, mas consegui evitar esse desastre, fazendo um desvio monumental, em nome da minha amizade com Rydel. Não seria nada legal que a primeira vez dela com Brady fosse com meu irmão adornado com um olho negro.

—Imbecil!— rosnei.

Não fazendo a mais pequena intenção de se levantar do chão, Brady confessou:

—Eu estou nervoso. – Um leve suspiro escapou de seus lábios. E, segundos depois, ele continuou: — Não vai ser a minha primeira vez, mas estou mais nervoso, agora, do que quando ela, de facto, aconteceu.

—O quê? — brandi, descendo da cama com uma rapidez digna dos Jogos Olímpicos que, embora impressionante, me levou a tropeçar nos meus próprios pés até, por fim, aterrar de forma violenta em cima do corpo de Brady. — Como assim você já fez nhanhada e nunca me contou?

—Você também não me contou quando deu corda ao mecanismo com o Austin. — acusou ele, cruzando os braços em torno das minhas costas, e infligindo um aperto um pouco de sufocante.

—Mas você soube! – retruquei, enquanto tentava não deixar que os meus pulmões explodissem e saíssem pelas orelhas, nariz e boca. E um outro sítio que eu prefiro não nomear.

—Por que você insinuou que tinha acontecido algo, mas quem realmente abriu o jogo foi meu cunhadinho. – respondeu ele, e eu franzi o cenho por ter que dar o braço a torcer. Afinal, ele tinha razão.

—Foda-se quem contou e/ou quem deixou de contar…

Sim, eu sei. Eu tinha acabado de me mandar foder a mim e ao meu namorado. Separadamente. Uma pena. Opa, o quê? Queridinha(o) não pense besteira, eu sou inocência pura.

—Espera… Quem foi a desgraçada em quem você meteu-meteu pela primeira vez? — perguntei, deveras curiosa.

Aquela conversa estava indo de mal a pior.

—Rebecca Barbosa. – murmurou o rapaz, expressando uma careta nada feliz.

—Rebecca Barbosa? — repeti, procurando algum fundo de verdade nos olhos de Brady, que, após ser confirmado, me guiou a libertar minha admiração com um gritinho histérico. E, então, comecei a pirar. - A Becca Babosa? A garota que salivava para cara das pessoas com apenas a sua respiração? Como assim? O quê? Não! Quer dizer… não! Não, isso é absoluta e totalmente impossível… Você é um idiota!

Brady arqueou as sobrancelhas com uma expressão de constrangimento

—Vá lá. Ela tinha aquele pequeno problema em manter a saliva dentro da boca, mas até que ela era gatinha. — admitiu ele, fuçando o nariz entre os meus cabelos para esconder o rosto ruborizado.

—Pequeno problema? Aquilo não era um pequeno problema... era um tsunami!

—Você está sendo maldosa. — desaprovou Brady.

—Não estou sendo maldosa coisíssima nenhuma, ou você pensa que eu me esqueci do dia em que a Babosa decidiu “respirar” para cima do meu tão apetecível almoço?! — metralhei, mantendo uma expressão sarcástica na face. Se eu sou rancorosa? Sou mesmo.

—Ah, eu lembro desse dia. – confessou. - Você ficou tão furiosa que tacou o prato da comida na cara da coitada.

—Coitada um ova!

Voltei, pela milésima vez naquele dia, a cruzar os braços e me levantei, caminhando para a outra extremidade do quarto, chocada. E, possivelmente, enojada também.

—Por que você dormiu com ela? — questionei, sentindo calafrios de repulsa subirem pela minha coluna vertebral.

—Em primeiro lugar, eu não dormi com ela. Nós só fizemos o negócio e fomos às nossas vidinhas.

—Medíocres e sem sal. — fiz questão de completar.

—Na altura todos os meus amigos estavam fazendo pressão, dizendo que já todos o tinham feito. A Rebecca se insinuou para mim, então eu juntei o útil ao…

—Desagradável!

—Precisamente. — Brady bufou e socou o ar. – Se arrependimento matasse…

—Mas não mata, por isso você vai ter que viver com a dura realidade de que perdeu a virgindade com uma garota com sérios problemas higiénicos. E eu também.

Apertei as pálpebras, enquanto fazia uma checagem interna de todos os beijos e abraços que meu irmão e eu já havíamos compartilhado. Se eu não soubesse que ele era um dos seres mais maníacos por higiene pessoal desse mundo ficaria com muito nojo dele. 

—Vamos levanta daí! Essa sua cara de enterro não dá com nada. – concluí, puxando as mãos de Brady para descolar a bunda dele do chão. — Você tem um encontro com Rydel…

—Não é um encontro. A gente só vai acampar. — corrigiu o desmancha prazeres.

—Vocês não vão SÓ acampar, porque até dois segundos atrás você estava se borrando de medo, só de pensar no que pode, eventualmente, acontecer durante os dias em que vocês vão estar fora. — recapitulei com implicância.

Que seja. — disse ele, dando de ombros. — Mas continuo a ter razão numa coisa: não é um encontro.

Você vai estar com ela? — Ele confirmou, mesmo sem compreender onde eu queria chegar. – Longe da nossa casa e da casa dela?

—Bom, o local onde nós vamos acampar não é propriamente longe!

—É fora de casa ou não é? — Ele voltou a confirmar, embora, muito menos confiante devido ao meu tom de voz arranhado e fastidioso. — Então, se você vai estar com ela, longe das nossas casas, num local programado com antecedência, SIM é um encontro!

Minhas sobrancelhas se arquearam tanto que eu desconfiei que elas se tivessem acrescentando ao meu couro cabeludo.

—Agora vá tomar um bom banho para ficar bem cheiroso, pois garotos fedendo NÃO são atraentes. — enfatizei.

Brady franziu o cenho e não resistiu ao impulso de cheirar o sovaco para conferir seu odor.

—Eu não estou fedendo.

—Meu nariz não concorda. — contestei.

Houve uma pausa entre os nossos diálogos. Desconfiei que Brady estivesse refletindo sobre a melhor estratégia a ser adotada para lidar com minha honestidade excessiva. Ou estava simplesmente me enforcando mentalmente. O que era, realmente, mais provável.

—Eu te odeio. — rezingou ele.

Mordi a pontinha da unha do meu dedo indicador e sorri, provocante.

—Você me ama, assim como eu te amo macaquinho.

Brady revirou os olhos de forma subtil e me deu costas, indo para dentro do banheiro. Aproveitei a sua ausência momentânea para sair daquele pandemónio, onde as cuecas boxer habitavam o chão como seres humanos.

Fiz uma pequena paragem no meu quarto, pois logo concluí que graças a Brady meu sono inspirador tinha ido visitar o Peter Pan na Terra do Nunca. Roubei Romeu do seu cochilo profundo e me arrastei até ao andar de baixo, com ele nos meus braços, como eu sempre fazia.

Cheguei à sala e encontrei meu pai, todo lambido e perfumado. Coincidência melhor impossível! Ele abriu um sorriso matreiro ao me ver, que retribuí com desconfiança. Senti que ele ia optar por não referir o terrível (e humilhante) incidente entre a minha boca desleixada e os seus ouvidos curiosos. Contudo, o senhor Lester era um Dawson. Imprevisibilidade deveria ser nosso nome do meio.

Não sabia que você era tão dotada em termos de língua portuguesa. Ironia não! – Sua vasta lista de sinónimos me impressionou.

—Te deixou chocado, quer você dizer. — cacarejei, sendo presumivelmente evasiva.

Papei me deu um beijo na testa, assim que sentei ao seu lado.

—Avise seu irmão que eu vou sair. — pediu.

Com um pigarro alto, vindo do fundo da garganta, não contive a pergunta:

—Ainda volta hoje?

Meu pai corou e fingiu estar muito ocupado coçando a cabeça.

—É uma pergunta inocente, não pense besteira!

—Eu não pensei em nada de específico. — ele engasgou. – Mas é provável que eu só venha para casa amanhã à tarde.

Esbugalhei os olhos e escancarei a boca, mas não deixei que meu progenitor percebesse. Em vez de responder, observei meu pai. Ele enfiou o cabelo, praticamente inexistente, atrás das orelhas, incomodado com meu olhar.

—Divirta-se então. — limitei-me a dizer.

Não achei necessário revelar que Brady também iria dormir fora, já que, provavelmente, papai adiaria seus planos, noturnos e matinais, para não me deixar sozinha em casa. A empregada estava de folga, por isso eu ficaria por minha conta.

—Tem dinheiro em cima do balcão da cozinha. Os armários e o frigorífico estão cheios, há macarrão instantâneo, pizza e lasanha. — informou. – Acho que vocês ficam bem!

—Você vai ficar um dia fora ou um mês? —perguntei, retoricamente.

Deixando mais um beijo na minha testa para, em seguida, fazer mais uma análise ao look escolhido, papai pegou nas chaves do carro e saiu, gritando um sonoro “Até amanhã!”. Segundos depois, Brady apareceu, vestindo uma calça de moletom cinzenta e uma camisola preta que combinava com a sapatilha All-Star, também preta, que ele calçava.

—Onde foi papai? — perguntou Brady ao acariciar a cabecinha felpuda de Romeu.

—Foi sair com a mãe da Trish.

—Quem diria que, depois desses anos todos, papai iria arrumar uma namorada?!

—Eu não! — admiti.

Brady gargalhou e balançou a cabeça, com um leve olhar de censura.

—Allycia Dawson e a sua fé nas capacidade de sedução e confraternização das outras pessoas, senhoras e senhores! — cantarolou ele, de um jeito bastante teatral.

—Que engraçadinho!

—Você avisou nosso pai que eu também vou sair? — Brady quis saber.

—Não!

—Como não?

—Papai tem planos para essa noite Brady. Se eu dissesse que você vai também vai dormir fora hoje, ele iria cancelar tudo.

—Tem razão!

Brady inclinou-se sobre mim e mordeu minha bochecha suavemente. Ele retirou o emaranhado de cabelos repousados na minha face e acariciou minha pele.

—Você fica bem sozinha?

—Você é, somente, meia dúzia de meses mais velho do que eu. Então, pare de me tratar como se eu fosse uma criança macaquinho!

Brady arfou e deixou o olhar cair até meus olhos.

—Se precisar de alguma coisa é só me ligar que eu venho correndo. — murmurou ele.

Percebi pelo olhar de meu irmão que ele estava realmente precisando de umas palavras de conforto. Seu nervosismo em relação à sua primeira noite de amor com Rydel chegava a ser fofo.

—E, se VOCÊ precisar de alguma coisa… Bom, eu não posso ir correndo até você, mas, se você me ligar, eu posso ser de boa ajuda.

—Valeu macaquinha.

—Sempre às ordens.

Até ali estava tudo bem. Eu estava sendo uma boa irmã, carinhosa, doce e boa companheira. Mas, então, eu soltei:

—Mas, se você brochar a gente vai ter sérios problemas.

—Tem chance disso acontecer? — perguntou Brady aterrorizado.

—Se você continuar tremendo que nem varas verdes, acho que o seu instrumento nem vai chegar a ganhar vida.

Brady estava prestes a soltar um desaforo quando recebeu uma mensagem no celular. Foi como se ele ouvisse, visse e sentisse um ser do além diante de si.

—Rydel está lá fora no táxi me esperando.

—Nossa… isso é que são tempos modernos. É a Cinderela quem vem buscar o príncipe Encantado no táxi de abóbora.

Brady rosnou e se movimentou pesadamente pela sala. A aura ao redor dele chegava a dar pena. Ele colocou uma mochila gigantesca às costas, me fazendo sentir vergonha do meu tamanho, e seguiu até à porta de casa, pronto para passar o melhor (ou pior) final de semana da sua vida. Claro que ele não se foi embora sem antes me mostrar o seu digníssimo dedo do meio.

E, por fim, se fez ouvir o som de ficar completamente sozinha.

Olhei para o teto, olhei para o chão, liguei até a televisão, mas nada me dava sono ou interesse.

—Que saco! — berrei, assustando o Romeu que fugiu, elegantemente, da minha beira.

Esse gato vai ficar com sérios traumas!

Eu estava de mau humor. Admito! Estava cansada, faminta, com preguiça demais para acabar com a minha fome, sem qualquer interesse em acabar com a minha má disposição e frustrada por não conseguir simplesmente desligar o sistema e dormir.

Àquela hora Austin estava tendo um jantar de família, que duraria sabe-se lá quantas horas, por isso não iria puder ficar comigo. Eu até poderia ter pegado no meu celular e mandado umas mensagens um tanto significativas (se é que vocês me entendem) para o meu loiro, mas até para isso eu estava com preguiça.

Decidida (depois de uma hora) a fazer algo bem mais produtivo do que, simplesmente, xingar todos os seres vivos do planeta Terra e arredores, deslizei para fora do sofá e fui até à cozinha para fazer uma refeição. Não um jantar, ou um lanche, só algo para encher meu estômago faminto.

Escalei o balcão da cozinha e vasculhei nos armários alguma coisa (meu pote de picles) para comer. Ao ter minhas expectativas fracassadas, optei por me aventurar em fazer uma sanduíche.

Duas colheres de maionese, três fatias de queijo, banana às rodelas, um punhado me M&M’s de amendoim, três colheres de Nutella, um morango, duas fatias de pão para envolver tudo e… voilà!

Já de estômago cheio e sem grandes opções, decidi dar uma caminhada pelo jardim, fazendo uma breve paragem pela sala para pegar um livro para ler. Sim, eu estava mesmo entediada! E, tem algo melhor no mundo do que “Romeu e Julieta” para acabar com o tédio? Apesar de achar essa obra um tanto sem pés nem cabeça, eu realmente gostava de reler essa história sempre que possível. Mas, nada me tirava da cabeça que, tanto Romeu quanto Julieta não passavam de dois jovens imaturos e loucos a ponto de se entregarem de corpo e alma, sendo que eles mal se conheciam. O que de certa forma também podia me caraterizar, pois Austin e eu nos beijámos pela primeira vez dias depois de nos conhecermos. Eu só esperava que nosso final não fosse tão trágico, mas apenas fruto do indesejado envelhecimento.

—Meu Deus, eu já estou pensando em envelhecer do lado desse loiro dos diabos!? — constatei chocada comigo mesma.

Soltei um suspiro alto e me sentei na beirada da piscina do jardim, enquanto me questionava:

— O que há de errado comigo?

—De errado? Só o facto de você estar falando sozinha. Mas admito que gostei de saber que você já está pensando no nosso futuro juntos.

Por instantes senti minha alma abandonar meu corpo. Para confirmar que o vulto falante, que escurecia meu reflexo na água da piscina, não era coisa da minha imaginação, ou uma alma penada pronta para me possuiu, mas, sim, uma pessoa de verdade, virei-me.

O garoto estupidamente mais alto do que eu, com uma voz grave e melódica, cruzou os braços e sorriu, dizendo:

—Oi amor.

—O que você está fazendo aqui Austin? — perguntei, ainda me recuperando do susto.

—O jantar terminou mais cedo, por isso eu vim te ver.

Ganhando o direito de ser eu a cruzar os braços, ergui a sobrancelha e esbravejei:

—Você está querendo enganar quem, Austin Moon?

—Eu?  

—Austin! — vociferei.

Eu estava feliz por ver meu loiro e por tê-lo ali comigo, mas alguma coisa tinha acontecido, eu podia ver nos seus olhos que ele não estava bem.

—Você é demasiado esperta e perspicaz para eu conseguir te enganar, não é mesmo? — Assenti com a cabeça e ele prosseguiu. – Riker e eu nos desentendemos de novo, eu perdi a cabeça quando ele começou a dizer um monte de babaquices pela boca fora e revidei o soco que ele tentou me dar. A confusão se instalou na hora e minha mãe me aconselhou a sair de lá até o clima de “pós-guerra” terminar.

—Riker já está exagerando. Ele esteve a semana todo te provocando e agindo que nem um otário. E, de todas as vezes que eu tentei conversar com ele, Riker foi grosso, idiota, criança…

—Eu sei Ally… mas eu vou resolver isso. Vou resolver TUDO isso!

Vencido pelo cansaço físico e, principalmente, emocional, Austin curvou o corpo e se sentou do meu lado, apoiando a cabeça no meu ombro. Ele parecia uma criança indefesa, cheio de receios, e isso me machucava muito. Até porque, para somar aos problemas que Riker estava causando, os empecilhos ambulantes Kira e Cassidy tinham decidido infernizar minha vida, ainda mais, depois de descobrirem meu namoro com o Austin. Eu não ligava para elas. Contudo, essas duas loucas não sabiam o que a palavra “limite” significava e Austin estava ficando paranoico por causa delas.

—Você se machucou?

—Eu estou ótimo.

Seus olhos sonolentos vaguearam pelo jardim até pararem nas minhas mãos. A surpresa tomou conta de seu rosto e ele quase engasgou.

—Você está lendo?

—Ih, está tão surpreso porquê? — repliquei indignada.

Ele emendou sua expressão de choque e reformulou o que estava prestes a dizer.

— Eu não estou surpreso. Só não esperava.

—Eu leio, sabia? — continuei, cada vez mais escandalizada.

Esse povo deve achar que eu sou uma inculta, ou coisa do género, pensei

—Revista de fofoca e moda? — arriscou o idiota loiro, se divertindo com minha revolta.

—Você quer morrer? — sentenciei.

—Calma coisa linda… eu estava apenas brincando. — esclareceu ele, para acalmar os ânimos. — Mas, você tem que concordar, que ler não é com você.

—É verdade, mas há alguns livros que eu gosto de ler.

—Tipo?

—Tipo… esse que eu estou lendo. — Ergui o livro e exibi-o com orgulho. — Romeu e Julieta.

—Romeu e Julieta?

—Eu gosto. — respondi envergonhada.

—Sério?

—Muito sério! Eu amo Romeu e Julieta.

—Eu não… — Austin disse simplesmente.

—Porquê?

—Porque eu prefiro eu e você… Austin e Ally.

Sorri com ternura e agarrei no rosto do meu loiro com ternura.

—Sabe que eu também.

Inclinei meu rosto para o lado, pronta para receber os lábios apetecíveis de Austin. Contudo, isso não aconteceu. Aquilo que remetia para um clima de romance, rapidamente, se transformou num motivo para eu querer apertar o pescoço daquele loiro besta, que eu amava mais do que tudo nessa vida.

Quando estávamos a milímetros de distância, quase aptos para demonstrar nosso amor através de um beijo, Austin, imprevisível e contraditório por natureza, levado por seus 5 minutos de loucura e insanidade, teve a brilhante ideia de me empurrar para a piscina.

Completamente encharcada, engasgada pela água que me tinha entrado pela boca, e com a fúria a mil, berrei:

—Eu vou te matar loiro oxigenado!

Austin pulou na água dominado pelo espírito do capeta. Vi, claramente, a felicidade se manifestando dentro dele. A tormenta e angústia pela frieza de Riker, que o tinham acompanhado durante toda a semana, não estavam lá. A minha fúria cessou de imediato. Ele estava precisando disso… eu estava precisando disso!

Súbitas gargalhadas escaparam do fundo da minha garganta. Austin sorriu ainda mais. Enlacei seu pescoço e envolvi minhas pernas na sua cintura. Ele estendeu os seus braços compridos, enlaçando o meu corpo e nos puxou para baixo de água. As nossas roupas ficaram infladas devido à água que entrava por todos os lados, o que me facilitou a tarefa de espiar o tanquinho do meu loiro.

Quando voltámos à superfície, Austin caiu na gargalhada e eu acabei rindo junto. Me movi na direção dele, ignorando a camiseta que não parava de subir, e tentei enfiar sua cabeça debaixo de água. Obviamente, ele era mais forte do que eu e não afundava, então rimos ainda mais. E, acreditem que, Austin mostrando todos os seus dentes brancos é a visão mais linda do mundo. Gostava que ele fosse assim o tempo todo.

—Você ainda tem que comer muita sopa para conseguir me afundar… - debochou ele.

Me soltei de seus braços e tentei nadar para longe. Contudo, fui pega de surpresa quando Austin me agarrou pela cintura e me levantou no ar. Fiquei esperneando e gritando que nem uma louca, mas ele simplesmente riu e me atirou para o outro lado da piscina.

Cai alguns metros à frente, e quando voltei à superfície vi um brilho de divertimento delicioso em seus olhos.

—Você vai pagar por isso! - gritei. Ele respondeu fingindo um bocejo, então nadei em sua direção.

Austin me segurou de novo, dessa vez com intensidade, e eu não hesitei em voltar a envolver minhas pernas em sua cintura. Dei um soquinho em seu ombro e colei nossas testas. Um suspiro escapou de seus lábios. Ele agarrou minhas coxas aumentando o aperto infligido por elas em seu corpo. A eletricidade que existia entre nós apareceu, e mais forte que nunca.

—Você tem noção do quanto eu te amo? – ele perguntou baixinho, passando o polegar no meu lábio inferior.

—Espero que seja tanto quando eu te amo… porque, acredite, eu te amo mais do que tudo. -respondi com toda a sinceridade, ainda sentindo seu toque na minha boca.

—Mais do que tudo é pouco… eu te amo mais, mais e mais a cada dia que passa. O amor que eu sinto por você ultrapassa até a minha existência. Você me preenche, me completa, me faz falta mesmo estando perto… O que você está fazendo comigo Allycia Dawson?

Senti um ardor no estômago e fiquei toda mole nos braços dele. Austin me olhou bem nos olhos. Suas pupilas estavam tão dilatadas que vi só um pequeno círculo dourado em torno delas. A boca dele tocou meu queixo, e eu estremeci toda. Austin continuou seu percurso, passando a beijar meu pescoço.

Ele tinha razão… Eu não fazia a menor ideia de onde estava vindo todo aquele amor que eu sentia por ele, mas com certeza era algo que não dava para explicar, que doía e gerava um aperto no meu peito, porém era bom de se sentir.

Quando seus lábios chegaram bem perto da minha orelha, soltei um gemido, o que o levou a beijar o mesmo lugar de novo, dessa vez usando a língua.

—Austin… — eu disse ofegante.

Levei minhas mãos até suas costas e agarrei seu corpo com força. Eu estava prestes a explodir, e ele estava somente beijando lugares inofensivos. Meus lábios ainda permaneciam intocáveis até aquele momento.

—Quero fazer você dizer o meu nome desse jeito sem parar. — A voz dele soou carregada de urgência, e não consegui conter um gemido involuntário.  

A mão dele começou a passear por baixo da minha camiseta preta.

—Austin… — soltei sem querer, e ele sorriu junto ao meu pescoço, continuando a me atacar com sua boca e mãos.

Austin não disse nada, apenas segurou minhas coxas, levantou-me um pouco mais e começou a sair da água. Quando chegamos à margem, ele me soltou e recuou alguns passos. Ele me observou por uns 30 segundos com um sorriso doce no rosto e, então, saiu da piscina. Assim que chegou perto de onde eu estava, me estendeu a mão e me puxou para fora de água. Sem saber o que fazer, fiquei parada, sentindo a camiseta ensopada pesar sobre meus ombros, e um sentimento de desejo me invadir.

Austin se abaixou um pouco para me olhar nos olhos.

—Você é minha… toda minha!

Meus pés, aprisionados pelos sapatos molhados que eu calçava, pisaram silenciosamente a grama do jardim até eu ficar a poucos milímetros do loiro. Minhas mãos se dirigiram de imediato para a barra da camisa de Austin, que arranquei do seu corpo sem hesitar. Só o jeito como Austin me olhava já era suficiente para me enlouquecer. Meus hormônios estavam fora de controle. Minha pulsação se acelerou quando ele mediu meu corpo de cima a baixo. O súbito rubor que tomou minhas bochechas me deixou desconcertada. Austin colocou a mão nos meus cabelos e prendeu uma mecha mais rebelde atrás da minha orelha.

—Ally… — Ele cravou os dentes no meu lábio inferior, e depois amenizou o puxão passando a língua por ele.

Reagi na hora, com a mesma intensidade. Contornei seu pescoço com as mãos e o forcei para baixo, de modo que ele não pudesse escapar do beijo que eu iniciei, por fim. O encontro dos nossos lábios gerou faíscas que me consumiam de dentro para fora, e de fora para dentro. Mas eu necessitava de mais, e ele também.

Austin aprofundou o beijo, usando sua língua para explorar o interior da minha boca. Ele estava com um gosto diferente, que eu identifiquei como sendo de sabor a pêssego maduro. Ele desceu as mãos até minha cintura e acariciou minha pele, entre o cós da calça e a barra da camiseta. Deliberadamente lento, ele foi abrindo caminho entre minha pele e o tecido, de baixo para cima, resvalando seus dedos em minha barriga.

Iniciei um esforço do outro mundo para conservar meus gemidos dentro da garganta, o que foi totalmente em vão. Nossos corpos estavam colados. Podia sentir a vibração proveniente da tensão e desejo acumulados.

Minha camiseta deslizou por meu corpo até ir parar ao chão. Ou melhor, à piscina. Mas, que importava isso?! Nem um pouco… principalmente, depois de Austin erguer a mão e a direcionar aos poucos para mim. Mas antes de me tocar, seu objetivo, ele se conteve. Uma pena. Quase tinha conseguido sentir seu toque, que me fazia estremecer por antecipação.

—Aqui não… - sussurrou ele sobre meus lábios, me matando aos pouquinhos.

Ele deu a entender que ia acabar com a distância entre nós de vez, beijando-me do jeito que desejava, para depois me arrastar para dentro de casa. Mas ele se manteve a poucos centímetros de mim e continuou falando, com ainda mais rouquidão:

— Quando eu descobri os sentimentos de Riker por você, eu tentei te esquecer Ally, tentei mesmo. Mas é ridiculamente impossível resistir a você.

Minha boca se abriu ligeiramente para facilitar a entrada de ar em meus pulmões, mas dela acabaram escapando mais gemidos. E então, para não negar meus anseios, Austin colou a boca na minha, acabando com a ansiedade que, por pouco, não me sufocou. Eu sentia que cada toque era insuficiente. Eu precisava de mais… mais pele, mais calor, mais contacto. Suas pernas se encaixaram nas minhas; seu quadril estremecia; seu peito sem camisa me apertava; e, por fim, seus braços enlaçaram meu corpo, enquanto as mãos se separaram e agarraram partes diferentes de mim: meu tronco (com a mão direita), minhas pernas (com a esquerda).

Fui erguida, mais uma vez, sem qualquer dificuldade. Austin nos levou para dentro de casa, sem desviar os olhos dos meus. E quando eu me entreguei, por momentos, ao conforto de seus braços e às carícias realizadas por suas mãos, fechando meus olhos, ele pediu (ordenou):

—Abra os olhos…

Fiz o que ele pediu, apesar de não entender muito bem o porquê.

—Esses olhos maravilhosos são a minha perdição.

Em poucos minutos, senão segundos, chegamos a meu quarto. Fui pousada em cima da minha cama com a maior das delicadezas. Austin se agachou no chão e retirou meus sapatos ensopados, e em seguida tirou os seus. Vi que ele se preparava para tirar sua calça, então decidi tomar uma providência e agi.

Elevei minhas costas e me sentei na ponta do colchão da cama. Puxei Austin para mim, segurando-o pela bunda, e encaixei minhas pernas ao seu redor. A calça tinha somente três botões. Me deliciei com o expirar pesado de Austin quando liberei o último botão. Usei o dorso das mãos para abaixar a calça, enquanto a admiração (5% pela minha ousadia e 95% pela magnificência do corpo do meu loiro) ficava estampada em meu rosto.

Não se deixando ficar aquém da expectativa, Austin inverteu as ações e retomou o controle da situação.

—Estou admirado com sua audácia. — afirmou, com um sorriso safado e um brilho travesso nos olhos cor de mel.

Me preparei para retrucar, porém, Austin me impediu cobrindo meus lábios novamente. Algo me dizia que, aquele era para ser um beijo rápido, uma espécie de “cala a boca”, só para me deixar um pouco irritada. Mas nada connosco é simples ou singelo.

Num ápice estávamos de volta ao nível da paixão sem limites. A gente se beijava com sofreguidão, beirando a brutalidade, sem que nada nos parasse. Tantas coisas tinham acontecido, tantos problemas nos rodeavam… esse momento de pura paixão era tudo o que nós estávamos precisando para esquecer os tumultos da nossa vida.

 -Sei que não é nossa primeira vez… nem a segunda, e muito menos a terceira — começou ele quase sem fôlego. - Mas hoje eu vou te fazer sentir o que é paixão de verdade.

Engoli em seco ao ouvir tais palavras. Cheguei a encobrir os olhos com minhas pálpebras pesadas. Mas o momento de embaraço e choque durou pouco. Voltei a encarar o loiro e assumi sem qualquer vergonha:

—Mal posso esperar…

Austin aproximou a boca do meu ouvido e sussurrou:

—Depois de hoje, você nunca mais se contentará com menos do que tudo.

Ele cobriu meus seios e deslizou o polegar sobre a renda do meu sutiã.

—Quero ser a pessoa que irá apagar todas as mágoas que você guarda da sua mãe no seu coração, porque me tendo do seu lado você nunca mais irá sentir a falta dela.

Aquela era a primeira vez que Austin menciona minha mãe… Ele nunca tocava nesse assunto, apesar de eu já ter lhe contado a respeito. Ele sabia o quanto me doía falar sobre ela. E, em qualquer outro momento, eu teria parado tudo o que estava fazendo e arrumaria um jeito de… ou fugir dali, ou simplesmente xingar todo o mundo. Todavia, as palavras de Austin despertaram ainda mais excitação em mim. Ele estava lindando comigo com possessão e isso me fascinava.

—Quero ser o homem que fica em seus pensamentos o tempo todo.

Ele suspirou, em harmonia comigo, quando seus dedos desceram as alças de meu sutiã e o puxaram para baixo. Continuei conectado meus olhos nos dele, cada vez mais redondos, embora estivesse contando os segundos para puder contemplar todo o corpo do meu loiro sem nada cobrindo, embora este ainda me intimidasse.

—Mas, acima de tudo, quero ser o único a lhe dar prazer agora... e para sempre.

Sai do transe provocado pelas palavras de Austin e me deparei com suas mãos acabando de abrir o zíper da minha calça. Estreitei o olhar, esperando que ele terminasse o que começou. Então, bem devagar, Austin desceu da cama e puxou a peça de roupa, fazendo-a escorregar por minhas pernas.

Seu olhar vidrou no meu corpo, percorrendo os locais mais pecaminosos com lentidão e deleite. Retribui seu gesto mantendo meus olhos no volume que se projetava debaixo de sua cueca box branca. O facto da cueca estar molhada deixava minha mente ainda mais perturbada (num ótimo sentido).

Minha calcinha de renda, que combinava com o sutiã já abandonado, se tornou o ponto de foco do loiro. Movi a cabeça de um lado para o outro, e enganchei meus dedos no elástico da calcinha. Austin se manteve de pé, apreciando o que via. Mais uma peça de roupa se juntou ao chão. Ele fez questão de se libertar também e, por fim, nada mais restava além de nossos corpos e desejos.

Estávamos ambos famintos e ansiosos. Era hora de acabar de vez com essa angústia. Nossos olhares se conectaram, e Austin se debruçou sobre mim. A nossa pele estava a milímetros de distância. Podia sentir o calor que emana sem que eu precisasse sequer tocá-lo.

 Ele se esforçou para demonstrar segurança, embora fosse nítido o quanto ele estava se desmanchando por dentro. Era muito amor, muita tensão… muita exaltação.

Enterrei meus dedos entre seus os cabelos, curtindo a doce tortura da trilha de beijos iniciada por ele. E declarei:

—Você é meu… e eu sou sua!

Então nada mais importou. Austin agarrou meus braços e os elevou acima da minha cabeça. Sua boca deslizou pelo meu rosto, lábios e pescoço para, então, chegar a meus seios. Seus dentes reivindicaram minha pele, puxando-a sem piedade. Senti minhas costas se arquearem sobre o colchão, e em questão de minutos fiquei em um estado de pura euforia, clamando o nome dele enquanto me derretia toda por dentro.

Minhas mãos inquietas desceram pelo peito de Austin e traçaram de modo automático a rosa tatuada em seu quadril. A imagem era tão nítida em minha memória que eu nem precisava olhar para saber seus lineamentos. Me permiti explorar um pouquinho mais, deslizando meus dedos até à zona mais sensível do corpo do meu loiro. Pude sentir a surpresa de Austin, quando ele estremeceu em minhas mãos. Sua cabeça se chocou contra o meu ombro e ele arfou.

—Ally…

Uma das mãos dele agarrou meu rosto, sua respiração irregular pairava sobre meus lábios. Nunca o tinha visto tão vulnerável, exposto. Em um único movimento, Austin inverteu nossas posições. Me vi no comando da situação, por cima, e admito que me agradou. Contudo, meu posto de “líder” durou pouco. A mão livre de Austin avançou sobre mim sem receios e congelou toda e qualquer ação minha.

Não aguentei. Espalmei minhas mãos contra o colchão, flexionando minhas pernas para me sentar em cima da barriga dele. Tão perto… Eu estava endoidecendo.

—Não aguento mais… — murmurei, estremecendo.

Fechei meus olhos e simplesmente me deixei guiar por ele. Senti meu corpo indo de encontro ao colchão novamente. Os dedos e a boca de Austin se insinuaram como nunca… me tocando como jamais tinham feito antes. Depois de ignorar todos os meus apelos, Austin decidiu pôr um fim à tortura, quando sua língua atrevida terminou seu trabalho árduo. Ouvi o som do pacote da camisinha sendo rasgado.

Seus dedos se entrelaçaram nos meus, como ele sempre fazia. E, finalmente, ele me preencheu. A melhor sensação do mundo. Deixei-o assumir o controle, pois eu já não tinha forças para me mover. Quando suas mãos precisaram agarrar algo forte para que seu corpo não desabasse, meus braços circundaram suas costas. O nosso suor banhava nossa pele, nossas vozes preenchiam o silêncio… Nossos corpos estavam em delírio.

Meu auge chegou ao ritmo do vai e vem constante, forte e acelerado de Austin. Fixei o olhar numa gota de suor que descia pela testa dele. Minutos depois o loiro chegou ao seu limite também, enquanto seus lábios murmuravam um “eu te amo” silencioso. E, embora estivesse esgotada, eu repeti meu amor infindável por ele mais uma vez naquela noite.

Nossos corpos exaustos se aconchegaram um no outro, minha cabeça no peito dele, seus braços ao meu redor. Segundos bastaram para a escuridão apagar as cores do rosto de Austin, até apenas a sua respiração baixa se tornar audível.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

PASSATEMPO... Open Your Heart!

Você ama "Open Your Heat"? Quer que esse amor entre o Austin e a Ally seja eterno? Você pode ter algo a dizer em relação a isso.
O futuro da relação entre o nosso amado loiro e a nossa apaixonante morena pode estar em risco... mas você pode ser a cola que unirá os corações desses dois de novo.
Não se anime, porque eu não pretendo revelar nada sobre os futuros capítulos. Contudo, tenho em mente uma proposta que vocês não podem recusar.

E se eu vos desse a oportunidade de entrarem na história desses dois!? Vocês alinhariam?

Através de um COMENTÁRIO ou RECOMENDAÇÃO, eu quero que vocês me digam o porquê de gostarem de OPEN YOUR HEART e porque vocês acham que o Austin e a Ally devem ficar juntos.
O comentário ou recomendação mais criativo dará ao seu autor a oportunidade de se converter no personagem que terá um papel crucial e de extrema importância no romance dos nossos amadinhos.
O vencedor será revelado em um dos futuros capítulos, e receberá uma mensagem privada minha, que consistirá na recolha de dados (aspectos físicos, etc) para dar vida a esse personagem.

Por hoje é tudo... até à próxima ♥