Jogos Vorazes (Hunger Games) - Recomeço escrita por MSBica


Capítulo 14
Penas,Holofotes e Aerobarcos




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"Caesar quer entrevistar vocês!"diz Effie entre saltinhos excitados "Não é maravilhoso?"

Eu me sento e meu queixo cai,em descrença. Peeta fala por mim antes que eu me recupere.

"Por que?" pergunta, me ajudando a desfazer a trança do meu cabelo "Não somos tributos."

"Não, mas são pais e mentores de dois dos tributos" retruca Effie "Sem dúvida Caesar quer saber o que vocês estão achando de orientar seus próprios filhos."

"Será que ter feito o sinal da revolução no Desfile já não fica claro o bastante?" pergunto, sarcástica "Ou será que precisamos mostrar nossa indignação por escrito? Talvez selado com o sangue dos nossos filhos, mortos na arena!"

Effie se senta em uma poltrona felpuda ao meu lado, inclina as pernas para a direita e me dá um sorriso indulgente e afetado, como se duvidando de minha sanidade. Eu duvido também, ás vezes.

"Katniss" diz ela, lentamente " Viu? Eu continuo sorrindo mesmo que você continue me irritando"

Eu paraliso. Meus músculos faciais estão duros como pedra, mas internamente eu gargalho. Uma gargalhada que não pode sair. Eu estou assim não só porque Effie repetiu o que me disse no treinamento para minha entrevista, mas porque percebo o que talvez ela não possa dizer às claras. Finja, jogue com eles. Talvez você consiga tirar proveito disso.

Parece profundo demais. Quer dizer...estamos falando da Effie aqui, mas percebo que este é o conselho de que preciso agora. Sem pensar me inclino para frente e me jogo em seus braços.

"Ah, Effie" digo "Obrigada"

Effie me abraça e não fala nada. Bem...ela acabou de soltar uma pérola aqui, não é como se precisasse falar mais. Sufoco uma risadinha e me sento ao lado de Peeta.

"Flavius vem preparar você amanhã. Octavia vai preparar o Peeta." diz Effie num sussurro.

"E as crianças?" pergunto

"Venia cuidará delas." responde Effie,com um sorriso abafado.

Ela sai, e abraço Peeta automaticamente.

"O que vamos fazer?" sussurro em seu ouvido

"Provar para eles que não somos mais uma peça nos seus Games?" pergunta Peeta, sorrindo

"É" digo, sorrindo "Acho que isso é o melhor"

Me inclino e dou-lhe um beijo. Meu cabelo escorre para o lado e estamos protegidos por uma cortina negra e brilhante quando minha mãe chega à sala.

"Oh" diz ela "Desculpem...estou interrompendo algo?"

Rompo o beijo.

"Obviamente que está" respondo "Mas...já que está aqui, o que quer?"

"Effie me pediu para dizer que vocês estão convidados para a festa da presidente, depois da entrevista, amanhã. " Ela faz uma pausa, estudando a carranca que se formou em meu rosto " E vim avisar que vou embora."

Talvez ela esperasse que eu fosse perguntar o motivo, porque um silêncio constrangedor paira na sala.

"Acho que não há mais o que fazer aqui, os Games começam em dois dias e não consegui passar minha mensagem." ela me entrega um envelope "Leia isso, quando não aguentar mais."

Sem nenhuma palavra de adeus ela se vai, deixando um leve cheiro de maresia no ar.

Me viro para Peeta e por alguma razão estúpida sinto meus olhos marejarem. Ele me abraça.

"Está tudo bem" murmuro "Estou bem"

"Não está" diz Peeta, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha "Então quer parar de demonstrar sua força e me deixar cuidar de você?"

Eu dou um meio sorriso, então ele me beija suavemente, seus lábios mal roçando os meus e me pega no colo.
Eu não resisto, há muito tempo que estou no papel de cuidar. Uma inversão às vezes faz bem.

Ele me coloca na cama e me cobre, como se eu fosse uma criança pequena. Me lembro dele fazendo isso com as crianças. Lendo histórias antes de dormir. Zelando por elas quando ficavam doentes. Me surpreendi comigo mesma ao descobrir que podia ser uma boa mãe, mas nunca duvidei que Peeta seria um pai excepcional.

Ele senta ao meu lado na cama, acariciando meus cabelos, seu toque é gentil, natural. Ele faz isso até que eu pego no sono.

Sou acordada na manhã seguinte por Flavius. Tento ficar alegre, porque ele não ele não tem culpa de nada, mas não me animo com a possibilidade de ficar em preparação o dia inteiro.

O dia começa com um banho longo e quando termino Flavius entra com uma toalha.

"É impressionante" diz "Seu corpo não mudou nada."

Penso sobre isso. Uma longa vida de privações no Distrito Doze. Caçadas. Duas viagens para a arena. Guerra. E depois disso correr atrás de duas crianças cheias de energia. Ele tem razão. Meu corpo não mudou quase nada. Poucas cicatrizes externas. Muitas internas. A nova Katniss é assim. Mas é muito cedo para pensar nestas coisas então eu apenas assinto e aceito a toalha que ele me oferece.

Me enxugo e visto um robe. Ele me conduz a uma cadeira e começa minha preparação. Banheiras de coisas odiosas que ardem. Pinças. Banheiras de coisas não tão odiosas que aliviam a ardência. O de sempre.

Flavius trança o meu cabelo de um jeito diferente, fazendo com que as tranças façam a volta nas mechas negras sobressalentes, enfeita com mechas artificias vermelhas, amarelas, laranjas, azuis. Garota em Chamas. Uma maquiagem dramática, forte, poderosa. Um batom vermelho. Cílios Postiços que filtram a luz. Um esmalte preto com chamas douradas nas unhas.

Para finalizar ele abre uma bolsa preta e retira um vestido branco com o busto rendado e com uma saia que vai até os tornozelos. Cheia de penas. Penas amarelas, laranjas, azuis, vermelhas. Garota em Chamas. Mockingjay. Eu coloco os saltos dourados e brilhantes que ele me oferece.

"Você está estonteante" diz Flavius "Parece como se..."

Ele para de falar ao ver a cicatriz no meu antebraço. Joahnna quando retirou o rastreador. Eu aliso as ondas irregulares e fico em silêncio.

"Acho que não precisa mexer nisso" digo "Isso... Isso parece comigo..."

"Sim" diz Flavius "Isso é você. E as pessoas só querem ver você."

Aceno com a cabeça. As pessoas querem que eu seja eu. Porque eu pertenço a elas.

O dano. O cansaço. As imperfeições. As cicatrizes. É assim que elas me reconhecem. E percebo que é assim que vão reconhecer meus filhos também.

Me olho no espelho. Estonteante parece pouco para descrever como estou. As penas da saia se movem com o vento, quase como uma chama a bruxulear. A maquiagem reflete o branco do busto do vestido, me dando um aspecto delicado, sereno e calmo.

Eu não pareço esfarrapada, minha pele está uniforme e sedosa e meus olhos estão calmos, porém desafiadores. Lembro-me de que foi Cinna que projetou isso. Não poderia ser mais perfeito.

"Gostou?" pergunta Flavius

"É perfeito" digo, sorrindo "Obrigada"

Ele coloca um xale nos meus ombros. O xale segue o padrão cheio de penas do vestido. Flavius prende o broche Mockingjay sob o meu coração. Então há algum ajuste em minhas costas. Sinto o xale mais pesado.

"Pronto" diz Flavius "Mas não levante os braços até dar voltas."

Mordo o lábio em frustração. Parece o que Cinna disse antes de me transformar num Mockingjay no Quell. Dou-lhe um aceno de cabeça e saio.

Me sento no sofá para esperar por Peeta e em um par de minutos ele aparece, vestindo um terno cinza e gravata vermelha.

"Você está linda" diz, ao me ver

"Obrigada" digo

Pego sua mão e seguimos para os elevadores. Lira, Klaus, Effie, Flavius e Octavia já esperam por nós. Descemos rapidamente. Effie nos guia para os bastidores e nos informa que seremos entrevistados antes dos tributos. Maravilha, mais publicidade.

Peeta e eu paramos perto no palco, esperando ser chamados. Os tributos se enfileiram atrás de nós para tomarem seus lugares depois de nossa entrevista. Não estou nervosa. Estou com raiva. Raiva de Debra.

Vejo Caesar com seus lábios, pálpebras e sobrancelhas tingidos de rosa e não consigo reprimir a risadinha. Ele está parecido com a Effie na nossa primeira colheita.

Ele faz algumas piadas para aquecer a audiência e um par de minutos depois nos anuncia. Peeta pega a minha mão e vamos para o palco.

Há duas cadeiras brancas preparadas para nós e, ainda de mão unidas, nos sentamos. O público vai à loucura. Rindo, aplaudindo e gritando para nós. Com minha mão livre aceno para a audiência. Peeta faz o mesmo.

Caesar demora alguns minutos para acalmar a multidão. Pelo que percebo nossa presença não era esperada. Me pergunto se Debra requisitou isto. Colocar meu sofrimento sob o holofote mais brilhante não é exatamente a estratégia mais original, mas é muito eficiente.

"Então, Katniss" diz Caesar, me levantando "Devo dizer que você está maravilhosa esta noite."

Peeta lança um olhar enciumado para Caesar e a audiência ri.

"Não fique com ciúmes, Peeta" diz Caesar, rindo "Ninguém aqui quer roubar esta bela dama de você."

A audiência continua rindo.

"Mas...vamos admitir" continua Caesar "Não há como não se apaixonar por ela, certo?"

O público assente ruidosamente.

"Ela não está mesmo linda?" pergunta Caesar à multidão.

E então acontece. Caesar me gira entre seus dedos e dou uma volta completa. As penas da saia começam a fumegar, queimar e voar. Meu vestido adquire um suave tom dourado. Meu xale se expande formando asas negras. Por suas mãos, sou a Garota em Chamas novamente. Por suas mãos, sou o Mockingjay novamente. Cinna parece reviver esta noite.

"Isso é incrível!" diz Caesar sob sua respiração

"Era para ser o grande final" digo, entre risadinhas "Mas podemos dizer que abrimos com chave de ouro, certo?"

Caesar ri e me guia até minha cadeira. Entrelaço meus dedos nos de Peeta, esperando o que está por vir.

"Então" pergunta Caesar, seu humor mais silencioso "O que vocês estão achando de orientar seus próprios filhos?"

"Oh, Caesar" digo " Você acha mesmo necessário que respondamos isto?"

Todos riem nervosamente, mas sinto Peeta apertar minha mão. O aperto diz o que as palavras não podem. Não faça isso, aja como alguém frágil.

"Bem..." diz Peeta " É terrível, não vamos negar, nos sentimos algozes mandando nossos filhos para a morte."

A audiência faz ohhss e ahhss. Profundamente emocionados.

"Como vocês reagiram quando souberam que os Games voltariam?" pergunta Caesar " Pensaram que seus dois filhos iriam juntos?"

Minha resposta imediata seria É claro que pensamos Caesar, na verdade tivemos quase certeza porque a Debra é uma tirana que nos odeia.

Mas respondo apenas "Bem...não posso negar que pensamos na possibilidade, afinal a sorte realmente não está..."

Eu paro abruptamente. O que vejo tira todo o ar dos meus pulmões. Bem no fim da Cidade Circular. No exato ponto em que vi Prim explodir. Indubitavelmente um robe roxo de pêlo curto.

"Pare!" Grito

Mas como de costume é muito pouco e muito tarde. Um aerobarco paira no ar. Uma escada é lançada e o Gamemaker Chefe sobe nela.


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