Já estou ficando completamente cansada de ficar dirigido em uma estrada que agora esta escura já que anoiteceu completamente. O transito está péssimo e estou prestes a explodir, mas tento manter a calma o quanto posso. Graças aos céus vi uma placa dizendo “Welcome to Sweet Ville” a poucos metros atrás e começo a ver uma cidade colorida e brilhante com tantas luzes que até parecia que estamos comemorando o natal.

Começo a procurar a rua certa para casa da minha tia, mas só vejo lojas, lojas e lojas. Às vezes é tolo achar que minha tia veio morar aqui para ter paz e tranquilidade, o que na realidade acontece ao contrario, pelo que vi até agora. Acho que tenho total certeza de que Agatha veio morar aqui pelas facilidades de compras que você vê por todo lado. Não importa se estou errada, pois minhas teorias quase nunca falham. Quase.

Após um bom tempo procurando acho a casa. Uma enorme casa meio rosa... Não sei se ela tem um bom gosto para escolher tintas para paredes e o pior é que tenho que descobrir. Estaciono meu carro em frente a casa, e desço olhando aquele negócio rosa. Tento achar a campainha, mas o que vejo é um rosto de uma garotinha feito de gesso com um sorriso enorme com um dente faltando e no lugar um botão. Seria um pouco estranho fazer isso, mas apertei o botão e me afastei um pouco. O portão fez um barulho parecendo um zumbido frenético de abelhas zangadas, mas não me importei e entrei sem cerimônia. Minhas malas pesavam e vi acho que minha tia me espiando da janela.

–Hey! Venha me ajudar! Estão mais pesadas do que você imagina. – reclamei.

– Mal chega, não cumprimenta e já vai fazendo a gente levar suas malas?! – Era a voz de Nick vindo em minha direção.

Nick é 02 anos mais velha que eu. Sinceramente, acho que tenho mais responsabilidade, já que meu amadurecimento foi precoce. Alias, somos muito parecidas pelas características físicas, e se o cabelo dela fosse ruivo como o meu, seriamos consideradas “irmãs”. Vejo-a correr para me abraçar e seus olhos lilás brilharam quando me viram. Seus cabelos castanhos batiam em suas costas e voavam com a brisa. Teve um momento ela começou a chorar quando entrelaçou seu braço em meu pescoço enquanto dava batidas de leve em sua costa depois que falei um oi exageradamente alto. Eu amo essa louca, e acho que um oi assim seria apropriado.

– Ai meu Deus! Como você esta? E seus pais? Vai me contar todas as novidades! – ela dizia animada enquanto me soltava.

– Calma Nick! Deixe-a respirar. – tia Agatha falou.

– Tia... – Abracei Agatha e senti uma lagrima cair em meu ombro. – Tudo bem por aqui?

– Com você aqui, vai ser ainda melhor.

– Vamos entrar pra jantar. Você chegou na hora certa! – disse Nick pegando uma bolsa. Creio que era a mais leve. – Eu levo essa.

– Engraçadinha... – disse enquanto pegava minha mala.

Agatha e Nick foram cordiais quando me receberam. Creio que realmente elas estavam com muitas saudades de mim ou estavam “puxando o saco”. Não importa. O que eu quero no momento é jantar com minhas parentes e depois dormir. Nem irei arrumar as malas hoje pelo simples fato de estar com preguiça.

O jantar foi maravilhoso com Strogonoff de frango e mais algumas coisas que esqueci o nome. As duas quase não me deixam em paz para comer, por que ficaram sempre fazendo uma pergunta nova a cada segundo que respondia uma. Tudo bem que elas querem saber de tudo o que aconteceu nos últimos dias, mas precisa ser tudo de uma vez?

– Bom, eu vou... Dormir! Isso eu irei dormir. Onde é o meu quarto? –perguntei tentando me livrar de mais perguntas.

– Você vai dormir no quarto da Nick. – tia Agatha respondeu.

– Mãe, você já montou a cama pra ela? – perguntou Nick.

– Já. Montei antes de começar a fazer o Strogonoff.

– Ok então. Brigada tia. – agradeci enquanto levantava da mesa. – Já vou me preparar para dormir. Beijos e boa noite...

– Tchau minha querida. – Agatha se levantou e me deu outro beijo na testa.

Lembro-me ainda daqui. A casa continua a mesma, só que a decoração mudou. O Banheiro fica no andar de cima perto do quarto de Nick. Vou até lá, tomo um banho e escovo meus dentes. O quarto de Nick estava tão desarrumado quanto meu cabelo. É perfeitamente normal entender o porquê ela não arruma seu quarto: ela tem preguiça como eu. Odeio arrumar meu quarto, mas adoro quando não esta sujo e arrumado. A Cama onde irei dormir é a única coisa que esta em um bom estado, sem alguma coisa em cima. Deito-me e tendo dormir, mas meus pés estavam frios como do lado fora nas ruas de Sweet Ville. Ouço Nick chegar e finjo estar dormindo para que ela me deixe quieta.

– Você é péssima quando fingi estar dormindo. – Nick disse enquanto arrumava sua cama.

– Droga. Ok, ok... Mas eu quero dormir. – disse enquanto me enfiava debaixo do meu travesseiro.

Ela deu de ombros e apagou a luz. Fiquei imaginando como seria o amanhã. Mais perguntas da minha tia? Torço para que a resposta seja negativa. Enquanto me distrai ouvindo a minha respiração, consegui adormecer.

***

– Mocinhas! Acordem que já esta tarde! – Agatha falava enquanto abria a janela do quarto.

– Nossa mãe! Ainda é domingo... Da mais 05 minutinhos... – Nick dizia antes de sua mãe tirar o cobertor de cima dela. – TA! Já acordei!

Eu e Nick não enrolamos muito para levantar e nos arrumar para mais um domingo. Ela saiu na minha frente e não entendi o porquê, apenas relaxei enquanto lavava meu rosto com uma água em uma temperatura mais deliciosa que já senti. Faz tanto tempo que não venho aqui que até esqueci que tia Agatha tem água quente agora no banheiro. Antes, acho que não tinha, mas não tenho certeza.

Desço as escadas e vejo tia Agatha com uma sacola um tanto grande nas mãos. De repente me lembro de uma coisa: Elas têm uma regra de quem levantar por ultimo, deve levar o lixo pra fora e limpa a cozinha.

– Você se esqueceu? – Agatha pergunta.

– Não, mas não sabia que vocês ainda tinham essa regra. – respondo quando pego o saco de suas mãos.

– Parabéns, senhorita Patrick! Você vai lavar a louça e limpar a cozinha! – disse Nick ironicamente.

Fui para fora deixar todo aquele lixo no seu devido lugar. Era um tão nojento aquele lixo, até parecia que tinha uma gosma estranha ali! Mas não importa, amanhã levanto antes da Nick e ela vai me pagar na mesma moeda. A lixeira vazia estava a minha frente e apenas joguei aquela sacola e saí de lá para entrar em casa. Ouvi que do meu lado, o vizinho saiu de sua casa e caminhava sobre o seu jardim. Olhei por curiosidade antes de entrar para o portão e vi um garoto de olhos azuis sorrindo pra mim. Retribui o sorriso com certa timidez por conta de que talvez nunca o vi em minha vidinha pacata. Entro e vou a cozinha comer o meu café da manhã.

Nick fica me olhando por um momento até que resolveu falar.

– Vamos ao shopping hoje?

– Claro! – dei uma colherada em meu cereal. – Os vizinhos daqui, mudaram ou continuam os mesmos? – pergunto discretamente.

– Mãe, os vizinhos sempre foram os mesmos, não é? – Perguntou Nick quase gritando.

– Acho que os vizinhos apenas da rua de traz se mudaram, por quê? – respondeu tia Agatha que estava assistindo TV na sala.

– Por nada, é que eu vi um garoto e ele sorriu pra mim, como se me conhecesse. – falei.

– Não me lembro se nós brincávamos com meus vizinhos quando éramos crianças e especificamente os meninos. – disse Nick – Mas tudo bem.

Terminei meu café e fui limpar a cozinha, como fui a ultima a levantar. Acho que depois de terminar aqui irei assistir TV junto com tia Agatha e Nick ou também posso ler um livro. Não importa. Pelo menos mais tarde irei me divertir um pouco no shopping.

Termino o que fazia e comecei a ler, mas uma coisa não saia da minha cabeça: o sorriso daquele garoto. Ele parecia ter um oceano em seus olhos vibrantes e tinha um cabelo preto como a escuridão de uma noite sem o luar. Algo me diz que ele é especial em minha vida, mas apenas um especial de que nós nos conhecemos sim. Amanhã descubro mais coisas sobre isso, mas agora vou desfrutar esse livro de mistério que trouxe em minha mala.