Valentines escrita por Yukii


Capítulo 1
Proposta




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Todos provavelmente irão amar, rir
Num mundo monocromático
Para o sonho que eu pintei
Eu não era capaz de mentir

-LM.C - Boys & Girls

 

Haviam muitas coisas que Hiei odiava. Eram tantas que, provavelmente, se ele fosse um colegial que tivesse que fazer uma redação sobre todas as coisas das quais não gostava, trinta linhas não bastariam. Nem quarenta, provavelmente. Mas Hiei estava longe de ser um colegial; era um koorime renegado e um ótimo espadachim, além de ser o primeiro - e único - dominador do Kokuryuu-Ha¹. Aquilo tudo o satisfazia muito mais do que uma vida idiota de estudante, embora ele provavelmente nunca tenha parado para pensar sobre isso.

 

Voltemos, por hora, ao ódio. Dentre as infinidades de coisas odiadas por Hiei, algumas delas vinham ganhando destaque. Uma delas - que passara a ser o alvo principal de toda a sua fúria - tinha cabelos alaranjados e estranhos, uma cara mais estranha ainda e se chamava Kazuma Kuwabara. No início, Hiei não o odiava tanto assim - era apenas desprezo. Mas um fato em especial fizera com que Kuwabara ganhasse o ódio do seu parceiro de lutas: estava namorando sua irmã, embora não tivesse noção disso - poucos sabiam que Yukina era irmã de Hiei. E Kuwabara era mais um na massa de ignorantes que não conhecia o parentesco de Yukina e Hiei. Agora, ele estava namorando a pequena koorime.

 

E Hiei não gostava nem um pouco disso.

 

Por que não gostar? Hiei tinha seus próprios motivos. Primeiro: ele achava Kuwabara idiota. Segundo: ele achava Kuwabara um perfeito tarado. Terceiro: sua irmã era inocente demais para aquele tipo de coisa. Quarto: sua irmã merecia algo muito melhor. E ainda haviam outros, que não valem a pena serem citados, por questões de educação e respeito - coisas que o koorime dominador do fogo não levava em consideração, quando se tratava de alguém dando em cima da sua pobre irmã.

 

O dia em que Kuwabara se declarara para Yukina não era uma lembrança viva na mente de Hiei, porque ele não estava presente na ocorrência, devido a sua falta de vontade de interagir com o resto do mundo. Fora informado da situação por Botan, a simpática ferry girl do Reikai que sempre estava tentando fazê-lo participar de tudo. Quando ouviu o que ela disse, Hiei achava que era apenas um delírio mental daquela louca de cabelos azuis, mas, tratando-se de sua irmã, decidiu ir checar as coisas por si mesmo. Quando houve a reunião seguinte dos amigos no templo de Genkai, o koorime apareceu, e sim, essa era uma lembrança viva na sua mente. Até hoje podia se recordar da sensação de seu estômago se contorcendo de horror, ao ver sua pobre irmã receber afetos daquele... daquele imbecil de cabelo estranho que algum dia fora seu colega de luta.

 

Não fora uma surpresa, porque Hiei sempre soube que Kuwabara tinha uma tara horrível e incorrigível por Yukina. Mas o koorime nunca esperara que sua irmã fosse, algum dia, aceitar aquele assédio descarado. A ideia de Yukina e Kuwabara caminhando alegremente e soltando juras de amor aos quatro ventos o fazia ter nojo. Sua irmã, sua única irmã - que nem fazia ideia de seu parentesco com aquela figura vilanesca e vestida de preto que era Hiei - estava destinada a amar um idiota. Um acéfalo. Um fraco. Kuwabara despencou uns 40 lances de escada no conceito de Hiei.

 

E aquilo tudo era a razão para Hiei estar ali, no meio do Ningenkai, escondido na copa folhuda de uma árvore baixa, bem ao lado de um café. Suas costas doíam, seu joelho protestava com câimbras por ele ter mantido a mesma posição durante 3 horas, mas ele não dava atenção a nada disso. Como poderia dar, sabendo que sua irmã estava sendo vítima das taradices "daquele-maldito-Kuwabara" dentro do pequeno café? Os olhos mortiços e rubros se detiveram por um momento na placa animada do local, e depois vagaram para a larga porta de vidro entre as paredes amareladas e claras. Hiei praguejou baixinho; não conseguia ver absolutamente nada. Já tentara algumas posições diferentes nos galhos durante os últimos minutos, mas de nada adiantava, porque deveriam estar numa mesa longe da porta; se quisesse ver, teria que grudar no vidro, ou fazer um buraco na parede. E era nessas horas que ele tinha vontade de ser invisível.

 

Basicamente, Hiei não estava tentando espionar sua irmã com o namorado; queria apenas se certificar de que ela estaria bem, que Kuwabara não faria nenhuma besteira com ela; não, ele não confiava nem um pouco em Kuwabara. Apesar de sua personalidade fria, Hiei se importava muito com Yukina; se importara com ela por toda a vida, porque agora seria diferente? Nada mais justo do que querer saber se o seu "namorado" estava tratando-a bem. Sua vontade era assumir uma posição de "irmão das trevas" e simplesmente impedir que Yukina e Kuwabara namorassem, mas não podia fazer isso, porque não condizia com sua personalidade, e tampouco Yukina sabia que Hiei era seu irmão. Não lhe restava alternativa, a não ser espiar.

 

O koorime acabou concluindo que talvez ele estivesse começando a odiar paredes, também. Não conseguia ver droga nenhuma, apenas sabia que ambos estavam ali, sua irmã e o imbecil. Seu único consolo é saber que poderia vê-los quando saíssem. Mas, diabos, estavam há 3 horas ali e não saíam!

 

As paredes amarelas do café  fizeram Hiei refletir com impaciência; tudo o que ele queria era um bom motivo para entrar ali. Mas não poderia, certo? Se aparecesse ali, num lugar comum cheio de gente comum, onde sua irmã e seu suposto "amigo" ocupavam-se em namorar, seria bastante suspeito.

 

Irritado como estava, o koorime decidiu ir embora; poderia pensar em alguma coisa enquanto andava por aí. Hiei decidiu por conta própria que iria ao Templo de Genkai, esperar o retorno de Yukina - isso era raro, porque sempre quem o forçava a ir lá costumava ser Kurama ou Botan.

 

~ x ~

 

- Botan, a Yukina-chan está por aí?

 

- Ela ainda não voltou do encontro, Keiko-chan - comentou a voz alegre com um ar de riso maldoso. - O encontro com o Kuwa-chan deve estar sendo realmente bom.

 

Hiei amaldiçoou aquelas vozes femininas o acordando de seu sono pacífico. Pelo volume do som, deviam estar bem embaixo da árvore que ele se encontrava. Ao ouvir as palavras das duas, seus olhos procuraram o céu; estava escuro. O maldito céu já estava escuro e Yukina ainda não havia voltado? Teria aquele idiota sequestrado sua irmã? Sentindo um peso incômodo com aqueles pensamentos, Hiei olhou por entre as folhas ao seu lado, procurando as autoras da conversa. Não conseguiu divisar Keiko na grama escurecida pela noite, mas rapidamente localizou a cabeleira em tons vivos de azul de Botan. A voz dela também era mais evidente no silêncio da noite.

 

- ...me sinto feliz pela Yukina-chan, porque ela sempre pareceu tão sozinha, não é? - Botan falava animadamente enquanto brincava com os dedos. - Agora ela tem o Kuwa-chan como companhia. Ele parece que se importa mesmo com ela, acho tão incrível!

 

"Tinha que ser essa baka Onna", pensou Hiei com azedume. Como ela podia achar uma situação tão deprimente bonita? Por acaso ela vivia dentro de um conto de fadas?

 

- Ela nunca achou o irmão, não é mesmo? - questionou Keiko, aproximando-se da amiga.

 

O koorime aguçou a audição. "Se essa Onna ousar contar algo, terei um bom motivo para matá-la".

 

- N... Não! - Botan disse, com um sorriso lavado e sem-graça. - Oh, já está escuro, eu não tinha reparado! Será que eles não vão voltar?

 

O modo brusco que Botan usara para fugir do assunto deixava várias evidências de que ela estava escondendo algo; felizmente, Keiko não pareceu reparar.

 

Se tivesse reparado, Hiei faria aquela ferry girl se considerar morta.

 

- Ah, é mesmo! Daqui a dois dias eu e o Yusuke vamos sair com eles. Você não quer vir, Botan-san?

 

- Huh? Um encontro de casais, é isso? - brincou Botan com uma voz risonha. Hiei não conseguiu enxergar, mas Keiko corou. - Não, prefiro não ir. Não me enquadro nesses casais felizes para sempre. - ela deu um risinho de ar malvado.

 

- Mas...! - Keiko tentava argumentar, um pouco sem jeito; a guia espiritual riu da amiga.

 

- Não fique com essa cara, Keiko-chan! Não há nada errado em namorar alguém e sair por aí, certo? - disse a ferry girl. "Há tudo de errado sim, se esse alguém for o Kuwabara", pensou Hiei, irritado. - Essas coisas são mais adequadas para casais. Não se preocupe, estou bem sozinha! - Botan deu uma piscadela confiante. - Vamos lá na frente ver se a Yukina-chan já chegou? Eu ouvi um barulho de alguma coisa...

 

Keiko e Botan fizeram a curva no templo e desapareceram na escuridão suave. Hiei observou os cabelos azuis dançando com o vento até eles desaparecerem junto com os castanho-curtos da namorada de Yusuke.

 

Essas coisas são mais adequadas para casais.

 

A frase da ferry girl martelava na cabeça do koorime; achava que tinha uma ideia.

 

~ x ~

 

A porta do pequeno quarto abriu-se com um estalinho e Botan entrou cantarolando de boca fechada, enquanto caminhava para um pequeno armário, de costas para a janela - ela havia acabado de jantar com Yukina, Kuwabara, Keiko e Yusuke. Naquele cômodo onde estava, tudo era claro e alegre; as paredes, o tapete, até a cama de armar. No teto, uma luz amarela e gentil pendia, combinando com a atmosfera suave e agradável do quarto. Botan agora estava ajoelhada de frente para o pequeno armário de madeira clara, vasculhando alguma coisa na segunda gaveta do móvel.

 

- Onna.

 

A voz fria e sem emoção lhe chamando daquela maneira peculiar fez um pequeno calafrio percorrer suas costas, enquanto ela se virava, assustada. Conhecia aquela voz e aquele timbre; ambos pertenciam a Hiei, que agora estava empoleirado no parapeito da janela dela e, ao vê-la se virar, saltou dali para o meio do quarto, ficando em frente a ela.

 

- Hiei! - Botan disse, sentindo os olhos frios a observarem. - O que você estava fazendo no meu quarto?

 

- Hn. Que ridículo. Eu estava na janela.

 

- A janela faz parte do meu quarto - disse a garota com ar de riso. Ao notar o olhar duro dele que parecia dizer "continue fazendo piadinhas e eu corto seu pescoço inútil", o sorriso de Botan endureceu e morreu, e não pôde deixar de sentir um certo medo.

 

Seguiu-se um silêncio desagradável, enquanto Botan mirava a figura carrancuda de preto que olhava para as paredes claras atrás dela com total desinteresse, e tentava pensar em dizer algo não muito ameaçador para ele.

 

- Eu pensei que você estivesse no Makai... por que voltou?

 

- Engraçado você perguntar isso. - ele disse com a voz baixa de sempre, um sorriso irônico curvando seus lábios. - Normalmente você está sempre me entupindo de motivos idiotas para vir para cá, para alguma reuniãozinha sem propósito.

 

Botan fez um bico irritadiço com a boca.

 

- Claro! Você precisa socializar com a gente, Hiei! Somos seus amigos! - as afirmações dela fizeram o koorime girar os olhos. - E você sempre gosta de saber como está a Yukina-chan, certo? Eu sei que você é um irmão dedicado.

 

A ferry girl usou um tom especialmente aveludado - acompanhado de um sorriso meigo e excessivamente alegre - para proferir as duas últimas frases. Hiei sentiu algo que lembrava vergonha, ao aliar a fala dela ao fato de ele ter ficado metade do dia empoleirado numa árvore, tentando ver sua irmã dentro de um café.

 

- Eu preciso da sua ajuda, Onna. - disse o koorime rapidamente; ao lembrar de Yukina, lembrara também do motivo que o levara até aquele quarto tão perfumado e alegre, onde tudo se tornava fofinho e meio idiota.

 

- Minha ajuda? - Botan franziu o cenho e se levantou do chão, surpresa. - Como assim?

 

- "Essas coisas são mais adequadas para casais" - entoou o koorime, repetindo com exatidão a frase que Botan dissera há alguns poucos minutos. - O que quis dizer com isso?

 

A ferry girl quase deixou cair no chão o par de meias que segurava.

 

- Você está escutando as minhas conversas, Hiei?! - ela perguntou com um ar indignado, apontando uma meia rosa para ele com ar feroz.

 

- Errado. Você era quem estava conversando aos berros debaixo da minha árvore.

 

- E você fez questão de escutar, não é? - provocou Botan, fazendo um beicinho. Pela segunda vez, Hiei lhe lançou um olhar mortal, que a fez reavaliar suas palavras. - E-Em todo caso, não entendo porque você quer saber o que eu quis dizer.

 

- Não precisa entender. Apenas me diga.

 

Botan quis responder aquilo do seu jeito, mas achou que o koorime provavelmente poderia concretizar suas ameaças se ela o irritasse mais. Resolveu, por fim, usar de sua amabilidade para amaciar aquele coração frio e impenetrável que Hiei possuía.

 

- Bom, eu quis dizer que não podia aceitar o convite da Keiko-chan porque aquele tipo de passeio entre casais... ah, eu não sei se você vai entender isso, Hiei! - ela mordeu os lábios nervosamente, tentando achar as palavras, enquanto o koorime fitava-a com um ar confuso. - Quando as pessoas saem para passear em casais, bem... não é normal ninguém ir sozinho, sabe? Não faz sentido.

 

- Hn. Por quê?

 

Botan fez uma carranca mal-humorada com o rosto.

 

- Não é, simplesmente não é! Isso quebra a harmonia, mais ou menos assim.

 

Decididamente, aquela Onna adorava um romantismo, foi o que Hiei deduziu.

 

- Ah. Como eu pensei.

 

- Huh? - Botan piscou, confusa. - Você veio aqui apenas para perguntar isso? Qual sentido que isso faz?

 

- Não. - Hiei observou-a com as pupilas rubras escapando por entre as pálpebras semi-cerradas. - Eu preciso que você forme casal comigo, Onna.


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Notas finais do capítulo

¹Kokuryuu-Ha: as Chamas Negras Mortais do Hiei.

N.A.: Minha nova longfic HB! O/ Acho que o tempo vai ficar apertado para atualizar a Secrets, a Sem Razão e agora essa! XD Mas tudo bem, estou de férias, e bem animada para fazer essa fic. Espero que tenham gostado do primeiro capítulo! Ele ficou meio estranho e talvez o Hiei tenha ficado OOC, não sei, mas dei o máximo que pude, morrendo de sono como eu estou. A ideia central da fanfic é mostrar o que o Hiei é capaz de fazer para "proteger" a Yukina daquilo que ele acha errado, e mostrar até onde isso vai levar ele e a Botan! XD Deixem reviews dizendo o que acharam! o/ Farei o possível para postar o cap. 02 o quanto antes.



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