Saga - The Alphas Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 8
Queen T




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– Qual a sua próxima aula? – Lucas perguntou a Rafa assim que eles passaram pela porta da sala da Sra. Santos, a tenebrosa e odiada professora de matemática.

– Deixa eu ver – Rafa se contorceu para pegar seu horário enquanto os dois paravam no corredor. – Biologia, com o professor Felipe.

– Nossa, que azar! – Lucas desabafou. – Toda vez que esse cara começa a falar minha carteira de repente se transforma em travesseiro.

Rafa revirou os olhos.

– Isso é porque você fica até às duas da manhã assistindo Hentai.

Lucas mordeu o lábio inferior, meio culpado.

– O professor Felipe ensina bem – Rafa guardou o horário.

– Sei, sei – Lucas bufou. – Eu sei que você acha ele gostoso.

– Acho mesmo – Rafa confessou sem nenhuma vergonha. – E isso pelo menos é um incentivo pra prestar atenção na aula.

– E você espera que eu ache o professor Felipe gostoso pra prestar atenção na aula?

– Só se você quiser – Rafa provocou de maldade. – E, aliás, porque você vem perdendo tempo com desenhos japoneses transando sendo que você tem a lembrança de ter dormido com a Andressa ao menos uma vez?

Lucas se afastou um pouco.

– Duas.

Rafa olhou seu rosto rapidamente.

– Espera, o que? – ele guinchou.

– Nada, nada – ele gesticulou para que Rafa falasse mais baixo.

– Não, espera – Rafa sacudiu a cabeça. – Eu ouvi direito? Duas vezes?

Lucas olhava de um lado para o outro no corredor, tentando ignorar a pergunta.

– Você transou duas vezes com ela naquela noite, foi isso que quis dizer, não foi?

– Não necessariamente – Lucas o olhou pela primeira vez, meio temeroso.

– Então quando...

– Ontem – Lucas respondeu de pronto.

Rafa levou a mão à boca, em choque.

– Puta merda, puta merda – ele começou a murmurar. – Como isso...?

– Eu não sei, uma hora estávamos conversando, mas então a Vick apareceu e...

– A Vick? A Vick estava lá também? Puta merda!

Lucas suspirou.

– Pode ser um pouco menos bicha ao quadrado e me deixar continuar?

Rafa deu um sorrisinho amarelo em resposta.

– Vou tentar.

– Andressa foi até a minha casa pedir desculpas por tudo o que tinha acontecido naquela noite. Nós conversamos e ficou tudo bem. Até ai tudo bem – ele pausou gravemente. – Mas então a Vick apareceu do nada com a maior cara de puta e dizendo que a Taffara estava certa o tempo todo enquanto me acusava. Aí depois que ela foi embora, eu fui lá pra cima para o meu quarto. Andressa foi atrás de mim me consolar, me perguntou se eu gostava da Vick e eu disse que sim. Quando dei por mim, segundos depois eu já estava puxando ela comigo pra minha cama.

– Caralho, que foda – Rafa passou a mão no cabelo. – Não é de se surpreender que você esteja indo dormir tão tarde – ele comentou com uma risada fraca.

– Pois é – Lucas assentiu parecendo perdido.

Rafa podia ver o quanto ele parecia estar enlouquecendo aos poucos, (não devia ser fácil ter a garota que se gostava desde a sexta-série e uma garota nova e gostosa mais velha sob o mesmo teto) cheio de confusão e tensão sexual desgastante – ou não.

– Ei – ele cutucou o amigo de brincadeira. – Talvez eu devesse colocar a Andressa na frente da sala de Biologia, aposto que isso iria te fazer melhorar na matéria.

– Aposto que sim – Lucas sorriu e os dois começaram a rir alto.

Mas após se recuperar de toda a histeria, Lucas franziu a testa para o amigo.

– Ei, onde você estava ontem?

Rafa se retesou.

– Ontem quando?

– Depois da escola – Lucas respondeu. – Passei na sua casa e o Rogério disse que você não estava.

– Er... – Rafa travou, se lembrando de que ele estivera com Roberto em uma hora, e logo depois caindo em uma ilusão de uma Bruxa.

E nenhuma das duas coisas ele podia falar a respeito, uma vez que Roberto pedira sigilo total sobre o “namoro” deles dois, por conta dos pais dele.

Lucas ainda esperava por uma resposta, mas então atrás dele duas silhuetas surgiram rapidamente. Um era Eduardo, o outro, obviamente, era Fernando.

– Rafa? – Fernando o chamou e Lucas pulou de susto, se virando arfante para os dois que surgiram do nada. – Podemos conversar? – ele acrescentou levemente, erguendo uma sobrancelha para o amigo de Rafa. – A sós?

– Vocês quase me mataram de susto! – Lucas respirava fundo agora, tentando manter o controle. – De onde vieram?

Eduardo o encarou de um jeito bem impassível, os punhos abaixados ao lado do corpo se contraindo.

– Quer mesmo saber? – ele questionou em um tom de poucos amigos. Rafa encarou o moreno e logo deduziu que ele se lembrava muito bem de quem era Lucas – e do que ele tinha feito.

– Ahn, sim? – Lucas franziu a testa para ele. – Por isso eu perguntei.

Ambos Rafa e Fernando ergueram as sobrancelhas, surpresos, observando enquanto Eduardo piscava para o magricela na sua frente.

– Eu realmente acho que você não quer saber – ele respondeu em um tom sombrio que fez até Rafa ter medo. Se Lucas soubesse que ele podia queimá-lo vivo ali naquele corredor mesmo...

– É, eu também acho – Fernando interrompeu, espalmando as mãos para quebrar a tensão. – Vamos? – ele olhou Rafa.

– Eu já volto – ele murmurou para o amigo antes de seguir os dois pelo corredor.

Viraram uma esquina e deram de cara com o Monitor Ávila, que apenas os encarou de modo estranho.

– De onde eu já vi vocês? – ele se perguntou mais para si do que para eles.

– Não sei – Fernando sorriu de forma cínica. – Me diz você.

Enquanto o Monitor abria a boca para formular algo, Fernando passou por ele e os outros o seguiram, enquanto o Monitor parava para olhar Rafa de um jeito confuso.

– Tá legal, o que foi agora? – Rafa questionou quando eles finalmente pararam em um corredor bem vazio. Ele olhou os armários familiares e se lembrou levemente da visão de Henrique o perseguindo – um Henrique de mentira pra ser exato.

– O que foi? – Fernando perguntou, arrancando ele do transe.

– Ah, nada – Rafa sacudiu os ombros e passou a mão no rosto. – E então, outra Beta escapou dessa vez?

– Na verdade, duas – Eduardo respondeu.

– O que? Só pode estar...

– Érika e Carla – Fernando interrompeu, impaciente. – Ele quis dizer que estávamos com elas ontem.

A frase podia ter sido dita de jeito casual, mas quando Fernando disse isso, Rafa sentiu certo desconforto. Estavam com elas? Elas duas? Estavam como? Vestidos?

– Como assim? – a voz de Rafa saiu rouca.

– Elas estavam nos ajudando em uma missão – Eduardo respondeu. – Encontrar a Fortaleza Secreta dos Atiradores.

– E vocês encontraram isso aí mesmo? – Rafa fungou. – Achei que aquelas balas eram mera coincidência.

– Mas não eram – Fernando disse num tom perigoso. – Eles estão mesmo dominando uma cidadezinha bem perto daqui, tocando o terror.

– Tocando o terror? – Rafa questionou.

– É uma expressão – Fernando bufou.

– Eles estão dominando literalmente todas as lojas do local, matando até mesmo civis que tentam se rebelar contra eles.

Rafa estremeceu quanto a isso.

– E vocês vão tentar acabar com eles, não é? – ele perguntou. – Vão arregaçar as mangas e matar todos eles que nem nas últimas vezes, não é?

– Arregaçar as mangas? – Fernando fez cara de nojo. - Quem é que ainda fala isso?

– Quem é que fala Tocando terror? Eu é que pergunto – Rafa retrucou. – Mas vocês vão, né?

Eduardo mudou o peso de pé.

– É ai que as coisas ficam complicadas. Eles são muitos, não podemos enfrentar eles.

– Como não? – Rafa questionou, estridente. – Você é o Avatar em tamanho real, Andressa é uma caçadora fodona e o Fernando, bem...

– Eu o que? – este por sua vez o encarou com os olhos azuis.

– Pode... Virar o bicho que quiser – Rafa quase gaguejou, se lembrando da visão do garoto nu. – Você se transforma, eu quis dizer.

– Ah, sei – Fernando sorriu levemente, desviando o olhar.

– Enfim – Rafa se concentrou. – Temos ainda duas Betas e... Bem, eu, que nem sei como faço o que faço, mas acredito que já serve pra algo. O que estamos esperando?

Eduardo se limitava a encarar ele o tempo inteiro, mas então o olhou de cima com profissionalismo.

– Permissão.

Rafa foi um pouco para trás com essa, se lembrando a quem essa palavra era referida. Chefa, ele podia ouvir Fernando chamando mentalmente.

– Não me digam que a Anna também manda em vocês aqui – ele tomou coragem para dizer, com medo que moça de óculos bonita surgisse a qualquer instante com Layane, sua sombra ruiva e misteriosa com quem tinha um caso.

– Lógico que manda – Fernando bufou. – Como acha que chegamos até você?

– Pela caixa – Rafa respondeu. – Que, a propósito, não ia liberar uma destruição do mundo ou coisa do tipo? – ele ainda podia se lembrar de Andressa entrando no estacionamento de forma bem dramática. – Cadê essa destruição toda?

– Você liberou um espirito – Eduardo respondeu. – Sei que a Anna não nos deixa falar desse assunto, mas acho que é melhor você saber. Você liberou um espirito cheio de caos e vingança por ai quando abriu aquela caixa.

– Ok, a culpa é toda minha – Rafa assentiu. – Mas onde esse espirito tá?

Fernando e Eduardo se encararam brevemente antes de voltarem a dizer algo.

– Isso não é problema nosso – O loiro respondeu. – Por hora.

Por hora – Rafa citou. – Pra mim isso só significava que vocês três estavam sendo dramáticos naquele dia, isso sim.

– É o que acha? – Fernando questionou e Rafa o encarou com desdém.

– É – ele assentiu, a voz meio tremida com a tentativa dele de apagar as lembranças. – É o que eu acho.

– Por falar em nós três – Eduardo interrompeu a tensão. – Onde esta a Andressa?

– Você parece bastante brava.

Vick atirou os livros e os cadernos com força para o fundo de seu armário em resposta. Diogo estava parado bem ao lado dela, a expressão de alguém que se divertia com seu brinquedo pessoal.

– Acha mesmo? – ela perguntou ironicamente enquanto pegava uma apostila e colocava dentro da bolsa.

– Entendo que você esteja sempre com raiva – Diogo deu de ombros. – Só não entendo porque logo hoje – ele passou a mão no rosto dela enquanto falava. – Está pior do que o normal.

Vick tirou a mão dele com um tapa rápido.

– Talvez eu dissesse a você, se te interessasse tanto assim – ela disse com acidez.

– É claro que me interessa – Diogo a pegou pela cintura. – Você é minha namorada, se lembra?

Vick não disse nada, apenas fechou o armário, passou o código e saiu andando. Diogo a seguiu sem nenhum esforço, se divertindo com cada frustração nos passos dela.

– Então – ele começou a falar ao seu lado. – Vai ou não me dizer o que foi fazer na casa do seu amiguinho Lucas ontem?

Ela se virou para ele com raiva, mas não surpresa. Seria de uma grande admiração se Diogo vigiasse seus passos porque estava preocupado com ela – mas não era esse o caso.

– Ele não é mais meu amigo – ela respondeu com um fecho se abrindo na garganta. A mágoa mal havia saído de seu corpo desde ontem.

Diogo riu, para a não surpresa dela.

– Então o namoro acabou de vez? – ele riu. – O que será que ele fez pra te irritar, hein?

Vick fechou os punhos com raiva, querendo bater em alguém, mas não apenas em Lucas naquele momento.

– Não falemos de namoros que deviam acabar – ela respondeu com ironia. – Eu posso acabar ficando inspirada – ela acrescentou olhando Diogo em desafio.

Ele fechou a cara por alguns segundos e deu uma última olhada para dois alunos do primeiro que viravam o corredor. Quando eles sumiram, Diogo se moveu como uma águia e a empurrou para o armário mais próximo.

– Me larga – Vick grunhiu e se debateu, mas o namorado indesejável era mais forte do que deveria ser. – Me larga, Diogo!

Mas ele ignorou seu pedido.

– É bom que você não fique inspirada – ele ameaçou, em um tom lunático que Vick sabia que ele tinha oculto. – Se não quem vai acabar ficando inspirado aqui quando for contar uma história fantástica a Taffara sobre o namorado dela.

Vick o encarou atentamente.

– Gosto assim – Diogo riu ao afrouxar o aperto. – É bom saber que apesar de linguaruda, você ao menos valoriza seu querido amigo Rafa. Não quer ver ele encrencado, quer?

Ela não precisava abrir a boca para responder, era evidente que ela jamais, mesmo com as circunstancias recentes, faria algo assim a Rafa. Ela tinha prometido.

– Ótimo – Diogo suspirou e tocou o rosto dela. – Agora, aproveitando que estamos sozinhos, por que não me prova que excelente namorada você é?

Vick suspirou cansada, mas isso não impediu que ele puxasse sua boca para a dela. O beijo era seco. Vick não buscava nem um pouco em incentivar o beijo forçado. Odiava quando ele era tão baixo assim com ela.

– Não esta fazendo direito – ele sussurrou a centímetros da boca dela.

Ela o encarou com nojo, mas então invocou o rosto de Rafa na cabeça e se forçou para frente com coragem.

Mesmo que agora ela correspondesse com vontade e passasse os braços na nuca dele, nada daquilo fazia sentido. Ela não sentia nada por ele, jamais sentiu, mesmo no inicio quando tinha começado a dar em cima dele pelo Rafa.

Isso era evidente para Diogo, por que ele não se tocava e parava de usa-la?

O beijo continuava barulhento, mas sem sentido, até que ele começou a descer as mãos que estavam na cintura dela para a calça. Vick ficou tensa enquanto ele começava a abrir um botão, mas não o impediu – pelo Rafa, lembrou a si mesma.

Diogo então se ajoelhou na frente dela e começou a fazer o que parecia gostar de fazer. Enquanto passava a língua logo ali, Vick tinha certeza absoluta que ele era o único a sentir alguma coisa ali. O único com o brinquedo agitadinho ali.

Previsivelmente, ele se cansou das preliminares e voltou para cima, beijando a boca de Vick rudemente enquanto ela tremia de raiva e se segurava pra não chorar.

Mas então Diogo trocou de lugar com ela, ficando posicionado no armário e tocou sua cabeça de forma indelicada, forçando ela a ficar de joelhos na frente dele.

– Não – ela logo adivinhou suas intenções. – Nem pense nisso.

– Você é minha – a mão de Diogo continuava a força-la a ficar ali, enquanto a outra se movia para abrir o zíper da calça dele. – Faça seu papel direito!

– Não, me larga – ela arranhava a mão dele. – Me larga, seu nojento!

– Pelo Rafa, lembra? Pelo Rafa! – ele a pegou pela nuca.

– Me solta! – ela estava prestes a gritar mais alto.

– Algum problema aqui?

Os dois se viraram para quem tinha parado no corredor. Andressa estava com o cabelo escuro impecável, a bolsa pendendo ao lado do corpo de jeito seguro, as roupas perfeitas polidas. Ela primeiro lançou um olhar raivoso para Diogo, depois um confuso para Vick.

– Algum problema aqui? – ela perguntou de novo, mais alto e Diogo recolheu a mão para fechar o zíper.

– Isso é pessoal – ele retrucou com um olhar mortal para Andressa.

– Mesmo? – ela devolveu o olhar enquanto dava dois passos para os dois. – A escola só não me parece o lugar apropriado. Parece pra você?

Diogo bufou.

– Vou dizer o que parece pra mim.

– Então diz – agora Andressa estava de frente para ele. Como tinha chegado tão perto? – O que parece pra você? Vamos, diga!

Diogo não desfez a cara feia, mas parecia pálido ao se desvencilhar de Vick e começar a andar para o corredor contrário, olhando uma vez por sobre o ombro.

Quando ele sumiu, Andressa desfez a pose e se virou para oferecer a mão para Vick.

– Obrigada – ela agradeceu enquanto se levantava. – Por isso e por...

– Sem problema – Andressa sorriu. – Só que, linda, esta deixando algo escapar.

Vick se tocou e começou a fechar o zíper.

– Desculpa – ela enrubesceu. – É que meu namorado é um total idiota.

– Percebe-se – Andressa resmungou. – E por que namora ele mesmo?

Por um segundo Vick a olhou de volta, mas então algo passou por sua expressão e ela fechou a cara para Andressa. Parecia ter se lembrado de que tinha a mandado calar a boca durante sua discussão com Lucas.

– Não é nada.

– Não me pareceu nada – Andressa riu. – Parecia que ele queria...

– Não é nada! – Vick guinchou, passando a alça da mochila pelo ombro. – Você não entende, ok?

Andressa encarou suas mãos nervosas e tremulas por um segundo e depois seus lábios que balbuciavam, a beira de um choro histérico.

– Tem razão – ela a mediu com frieza. – Não entendo mesmo.

Vick piscou para ela, talvez tentando demonstrar força ou afugentar uma lagrima e então passou por ela para virar outro corredor.

Érika acordou olhando o teto cinzento e escuro da casa um pouco acabada de Carla. A luz do amanhecer invadia uma das janelas quebradas, dando mais uma aparência normal para o lugar.

Ela se remexeu na colcha e olhou ao lado de onde se deitava na cama. Estava vazio. Carla não estava ali. A coberta que elas ambas tinham compartilhado atirada no meio da cama de forma relaxada.

Érika se sentou e coçou os olhos para visualizar seu reflexo no espelho do outro lado do quarto, acima da escrivaninha de Carla. Seu cabelo loiro estava um caos e ela tinha certeza que estava com um hálito péssimo.

Decidiu então colocar um pé para fora da cama e começou a andar pelo piso de madeira de forma arrastada. Abriu a porta do quarto e procurou o banheiro no fim do corredor. Esperava que estivesse vazio, mas passos antes de chegar nele, escutou o chiado da agua caindo no chuveiro. Pensou então em chegar e bater na porta e pedir para Carla ir logo.

Mas quando chegou até o final do corredor teve uma visão inesperada.

O banheiro não tinha porta e parte da parede que deveria contorna-la estava quebrada – de forma que a visão do banheiro ficava clara e à vista.

Antes que pudesse se impedir, Érika coçou os olhos outra vez e aguçou a visão perfeita que agora tinha adquirido. Atrás de todo o vapor da água quente, Carla se banhava. A agua se derramando no cabelo dela e descendo por todo o seu corpo nu.

Érika notou que a Loba era bem encorpada de costas, tinha uma silhueta que ganhava bastante forma dos ombros até a cintura, deixando as pernas elegantes para o final. Seus braços pareciam ser discretamente musculosos, mas também macios na pele de marfim.

Quando Carla jogou o cabelo para trás, derramando um monte de água, Érika enfim acordou do transe e se remexeu no corredor. O que diabos ela estava fazendo ali?

De repente, a porta da sala no andar abaixo rangeu e ambas, tanto Érika quanto Carla conseguiram ouvir. Érika olhou para baixo e depois para Carla, que agora a encarava também no meio do vapor.

– Alguém em casa? – gritaram duas vozes conhecidas e logo Érika voou correndo para o andar de baixo, se perguntando o que diabos tinha acontecido ali.

Rafa se escondeu atrás de uma das paredes na entrada do ginásio de natação. Ele sabia que se chegasse mais perto não correria o risco de alguém ver ele, mas é que dali ele meio que já tinha uma visão perfeita.

Visão perfeita de seu namorado.

Roberto estava com a sunga de natação, acompanhando os outros integrantes do time, rindo de alguma piada sobre cloro e falando mal de algum bronzeado de um dos nadadores.

Todos tinham os músculos do abdômen bem definidos ali, mas Rafa – por incrível que se pareça – não conseguia se concentrar em nenhum deles. Só no do namorado.

Ali estava ele, alto, loiro e sorridente enquanto se divertia com os amigos e empurrava alguns de seus parceiros para dentro da piscina. Uma visão um pouco diferente da de ontem.

Depois de ter chegado na escola e ter visto Rafa com Fernando, os dois sentados, ele tinha assumido uma expressão meio enrijecida, como se não soubesse o que dizer ou o que falar. Estava evidente que ele estava com ciúmes.

Mais tarde, os dois tinham combinado de irem para a casa de Roberto e Rafa tinha certeza absoluta que ele iria querer abordar o assunto. Já não era desconfortável ter que ver Fernando, agora ele tinha que abordar assuntos com ele com seu namorado?

– Vendo algo de interessante?

Rafa se virou levemente para trás e Taffara o encarava de braços cruzados, a expressão maliciosa e os olhos apertados para ele da mesma forma de sempre.

– Bu? – ela riu da cara dele. – O que esta fazendo aqui garanhão? É um novo hobby gay ou algo do tipo?

Rafa suspirou.

– Se isso fosse considerado um hobby eu diria que me tirar a paciência seria um passatempo seu, Taff – ele retrucou.

– Ah, não seria nada ruim – ela comentou pensativa. – Afazeres da agenda de hoje: Irritar o Rafa. Irritar o Rafa. E, olha só, irritar o Rafa.

Ele revirou os olhos.

– Que merda você esta querendo comigo agora? Esta me seguindo, é?

– Por favor, eu tenho vida – ela bufou e se moveu para olhar alguém na piscina. – Eu tenho um alvo hoje.

– Grande novidade – Rafa cuspiu. – Garota, você só sabe fazer o mal pras pessoas. Desconfio severamente que você é uma Bruxa de noventa anos que encontrou a maldade como um meio para conseguir ficar jovem.

– Também acho – Taffara sorriu e tocou o próprio rosto. – Já consigo sentir minha pele ficando brilhante – nesse momento o celular dela apitou e ela olhou a tela. – Yes! – ela realmente deu pulinhos de alegria, de saia e tudo.

– Que foi? Estão vendendo a roupa original que a Regina George usa no filme Garotas Malvadas no E-bay? – ele provocou.

– Aham – a garota respondeu com ironia. – E moa aqui fechou a compra – ela riu alto.

Rafa a encarou com suspeita, sabendo que esse era o jeito dela. Usar o sarcasmo para conseguir fingir as coisas. Era obvio que ela estava tramando algo, e Rafa dava graças a Deus para que não fosse com ele.

– Vou buscar a roupa – Taffara girou nos calcanhares. – Não morra antes de eu voltar.

Rafa engoliu em seco e a encarou desfilar. Até que ela se virou com tudo e olhou para ele com astucia.

– E de um babador a ele.

Ele se virou para ver de quem ela falava e viu Roberto na beira da piscina, sentado, olhando para ele com uma expressão estranha.

Rafa ergueu a mão para ele, mas ele se jogou na piscina rapidamente, deixando ele no vácuo.

– Vocês não deviam estar na escola? – Carla perguntou enquanto se sentava no sofá da sala um pouco escuro e secava o cabelo em uma toalha prestativa.

Eduardo e Fernando se entreolharam, um pouco cumplices. A segurança da Vallywood High School era realmente decepcionante, se bem que de nada as câmeras poderiam fazer a respeito de bolas de fogo que vinham de seus pontos cegos.

– Tínhamos sim – Fernando respondeu. – Mas isto aqui é mais importante.

– Isso o que? – Carla bufou. – Irritar uma dama e sua doce Beta que estão tentando ficar longe desse caos da cidade? – ela perguntou e lançou um olhar de soslaio para Érika sentada no topo da escada. O incidente de agora pouco ainda girando na cabeça dela.

– Dama? – Eduardo bufou.

– Doce Beta? – Fernando revirou os olhos.

Érika grunhiu para ele.

– Vocês tem sede de sangue a cada um mês em toda a lua cheia – Edu as encarou. – Não tem nada de doce em vocês.

Carla apenas cruzou e descruzou as pernas, o jeans preto ficando um pouco desconfortável nela.

– Vieram aqui apenas para xingar? Nem precisavam se dar o trabalho, tem algo chamado celular hoje em dia. Serve pra essas coisas.

– Da próxima vez eu vejo a Lista telefônica de criaturas sobrenaturais – Edu procurou um lugar em alguns dos sofás. – Precisamos falar com você sobre algo.

Carla atirou os braços no ar.

– Solta a voz.

Eduardo se aprumou um pouco, olhando Carla com um olhar mais diferente e mais severo.

– O que você pode nos dizer sobre os Atiradores?

Carla deixou a toalha cair no sofá enquanto encarava Eduardo. Seu olhar apenas focava, sem expressão alguma. Ela se levantou uma vez, bem lentamente e começou a andar pela sala, olhando o teto vazio e escuro.

– Eu deveria comprar lâmpadas – ela comentou, parecendo falar consigo mesma. – Não acha, Érika?

A garota na escada encarou confusa, mas também assentiu.

– Acho sim. Essa casa esta muito escura, se eu não fosse loba, nem teria conseguido...

– Responda a pergunta – Fernando questionou em um tom gélido, se movendo até o pé da escada para encarar Carla, e desfocar o olhar dela em Érika.

Carla o encarou também por um tempo e então pegou uma miniatura de cavalo de cerâmica um pouco desgastada enquanto falava.

– Eles usam armas – ela deu de ombros. – Armas servem para atirar e...

– Não brinque conosco – Eduardo gesticulou com um dedo e uma ventania tirou a miniatura de cavalo da mão de Carla, fazendo ela se espatifar no chão. – Queremos respostas. Sabemos que você passou um longo tempo com eles. A força.

– Como sabe disso? – os olhos de Carla estavam vermelhos. Fernando crispou as unhas, ao mesmo tempo que Érika se levantou da escada.

– É só saber conectar – Eduardo era o único sentado e relaxado ali. – Você trabalhava pra Bruxas quando te encontramos, as Bruxas trabalhavam para os Atiradores, algo conectado a eles nos levou até elas.

– E sem falar que você nos ajudou a matar as Bruxas – Fernando acrescentou. – Por que não as matou antes de irmos até você?

– E mais importante – Eduardo a encarou fixamente. – Por quanto tempo estava com elas antes de chegarmos?

Carla olhou primeiro ele, depois olhou Fernando, depois olhou ele de novo. Enfim ela respirou fundo, juntou as duas mãos e voltou para o sofá parecendo decisiva.

– É bom que gostem de histórias – ela levantou a cabeça, seus olhos voltados para a cor normal. – Porque essa vai ser uma e tanto.

– Tá, agora me diz exatamente o que ele disse – Andressa questionava Rafa enquanto os dois iam se sentar no fundo da sala de português.

Rafa revirou os olhos para a caçadora. Pior do que ter que responder as perguntas dela era ter que suportar cada par de olhos da sala os encarando. Rafa já meio que era uma lenda ali, o que não melhorava nada o fato de Andressa ser a caloura que tinha peitado Taffara.

– Ele primeiro perguntou onde você estava – Rafa respondeu, se lembrando de alguns períodos atrás. – Depois quando eu e o Fernando dissemos que não sabíamos, ele ficou apenas um pouco pensativo.

– Pensativo? E o que ele pensava? – ela questionou.

Rafa a olhou, atônito.

– Eu sei lá? Eu não leio pensamentos!

Andressa suspirou e então começou a roer a unha.

– Aposto que ele deve estar se perguntando onde eu devo estar dormindo.

Rafa assentiu em concordância, mas então franziu a testa.

– Eu também, só pra você saber.

Andressa o olhou de lado por um longo tempo e ele logo entendeu o recado.

– Mas você não precisa contar – ele abafou a mão na frente do rosto. – Sabe, acho melhor eu nem saber.

– Bom mesmo – ela se voltou para ele com tudo. – E aonde me disse que eles foram mesmo?

– Ver a Carla – ele respondeu, mas então pensou por um tempo. – E a Érika – disse pensando no cabelo perfeito e loiro dela. – Aposto que devem estar se divertindo.

Só quando ouviu um estalo na carteira de Andressa foi que Rafa se deu conta do que havia dito.

– Eu quis dizer no sentido figurado – ele engoliu em seco. – Nós dois sabemos que a Carla é um pé no saco, não é?

Andressa assentiu em silêncio. No mesmo instante, Vick entrou na sala e se sentou em uma das carteiras da frente. Ambos Rafa e Dessa pararam para olhar enquanto, logo atrás dela, Lucas entrava afobado, o olhar preso no rosto da garota.

– Vick – sua voz era insistente ao parar na frente da carteira da garota. – Vick, por favor, fala comigo.

Mas a garota continuava a olhar para frente, desviando o rosto de lado quando ele entrava em seu campo de visão.

– Ah, qual é, Vick – seu tom insistente ecoava na sala e chamava a atenção dos outros alunos. – Para com isso, não pode me deixar explicar nada?

Ainda assim ela não respondia, o olhar indo parar na janela onde um caminhão amarelo de escola passava correndo. Lucas suspirou alto, mas não parecia prestes a desistir.

– Ao menos pode me contar por que esta tão brava com isso? – ele aproximou o rosto do dela. – Ou por que essa coisa toda importa tanto para você?

Nos fundos, Andressa cutucou Rafa.

– Está vendo isso? – ela perguntou.

Rafa parou de riscar a mesa e levantou a cabeça para olhar a para frente. Ele suspirou por um momento, mas então assentiu suavemente.

– Ela não esta falando com ele, eu sei – ele voltou seu olhar para a mesa.

Andressa o cutucou novamente.

– E você sabe por quê?

Rafa apenas a olhou de volta e mediu com os olhos.

– Claro que sei – ele então desviou o olhar. – Das duas vezes.

Andressa engoliu em seco.

– Ele te contou? – ela sussurrou ao perguntar.

– Somos melhores amigos – Rafa respondeu solenemente.

Andressa bufou olhando de novo para frente.

– E o que sobra pra mim é ser a puta da história, não é mesmo?

Rafa analisou por alguns segundos.

– Quando você coloca dessa forma... – ele começou, mas um olhar dela o fez parar. – Quer saber, deixa quieto.

– Vick, por favor – Lucas ainda insistia lá na frente, os olhos focados no da garota; ela agora o encarava de volta, mas nada dizia. – Por favor, fala comigo.

– Sr. Lucas Henrique – a professora de português já tinha entrado na sala. – Será que pode se sentar no seu lugar?

– Só um instantinho, prof...

– Senhor Lucas – ela aumentou o tom e a classe riu. Lucas enrubesceu e andou rápido até o seu lugar. – Obrigado – e então iniciou a aula.

Andressa puxou Rafa.

– Por que ela esta tão brava?

Ele apenas deu de ombros.

– Sei lá, ciúmes?

– Mas ela... – Andressa se lembrou de mais cedo. – Ela tem um namorado não tem?

– Tem sim – os olhos de Rafa escureceram. – Um total idiota, mas tem sim.

Andressa sondou o rapaz lentamente.

– Um total idiota, é? – ela questionou. Sabia muito bem o que ele era, ficou evidente desde aquela cena no corredor.

– É – Rafa ergueu os olhos. – Por que quer saber?

Ela apenas deu de ombros.

– Só achei que ela não gostasse muito dela – ela comentou cinicamente. – Ou ao menos não parecesse gostar.

– Ele é um mala sem alça – Rafa respondeu. – Ela merece coisa melhor.

– Tipo quem?

Rafa a olhou pela última vez, parecendo cansado, mas detectou a nota de conhecimento no tom dela.

– Acho que não preciso responder.

– É – Andressa olhou de soslaio para Lucas que se sentava em outra fileira. – Também acho.

– E esse... É o meu quarto.

Rafa adentrou para dentro do cômodo que Roberto tinha indicado um pouquinho de vergonha. Rafa não conseguia bem entender por que até cruzar a porta. Os motivos estavam ali: incontáveis pilhas de livros.

Livros em bancadas, livros em prateleiras, em armários e, se duvidar, livros até debaixo da cama ou na gaveta de cuecas. Livros grandes e médios, em sua maioria. Não tinham muitos livros pequenos além de uma miniatura de um anuário escolar da antiga escola de Roberto.

– Você é bem culto – Rafa observou, tocando a lambada de O Menino do Pijama Listrado enquanto andava pelo quarto.

– Espero que isso seja um bom sinal – Roberto comentou, fungando baixinho.

– Esta de brincadeira? – Rafa sorriu para ele. – Eu não tenho um amigo que consiga ler a placa de PARE inteira... Roberto, você é único!

Enquanto este por sua vez enrubescia, Rafa continuou sua inspeção pelo quarto. Na parede algumas medalhas de torneio de natação e um quadro com fotos de filmes antigos, como Audrey Hepburn. Mas uma moldura na cabeceira da cama bem feita de Roberto atraiu sua atenção.

Ele reconheceu Roberto, mais novo e com o cabelo loiro mais cheio do que nunca. Estava tão fofo com roupas de marinheiro, o chapeuzinho caindo para o lado. Mas ao seu lado estava um garoto de cabelo preto, um pouco parecido com ele, de olhos escuros, fofo da mesma forma, vestido de bombeiro.

– Quem é esse? – Rafa questionou.

Roberto olhou por sobre o ombro dele.

– Meu irmão – ele sorriu.

– Você tem um irmão? – Rafa questionou.

– Ele é mais velho – Roberto ajeitou os óculos ao falar. – Não mora mais por aqui.

– Por quê?

– Coisas – Roberto mordeu o lábio inferior. – Não gosto muito de falar disso. Ele sofreu um acidente.

– Ah – Rafa logo largou a moldura de volta no lugar. – Tudo bem, tudo bem. Não precisamos falar disso – ele sorriu. – Podemos falar do que você quiser.

Roberto apenas sorriu de volta.

– Ele esta bem – ele ajeitou a moldura. – Foi um acidente, mas ele já ficou bem. Não sofreu muito danos.

– Ah, maravilhoso – Rafa assentiu. – Mas ainda podemos falar de qualquer coisa, sabe.

Roberto avaliou seu rosto por um segundo, os olhos verdes parecendo saber exatamente do que ele falava.

– Tudo bem, então – ele se sentou na beira da cama. – Sobre o que você e Taffara estavam falando mais cedo?

Aquela pergunta pegou Rafa de surpresa. Por um minuto ele podia jurar que Roberto ia tocar no assunto sobre Fernando. Ele suspirou, satisfeito e aliviado.

– Nada demais – ele o olhou nos olhos. – Ela estava sendo uma total chata, me provocando como sempre.

– Provocando como?

Rafa revirou os olhos.

– Sendo irônica. Lançando palavras especificas e acusatórias, sabe? – ele perguntou e Roberto assentiu. – Tipo, disse que um dos novos afazeres da lista dela seriam: Irritar o Rafa, irritar o Rafa, irritar o Rafa...

Roberto riu.

– Por que essa garota te odeia tanto?

Rafa congelou no meio do quarto.

– Eu não sei – ele tentou parecer indiferente. – Acho que foi bem antes de você chegar, nunca entendi direito, mas ela disse a todos que não foi com a minha cara.

Roberto parecia pensativo e Rafa torceu para que aquela mentira tivesse funcionado. Se ele soubesse da bagunça toda e dos segredos por trás de todo o ódio de Taffara por ele, era bem capaz de Roberto apoia-la.

– Garota estranha – ele comentou depois de um segundo. – Acho pessoas más chatas.

– Concordo com você – Rafa sorriu para ele e o beijou de leve, puxando ele pela nuca.

Mas para a surpresa dele, Roberto arrancou suas mãos gentilmente.

– Pera aí – ele sorriu, mas seu tom era meio histérico. – Tem outro assunto que eu gostaria de falar com você.

Puta merda, o estomago de Rafa embrulhou enquanto ele esperava.

– Claro – ele tentou não parecer muito perturbado ao concordar. – Você é meu namorado. Eu sou o seu namorado... Su-super certo essa coisa de você querer perguntar coisas.

Roberto sorriu por um segundo, mas então assumiu uma expressão séria enquanto ajeitava os óculos para encarar Rafa nos olhos.

– Bem, lá vai – ele começou. – Você e o Fernando. Eu devo me preocupar com vocês dois? – ele soltou.

Por um segundo Rafa apenas o encarou de volta, o ar tinha fugido de seus pulmões cheio de medo. Mas então ele deu uma risada histérica e bufou audivelmente.

– Claro que não! – ele riu sem nenhum humor. – Claro que não, Roberto!

O outro ainda o analisava de um jeito severo.

– Sério?

– Sério! – Rafa tossiu. – Eu já te disse, eu e Fernando somos só amigos – ele tentava não deixar a voz estremecer. - O que te fez pensar isso?

Roberto ainda o olhava de jeito preocupado, mas então ele suspirou e relaxou os ombros, se remexendo um pouco na cama.

– Sei lá – ele deu de ombros. – É que tem uns momentos, que sei lá – ele riu fracamente. – Ele te olha de um jeito estranho.

Rafa riu de volta a força.

– É porque ele é um total estranho! – ele brincou.

Roberto sorriu um pouco.

– Somos só amigos, sério – Rafa o olhou nos olhos. – Nada mais do que isso, eu nem sequer acho que ele...

Roberto franziu o cenho.

– Que ele o que?

– Que ele joga no time... – Rafa deu de ombros. – Você sabe o que eu quis dizer.

– Ah, sim – Roberto riu fracamente. – Agora entendi – ele pensou por um momento. – É, se eu pensar bem ele não tem mesmo cara disso.

– Pois é! – Rafa assentiu, os ossos tremendo por dentro ao imaginar o rosto de Fernando. – Era isso que estava te preocupando? – ele acrescentou, com inocência.

Roberto fez um barulho com a boca, meio encabulado.

– Sinto muito – ele corou. – É só que, quando ele chega perto de você, eu fico todo inseguro, não sei bem por que.

Rafa revirou os olhos dramaticamente e se aproximou para tocar o rosto dele com as duas mãos.

– Não tem motivos pra sentir isso, ok? – ele beijou sua testa. – Você é o meu namorado, esqueceu?

Os olhos de Roberto se ergueram, brilhantes e confiantes. Um sorriso atravessou sua expressão, o deixando perfeitamente lindo.

– De jeito nenhum – ele pegou uma das mãos de Rafa. – De jeito nenhum. Você me perdoa?

Rafa mordeu o lábio inferior, adorando Roberto naquele momento. A segundos atrás ele o questionava sobre outro, agora pedia desculpas gentilmente, como um cavalheiro.

– Leve isso como resposta.

Ele então o beijou, dessa vez com mais voracidade e vontade do que antes. Roberto tomou suas mãos, mas apenas para se levantar e ficar de frente para ele. Enquanto suas línguas se exploravam, Roberto o empurrou com leveza até a parede, para a surpresa de Rafa, e começou a beijar mais ardentemente.

Rafa tinha as mãos nas costas dele, subindo a camiseta. Roberto por outro lado tocava a cintura dele, puxando ele mais para si de forma que seus corpos se tocavam. Não demorou muito para Rafa tirar a camiseta dele e Roberto tirar a sua.

Dessa vez as coisas estavam mais deliciosas, com Roberto passando uma das pernas de Rafa com a mão, para enlaçar em sua cintura de um jeito sexual. Capoci mal podia acreditar quando ele começou a apertar sua bunda, o que tinha acontecido com o Roberto gentil?

Roberto só parou uma vez, para colocar os óculos em cima de uma pilha de livros, mas voltou rapidamente a beijá-lo, as mãos voltando a apalpar sua partes, enquanto Rafa deixava ele começar a beijar seu pescoço. Ele trilhou beijos desde a base do pescoço até o dorso, usando os lábios carnudos sempre.

Excitado quando ele parou lá embaixo, Rafa desabotoou a calça apertada e abaixou o zíper, deixando as pernas escorregarem até os joelhos. Roberto arregalou os olhos enquanto subia para ficar de frente para ele de novo.

– Tem certeza? – Roberto perguntou, a voz arfante.

Rafa apenas assentiu.

– Mas tão rápido?

– Eu pareço me importar com isso? – Rafa o silenciou com um beijo e Roberto voltou a voracidade de antes.

As coisas pareciam que finalmente iam acontecer enquanto Roberto começava a desabotoar a própria calça, até que um som familiar fez ambos gemerem de ódio. Um celular estava vibrando.

– Só pode estar brincando comigo – Roberto bateu a cabeça na parede atrás de Rafa. – Vai me dizer que é aquele seu grupo de estudos de novo? – ele questionou raivoso.

– Na verdade, acho que é o seu – Rafa murmurou em seu ombro, o corpo enlaçado no dele.

Roberto relutantemente se afastou dele e andou até a cômoda do outro lado do quarto, pegando celular nas mãos para ler alguma mensagem.

– Estranho – Roberto olhou o celular. – Meus pais querem me encontrar no Vallywood Bear?

– Sério? – Rafa guinchou.

– Seríssimo – Roberto ergueu o celular para ele ler a mensagem.

Rafa apertou os olhos depois de ler a mensagem e então suspirou chateado.

– Tem certeza que isso não é uma pequena vingança sua por ontem? – Rafa provocou, pegando na mão dele.

– Bem que eu queria – Roberto o avaliou. – Eu ia gostar muito de continuar isso – ele puxou o cós da cueca de Rafa e depois soltou. – Mas não é vingança.

– Então – Rafa começou a se vestir novamente. – Acho que isso fica pra outro dia, certo?

Roberto balançou a cabeça, os olhos arregalados.

– Pode me esperar aqui, eu não vou demorar pra voltar – ele disse.

Rafa olhou hesitante para a janela.

– Tem certeza? E se alguém me ver...

– Não vai – Roberto sorriu. – Só fique aqui no quarto, prometo que não vou demorar pra voltar. Eles provavelmente só querem conversar.

– E por que não veem pra cá? – Rafa questionou.

– Meus pais são assim – Roberto jogou os braços no alto. – Gostam de resolver coisas com estilo.

– Faz ideia do que eles querem?

– Nenhuma – Roberto balançou a cabeça. – Mas vou saber, em breve – ele então o olhou. – Vai me esperar?

Rafa se deitou no meio da cama em resposta.

– Sei que não tem um Rogério aqui pra me oferecer suco de uva – ele deu de ombros. – Mas aceito, vai.

Roberto sorriu emocionado e o beijou.

– Volto logo – ele começou a colocar a camiseta. – Nem vai conseguir sentir minha falta.

– Acredito em você – Rafa sorriu para ele. – Agora vai, antes que seus pais decidam aparecer por aqui.

– Verdade – ele terminou de calçar os tênis. – Espere por mim – ele mandou um beijo antes de sair e fechar a porta.

Rafa sorriu por um momento, mas então murchou ao se virar na cama. Sentia que ia ser um loooooongo tempo de espera.

***

Como tinha previsto, Roberto iria demorar a voltar. Já tinham passado trinta minutos no relógio de madeira pendurado na parede da sala. Ele bem que queria ter ficado quietinho, no quarto, esperando seu namorado, mas não conseguia. Estava na cara que ele não iria voltar.

Rafa tinha percebido a ironia daquela situação toda. Roberto tinha que sair justo no momento em que os dois se pegavam, assim como Rafa na véspera, que também teve que sair.

Chegava até ser engraçado.

Mas só então ao pensar nisso a ficha dele pareceu cair. Rafa tinha sido chamado para ser pego em uma emboscada por Leticia. Ela o tinha prendido na escola e por isso ele não conseguira voltar.

E se Roberto...?

Justo no momento em que seu raciocínio seguia uma linha, Rafa ouviu um palavrão baixo no lado de fora da casa. Ele se levantou e olhou por entre as cortinas da sala o jardim impecável na frente da casa. Parecia vazio á primeira vista, mas Rafa viu uma sombra jogada no chão. Era um garoto.

Ele rapidamente saiu pela porta da frente e foi ajudar o estranho.

– Ei, precisa de ajuda? – ele perguntou.

Por incrível que pareça, o estranho não se moveu um músculo e Rafa logo entrou em um pânico silencioso.

– Ei, esta tudo bem? Você se machucou?

– Não – o estranho se sentou e Rafa pode ver seu rosto. Um rosto que ele conhecia muito bem.

– Rael? – ele guinchou, avaliando o ex-namorado atirado na grama. – O que esta fazendo aqui?

Ele o avaliou enquanto ele ajeitava a franja escura. Usava calça cargo e uma camiseta preta com pontos brancos quase invisíveis. O par de tênis vermelho-escuro. Rafa o olhou com mais atenção e notou uma câmera presa em uma alça no pescoço dele. A alça fazia a câmera pender em seu peitoril.

– Anda, responde a pergunta – Rafa questionou quando Rael apenas engoliu em seco e desviou o olhar. – O que você esta fazendo aqui, Rael?

– Nada – ele começou a se levantar, limpando a calça. – Não estou fazendo nada.

– Mesmo? – Rafa cruzou os braços. – E essa câmera aí? – ele apontou e Rael perdeu a cor do rosto.

– É só uma câmera – ele bufou. – Serve para tirar fotos, sabia?

– Não se faça de engraçadinho – Rafa revirou os olhos. – Sabe que nunca foi muito bom nisso.

O ex-namorado o encarou com um pouco de ressentimento.

– Por que tudo sempre tem que ter alguma coisa com você?

Rafa foi um pouco para trás, surpreso pelo tom dele.

– Você fica aí, soltando veneno toda vez que eu apareço – Rael continuou. – Já parou pra pensar que eu nem estou querendo nada com você? Que eu possa estar aqui por pura coincidência?

– Pura coincidência, sei – Rafa bufou. – Justo aqui? Logo onde eu estou?

Rael cruzou os braços em resposta.

– E eu lá ia saber que você ia fazer uma visita ao Roberto?

Rafa engoliu em seco, se dando conta do que tinha falado.

– Não é minha culpa que você esteja aqui na mesma hora que eu – Rael continuou falando. – Moramos na mesma cidade, Capoci! Aceita isso.

– Tá, mas o que esta fazendo aqui no jardim do Roberto? – ele questionou. – Por acaso vai me dizer que foi coincidência também?

Dessa vez Rael hesitou e Rafa soltou um riso de escarnio.

– Eu sabia que estava muito bom pra ser verdade.

E então, para sua surpresa, Rael se virou e começou a correr dali. Praticamente saltando para escapar do jardim de Roberto, a câmera sacudindo na frente do corpo.

Aturdido com a covardia do ex-namorado, Rafa começou a sentir um desconforto no estomago. Tinha algo errado. Por que Rael estava bem ali?

Surpreso demais por um dia só, Rafa se virou para entrar na casa e pegou sua mochila que tinha descido para a sala. Um pouco arrependido, ele deu uma última olhada para casa, triste por não conseguir esperar tempo o suficiente por Roberto.

– Eu estou quase dormindo aqui – Fernando provocou no canto da sala.

– Cala a boca, mané – Érika o olhou irritada. Agora estava sentada ao lado de Carla no sofá, os joelhos dobrados até o queixo. – Pode começar.

Carla assentiu e se virou para Eduardo de forma profunda, se preparando para contar sua história.

– Se tem uma coisa que você precisa saber sobre os Atiradores, é que eles são divididos em dois grupos – ela começou a explicar, os olhos sobre a mesa de centro acabada no meio da sala. – O grupo A e B.

– Grupo A e B? – Eduardo repetiu. – Por que precisam separar, não são todos Atiradores de Elite?

– São sim – Carla assentiu. – Mas apenas alguns deles não usam apenas armas.

– Espera – Fernando se intrometeu levantando um dedo. – Eles não usam apenas armas?

– Apenas alguns deles – ela repetiu. – E é por isso que alguns deles, quando estão em alguma missão, assumem a linha de frente. Por causa de suas habilidades extras com outros tipos de armas.

– Que outros tipos de armas? – Érika quis saber.

– Adagas, espadas, bazucas, bastões – ela deu de ombros. – Qualquer tipo de arma mesmo. Esses que conseguem manejar todos esses tipos de armas são o Grupo B.

– E o grupo A? Eles conseguem usar esses tipos de armas também?

– Conseguir eles conseguem – Carla assentiu. – Mas não são tão bons quanto os do tipo B. Eles conseguem manejar, mas preferem mais usarem armas mesmo na hora H.

– Espera aí – Fernando parecia impaciente. – Você nos disse sobre eles serem divididos em grupos, mas não disse do que queremos saber. O que os Atiradores queriam com você? E o que você fazia com aquelas Bruxas?

Carla franziu os lábios, um pouco pensativa, os olhos um pouco mais escuros.

– Bem, é uma história complicada – ela tomou folego. – Na primeira vez que vi os Atiradores, eu estava prestes a passar pela minha quinta vez na Lua Cheia. Estava nessa casa mesmo, no porão, achando que isso seria o suficiente para me prender no quarto. Mas acontece que eu me enganei... Perdi o controle total e corri pela floresta, quase entrando pela cidade, até que dopei com eles.

– Os Atiradores? – a voz de Érika era um sussurro.

– Sim – Carla fez que sim com a cabeça. – Quando os vi com armas e tudo logo pensei que se tratassem de caçadores de Lobisomens, essa tinha sido minha primeira impressão. Mas então depois de eles conseguirem me pegar e me levarem para Carolina, foi que entendi tudo. Eles eram mais do que caçadores, eram mercenários. Trabalhavam por um motivo bem óbvio.

– Dinheiro – Eduardo adivinhou.

– Exatamente. Ao que parece eles precisam de dinheiro e um lugar para ficarem. São assassinos de elite e precisam do dinheiro, o que os leva a fazer tudo que ela manda. De certa forma, elas os banca.

– E quanto as Bruxas? – Fernando questionou. – Elas também precisam de dinheiro e estabilidade?

– As bruxas são um caso um pouco mais delicado, ou não, se depender um pouco do seu ponto de vista. Vocês notaram que elas não eram Bruxas comuns?

– Sim – Eduardo olhou vagamente para fora da janela. – Tinham olhos todo branco e pareciam possuídas.

– Isso mesmo. Aquelas Bruxas pertencem a um Clã Denali, que foi amaldiçoado por um clã vizinho.

– Que tipo de maldição? – perguntou Érika.

– Todo descendente da linhagem Denali de Bruxos ou Bruxas que chegar aos dezoito anos vai sucumbir à maldição de perder sua arma e se deixar levar por seu instinto. Basicamente se transforma em uma maquina de magia e guerra.

Érika estremeceu um pouco, Fernando tinha uma expressão indecifrável.

– E o que elas faziam com você?

– Os Atiradores me jogaram para elas – ela explicou, baixando o olhar. – Uma delas me enfeitiçou. Não lembro bem do que fiz para elas agora que a Bruxa que me compeliu morreu, graças a vocês – ela deu um sorriso rápido de agradecimento. – Mas acho que me usavam pra vigiar aquela reserva para elas.

– O que tinha naquela reserva? – Fernando questionou.

– Eu já disse, não lembro – Carla respondeu. – Um ou dois dias depois eu teria me lembrado um pouco, mas agora faz quase uma semana e minhas lembranças sumiram por completo. Não me lembro de quase nada daquele tempo com elas.

Érika se virou de lado para ela.

– Por quanto tempo ficou com elas?

– Eu também não sei – sua voz mal passava de um sussurro. – Elas não apagaram só o meu tempo com elas quando morreram. Apagaram parte da minha vida, minha infância.

– Quer dizer que também não se lembra quem são seus pais?

Carla assentiu.

– Espera, mas como sabe sobre essa coisa de Grupo A e B?

– Quando invadimos ontem eu conseguir ouvir várias conversas na base – ela explicou. – E também ouvi algo sobre uma possível invasão deles na semana que vem.

– Onde? – Eduardo se atirou um pouco para frente.

– Eu não sei, não ouvi direito.

Fernando e Eduardo suspiraram ao mesmo tempo e se entreolharam com tensão.

– Consegui responder a todas as perguntas de vocês?

– Em parte – Fernando concordou, fazendo que sim com a cabeça.

– Não que seja da minha conta – Érika os encarou. – Mas por que esse interesse repentino neles? Pretendem invadir aquele lugar de novo?

– Não somos loucos – Eduardo respondeu com acidez. – Mas gostaríamos de saber principalmente por que um bando de mercenário como eles iriam querer com o Triscele.

Carla levantou a cabeça.

– Essa é fácil – ela riu. – Poder.

– É, isso eu sei. Mas poder para quem? Para Carolina? Para os Atiradores?

Carla distanciou o olhar, fazendo um esforço para se lembrar, mas sua mente escureceu como um borrão enorme. Érika tocou o ombro da Alfa em solidariedade, enquanto Fernando e Eduardo encaravam um ao outro.

Ambos a procura de respostas.

Quando chegou em casa, Rafa encontro Rogério esparramado no sofá da sala, assistindo a um canal sobre motos e carros. Parecia bastante concentrado, mas quando notou Rafa subindo as escadas, se virou com tudo.

– Ei, já voltou? – ele questionou. – Achei que você e o Roberto iam selar o acordo hoje.

Íamos – ele respondeu sem vontade alguma. – Só que ele recebeu uma mensagem dos pais dele e teve que ir.

– Que chato – Rogério falou sem ironia, parecia ter percebido o humor sombrio do irmão. – Quem sabe na próxima?

– É, quem sabe – Rafa suspirou, mas então o encarou. – Ei, você não contou a ninguém sobre...

– Sobre você e ele? – uma sugestão de sorriso apareceu no canto do lábio de Rogério. – Não esquenta cara, eu entendo essas coisas complicadas de ter que sair do armário. Lembra que eu nem contei quando descobri sobre você?

– Lembro sim – Rafa sorriu. – Obrigado por aquilo, Roger.

– Não agradeça – ele bufou. – Sabia que eu estava a um passo de correr para a imprensa no dia em que você se assumiu?

Rafa apenas revirou os olhos para o irmão enquanto começava a subir as escadas. Sabia muito bem quando ele começava a levar tudo na brincadeira.

– Eu ia mandar um e-mail – ele ameaçava logo atrás. – E fotos! Fotos, Rafa, fotos!

Chegando no quarto, Rafa pegou o celular do bolso deslizou pela tela, entediado. Ainda nenhuma nova mensagem, ele observou. Será que Roberto realmente não podia falar com ele ou simplesmente não tinha chegado ainda?

Ele se lembrou da expressão dele antes de sair do próprio quarto e pode ouvir a promessa escapando dos lábios dele. Será que ele cumpriria com sua promessa? Será que tinha voltado agora pouco e encontrado a casa vazia, sem Rafa e ninguém?

Um guincho no segundo andar interrompeu o ritmo de seus pensamentos.

– Eeeeeei, viado – Rogério chamava. – Tem visita pra você!

O coração de Rafa deu um salto e depois se encheu de alivio. Pelo visto Roberto realmente tinha cumprido com suas palavras, ele pensou enquanto descia da cama e quicava na escada até o segundo andar.

Ele atravessou a sala e esperou encontrar os olhos verdes de Roberto. Mas então seus olhos focaram duas coisas bem diferentes paradas na soleira.

– Lucas? Vick? – ele olhou de um para o outro com desconfiança. – O que estão fazendo aqui? – E ainda mais juntos?, ele quis acrescentar.

– Precisamos te contar uma coisa – Lucas avisou o olhando nos olhos.

– Tem algo de muito errado acontecendo – Vick assentiu, parecendo nutrir da mesma tensão que o outro.

Rafa trocou um olhar sério com os dois enquanto Rogério, que estava de canto observando a cena toda percebia toda a tensão.

– Oh, não – ele tentou soar engraçado. – Quem morreu?

Ambos Lucas e Vick olharam para o garoto de um jeito bem sério.

– Roger – Rafa girou nos calcanhares. – Por que não sobe pro seu quarto?

– O que? – o mais novo guinchou. – Não pode estar falando sério!

– Estou – Rafa cruzou os braços. – Suba agora pro seu quarto.

Rogério apenas o mediu de cima a baixo.

– Tá, eu subo – ele se levantou, mas então apontou para os seus braços cruzados. – Mas isso é ridículo. Você é péssimo interpretando a mamãe, saiba disso.

Rafa ignorou a provocação do mais novo e ofereceu os lugares nos sofás para os dois amigos enquanto fechava a porta.

– E então – ele se sentou de frente para os dois. – O que esta acontecendo?

– É mais para o que aconteceu – Vick comentou, trocando um olhar com Lucas. – Nós vimos Taffara conversando com Rael.

Rafa demorou um segundo para digerir a noticia.

– Ok – ele esperou. – E?

– E daí que eles conversavam – Lucas guinchou. – Dentro do carro dela.

– Tá, gente e daí? – Rafa deu de ombros, menos tenso. – Eles moram na mesma rua, é normal eles se falarem.

– É, mas pareciam falar bem baixo – Vick comentou. – E mais, quando nos viram, começaram a disfarçar e Taffara pediu pra ele começar a andar com o carro.

Rafa foi um pouco para trás.

– Tá, isso foi estranho – ele assentiu. – O que acham que pode estar acontecendo?

– Não sabemos, mas eu vi Rael entregando a ela uma câmera – Lucas falou.

Um arrepio percorreu os braços de Rafa.

– Oh, não.

– O que foi? – Vick questionou.

– Mais cedo eu estava na casa do Roberto – Rafa comentou. – E peguei o Rael no jardim, com uma câmera.

– Sério? – os olhos de Lucas se arregalaram.

– Sério. Ele não quis me dizer bem o que estava fazendo ali, mas suspeito agora que estava me seguindo.

– Te seguindo? Por quê?

– Eu não sei – ele deu de ombros. – Mas ele definitivamente estava e ficou tentando me convencer que era uma coincidência estarmos os dois ali.

Lucas ficou um pouco pensativo, mas então franziu a testa.

– Espera um pouco, o que você estava fazendo na casa do Roberto?

Rafa tentou parecer indiferente enquanto Vick franzia a testa e o olhava confusa também.

– Nada – ele fez o que pode para parecer natural. – Só fui com ele pra lá depois da escola.

– E por que fez isso? – Vick questionou.

Rafa olhou de um para o outro, pensando em uma maneira de escapar.

– Não me venham com essa – ele engoliu em seco. – Quando foi que vocês dois começaram a se falar de novo?

Lucas e Vick se olharam rapidamente e então se remexeram desconfortáveis no sofá.

– Não voltamos – a voz de Vick era dura.

– Ah, sei, e o que estavam fazendo juntos?

– Nós nos esbarramos – Lucas respondeu. – Literalmente.

Rafa olhou de um para o outro. Ambos pareciam um pouco receosos por estarem lado a lado. Será que estavam falando a verdade?

Ele se lembrou da ignorância de Vick na sala mais cedo e tentou encontrar a mesma tensão e a mesma hostilidade entre os dois ali sentados no sofá.

– Enfim, não sei o que Taffara e Rael poderiam querer um com o outro – Lucas soltou para disfarçar. – Mas temos certeza do que vimos.

– Isso é verdade – Vick concordou. – Eles pareciam tramar algo.

Rafa agora pesava as possibilidades e algo em sua mente tentava se arrastar. Algo sobre Rael estar ser visto por ele na frente da casa de Roberto e depois dentro do carro com Taffara não parecia soar bem.

Agora tinha certeza, eles estavam armando mesmo algo. Eles só não sabiam o que podia ser.

– Bem, eu vou pensar nisso – ele começou a se levantar. – Aceitam café ou algo?

– Não – Vick recusou educadamente.

– Mas é claro – Lucas sorriu. – Ainda tem torta que sua mãe fez semana passada?

Rafa o olhou de lado.

– Como sabe que ela fez torta?

O amigo apenas revirou os olhos.

– Sua mãe esta sempre fazendo tortas.

– É verdade – Rafa concordou depois de um segundo de incredulidade.

Ele se retirou da sala para a cozinha enquanto Vick franzia a testa para os dois, tentando permanecer de fora de qualquer conversa que envolvesse profundamente Lucas.

O Microondas zumbia com o burrito de Rogério que rodava dentro de forma lenta. Rafa estava prestes a tocar na porta da geladeira quando de repente ouviu um pequeno baque vindo da porta que dava para o porão da casa.

Ele se aproximou da porta branca e pensou ouvir alguém xingar baixinho. Suas mãos se agitaram sobre a maçaneta ao pensar que podia ser Rael, mas quando ele abriu a porta em seu máximo, quase morreu de susto.

– O que você esta fazendo aqui?

– Cala boca, Caubói – Andressa se atirou na frente dele para fazer com que ele ficasse quieto. – Quer que descubram que eu estou aqui?

– Quem? – Rafa perguntou, atordoado demais.

– Seu irmão, seus amigos – ela respondeu olhando por sobre o ombro dele. – Ninguém pode saber que eu estou aqui. Fale baixo, por favor.

Rafa concordou, buscando controlar a respiração, mas então quando ficou calmo ele espremeu os olhos para ela.

– O que esta fazendo aqui na minha casa?

Andressa hesitou por um segundo e olhou para dentro do porão com a luz apagada.

– Nada – ela engoliu em seco ao responder.

Ele a avaliou por alguns segundos, notando algumas marcas no rosto, o cabelo preto todo bagunçado e os pés descalços no piso de linóleo da cozinha.

– Espera um pouco – ele acabou elevando a voz e ela lhe lançou um olhar de raiva. – Desculpa – ele prosseguiu mais baixo. – Você vem dormindo na minha casa?

Andressa coçou a cabeça parecendo embaraçada.

– No porão, pra ser mais exato.

– No po... – ele se refreou, fechando os punhos. – Andressa, que diabos pensa que esta fazendo? Não pode dormir aqui!

– Eu não quero dormir com os meninos – ela reclamou.

– Por quê? Você vem dormindo com eles a vida inteira.

– Isso não quer dizer que eu goste disso.

Rafa queria dizer mais alguma coisa, mas seu celular em seu bolso começou a vibrar. Ele olhou a tela, ROBERTO CHAMANDO e seu coração pulou de alegria.

– Não saia daqui – ele avisou andando para a sala.

Ao chegar na sala, ele atendeu, com Lucas e Vick o encarando confusos.

– Roberto? – ele chamou.

Rafa... – o outro chamou de volta. – Rafa, eu preciso falar com você, algo aconteceu Rafa.

– Roberto, calma – o tom dele estava bem alterado. – Onde você esta? Você voltou para casa?

Voltei – Roberto fungou.

– Voltou quando? – Rafa notou algo. – Roberto você esta chorando?

Um ruído que só poderia ser interpretado como choro ecoou do outro lado da linha em resposta. Lucas e Vick olhavam Rafa com preocupação.

– Roberto – ele chamou de novo. – O que foi? O que aconteceu?

Eles sabem.

Só de ouvir aquelas duas palavras Rafa sentiu um calafrio percorrer sua espinha. De repente toda a casa parecia ter caído em silêncio mortal com ele.

Mesmo sabendo do que se tratava, ele se forçou a perguntar:

– Eles quem?

– Meus pais – Roberto fungou enquanto respondia. – Eles sabem sobre mim e você.

***

O silêncio era predominante na sala enquanto Rafa escutava o choro de seu namorado ecoar do outro lado da linha. A casa estava silenciosa enquanto Lucas e Vick se calavam, de forma que se podia ouvir o choro dele ecoar pelas paredes.

Os pais deles sabiam, Rafa raciocinou consigo mesmo. Os pais de Roberto sabiam sobre ele e Rafa. Como sabiam? Será que tinham entrado na casa enquanto eles se pegavam?

Tentando conter o fluxo de perguntas na cabeça, Rafa se voltou para o celular.

– Roberto, fique calmo – ele pediu. – Me explique detalhadamente o que aconteceu.

O outro só conseguiu chorar ainda mais do outro lado da linha. Rafa retorceu o próprio rosto enquanto escutava a dor na voz do namorado.

– Rafa? – Vick se levantou do sofá. – Rafa o que esta acontecendo?

Ele apenas a encarou um pouco e depois balançou a cabeça, as palavras fugindo a sua mente ao escutar o choro do outro lado da linha.

– Roberto – ele tentou exigir com delicadeza. – Por favor, me explica o que esta acontecendo.

Ele parecia tentar se acalmar, mas Rafa ainda podia ouvi-lo fungar um pouco.

Eu fui até o Vallywood Bear depois daquela hora com você – ele começou tentando controlar o tom. – Cheguei lá esperando encontrar meus pais, só que... Eles não estavam lá. Eu decidi sair dali, mas uma garçonete me parou e perguntou se meu nome era Roberto. Eu disse que sim.

Rafa se sentou calmamente no sofá, escutando.

Ela então disse que uma garota tinha deixado uma encomenda para mim e foi correndo buscar – a voz dele começou a tremer um pouco. – Quando voltou me entregou uma caixa rosa e saiu dali correndo. Eu abri a caixa e... Eu abri a caixa e...

– Continue – Rafa exigiu, tentando se manter forte.

Tudo bem – ele o ouviu suspirar. – Eu abri a caixa e tinham várias fotos minhas com você, indo até a sua casa de mãos dadas e outras minhas com você no seu quarto.

Rafa ficou em silêncio, o estomago roncando e não de fome.

Havia outras fotos, de hoje mesmo. Dessa vez de nós dois na frente da minha casa e depois no meu quarto – houve uma pausa breve. – No começo eu me perguntei se era uma brincadeira. Até me perguntei se tinha sido você, mas então eu vi a nota.

Rafa respirou fundo, se preparando para outra bomba.

– O que dizia a nota? – ele perguntou quase de má vontade.

– Dizia: Fiz várias cópias dessas fotos. Algumas estão comigo. Outras acabam de ser entregues aos seus pais.

Ele quase teve vontade de atirar o celular longe na parede do outro lado da sala.

Eu fui pra casa, achando que devia ser uma brincadeira bem idiota. Mas tinha essas fotos, e eu não parava de ficar olhando elas, me perguntando se era possível. E aí, quando cheguei em casa, meus pais estavam me esperando.

– Rafa, o que foi? – Lucas perguntou. – Por que Roberto esta chorando?

Mas ele não respondeu, apenas se virou de costas para o amigo.

– Eles me perguntaram sobre as fotos e eu tive que falar a verdade Rafa, não teve mais jeito. Eu tive que contar toda verdade. Que eu gosto de você, que eu e você estávamos namorando.

Rafa engoliu em seco com o ‘estávamos’ na frase.

– E o que eles disseram? – perguntou.

Eles me proibiram de te ver Rafa – o choro retornou. – Vão me mudar de escola e me trancar em casa até que me aceitem em outra.

Rafa mal sabia o que dizer, o celular parecia ter se petrificado em sua orelha, querendo ouvir a voz de Roberto mais agora do que nunca.

– Eles o que? – ele sussurrou e sentiu sua garganta se fechar.

Sinto muito Rafa – sua voz já decretava o final. – Mas isso é um adeus.

E então ele desligou. Rafa olhou para a tela do celular sem expressão enquanto ela avisava CHAMADA ENCERRADA.

– Rafa o que houve? – Vick se aproximou primeiro. – O que aconteceu com o Roberto?

Ele a olhou pensando em não responder, mas mudou de ideia. Que se dane de uma vez.

– Os pais de Roberto descobriram sobre eu e ele.

Lucas se remexeu.

– Você e ele? – ele questionou. – Como assim você e ele?

Rafa apenas lançou um olhar de obviedade para ele em resposta.

– Aí meu Deus – o amigo levou à mão a boca. – Vocês dois? Desde quando?

– Espera, ele é seu namorado? – Vick questionou.

– Não tenho tempo pra isso – Rafa revirou os olhos para os dois. – Eu tenho que ir ver ele.

– O que? Por quê?

– Os pais dele querem mandar ele embora – Rafa grunhiu. – Eu não posso deixar eles fazerem isso.

Lucas e Vick se olharam em choque, mas não foi nenhum dos dois que arfaram na soleira da cozinha.

– Isso é terrível – Andressa passava a mão no rosto.

Lucas arregalou os olhos.

– O que você esta fazendo aqui?

Vick olhou de Andressa para Rafa.

– O que ela esta fazendo aqui?

Andressa apenas olhou Rafa com superioridade.

– O que esses dois estão fazendo aqui?

Mas Rafa não respondeu nenhum deles e agitou as mãos ao se levantar.

– Eu não tenho tempo para isso, tenho que ver o Roberto.

– Vou com você – Andressa nem pediu.

– Eu também – Lucas exigiu.

– E eu também – Vick seguiu sem exemplo.

Rafa apenas os encarou sem expressão alguma, abalado demais para dizer qualquer coisa sarcástica por ter que entrar no mesmo carro que aquele triangulo amoroso ambulante.

– Tudo bem, mas vou logo avisando – ele começou. – Nós não vamos entrar na casa dele. Nós vamos invadir.

Fernando analisava a estrutura cheia de rachaduras da casa de Carla enquanto esperava Eduardo agradecer a Carla pelas informações “uteis” que ela tinha cedido sobre os Atiradores.

Algumas rachaduras se pareciam com mãos enormes crescendo no teto, outras vinham acompanhadas de teias de aranha e pareciam desabar a qualquer momento.

Tudo bem que a casa temporária de Edu, Dessa e dele não fosse lá essas coisas, mas ele tinha certeza que aquele breu de esconderijo não era politicamente correto de se viver – ou de permanecer em pé.

– Senso de curiosidade?

Fernando baixou os olhos e Érika o olhava com um ar divertido. O cabelo loiro estava trançado e os olhos azuis pareciam felinos ao avalia-lo.

– Senso de preservação – Fernando retrucou. – Como essa coisa acabada ainda pode ser chamada de casa?

Érika deu de ombros, cruzou os braços e se recostou no batente.

– Não a condene tanto, tem seu charme.

Fernando riu secamente.

– Oh, se tem – ele ironizou.

A loira pendeu a cabeça de lado.

– Por acaso a sua é melhor? – questionou.

– Basicamente – ele chutou o piso de leve. – Ao menos dá pra se viver nela. E uma chuva não detonaria o telhado de uma vez só!

– Como você é ruim, hein Fernando!

Ele apontou para o próprio peito.

– Eu ruim? – ele riu. – E essa casa? Ela não é? Ao menos eu tenho senso de humor, e essa casa o que tem?

– Garotas – Érika ergueu uma sobrancelha provocativa. – Serve?

Fernando abriu a boca para responder, mas então não soube o que dizer a ela. Érika agora arrancava um dos botões da camiseta de linho branco.

– Sabia que tomamos banho em um banheiro sem porta? – ela informou com malicia.

– Ah, bom saber – Fernando a mediu com os olhos.

Érika riu alto, atraindo uma vez os olhares de Edu e Carla que ainda conversavam.

– Se quiser um dia passar pra tomar banho aqui – ela deu de ombros e se aproximou um pouco mais dele. – O convite é livre.

Fernando assentiu.

– Isso quer dizer que eu posso chamar o Edu?

O sorriso de Érika alargou.

– Quem você quiser.

– E o Rafa?

– Quem você quiser.

– E a Andressa?

– Quem você-

Ela congelou, o sorrio sumindo do rosto ao medir Fernando com os olhos.

– Pra que tanta gente assim? – ela questionou com ironia.

Fernando deu de ombros, com um ar divertido.

– Você disse que o convite era livre.

Érika sorriu parecendo meio chateada e Fernando retribuiu o sorriso polidamente. Mas ao olhar por sobre o ombro dela ele notou que Carla ainda os encarava desde a risada da garota.

E podia jurar que os olhos tinham ficado vermelhos por um tempo.

– Siga com o plano – Andressa avisou Lucas com um último olhar quando eles pararam na frente da casa de Roberto.

– Tudo bem – o garoto respondeu olhando ela intensamente. – Eu vou seguir não se preocupa com isso.

Andressa assentiu, mas ele continuou a encarando.

– Que foi? – ela questionou.

Lucas apenas piscou, parecendo acordar de um transe.

– Nada não.

– Então vai – ela praticamente o empurrou para ir. – E siga com o plano!

– Tá! – ele guinchou de volta.

Andressa respirou fundo e lançou um olhar para os arbustos nas laterais do jardim de Roberto. Ela conseguia distinguir Rafa e Vick agachados, aguardando o papel de Lucas.

– Acha que vai funcionar? – Vick agora perguntava baixinho a Rafa.

Ele apenas deu de ombros.

– O que importa é que eles apenas causem uma distração – Rafa respondeu. – Assim eu posso entrar pelos fundos sem que me notem.

Vick sorriu apreensiva, mas Rafa nem sequer moveu um musculo do rosto.

– Rafa, você esta bem? – ela perguntou timidamente.

Ela a olhou de lado.

– Estou aqui pra impedir os pais do meu namorado de levarem ele embora – ele a olhou de lado. – Como acha que eu estou?

Vick engoliu em seco e se afastou um pouco.

– Só estava tentando aliviar a tensão.

Rafa riu sem nenhum humor.

– Então vai precisar de muito esforço.

Vick queria falar algo mais, só que um movimento na entrada chamou atenção e eles se viraram para olhar. Lucas agora batia na porta da casa dos Borges.

– Com licença? – ele gritava ao mesmo tempo em que batia. – Com licença? – ele chamava alto e mais alto.

Depois de mais alguns segundos de barulho, um homem alto de cabelo escuro arrepiado parecido com Henrique atendeu a porta e olhou Lucas de cima a baixo.

– Pois não?

– Eu preciso de ajuda – Lucas coçou a parte superior da cabeça com frustração e olhou para trás dele. – Ou melhor, nós precisamos – ele apontou para Andressa.

O pai de Roberto olhou Andressa ali parada, de costas para os dois de um jeito ressentido, sem entender muito.

– Qual o problema com ela? – perguntou confuso.

Lucas o olhou fingindo estar apavorado.

– Então, moço, minha garota esta com problemas sérios.

– Que tipo de problema? – o pai de Roberto se inclinou.

– Problemas de mulher – ele disse num tom condenador e o pai de Roberto franziu o cenho. – Pode, por favor, sua mulher aqui?

– Claro, só um segundo – ele se virou para dentro da casa. – Querida, pode vir aqui um minuto?!

Depois de alguns segundos, a mãe de Roberto, uma loira baixinha de óculos pequenos se aprumou na porta e encarou o marido e depois Lucas.

– O que esta acontecendo?

– Eu preciso da sua ajuda, moça – Lucas pegou nas mãos dela de forma teatral. – Minha namorada esta com problemas de mulher! – ele usou o mesmo tom dramático.

– Oh, quem? – a mulher baixa franziu o cenho para ele.

– Minha namorada – Lucas apontou Andressa. – Ei baby – ele chamou alto. – Pode vir aqui um segundo?

Como o ensaiado, Andressa se virou para ele com os olhos cheios de raiva e uma agulha gigante nas mãos.

– Eu não tenho nada pra falar com você, Giovanni! – ela apontava a agulha na direção dele.

– Ei, ei, ei – o pai d Roberto começou a tomar frente. – Mocinha, vá com calma aí.

– Mocinha? – Andressa fingiu espumar de raiva. – Não me chama de mocinha, tá achando que eu sou o que sua?

– É agora – Rafa sussurrou.

– Vamos – Vick se ajeitou, ficando pronta.

Os dois começaram a adentrar os fundos da propriedade e encontraram uma porta de madeira azul. Rafa a abriu discretamente e eles adentraram em uma lavanderia.

Vick olhou confusa enquanto Rafa começava a virar um corredor que levava até a cozinha. Os dois andaram sem fazer muito barulho ao chegarem na sala e Vick apontou as escadas.

Rafa começou a subir a escada sozinho lentamente, temendo que um passo seu fosse o suficiente para fazer os pais de Roberto se virarem e perceberem a invasão deles.

Ao chegar no corredor familiar, Rafa se apressou em entrar na primeira porta. Roberto estava em sua cama, olhando para a janela com uma expressão triste.

Mas quando notou o olhar de Rafa um sorriso enorme se projetou.

– Rafa – ele arfou de surpresa.

– Roberto – Rafa sorriu de volta.

Ele cruzou a meia distancia do quarto e o beijou longamente, sem se importar com mais nada. Depois que terminaram Roberto tocou seu rosto com gentileza.

– O que veio fazer aqui?

Rafa tocou seu rosto também.

– Achou mesmo que eu ia deixar você ir?

Na silencio feliz, uma voz respondeu por Roberto:

– Acha mesmo que tem escolha?

Os dois se viraram para a voz que tinha falado. Primeiro viram Vick, mas depois um homem alto e uma mulher baixa adentraram o quarto. Lucas e Vick pairando com rostos infelizes atrás deles.

Eram os pais de Roberto. E eles não pareciam compartilhar da felicidade deles.


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