Vencedores de Panem escrita por Daniel Vitor


Capítulo 20
Capítulo XX - Tour




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“Como vou superar isso?” digo, seus olhos expressam tristeza, “Você vai conseguir, eu sei disso” diz. “Aquele dia deveria ser igual a todos” digo, me aconchego ainda mais nele, “Deveria, mas não aconteceu” diz, sei que ele não disse isso por mal, mas fico com raiva daquelas palavras. Me levanto e volto correndo para casa.

“Jennifer Heigl” diz Emily, um alivio percorre meu corpo, uma menina cai no chão e começa a gritar, dois pacificadores veem e a levantam, a arrastam. Ela passa por mim berrando, segura meu braço e tento escapar, a cada passo que eles dão sua mão vai se soltando de meu braço.

Ela sobe no palco e um menino chamado Trent é sorteado, ele está indiferente com tudo que está acontecendo, ele sobe e os tributos apertam a mão. Todos evacuam a praça e tento encontrar Finnick, ele está sentado nas escadas de um prédio, “Vamos” ele estende a mão e a pego.

Sentamos na areia e fico a olhar a resaca do mar, “Ultima colheita, ultima vez de sofrimento” diz, olho para ele e sorrio, não vou poder ir mais para os Jogos, meu ultimo ano. Deito minha cabeça em seu colo e seus olhos estão brilhando.

“Você não sabe quanto eu sofria durante as suas colheitas” diz, “E eu também” digo. Ficamos conversando por um longo tempo. Ele levanta corre para o mar me levando junto, a água está gelada, vamos onde não conseguimos alcançar o chão e mergulhamos.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, começo a soluçar. Isso poderia acontecer, sussurro várias vezes a palavra poderia, tentando acreditar naquilo.

Acordo com minha mãe batendo na porta do quarto “Hoje é o grande dia” diz, levanto rápido e verifico o calendário, se passaram dois dias, hoje o inicio da Tour da Vitória, procuro o barbante, mas não acho. Me arrumo e desço para tomar café da manhã.

Me sento a mesa, pego um copo de suco de laranja e um pão, minha mãe estava estonteante com o dia, ela não para de me olhar e sorrir, depois de comer vou para a sala.

Fico olhando para a vista da janela, Ana está caminhando de mãos dadas com um rapaz, alto e robusto, ela está feliz. Fico olhando para o nada por bastante tempo, ouço um barulho irritante, mas parece que ele está vindo a metros de distância.

Minha mãe estala os dedos em frente a meu rosto, volto para a realidade, “Dr. Davis” ela diz tampando uma parte do telefone, o pego. “Alô” digo.

“Minha cara Annie, desculpe por não poder mais te consultar” diz, ele parece preocupado, não consigo responder então só o escuto. “Sei que o tour começa hoje, não tenha medo, você teve um progresso excelente durante as consultas...” ouço um grito e a chamada cai.

“Dr. Davis” grito, minha mãe corre em minha direção e me segura, “O que foi?” ela me balança, deixo o telefone cair e encosto no sofá. Minha mãe fica me chacoalhando e pedindo respostas, fico chorando, sinto falta de ar e não consigo dizer uma palavra.

Devem ter o pegado, vão machuca-lo, ele deve ter sido proibido de falar comigo. Consigo parar de chorar, acabo cochilando e quando acordo a televisão está ligada. “O Tour da Vitória inicia hoje” diz uma apresentadora.

Me levanto e corro para a porta, assim que abro a porta meus olhos doem com a luz do sol.

Coloco a mão acima de meus olhos para tampar a luz, David mergulha e volta depois de alguns segundos, seus olhos estão vermelhos, ele deve ter chorado em algum momento, “Só faltam 3 pessoas” ele grita, nado para perto dele e o abraço.

“Vai ficar tudo bem” digo, vamos ter que esperar o outro tributo perder suas forças e morrer. Quando escuto o penúltimo canhão soar começo a chorar e a gritar, David me acompanha chorando.

“Não, não quero morrer” diz entre os soluços, não vou conseguir mata-lo. Consigo cessar meu choro, mas ele não. O sol já está se pondo, estou com fome, cansada, meus braços e pernas doem.

Lágrimas escorrem dos meus olhos, eu sei o que devo fazer, não vou deixa-lo perder a vida, fico vários momentos ponderam isso, nunca mais vou poder ver meus pais, meu irmão e Finnick. Ao lembrar dele sinto um aperto no coração, um frio na barriga, perco a coragem.

Já devem ter se passado umas três horas, jogo água no meu rosto para me manter acordada, estamos acordados há mais o menos dois dias, não sei como ainda estamos vivos. Balanço David para não o deixar dormir.

Água bate em meu rosto e fico desperta, sinto que estou sendo arrastada, seguro em David para não nos separarmos. Os idealizadores não devem estar gostando dos dois últimos tributos não estar se matando.

Uma onda se forma e se choca conosco, sou afogada e logo nada para cima, David está cuspindo água. Nadamos na direção contraria das ondas, vejo uma vindo em nossa direção e para no lugar, mas David continua, ela se quebra em cima dele, consigo ver só seus braços para fora da água.

Eles estão se debatendo, nado para ajudar, mas paro a uns três metros dele. Não posso, se ajuda-lo vamos continuar assim até eu morrer, quero estender meu braço, mas ele não se mexe. Não consigo olhar para ele, fecho meus olhos, mas ainda consigo escutar suas batidas na água.

Começo a gritar para não ouvir aquilo, demora uns três minutos para ele morrer, vejo seu braço afundar e não subir mais.

Desço os degraus de casa “Hey” Finnick acena, ele está usando um terno verde escuro, já está preparado para a viajem. “Ainda não está pronta?” pergunta.

Olho para baixo, ainda estou usando a roupa de ontem, um vestido branco. “Oi, nem percebi as horas” digo. Entramos em casa e subo para o banheiro.

Depois de tomar uma ducha, visto a roupa que me enviaram da Capital, um vestido longo que ora é verde e ora é branco, calço uma salto branco e me maquio. A primeira pessoa que vejo ao descer as escadas é Finnick, ele levanta e caminha até as escadas “Você está linda” me elogia.

Coro e ficamos a esperar o carro que vai nos levar para a estação de trem. Sentamos um ao lado do outro no sofá, “Você está bem melhor do que ontem” diz. “Essa não sou eu”, acho que ele se sentiu mal com o que falei, pois ficamos em silêncio até Emily bater na porta.

Minha mãe abre e uma coisa azul está sorrindo para nós, ela está usando uma cartola azul, um vestido estufado azul puxado para o branco. Nos levantamos e caminhamos até o carro, “Vocês estão lindos e você principalmente” diz Emily.

O motorista abre a porta de trás, primeiro Emily entra e senta no banco do meio, depois Finnick e tenho que dar a volta no carro, Emily diz várias coisas sobre a viajem, curiosidades sobres os Distritos e coisas do tipo.

“A Capital mandou um recado para vocês” diz, nos dois olhamos para ela, “Não demonstrem afetos carinhos para as câmeras, certo?” pergunta, assentimos com a cabeça.

Várias câmeras e pessoas nos esperam na estação de trem, posamos para fotos e nos despedimos deles. Ao entrar no trem sinto um arrepio, consigo-me ver andando com Trent para o vagão de comida.

Andamos até o ultimo vagão e sentamos em duas poltronas uma de frente com a outro.

“Annie se recomponha vamos chegar ao Distrito 4 daqui a pouco” diz Emily, meus olhos estão inchados, provavelmente minha maquiagem deve estar borrada, Jackson entra e pede para Emily se retirar.

“Você não vai ganhar nada fazendo isso” diz, “Eu não consigo me controlar, a cada momento que paro de chorar, as imagens voltam a minha mente” digo.

Finnick me oferece um copo de água, o pego e bebo um gole. Consigo ouvir as minhas conversas com Trent, “Vai treinar o que?” ele pergunta, a cena da morte dele vem a minha mente e derrubo o copo no chão.

Um avox entra, recolhe os cacos e enxuga o chão. Finnick sai do cômodo e depois de uns cinco minutos volta com um barbante verde, ele me entrega e começo a fazer nós.

***

“Sua roupa” grita Emily do lado de fora de meu quarto, abro a porta e um vestido azul claro está na minha frente, o pego e fecho a porta. O vestido tem uma calda de uns 40 centímetros, ele é formado por ondulações, depois de me trocar vou direto para a porta de saída, estou atrasada.

“Você vai usar vestidos assim a viajem inteira?” pergunta, “E você também?” digo, ele está usando uma camisa social verde muito claro e calça preta, “Está pronta?” pergunta.

“Não” respondo, “Distrito 12 aqui vamos nós” diz, ele abre a porta e flashes ofuscam minha visão, depois de passar por fotos, responder perguntas, nos caminhamos para o edifício de justiça. Na televisão nunca nos mostram muito bem os Distritos, mas o 12 é muito pobre, várias casas caindo aos pedaços, pessoas caídas na rua provavelmente morrendo de fome.

Entramos no Edifício para me preparar para o discurso, hoje todos recebem folga para poderem me ver. “Ande logo” Jackson me apressa, ele aponta o sofá para Finnick, caminho até a porta principal do prédio, pego o barbante e começo a fazer mais nós.

“Vai” Emily me apressa, enrolo o barbante nos meus dedos, pacificadores abrem a porta e várias pessoas me aplaudem. Vou até o microfone e pego o meu discurso. No lado direito há um palanque com a família da Natalia Port, um homem e uma mulher, no lado esquerdo a família de David, uma homem e dois meninos.

“Os tributos desse Distrito lutaram com honra e bravura para representarem vocês” digo, minha ansiedade aumenta e estico o barbante, “Não passei muitos momentos com os dois, nem nos dias de preparação e nem nos Jogos” falo, olho para os pais de David, “Queria que ele não tivesse morrido, que ele ainda estive com vocês” o barbante arrebenta e começo a ficar nervosa, “Mas como só um pode sair vivo”, lágrimas escorrem e termino o discurso subitamente.

Corro para dentre e procuro Finnick, ele está no mesmo lugar que estava, se levanta e corro até ele, o abraço e o beijo. “Me ajude” digo várias vezes, ele me retribui o abraço, “Sempre vou estar aqui para te ajudar” diz.


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer a todos que acompanharam a história.



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