As duas vidas de Catarine escrita por Lady Vérity


Capítulo 5
Arma embaixo da mesa


Notas iniciais do capítulo

Mais um pouco de ação, eu decididamente amo escrever cenas de ação e coisas loucas, a cena com a moto e tiros na estrada é dedicada ao meu querido Kaworu, que me inspirou e me presenteou com a ideia. Aproveitem queridos insanos.



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Acordei deitada no peito de Allain, demorei alguns segundos para lembrar onde e com quem eu estava. As grandes janelas de vidro deixavam a claridade entrar, pisquei algumas vezes antes que meus olhos voltassem a enxergar direito e pelas cortinas abertas pude ver o céu nublado, nuvens escuras eram levadas rapidamente pelo vento forte. Levantei-me e vesti a camiseta sem mangas de Allain, andei pelo apartamento tentando não fazer barulho, observando suas coisas, era uma lugar pequeno,mas bem limpo e arrumado, assim como o apartamento que me pertencia nessa versão da minha vida, o cheiro de cigarros e bebidas estava no ar. Fui até a cozinha, estava faminta, na geladeira encontrei algumas coisas para fazer um bom omelete, enquanto a cafeteira cuidava do café.

De repente percebi um barulho estranho, de metal ou ferramentas... Parei de bater os ovos e me inclinei para olhar pela fresta da porta do quarto, Allain continuava dormindo, dirigi meus olhos para a porta de entrada no final do corredor e vi que a maçaneta estava mexendo, alguém estava tentando entrar, me apavorei, pensando nas possibilidades.

Se fosse um conhecido de Allain, bateria na porta.

Se fosse alguém com cópia da chave, não estaria tentando arrombar...

Então veio o som de um tiro, me assustei e deixei o pote cair de minhas mãos, a porta foi escancarada com um chute, mais um tiro foi disparado em minha direção, joguei-me no chão, atrás da mesa e a bala estilhaçou o vidro da cafeteira espalhando café fervendo, meus olhos fixaram-se na parte de baixo da mesa, como se instintivamente eu já soubesse o que havia lá, uma arma presa por fita adesiva larga e preta. Enquanto tentava pegar a arma, mais um tiro foi disparado, acertando o armário atrás de mim e percebi Allain saindo do quarto. Mais tiros foram disparados e mal notei que a arma já estava em minhas mãos, sendo destravada e apontada para um dos homens que invadira a casa. Com os braços apoiados na mesa, atirei, atingindo-o no tronco, atirei de novo e de novo, as manchas de sangue iam surgindo e o corpo cambaleava para trás, quando caiu para fora da porta, parei de atirar, somente depois de alguns segundo percebi que haviam mais dois corpos no chão, e então os sentidos me atingiram com violência, meus ouvidos zumbiam, meu coração estava disparado, minhas mãos começaram a suar e tremer e minha boca estava seca, olhei para Allain, ele se dirigiu para a porta para verificar se havia mais alguém lá fora.

Eu havia matado um homem.

Allain arrastou o corpo do homem que eu havia assassinado para dentro e trancou a porta.

– Temos que sair daqui, alguém já deve ter chamado a policia. – Ele disse, indo apressado para o quarto.

Eu nunca havia atirado antes, mas então, simplesmente matei aquele homem, não errei nenhum tiro, não fui jogada para trás pelo impacto e nem estava com um machucado na cabeça pelo coice da arma, minhas malditas mãos simplesmente sabiam o que estavam fazendo enquanto eu não conseguia sequer raciocinar.

Eu matei um homem e não conseguia encontrar a culpa ou o pavor, talvez porque ele tivesse invadido e atirado, talvez porque ele tentou me matar primeiro eu não sentia remorso, mas por mais que eu procurasse, não encontrava nenhum sentimento que me fizesse sentir mal por ter tirado a vida daquele homem.

– CAT! – Allain gritou.

Corri para o quarto, ele já havia se vestido e jogava algumas coisas dentro de uma mochila grande, papéis, documentos, cartuchos de balas... Vesti-me depressa, ele me jogou a mochila e correu para o cozinha, pegou a arma que eu havia deixado lá e me entregou.

– Me espera lá fora. – Ele ordenou.

Sai olhando para os corpos no chão e pensamentos estranhos que eu não costumava ter me vinham a cabeça sem parar, era como se houvesse alguém falando dentro de minha cabeça, uma outra “eu”.

Mas que merda, aqueles pareciam ser o amiguinhos do filho da puta que matou meu irmão, só podia ser isso!

Me encostei na parede ao lado da porta, minha cabeça doía, tentei organizar meus pensamentos, porque parte deles não faziam sentido. Meu irmão estava vivo, porque eu estava pensando sobre alguém que o matou? Será que eu estava começando absorver essa minha outra vida? Será que estava me tornando a Cat assassina? Eram esses seus pensamentos surgindo em minha mente? Ai meu Deus, eu estava pirando, só podia ser isso... Eu sempre desejei ser diferente e agora estava mesmo vivendo esta vida louca.

Allain saiu do apartamento e o trancou, segurou minha mão, olhando-me de forma estranha e corremos para o estacionamento.

– Porque está chorando, Cat? – Ele perguntou, ao subir na moto.

Não havia me dado conta das lágrimas, mas antes que eu pensasse em qualquer resposta, ouvimos uma explosão e ele acelerou com a moto, segurei- me nele com força, respirando fundo para me controlar.

– Isso foi uma explosão? – Perguntei, minha voz estava tão trêmula quanto minhas mãso.

– Coloquei fogo em tudo, foi o melhor que conseguí pensar, já que não deu pra limpar tudo, ao menos a policia não vai encontrar nada que nos ligue ao apartamento e aos homens mortos.

Eu desejava mesmo poder aproveitar tudo dessa vida, mas não esperava chegar ao ponto de matar alguém e nem mesmo de realmente me tornar parte dela, eu não queria realmente que essa vida fosse a MINHA, não queia ser assassina, ser perseguida por homens armados, viver fugindo e com medo.

Quando já estávamos em uma estrada movimentada, a chuva começou.

– Estamos sendo seguidos. – Allain disse no segundo em que senti a primeira gota de chuva atingir meu rosto.

– Quem? – Ouvi minha voz perguntar, enquanto olhava para trás procurando nosso perseguidor.

– Carro cinza, dois homens, motorista de vermelho, carona de preto. – Ele disse e rapidamente meus olhos localizaram o veículo. Estávamos indo bem rápido, e não importava o quanto acelerássemos, o carro mantinha sempre a mesma distância e os dois homens não tiravam os olhos de nós.

– Pare a moto. – Ouvi minha voz novamente. Em minha cabeça havia uma espécie de duplo pensamento, como se eu estivesse loucamente me dividindo em duas, uma de mim pensava em algo insano, enquanto a outra se perguntava o que porra estava acontecendo, em mim havia um misto de medo e excitação, um tremor percorria meus ossos, mas minhas mãos estavam firmes segurando a arma.

Allain parou a moto, me olhando com desconfiança, desci rapidamente e subi em sua frente, virada para ele.

– O que você... – Ele começou, mas não o deixei terminar.

– Vai. – Ordenei, quase não reconheci minha voz tão cheia de autoridade.

Allain levou a moto de volta a estrada, acelerando ainda mais, o carro havia ganhado certa proximidade e pude ver que o carona estava segurando uma arma.

Aquela situação era toda muito louca. Allain mantinha a moto na estrada escorregadia, acelerando cada vez mais, desviando de carros e outras motos, eu, sentada sobre ele, o envolvi com um dos braços, segurando-me firmemente e apontei a arma para o carro que nos seguia. Atirei acertando o para-brisas, atirei mais três vezes, o homem de preto havia atirado, mas minhas balas o pegaram antes que ele conseguisse nos acertar. Atirei de novo, acertando um dos pneus, o que fez o carro derrapar, continuei atirando, minhas balas acabaram, não consegui acertar o motorista, mas ao menos o tirei da estrada.

Meu coração parecia querer explodir meu peito, batendo tão rápido e tão forte, encostei meu rosto na bochecha de Allain e ele parou a moto novamente. Eu estava ofegante, minhas mãos estavam frias e trêmulas, olhei para Allain e ele sorriu um pequeno sorriso pretensioso e perverso.

– É melhor você sentar aqui. – Ele disse apontando para trás com o polegar – Um dia desses, Cat, você vai nos matar. Juro que ainda vamos morrer num acidente...

Voltei para o meu lugar, atrás dele na moto e o abracei, ele fez a moto voltar a correr e meus pensamentos corriam em minha cabeça tão rápido quanto ela.

De onde vinham essas ideias loucas?

Mas, que merda, eu deveria mesmo estar assim, abraçando ele?

Como eu estava fazendo tudo isso?

Ai, que porra! Vou complicar tudo!

Até ontem eu nunca tinha segurado uma arma, mas simplesmente matei duas pessoas hoje, como se não fosse nada de mais.

Minha pontaria era boa mesmo em cima de uma moto em alta velocidade.

Os efeitos do surto de adrenalina estavam passando e meu corpo estava ficando pesado e sem forças. Aquele misto de nervosismo e prazer, por ter feito o que acabara de fazer, estavam me deixando louca, eu deveria estar apavorada com toda essa história de armas, tiros e mortes, certo? Eu não era normal, com toda certeza eu não era uma pessoa normal, porque obviamente uma pessoa normal não estaria morrendo de vontade mandar Allain me levar a algum lugar onde pudéssemos ficar seguros, onde pudéssemos ignorar que haviam pessoas tentando nos matar e apenas ficar na cama, sentindo o calor do corpo um do outro. Estava decidido, eu era completamente louca e o perigo me excitava. Eu gostava de armas, gostava de estar em cima de uma moto correndo numa velocidade completamente ilegal e gostava desse cara tatuado, simplesmente de uma hora para outra, na noite passada, enquanto estava nos braços dele, percebia que cada parte do meu corpo conhecia aquele homem, e a cada beijo que eu lhe dava, percebia que estava apaixonada por ele, era estranho perceber isso, por que eu nem o conhecia e especialmente porque sempre acreditei que era por Roger que eu estava apaixonada há anos. Eu já não tinha certeza de mais nada, não sabia ao certo quem eu era, se podia confiar em minhas lembranças, a única coisa de que eu podia ter certeza, era que assim que descesse daquela moto, iria beijar Allain. Muito. Porque atirar em alguém me fazia querer fazer isso. Ah, mas que merda, não devia ser bom ser tão louca assim...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até a próxima. ;*