As duas vidas de Catarine escrita por Lady Vérity


Capítulo 4
Não temos leite


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de novo com mais um capítulo recém tirado do forno, esse está bem grande em comparação aos outros, espero que gostem, desculpem pela demora em postar, aproveitem a leitura.



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Deitada sobre lençóis de variados tons de rosa, que cheiravam a salada de frutas, eu observava uma específica foto no mural, uma foto em que abraçava a garota negra que era tão parecida com minha ex, percebendo que se tratava, na verdade, não de alguém idêntico, mas sim da mesma pessoa, aquela era Tiara, só não me lembro de ter tirado aquela foto e não sabia o motivo pelo qual ela estava agindo agora daquela forma tão fresca. Ela estava tão diferente da época em que namoramos que mal reconheci sua voz, tudo nela havia mudado. Ela era bonita e sexy, interessante, mas simplesmente decidiu que não era uma boa ideia ficarmos juntas e desapareceu, fazia alguns meses que não a via, nunca pensei encontrá-la em alguma situação assim.

Eu conheci Tiara em um café, não fazia muito tempo que tinha decidido afastar Allain, ele estava mais envolvido comigo do que eu gostaria de estar com qualquer um, ele me amava e eu estava apenas procurando minha vingança, eu estava apaixonada por ele também, mas aquele não era o momento, eu só conseguia pensar na vingança. Tiara foi uma forma fácil de mantê-lo longe, ela era divertida, legal, eu gostava dela, mas quando ela me deixou não doeu, porque não era por ela que eu estava apaixonada. De certa forma era bom me concentrar apenas em encontrar o assassino do meu irmão e fazer meus trabalhos para a SSTA. E de repente, simplesmente acordei nessa situação confusa e lá estava de novo a garota sexy que me chamava de amor.

Já não tinha certeza de mais nada, estava confusa, nem sabia mais se ainda acreditava na ideia de que toda essa loucura fosse um teste comportamental da SSTA.
Puta que pariu, acho que estavam mesmo tentando me enlouquecer... Mas que merda, queria tanto um cigarro, ao menos um, já estava pirando.

O irritante celular cor de rosa tocou, peguei-o me perguntando quem diabos queria me incomodar no meio da madrugada, no visor piscava o ícone de uma mensagem de número desconhecido.

“Oi Cat. Q bom q já saiu do hospital, me senti mal por ter te deixado sozinha, culpado na verdade, talvez se eu estivesse com vc nada disso teria acontecido. Espero q tenha gostado das flores que mandei. Roger”

Lembrei- me das fotos que vi do tal Roger e de uma coisa ou outra sobre beijo de aniversário que as meninas me falaram mais cedo.

Enviei uma mensagem de volta, perguntando se ele queria me encontrar. Imediatamente ele respondeu que sim. Pedi para que me encontrasse na frente da casa. Ele pareceu quase incrédulo de tão surpreso. Prometeu chegar em vinte minutos e foi exatamente o que fez.

Não me preocupei em me arrumar, não haviam roupas que eu realmente usaria naquele guarda roupas, então vesti as mesmas daquela tarde e peguei um casaco grande vermelho com fivelas, que era a única peça dali que sinceramente gostei.
A noite estava muito fria e o tal Roger andava de um lado para o outro na frente do portão da casa, assim que me viu abriu um sorriso nervoso e acenou.

– Você está bonita. – Ele disse quase gaguejando.

– Você tem cigarro? – Perguntei assim que parei na frente dele.

O cara me olhou da forma mais estranha, como se eu tivesse perguntado se ele chegou ali de nave espacial.

– Isso é... Algum tipo de teste?

– Estou louca por um cigarro. – Disse, caminhando na calçada, sem ter ideia de para onde estava indo.

– Catarine Bidens fuma? – Ele franziu a testa com um sorriso estranho, quase divertido.

– É. Você vai me dar um cigarro logo ou não? – Falei com certa agressividade, virando-me para ele.

Roger tirou um maço de cigarros do bolso do casaco e estendeu-o para mim, peguei um cigarro e ele o acendeu, dei a primeira tragada sendo invadida por uma onda de alívio, por finalmente ter o objeto do meu desejo depois de horas e horas de tortura.

– Nunca imaginei você fumando, Cat. – Roger riu e acendeu seu próprio cigarro.

– Onde você quer ir? – Perguntei, olhando as ruas vazias em volta.

Ele balançou o corpo para frente e para trás como um garoto envergonhado, olhando em volta como eu fiz e sorriu.

– Eu não sei... É de madrugada, difícil achar algum lugar legal aberto a essas horas por aqui.

– Eu conheço um lugar... – Eu disse, estreitando os olhos, tentando descobrir exatamente o que diabos eu estava fazendo – Mas... Não sei bem como chegar lá.

Perdida nesse fim de mundo eu não fazia ideia de como chegar a lugar algum, esse lugar parecia mais uma daquelas cidadezinhas de interior que mal aparecem em mapas.

– Que tipo de lugar? – Roger me olhou com um sorriso desconfiado. Ele era ainda mais bonito pessoalmente, parecia quase um garotinho filhinho da mamãe, com seus cabelos loiros perfeitamente arrumados e aqueles olhos azuis de um ar quase angelical. Definitivamente nunca me imaginei saindo com um cara assim.

– É um bar. Com um nome idiota.

– Todos os bares tem nomes idiotas. Acho que é o que se espera de bares.

– Esse se chama “Não temos leite”. – Eu disse, olhando-o com um pequeno sorriso.

Ele apenas riu, não sei se em retribuição ao meu sorriso ou por causa do nome do bar, então pegou o celular, digitou algumas coisas e esperou alguns segundos.

– Aqui... – Disse, olhando mais de perto a tela do celular – Acho que encontrei a localização.

Quando me mostrou um mapa no celular, com uma seta indicando o bar, reconheci os nomes das ruas e me perguntei se encontraria Allain por lá.

Roger me levou até o carro que seu pai lhe emprestara, estava estacionado na esquina, certamente ele teve medo que meus pais o ouvissem estacionando em frente da casa ou algo assim e quisessem lhe pedir satisfações ou lhe submetessem a algum típico momento constrangedor pela hora em que decidimos sair.

O bar ficava bem longe de onde estávamos e não conversamos muito no caminho, ele escolheu uma rádio com músicas clássicas de rock e volta e meia me olhava, provavelmente se perguntando se estava me aborrecendo com as músicas, não era bem o que eu gostava, mas estava bom assim, era melhor do que qualquer coisa que encontrei armazenado no celular cor de rosa estúpido.

– Posso perguntar uma coisa? – Roger começou, meio tímido.

Apenas olhei para ele, tirando meu cigarro dos lábios.

– Porque você parece agora tão diferente da garota com quem eu estive na noite do aniversário? Na verdade, você parece diferente da Catarine que eu via na escola. Quer dizer, eu mal conheço você, só te via nos corredores, nós nunca nos falamos, mas eu nunca te vi fumando e você definitivamente nunca pareceu o tipo de garota que sairia escondida de madrugada para ir a um bar, na verdade nunca vi você com cara nenhum e todas as vezes que eu pensei em falar com você, você desviava os olhos e ficava estranha, você nunca se pareceu nem um pouco com essa garota que você parece agora.

– Puxa, como você fala. Achei que seria só uma pergunta, não um discurso. – Eu disse e levei o cigarro de volta aos lábios, pensando no que ele acabara de dizer, sobre aquela versão de mim que nunca realmente fui, não lembrava de já ter visto esse garoto na minha vida, mas nesse ponto em que minha mente estava, a verdade era que não lembrava de muita coisa de antes de eu ser internada, não lembrava ao certo como eram as coisas antes de meu irmão morrer. Meu irmão... De repente me lembrei dele no hospital e ainda comigo no carro quando meus pais estavam me levando para casa, tinha me esquecido totalmente daquilo. Certamente aquilo sim foi só a merda de um sonho, ou isso ou eu estava começando a ver fantasmas. Talvez ver meus pais de novo fez isso com minha cabeça e eu já estava há muito tempo sem meus remédios.

– Cat? – Roger chamou, olhando- me com preocupação.

Terminando o cigarro, ajeitei- me no banco e comecei a enrolar uma mecha de meus cabelos.

– Eu não sei, Roger. Eu não sei por que você acha que sou diferente. Eu não sei nada sobre a festa de aniversário onde você me beijou, eu só sei o que me falaram.

– Deve ser por causa da queda. – Ele disse baixinho, a expressão no rosto era um misto de preocupação e decepção.

– Eu acordei num hospital hoje e não faço ideia por que estava lá. Pelo que entendi, na minha festa de dezoito anos caí do penhasco e as ondas levaram meu corpo para a praia e por um milagre estou viva, mas nas minhas lembranças nada disso aconteceu. – Por algum motivo comecei a contar a Roger o que estava se passando em minha cabeça, eu nunca gostei muito de conversar sobre mim mesma, nem com Allain, mas esse garoto tinha os olhos genuinamente preocupados, parecia saber algo sobre mim que eu não percebia, parecia ter alguma inocência ainda, depois de matar tantas pessoas, você descobre como as pessoas são, o que elas realmente escondem lá no intimo, apenas pelos olhos, talvez isso viesse do ato de tirar a vida de alguém, porque as pessoas nunca conseguem esconder o que são quando estão implorando pela vida – Nas minhas lembranças, Roger, eu dormi em um quarto de hotel e acordei num hospital. Nas minhas lembranças não existe você, nem minha suposta casa, nem minhas supostas amigas, nem porra nenhuma disso tudo que tive que aguentar hoje. Nas minha lembranças não via os meus pais há muito tempo e não reconheço nenhum dos rostos naquele mural de fotos no meu suposto quarto.

– Já vi na TV pessoas que um dia simplesmente acordam falando fluentemente uma língua que nem conheciam e tem também aquelas que passam por transplante de órgãos e começam a gostar de coisas que não gostavam antes, tipo fumar ou música clássica...

Com essa eu tive que rir. Foi até estranho o ato, fazia tempo que não tinha muitos motivos para rir.

Chegamos ao bar e antes de sair do carro Roger ficou observando o lugar com desconfiança.

– Relaxa, você está comigo. – Eu disse, ao abrir a porta do carro, já ouvindo a música alta que vinha do bar, exatamente o tipo de música que eu gostava, rock underground.

Roger me seguiu para dentro do bar, o lugar, como sempre, estava lotado, era pequeno e pouco conhecido, era o tipo de lugar que os frequentadores rotulavam de underground, ficava sempre aberto, tinha boas bebidas e meia luz. Fui até o balcão e pedi o de sempre, martini. Achei uma mesa vazia, Roger sentou na minha frente e eu pedi mais cigarros.

– Realmente você é muito diferente do que eu imaginava, Catarine. – Ele disse com um sorriso estranho me passando o cigarro.

– Eu gosto daqui, venho muito. – Respondi, olhando ao redor procurando Allain, mas ele não estava por lá – Então, fale-me de você.

– Acho que você sabe tudo o que... – Ele se interrompeu, provavelmente lembrando-se que eu já havia mencionado não me lembrar de nada sobre ele, e então começou de novo – Bom, eu trabalho na loja de materiais de construção do meu pai. Nós estudamos na mesma escola nos últimos anos, mas não tínhamos aulas juntos, eu sou amigo do Felipe, irmão da Rita, sua amiga loira, só conhecia você de vista e sabia algumas coisas sobre você que o Felipe me falou, tipo, como você era certinha, como seus pais eram super protetores e ficavam supervisionando tudo o que você fazia. Eu te achava bonita e sempre foi uma espécie de mistério, já que mal olhava pra mim e parecia impossível me aproximar com seus pais te proibindo de tudo e tal...

Ele estava muito sem graça me contando aquilo, era divertido ouvir, mas aquela não era eu, não era minha história.

– Bom, a Rita me ligou bêbada, – Ele continuou ficando corado – me disse que era seu aniversário e me convidou pra ir até lá...

– Pra me dar o beijo de aniversário. – Completei, sorrindo para o quanto aquilo parecia idiota.

Roger afirmou com um movimento de cabeça e virou o martini de uma vez.

– Espere aqui, acabei de ver alguém com quem preciso falar. – Eu disse assim que vi Livy, uma hacker de cabelos bem curtos, pretos, óculos de nerd, cachecol vermelho e jaqueta preta, ela era uma espécie de “amiga”, me ajudara a descobrir o paradeiro do assassino do meu irmão. A vadia cobrava bem caro por qualquer coisa.

Apressei- me para alcançá- la antes que saísse do bar e segurei-a pela braço, assustando- a.

– Cat... – Ela disse com um sorriso aliviado – Você me assustou.
Preciso de um favor. – Eu disse sem rodeios.

– Favor? – Ela perguntou com certo sarcasmo.

– Você faz e me diz quanto deposito na conta, ok? – Cruzei meus braços, olhando-a séria.

– O que você quer agora?

Eu saí do bar e ela me seguiu, andei alguns metros para me afastar das pessoas na frente do bar e encostei-me na parede, ela parou em minha frente, me olhando nos olhos, ela tinha essa mania de olhar sem medo.

– Preciso que você descubra tudo sobre uma pessoa. Tudo mesmo, cada detalhe que conseguir.

– Quem é? Aquele pirralho no bar? – Ela perguntou, tirando o celular do bolso para anotar os dados que eu tinha, como de costume.

– Não. Preciso que você descubra tudo sobre mim.

Ela franziu a testa me olhando como se começasse a me considerar mais louca do que já me julgava.

– Eu acordei hoje e simplesmente não reconheci nada, as pessoas ficam me contando versões da minha vida que, de acordo com minhas lembranças, nunca aconteceram, então preciso que você descubra tudo sobre mim, preciso que descubra que porra está acontecendo comigo, porque dormi num hotel depois que falei com você ontem e acordei hoje num hospital.

Respirei profundamente e levei meu cigarro à boca, olhando para longe, o vento gelado fazia os longos fios de meus cabelos ricochetearem em meu rosto, grudando nos lábios e cílios, eu os afastei, arrumando-os atrás das orelhas e olhei para Livy, que continuava me olhando como se eu fosse louca.

– O que foi? Vai ser tão difícil que acha que não posso pagar por isso? Ou você tem algum código sobre não investigar a vida do cliente? Ou por um acaso você acha que depois que me entregar o relatório vou te matar por você saber de mais sobre mim? Relaxa, não vou...

– Eu não falei com você ontem, Cat. – Ela finalmente disse, em tom cuidadoso – A última vez que nos falamos foi a cinco dias.

– Ah, qual é?! – Sorri, ela não poderia estar falando sério, eu lembrava perfeitamente de ter falado com ela ontem à noite, de ter ido até o lugar onde ela disse que eu poderia encontrar o assassino do meu irmão, de tê-lo observado, de quase não conseguir controlar minha vontade de acabar com ele naquela hora e de ter sido vista por alguém armado, de ter fugido e de me esconder no hotel de sempre...

– Cat, você sabe mesmo que dia é hoje? – Ela me perguntou, mostrando-me seu celular com data e hora grandes no centro da tela.

– Então você faz parte dessa palhaçada toda... – Eu disse rindo com ódio, ao ver que de acordo com a data no celular de Livy, nos vimos pela última vez na semana anterior.

– Vou descobrir o que você me pediu, te mando os resultados e o preço por e-mail. –

Livy começou a se afastar de costas, sem tirar o olhos de mim.

Eu estava confusa e com ódio, mas eu não iria fazer nenhuma loucura com ela, Livy era legal e era meu tipo também, era uma vaca por cobrar tão caro, mas fazia os trabalhos perfeitos e muito rápido.

Voltei para o bar com uma dor pulsante na cabeça, Roger ainda estava lá, olhando distraidamente para umas garotas bonitas que dançavam perto do balcão.

– Espero não ter demorado. – Eu disse, assim que me aproximei.

Roger me recebeu com um sorriso sem vontade e apagou o cigarro no cinzeiro, na mesa haviam mais algumas bebidas que ele pedira para nós.

– Amiga sua aquela garota? – Ele perguntou em tom sério.

– Você pediu mais bebidas e está aproveitando a vista... – Comentei, apontando para as garotas dançando.

– O que estamos fazendo aqui, Cat? – Ele perguntou com um suspiro cansado.

Antes que eu sequer pensasse em responder, um cara sentou em uma das cadeiras vazias à nossa mesa e pegou uma das bebidas.

– Isso aqui não é lugar pra crianças. – Ele disse, claramente bêbado e virou o copo.
Cai fora, idiota de merda. – Ordenei, quase num grito. Roger arregalou os olhos para mim, surpreso.

O bêbado se levantou tão rápido que derrubou a cadeira, me encarou tentando me intimidar e então sorriu, me olhando de um jeito nojento, que eu conhecia bem, mas não me assustava, pelo contrário, me fazia desejar que ele começasse logo aquela merda, para eu poder terminar!

– Parece que eu vou ter que dar uma lição na vadia, pra aprender como deve tratar um homem de verdade. – Ele disse, alargando o sorriso.

Roger levantou, sério, mas não disse nada, parecia pronto para me defender, ou tentar, caso fosse necessário. Mas não seria.

– Quero ver você tentar. – Eu disse, provocando com um grande sorriso, batendo com o dedo indicador no peito do cara.

O filho da puta me deu um tapa no rosto, Roger tentou segurá-lo e ele o acertou um soco na boca, depois o segurou e jogou contra a parede, então virou-se para mim e me empurrou, caí e antes que Roger tentasse atacá-lo novamente, dei uma rasteira nele, quando ele caiu, montei nele e comecei a socá-lo, ele tentou se livrar, mas não conseguiu, acertei um soco depois do outro, fazendo- o sangrar. Percebi Roger gritando comigo e de repente mãos me puxaram para longe daquele verme escroto imundo, que estava desmaiado, sangrando no chão.

As pessoas no bar me olhavam, algumas com certa diversão, outras sérias e outras impressionadas, dificilmente alguém acreditava que uma garota como eu poderia desmaiar um imbecil como aquele.

– Você... já pagou as bebidas? – Perguntei ofegante ao Roger, que ainda tinha um misto de surpresa e desagrado no rosto, com uma pitada de medo.

Ele correu até o balcão e deixou algumas notas e moedas para o barman, que estava no telefone, ligando para a emergência, eles nunca ligavam para a polícia naquele bar.

Roger saiu depressa do bar e eu o segui. Ele entrou no carro e quando fiz o mesmo, por um instante ele me olhou como se fosse me pedir para sair, de sua boca escorria um filete de sangue.

– Porque está sorrindo desse jeito, Cat? – Ele gritou comigo – Meus Deus, você nos meteu em uma briga de bar, o que porra você está fazendo? Quer que matem a gente no caralho de um bar?

– Sua boca está sangrando. – Avisei, tentei limpar o sangue com a mão e ele tentou desviar de meu toque, afastando-se um pouco.

– Como é que vou explicar isso pro meu pai?

– Me leva pra casa e eu coloco gelo, não vai ficar tão ruim, prometo, garotinho. – Me recostei no banco e olhei para ele, estava ainda mais bonito com os cabelos bagunçados por causa da briga, o suor do nervosismo escorrendo pela testa, as bochechas coradas de raiva, as mãos trêmulas de medo.

– Você é louca, se seus pais virem isso... Meu Deus, como vamos explicar isso pros seus pais?

– Para de meter Deus na conversa, deixa ele em paz. – Eu ri e ele me olhou como se quisesse me matar. Minha bochecha estava começando a pulsar e arder por causa do tapa – Quer dizer que o menininho do papai nunca se meteu em uma briga?

– Não em um BAR! – Ele berrou, batendo com as mãos no volante.

Incluí um novo destino no GPS do carro e ele me olhou de cara feia.

– Pra onde quer que eu te leve agora? Pra assaltar algum mercado vinte e quatro horas pra gente ser preso ou talvez morto pela polícia na tentativa de fuga?

Ri de novo, com essa.

– Pro meu apartamento, pra cuidar de você.

Roger me fitou com desconfiança, bem nos olhos, respirou profundamente e ligou o carro.

– Se não for mesmo só um apartamento, eu juro que mato você, Cat. Você é doida.

– E você foi um verdadeiro cavalheiro tentando me defender. – Ele apenas retorceu os lábios, ainda estava com raiva, mas por algum motivo aquilo foi muito divertido. Roger era o tipo de cara que não se metia em confusão, o garoto certinho, era excitante jogá-lo em algum perigo, era divertido fazê-lo se arriscar sem perceber, ele achava que eu era um outro tipo de garota, não me conhecia, não fazia a menor ideia que eu era o maior perigo, que eu era um grande risco, porque eu gostava de viver no limite, eu gostava de provocar a vida, pra encarar a morte e sentir que ainda estava viva, era errado, mas prazeroso fazer isso com ele, eu simplesmente não pude resistir, porque nunca tinha feito isso antes, nem mesmo com Tiara.

Quando chegamos ao meu apartamento, Roger entrou devagar, cheio de cautela,olhando para todos os lados e observando tudo.

– Nós não estamos invadindo a casa de ninguém, certo?

Ele me fez rir de novo, esse garoto era muito engraçado de tão ingênuo, achava que era um erro e mesmo assim estava ali comigo.

– Não. – Limitei-me a dizer, tirei o casaco, joguei- o no sofá e liguei o som, mas não alto, não queria nenhum vizinho idiota me incomodando, escolhi Disturbed, minha banda favorita.

Roger começou a andar pelo apartamento, mexendo em minhas coisas com uma estranha expressão.

Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vodka com aroma de frutas vermelhas, despejei quantidades generosas em dois copos grandes e voltei para junto de Roger.

– Achei que você disse que ia dar um jeito no meu machucado e não me embebedar... – Ele disse ao pegar o copo que lhe ofereci e sentou-se em meu sofá.

Bebi o conteúdo do meu copo de uma só vez e larguei-o na mesinha de centro, adorava a música que estava tocando, “The game”, comecei a dançar, estava sentindo minha cabeça leve, sabia que já estava ficando bêbada, quando percebi Roger me olhando e o desejo contido em seus olhos, sorri, dancei mais um pouco para ele e me aproximei devagar e ofegante. Olhei- o nos olhos por um momento e ele sustentou o olhar, tirei minha blusa e ele deixou o copo ao lado do meu, sentei- me a seu lado e o beijei, fui gentil para não fazê-lo sentir dor no machucado da boca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que este capítulo lhes tenha deixado um gostinho de quero mais. até a próxima. ;*



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