Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 20
Rebelião


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem dessa reta final ;)



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A lua coberta torna o cenário favorável para ele. Os poderes sobrenaturais afloram com a escuridão ambiente, enquanto a falta da luz do luar enfraquece os poderes de Rose.

Ela bate suas asas de vidro com curiosidade quando os canos dos tanques miram o alvo. Já cansou de massacrá-los e pondera se deve lhes dar alguma vantagem. Talvez devesse fazê-los acreditar que conseguiu atingi-la e depois surgir como a Morte de entre a fumaça. O pasmo nos olhos deles seria engraçado.

O líder do exército começa a contagem. A mutante eletriza suas mãos, pronta para receber os tiros, os três de uma vez.

É quando vê Ryan surgir. No piso molhado entre os tanques e ela. O corpo dele está em pé, a camisa manchada, o rosto pálido, mas vivo. Reage instintivamente: ergue uma barreira contra o buraco da parede que os policiais explodiram para entrar, onde os tanques estacionaram. Na barreira, as balas são ricocheteadas e atingem a formação dos federais, os canos também explodem. Salvou o rapaz que a despertou, contudo não tem certeza se fez o certo. Rose nunca protegeu alguém. Para ela, todos são inimigos... São brinquedos para quebrar, bonecos para desmembrar. Sente-se confusa pela própria reação. Voa, aproximando com cautela. Assustada e curiosa. Fica à mesma altura; os pés dela ainda flutuam, pois ele é alto.

Ryan detém-se apenas a contemplá-la. Mesmo corpo, mesma altura. Mas a pele foi pintada de rosa, o cabelo de rubi, e o perfume de rosas fora substituída por cheiro de sangue. Mais do que o trincado da pele da bochecha, os olhos eram o que mais o assombraram. As pupilas eram a lua de sangue enquanto todo o globo ocular era o negrume da noite; o olhar dela era uma noite de terror. Apesar da escuridão, porém, eram brilhantes. Por um segundo apenas, Rose lhe pareceu um grito sempre contido. Uma chama impedida de acender com todo o seu esplendor. E sentiu tristeza. Enquanto sua amiga era a rosa adorável, essa outra metade era apenas a flor da grama, que poucos imaginam como é.

— O que você tem? — Rose ousou tocá-lo. A ponta dos dedos mal roçou sua pele e ela foi inundada. Um sentimento? Ela não devia sentir. Uma memória? Não as tinha. Ele.O mafioso a estava inundando com seus pensamentos. Seus poderes acentuados facilitavam qualquer troca de sensações — o que ela não sabia, porque nunca se importou com alguém, muito menos permitiu que se aproximasse. Assim, ela podia sentir a afeição dele por Fay, mas que de tão intenso poderia ser por Rose. Ela poderia retribuir como a amante de Krad não fez. E vê as memórias recentes: o corpo dele que se lançou para proteger Fay, o tiro, o sangue. Ryan deveria estar morto.

A barreira se pinta de negro, e as paredes acompanham o derrame da tinta escura.

— Fay? — ele percebe algo mudando.

Corpos transparentes surgem do chão. Uma multidão. As almas dos policiais mortos.

— Você está morto... — informa com repugnância. Afasta-se relutante. Sentindo-se tola pela sensação de humanidade que a quis tomar. Leva as mãos à cabeça, confusa com os espíritos que surgem um após o outro. — Por que vocês se levantaram?!

As partes desmembradas esfregam suas pernas. As entranhas arrastam-se, os olhos a fitam como lâminas. Numa revoada, Rose volta para o alto. Pela primeira vez sente medo. Os mortos estavam se rebelando. Os murmúrios das almas parecem entoar uma maldição.

— Eu sou a sacerdotisa, não podem se voltar contra mim! — braveja com voz falha.

O filho do mafioso não enxerga com quem Rose grita. Fez como Krad pediu (ordenou), mas ele não lhe contou o plano todo. Ao pensar no vampiro, ele surge dos escombros dando tapinhas de leve em seu ombro.

— Ótimo! — elogia em tom baixo. —Sua atuação foi maravilhosa, parecia até que você realmente estava com medo quando a viu. — Lança um olhar maldoso.

Ryan estremece. Não achou que seu pavor ficara tão perceptível. E ele não queria sentir medo de sua amiga.

— Agora, afaste-se enquanto eu salvo a minha princesa.

— Como é? — Krad tinha uma habilidade excepcional de irritar o ladrão, comumente passivo.

O ser da noite sorri triunfante antes de voltar-se para a “sacerdotisa”.

— Com medo dos convidados, gatinha? — chama sua atenção com tom insolente.

A mutante descontrolada ergue a face rubra para o monstro risonho a sua frente. A fúria reacende e desordena seus cabelos.

— Eu devia ter imaginado — suspira, recompondo-se. — É você quem está por trás dessa rebelião, não é?

— Não — a resposta dele é rápida e corta o bater tranqüilo das asas da garota. —Não sou eu que falo com os mortos por aqui.

Ela devolve a ironia com uma rajada de ventos pelo salão. Cortes superficiais surgem na pele do rosto e braço do homem de terno. O mafioso tem seu corpo protegido pelo manto. Os fantasmas não se abalam.

— Basta de brincadeiras. Volte para o inferno de onde veio e leve eles com você!

— Não entendeu ainda, Rose? Foi você quem os trouxe aqui.

Era verdade. Seus poderes se descontrolaram com o toque no humano. Ao pensar que ele deveria estar morto, concluiu que os mortos estavam retornando pela linha tênue que apenas ela poderia produzir. Um descontrole que ela não notou devido à infiltração do mafioso em seu ser, por isso não se reconhece como autora de tal feito.

Foca o humano parado em frente aos tanques, atento, a arma em mãos. Seus olhos se encontram e ela recorda de subido a invasão de memórias e sensações.

— Não tente me enganar. — range os dentes. Krad deve estar controlando-o também. Fay amava esse vampiro e Rose, como o lado oposto da moeda, nutria o ódio. A simples imagem dele a irritava. —Agora que enfim morreu, deveria saltitar feliz em direção à luz. Ah, me desculpe, tenho o prazer de informar que você não vai para um lugar muito... iluminado. — sorri sarcástica.

Krad estala o maxilar. As piadas sombrias de Rose o fazia sentir saudades da amabilidade de Fay.

— Quando eu te mandar de volta para o cantinho escuro da alma de Fay, deixe pelo menos essa vontade de me ver morto, talvez ela me dê enfim a permissão para eu morrer. Porque... — balança o antebraço que pinga sangue. — como pode ver, eu não estou morto, ainda.

Mentiras.

A voz dela tomou um ar sobrenatural.

Com uma grande mão invisível, Rose atinge a primeira fileira de mortos.

— Eles estão todos mortos. — repete o gesto seguidas vezes. — Eles. Eles. Eles! — os fantasmas apenas soltam grunhidos, sem entretanto sair de seus lugares. Mira com raiva o homem sobrenatural. — E até vocês.

Um mover de mãos, mais brusco para atingi-lo em cheio. As rachaduras acompanham as veias de seus membros à medida que ela amplia seu poder.

Krad salta e corre pela força invisível, como se a enxergasse. Aproxima-se veloz. Ela parece surpresa com a ação. Recompõe-se depressa. Empurra com telecinese o homem pouco antes dele conseguir lhe acertar um soco. Contudo, o humano atrás não teve a mesma sorte na tentativa de esquivar-se de algo que não podia ver. Atingido, seu corpo lançou-se contra as paredes e canos do lado esquerdo. Se não estava morto, agora encontrou seu fim.


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Notas finais do capítulo

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