Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 18
Rose


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo acabado de sair do forno (>.0)
Agradecimento aos leitores que não abandonaram essa autora fantasma (*0*) Obrigada por continuarem comentando :')



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Mesmo que o vampiro a tenha abandonado, ainda lhe restava Ryan, seu amigo. Entretanto, era o corpo dele que tombava a sua frente. Ele sacrificou-se já que a médium não se movia. Ao ver o sangue dele derramado e tingindo a barra de seu vestido, sua visão ficou nublada. Ryan estava ferido, Ryan poderia morrer. Por culpa dela? Não. Enxergou o verdadeiro culpado: Krad. Seu ex-companheiro inexplicavelmente estava parado ali, em pé, vivo, ao contrário de Ryan. Se o vampiro não atrapalhasse o plano deles... Se ele não a abandonasse... Se ela não precisasse amá-lo. A culpa era dele.

As barreiras ao redor de sua rosa vital foram rompidas numa explosão. A energia da mutante escapava pelas lágrimas. O sangue fervia, o pensamento enraivecia e sua consciência apagava-se. Ela podia sentir seu lado negro a possuindo, sua sombra era maior que a de um ser humano comum. A dor da perda, o ódio do abandono, tudo convergia a ponto de enlouquecer. Até que ela já não era mais Fay.

— Rose — Krad fica alerta.

O despertar se concretiza com uma forte rajada de vento.

O vampiro protege com o antebraço seus olhos do ar cortante. Bill tomba no chão, perplexo. Seus peões estão confusos. Ryan permanece inconsciente.

— O que estão esperando? Matem ela! — ordena o líder dos agentes, assim que recupera o fôlego.

Os agentes que se lançam contra a mutante não têm se quer chance. Com um balançar dos braços, Rose os faz flutuar, e um gesto brusco os empurra violentamente contra as paredes, atropelando os pilares de joias falsas. Em meio aos grunhidos e barulhos de ossos se partindo, o sorriso que pinta em sua face luminosa é sinistro. Mas a expressão sádica é obscurecida quando percebe a palidez de Ryan em meio ao sangue. Bill saca a arma. Dessa vez, Krad apenas o observa; sabe que será inútil. O agente dispara várias vezes, Fay interrompe todas as balas, cuidando para que nenhuma bala que desvia acerte seu amigo. Mesmo Rose e sua loucura não esquecem o sacrifício do rapaz que a fez despertar.

Um tremor de terras.

Num piscar de olhos está flutuando bem próxima ao autor dos disparos, olho no olho.

— Olá – cumprimenta-o com voz sobrenatural.

Não há necessidade de tocá-lo, onda de insanidade invade o homem, entra em sua mente, dominando cada entranha. Suas veias e artérias borbulham, um formigamento efervescente rasteja pelos membros, o verme do medo devora-o sem cautela. Há uma cadeia de escorpiões lhe subindo a bota. Tenta afastá-los e seu braço afunda numa areia movediça. Sabe que não pode se debater, mas é desesperador, pois seu corpo, pouco a pouco, debaixo par cima, desaparece. Percebe que ficar parado é inútil, pois já não é areia, é lava. Queima. Descasca-o pele por pele. Vai derretendo seus músculos. A dor é desumana. Bill joga os joelhos ao chão. As alucinações o deixam em estado de demência. Sangue escorre de seus olhos e boca, e ele cai morto. O cérebro derreteu.

Rose deixa escapar um riso, que se torna uma gargalhada. Tão fácil. Tão fácil matar!

Vira-se para o último homem em pé, aquele que ela mais quer ver morto. Krad não se descuida nem por um segundo, cada fração de tempo pode ser fatal na presença de Rose. Suas presas surgem prontas para estraçalha-la.

— A culpa é toda sua... — A garota acusa-o com semblante de ódio.

— Foi você quem quis assim, Fay. — chama-a.

— Ela é uma tola por ter amado você — cospe as palavras.

— Não, Rose, ela ainda me ama. — Krad sabe que mesmo com o ódio, Fay é viciada nele. Não pode ter deixado de amá-lo tão rapidamente. Não depois de tantas noites e dias juntos. Afinal, ele, que se quer deveria possuir um coração, também não conseguiu desligar-se dela completamente. — E eu ainda a amo.

A convicção dele irrita profundamente.

— Mas eu estou no lugar dela, e eu te odeio — braveja.

Ela aproxima lenta e cautelosa, voando e emaranhando seu cabelo ao ar. A bruxa adormecida despertou com sede de morte. Procura a melhor forma de matar o inimigo, não deixando de lado as torturas que ele deve sofrer. Redemoinhos de energia negra espiralam em seus dedos. Desmembrar o homem parece uma ótima ideia.

Outro tremor de terra. Os vidros da claraboia trincam.

Krad abandona sua postura de combate e solta um suspiro, que deixa a bruxa confusa.

— Que pena, Rose... — joga para trás sua franja fosca, e mostra seu sorriso de predador: —Porque eu te amo também.

— Como é?

— Ora, você é como uma versão mais forte dela, mas que não deixa de ser Fay, a minha Fay. — abre os braços como se explicasse o óbvio. — Estava com saudade de uma boa luta.

— Não me subestime — ameaça.

— Vai me dizer que não sentiu também? — ironiza. Volta a posicionar os braços e as pernas em modo de combate. — Vamos decidir de uma vez por todas qual de nós é o mais forte, gatinha.

— Não me chame de gatin...

Na distração dela, o vampiro já está correndo em direção ao pescoço da amada. Suas mãos estão quase tocando a pele macia quando é repelido por uma barreira de ar e lançado para trás. Ele recupera-se rapidamente para voltar a ataca-la, sempre no mesmo ponto. Consegue avançar cada vez menos. Até que está arfando. O terno atrapalha nessas horas.

— O que você pretende? Já mostrei que não irá conseguir me tocar, seu verme.

— Só estou treinando para uma coisa...

Nesse instante, os policiais invadem. As luzes das lanternas são fortes, as armas que carregam são pesadas e o bater da sola das botas é uníssono.

— Nós mandamos sair — o chefe da polícia informa.

— Vocês demoraram... — Krad constata. E pinta uma expressão de divertimento: — Não vão me dizer que estavam me esperando sair em segurança? Que gentil da parte de vocês.

— Não é nada disso! É só um procedimento de praxe... – o velho morde a língua.

— Sei...

— Ei, — a mutante enerva por estar sendo ignorada. — Não atrapalhem...

Ergue o braço para transformar todos em bolhas de sangue e carne, quando o teto desaba.

O tremor de terras...

Dos andares subterrâneos, as bombas da máfia enfim chegaram ao andar de exposição. Caldas flamejantes de fogo abalaram as estruturas da joalheria. Os cacos de vidros caem como neve cortante, arrancando respingos de sangue. Os policiais assustam-se. Rose cuida para que todos os cacos estilhacem longe dela. Embora os cacos não passem de confetes quando desaba as pedras de concreto. A médium foge, mas esquece do seu amigo. Ao se virar, como que em câmera lenta, consegue ver o teto caindo sobre o corpo estendido de Ryan.

— Não...! — estica a palma para atraí-lo para ela, porém não consegue focar.

Pensa em desmanchar as pedras, mas isso só aumentará os pedaços que cairão sobre ele. Não consegue planejar nada.

Na mesma fração, em meio ao turbilhão de pensamento, sente em seu ombro a mão fria do vampiro.

Vê Krad mergulhar sob os destroços, da mesma maneira que corria em direção ao pescoço dela.

Ele já sabia...

Mas as pedras caem sobre eles. Não havia tempo para salvá-lo. Nem para o vampiro.

Fim. Não restava mais nada para ela.

O grito de agonia ecoa na noite sombria.

E a loucura exerce seu pleno domínio.


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Notas finais do capítulo

Autora cruel que resolve matar todo mundo :v
Caso não tenham entendido:
*Rose é como uma versão surtada de Fay. Os poderes psíquicos delas a tornou bipolar.

O que acontecerá? Só acho que eu não ia querer aparecer na frente dela agora @.@
Até a próxima, meus lindos o/



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