Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 15
Jóia-rara


Notas iniciais do capítulo

Duas semanas? Que tristeza (T^T) Quero deixar um comentário muito relevante e filosófico: A vida perde o sentido sem Internet... Problemas no pc, me desculpem :(
Mas eu estou de volta com mais um capítulo! Boa leitura (>.0)



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O plano é ardiloso.

Algumas informações são propositadamente lançadas para os policiais, indicando hora e local do assalto: às três da madrugada, Cassino Trevo da Sorte. Enquanto os olhos dos federais estiverem no maior cassino de Bluzz Hattaway e nos agentes da máfia que ali estarão infiltrados, o grande roubo à Joalheria será posto em prática. Para despistar, um falso roubo à casa de jogos será a isca e forjará uma perseguição pela cidade, o mais longe possível dos locais assaltados. Quando descobrirem a farsa, as joias já terão sido roubadas e o verdadeiro dinheiro do cofre de Trevo também. Truques e artimanhas são as melhores armas desse assalto bilionário.

O grupo das joias é Fay, Ryan e Bill e seus pequenos agentes, os peões como ele os chama, encarregados da proteção. São sete no total. Um grupo pequeno, entretanto, o suficiente para levar as joias mais valiosas. Com a entrada da mutante na equipe outros mafiosos e assassinos foram dispensados para o grupo que assaltará o cassino. Os poderes de levitar e mover objetos são muito úteis, se quer precisariam desligar o sistema de segurança, podendo serem mais discretos. A expectativa nas habilidades dela era enorme.

Fay via-se necessária, e isso a fazia sentir-se útil. Gostava da confiança que depositavam nela. Ela apenas não podia falhar. E não falharia. Repassou várias vezes o plano, o passo a passo de sua equipe. Tudo indica sucesso.

— Acho que já podemos tirar isto.

Bill aproxima para retirar a agulha no antebraço de Fay. A transfusão de sangue de que necessitava foi feita no próprio helicóptero de luxo de St. Clair, a fim de não atrasarem o assalto. Bill, moreno e musculoso, acrescenta um curativo onde a agulha fincara.

— Parece bem melhor agora, Fay. — Ryan finalmente relaxa a mão, que segurava a dela desde que entraram. O rosto dela estava mais corado e seu corpo não parecia debilitado, embora os olhos ainda guardassem íris nebulosas.

— Obrigada — agradece aos dois. Aproveita que o amigo afrouxou a mão para retirar a sua e finge precisar ajeitar a capa escura que a fizeram vestir. Visto que Ryan gastara preciosos minutos para arrombar a porta do quarto de Krad e Fay, não restava tempo para trocar de roupa. Ela ainda vestia o vestido de gala que o ex-amante mandara fazer para a menina. Com o manto negro, parecia uma feiticeira maligna, o brilho do tecido escondido pelo negrume. Sorri irônica, era exatamente assim que se sentia: engolida pelas sombras.

Ela se recuperara, porém, percebia seu organismo reclamando. A garganta estava seca. Sabia o que queria: sangue de vampiro. Faz, entretanto, pouco tempo desde a última vez que bebera. Talvez seja a saudade. O seu coração é quem resmungava. Mas ele não será mimado. Fay já decidira excluir seu vampiro, junto com seu coração. O assalto encerrará tudo. Faria dar certo e abandonará de vez seu passado de protegida.

O celular de Bill apita. Ele visualiza a mensagem. O assalto falso ao cassino começou.

— Vamos pousar — ordena o maior agente da equipe a um de seus peões, que está pilotando.

A joalheira tem paredes de formas triangulares e uma claraboia. O contorno é blindado. Várias luzes vermelhas piscam dentro e fora dela. A segurança é muita.

A escuridão azul do céu noturno é preenchida pelo zunido das patas da hélice. Como não há uma superfície plana ou propícia para o pouso, o helicóptero pousa no prédio mais próximo, um dos edifícios de Herman Corporation. Por receber costumeiramente empresários multinacionais a todo instante, o pouso do helicóptero não levanta suspeitas.

Descem Fay, Bill e Ryan. Os demais ficarão de guarda.

A garota observa a construção espelhada a sua frente. O ar frio da noite mantém a respiração constante. Está ansiosa.

— Fay... — chama Ryan.

O sinal que ele faz com a cabeça é o suficiente para entender que a missão deve começar.

Concentrada, Fay faz seu vestido balançar ao pular do prédio. Como se estivessem ligados por um único fio, os outros dois são lançados atrás dela. E os três flutuam para o topo da joalheria. Bill solta o ar de seus pulmões, surpreso. Embaixo, a humanidade é a apenas pontos nas sombras.

Sobre a claraboia, Ryan pousa na ponta dos pés com elegante equilíbrio. Caminha na teia de ferro que espalha pelas juntas dos vidros.

“O vidro tem alarme por contato...” informa ele, exibindo seus conhecimentos assim que a conexão telepática entre os três é feita pela mutante. “Mas a duas semanas houve uma festa com direito a chuva de pétalas douradas, que foram lançadas por alguns pontos específicos. E nesses pontos o alarme foi desligado. Por puro acaso...” mostra um sorriso convencido “...perderam a chave para religar o alarme completamente. E a empresa de segurança deles é um de nós; só mandarão um funcionário com a chave extra amanhã.”

Chega enfim a uma dessas janelas desligadas. Pega o canivete do bolso e raspa o contorno. Segura o vidro com a ponta de seus dedos enluvados. Jogando a franja, pisca para sua mutante favorita.

Ela captura o quadrado vítreo, juntando as sobrancelhas para dobrar seu foco, em seguida descarta-o ao lado do helicóptero. Bill lhe estende a bola de fumaça. Atenta às coordenadas do amigo sobre os raios infravermelhos escondidos, Fay infiltra o dispositivo dentro do espaço na claraboia. Próximo ao piso lustroso, solta. Com o impacto, a fumaça é liberada, tornando visíveis os traços vermelhos.

“Você está com o mapa?” pergunta ao filho do mafioso.

“Sim. Bem aqui” diz apontando a própria cabeça com o indicador e o polegar. Ergue o dedão e imita um tiro em seus miolos. Ele tinha toda a planta na cabeça.

Ela revira os olhos.

Pousa as sandálias góticas no ferro da claraboia. Caminha até ele. Hesita um segundo. Respira o ar puro. Toca-o. Uma faísca surge ao entrar em contato com a pele dele. Mas é algo morno, quase frio. Jamais se apaixonaria completamente por ele. Mesmo assim, achava que ele conseguiria preencher o vazio. Por enquanto, deixa ser invadida pela memória da planta e os locais das câmeras de segurança.

Toma distância.

Observa os rabiscos vermelhos dentro do quadrado vazio. Enxerga o fundo do negrume. A capacidade de memória de Ryan é impressionante. Cada porta, janela, corredor. O tamanho, o peso, a circunferência. Canos, dutos de ar, fios elétricos. Os traços infravermelhos, as câmeras, a ventilação. Tudo em sua memória, a mesma mente do arquiteto que projetou essa construção. Com o tremer das íris violeta, faz um curto circuito em todo o sistema de segurança. Passa a enxergar pequeninas luzes, como lâmpadas de natal que resolveram estourar. Precisa piscar várias vezes. Ryan apoia suas costas.

—Pronto – pronuncia sem querer. Sorri se desculpando.

Ele retribui com o sorriso confortável de costume.

“Vamos entrar” avisa Bill interrompendo a atmosfera harmoniosa que começava a surgir entre os olhares verde-violeta.

Visto que o grandão está aborrecido com a falta de ação, a garota flutua-o para dentro primeiro. Assim que os pés dele tocam o chão, o moreno sinaliza que irá caçar os vigias. Separam-se.

Ryan pede para ir em seguida, ela obedece. Ele desce, mas aguarda sua companheira com os braços abertos, como na festa.

Esvoaçando o manto, ela voa para seu amigo. Repousa como uma princesa nos braços fortes dele. Estão próximos. O cheiro de hortelã preenche o espaço que resta. Ao pensar em beijá-lo, o pescoço de Fay formiga. O vampiro a deixara, porém, o estigma ainda estava lá. Desconfortável, impõe sua vontade de descer. Ele a deixa ao chão.

Teria que caçar o vampiro para que ele desfaça o laço entre eles. O pensamento a deixa sombria.

“Vamos pegar tudo e acabar logo com isso”

Aproxima do pilar com uma caixa de vidro no topo. Um colar de esmeralda lapidada, trabalhada em diamantes, repousa sobre o fundo acolchoado. O brilho da joia é fosca, talvez por causa da escuridão.

“Fay”

Ryan joga um par de luvas a ela. Fay toma-as no ar. Olha intrigada. Ele mostra o indicador da semelhante luva que está calçando. A garota observa as suas e nota as digitais na ponta dos dedos, que confere com o botão de segurança no fim do caixote de proteção. Segurança manual.

Finalmente, toca e destrava. Levita a caixa. Enxerga agora perfeitamente. Contorna a pedra verde em forma de coração. Coração de Dama, está escrito na placa metálica logo a baixo. Quanta ironia. Enquanto seu coração verdadeiro está quebrado, ela tem que roubar um coração perfei... Ergue a joia nas mãos. É leve. Falta brilho. Atrás, encontra uma inscrição: Foi você quem quis assim.

“ É falsa.”

Gosta de joias. Krad sentia prazer em lhe dar joias, uma forma de afirmar o lucro do assalto, de ostentar seu sucesso. Ela contemplava-as por horas quando ganhava. Sempre coberta de joias verdadeira, sabe dizer quando é uma imitação. E esta era falsa.

Procura por Ryan para perguntar qual o significado disso. E recebe dele a mesma fala. Os dois apressam-se entre as demais fileiras de joias.

— São todas falsas... Vocês não verificaram se eram verdadeiras? — pergunta indignada.

—Visitei aqui ontem. Eram verdadeiras quando vim. — Ryan está confuso.

Uma lembrança ocorre. Ela recordava das falas de Krad perfeitamente. “Eu estava lá, na reunião”; ele sabia do plano todo. “Você está do lado inimigo”. Lado inimigo...

— É uma armadilha — murmura irada.

Krad se aliara aos policiais.


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Notas finais do capítulo

Obriga por ler ;)



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