Já se passaram três dias desde a suspensão, ou seja, hoje é sábado. Já são três horas da tarde e eu acordei faz uns quarenta minutos, encontrando em cima do criado mudo um bilhete de minha mãe:

"Querida, sua avó passou mal esta manhã e vim cuidar dela. Mas não se preocupe, sua tia me garantiu que foi apenas um mal estar, porém voltarei tarde para casa. Não quis acordar você, mas não apronte nada ok? Amo você. Beijos."

Ao ler o brilhete, bufei. Eu não vou ter absolutamente nada pra fazer hoje mesmo. Pela sacada do meu quarto onde estava entrando uma brisa fria, pude ver que o tempo estava aparentemente nublado. Sendo assim, vesti um moletom por cima do meu pijama do Bob Esponja e desci as escadas indo até a cozinha. Fui diretamente até um dos balcões onde peguei um pacote das minhas amadas batatas ruffles e me joguei no sofá da sala onde eu planejava passar o resto do dia , assistindo minhas séries favoritas.

Adormeci novamente, após alguns episódios de The Big Bang Theory mas fui acordada pela bendita campanhia que não parava de tocar.

Eu realmente não sei de onde eu tirei tanto sono.

Fui até a porta praticamente me arrastando e ao abri-la me deparei com um garoto bem familiar.

Seus cabelos loiros estavam num estilo "lambido". Seus olhos castanhos esverdeados me olhavam fixamente e sua boca rosada estava fechada em um sorriso torto. Ele vestia uma calça jeans estranha com uma camiseta de uniforme por dentro da mesma e calçava um par de all star pretos. Em sua mão se encontrava um livro que imediatamente reconheci. Sangue de lobo.

– Harry? - disse confusa.

– Acho que é meu nome. - O garoto respondeu ironicamente.

– Jura? O que veio fazer aqui?

– Vim te trazer o livro á pedido de Arthur. - respondeu tímido.

– Ah claro. Obrigado. - agradeci pegando o livro de suas mãos e me despidindo.

– Ei! Não vai me convidar pra entrar? - perguntou sorrindo torto novamente.

Desde quando o nerd se convida pra casa dos outros?

– Então você gosta de The Big Bang Theory? - continuou sem esperar minha resposta para a pergunta anterior.

– Como você sabe? - questionei confusa.

Ele apontou com o dedo indicador para a televisão que era possível de ver dalí da porta de entrada da minha casa. Afirmei com a cabeça o que o fez abrir um sorriso.

– Eu amo esta série. Posso assistir com você? - pediu parecendo timidamente animado.

Vai entender esse nerd.

– Oh! Tudo bem. Entre. - disse dando de ombros.

E eu me pergunto de novo: Desde quando o nerd fica se convidando para assistir séries na casa de uma garota que ele mal conhece? Esse Harry vive me surpreendendo.

Ele sentou no sofá timidamente e logo viu um pacote de ruffles vazio em cima da mesinha da sala.

– Você gosta de ruffles?

– Se eu não gostasse acho que não teria uma pacote vazio aí. - respondi já eatrassada com tantas perguntas idiotas.

– Tem mais? - perguntou ignorando minha grosseria.

Confirmei com a cabeça, girei meus calcanhares indo até a cozinha pegar alguns pacotes de ruffles, um litro de refrigerante e dois copos.

Eu só queria dormir. Bufei.

Saindo da cozinha, vi Harry sentado assistindo um dos melhores episódios da série.

– Esse é o melhor episódio de todos não acha? Esses caras são malucos. - falou rindo enquando eu me sentava ao se lado entregando-lhe um dos pacotes das batatas e pondo os copos e o refrigerante na mesinha.

– Com certeza. - concordei. - Já assisti esse episódio um milhão de vezes.

– Eu também. - sorrimos. - A propósito, gostei do pijama.

(...)

Nos empolgamos tanto assistindo a série que só percebi o quão tarde era quando meu celular tocou ao receber uma mensagem da minha mãe.

"Filha irei dormir aqui na sua avó, ela continua com a pressão baixa. Mas não se preocupe, é só para garantir que ela não vá passar mal durante a noite. Se cuida. Amo você. Beijos."

Respondi imediatamente:

"Tudo bem mãe. Se ela passar mal me ligue avisando ok? Te amo, beijo."

Ao terminar de escrever e enviar a mensagem olhei para o canto da tela do celular onde mostrava as horas. Dez e meia da noite. Me assustei pois realmente achava que era bem mais cedo. Harry ao ver minha cara de espanto me olhou confuso.

– O que foi?

– Já ta tarde. Melhor você ir embora nerd, quero dizer, Harry. - falei me condenando logo após por tê-lo chamado de nerd.

– Ok. - concordou sem expressar a mínima chateação pelo o que eu falei. - Boa noite Sophia.

– Boa noite Harry. - disse o levando até a porta.

Inesperadamente ele me deu um rápido beijo no rosto, sorrindo torto logo em seguida e indo embora. Sorri divertida com a ação ousada para um garoto tão tímido.

Fechei a porta de casa e voltei para o sofá onde continuei assistindo televisão, mas agora uma série completamente diferente da que eu vi com o nerd, ou melhor, Harry. Por mais diferente que seja a série, ela não deixava de ser uma das melhores que já assisti. Supernatural.

Lá para as três horas da manhã senti meus olhos pesando por conta do sono e me vi obrigada a desligar a televisão e ir para o quarto dormir. E novamente tive um sonho estranho aonde eu e Arthur éramos um casal, mas desta vez Harry também aparecia.

"Arthur me abraçava forte como se tivéssemos ficado dias sem se ver. Ele me deu um beijo na testa e me segurando pela mão me levou até uma cabana no meio da praia. Era pequena e confortável. Nos sentamos numa cama macia e conversavamos empolgantente sobre coisas bobas quando Harry entra na cabana indo diretamente na direção de Arthur, acertando-lhe um forte soco no rosto. Me vejo chorando sem parar, desesperada por vê-los brigando daquela forma."

Acordei assustada e sentia o suor escorrer na minha nuca, sendo que pela sacada ainda entrava um vento frio, jogando meus cabelos no rosto. Prendi-os em um coque solto e me levantei da cama na intenção de ir fechar a sacada. Olhei para o céu e ele estava completamente preenchido por estrelas naquela noite. Olhando mais para longe, pude ver algo branco se distanciando e por um momento jurei que fosse um anjo com asas longas e brancas. Afastei aqueles pensamentos surreais, fechei a sacada e voltei para a cama na tentativa de voltar a dormir. O que aconteceu rapidamente, mas dessa vez sem nenhum sonho ou pesadelo.