Versos de Orgulho escrita por Lab Girl


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoal... este é o último capítulo desta história. Primeiramente, agradeço a todos que acompanharam até aqui e ainda se preocuparam em deixar seus comentários capítulo a capítulo. Saibam que isto, para mim, como autora, é muito especial e estimulante. Espero ter conseguido amenizar nossa decepção geral com a atitude do Davi quando a Megan se jogou na noite daquele jeito. E espero ter alcançado o que eu buscava aqui: criar um conflito que ajudasse a solidificar e amadurecer o relacionamento de Megan&Davi. Vamos ao não tão "gran" assim, mas finale xD



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O sol já estava alto no céu. A luz entrava pelos vidros que serviam de janela na antiga garagem transformada em quarto. Davi estava sentado em sua velha poltrona, observando-a dormir.

Já passava das nove, mas ele não queria acordá-la. Preferia deixar que ela descansasse. Haviam coisas a ser ditas, mas ele podia esperar.

E ali estava ele, esperando. Com uma caneca de café nas mãos, saboreando a bebida quente e pensando em como a noite passada havia sido um caos. Ele mal conseguiu pregar o olho, acordando uma e outra vez de pesadelos terríveis em que o chamavam de um hospital ou em que Megan era levada numa ambulância depois de bater o carro.

A mera lembrança lhe dava um gosto ruim no fundo da garganta. Virando-se para deixar a caneca com o resto do café sobre a mesa, ele a escutou mexer-se na cama improvisada.

Olhando para ela, a viu levar um dos braços ao rosto, franzindo a testa. Um pequeno resmungo escapou da garganta dela. Megan abriu os olhos, piscando várias vezes antes de focá-lo.

“Que horas são?” ela perguntou, rouca, levando uma das mãos à cabeça que, com certeza, doía.

“Quase dez da manhã” ele respondeu de seu lugar.

Megan suspirou. Sentou-se sobre o sofá, afastando o cobertor. Passou as mãos pelo sofá, pelo colchão, procurando alguma coisa. Até que pareceu se dar conta de algo, frustrada.

Shit!” ela soltou o impropério na língua nativa.

“O que foi?” ele perguntou, curioso.

“Lembrei que joguei o celular fora.”

“Jogou fora?” Davi arqueou as sobrancelhas, mas, fora isso, não esboçou nenhuma reação.

Ela corou enquanto colocava os pés no chão, sentada na beirada do colchão.

“Eu atirei pela janela do carro. Sabia que você me acharia pelo rastreador de novo.”

Davi balançou a cabeça. Típico de Megan Lily Parker-Marra. Atirar um MarraPhone pela janela. A menina que tinha tudo, não se importava em perder nada.

“A gente precisa conversar, Megan.”

Pelo seu tom de voz e sua postura, sabia que ela estava entendendo perfeitamente a seriedade do assunto.

Megan suspirou, passando as mãos pelo cabelo.

Ok. Já sei que vai me dizer que eu fui uma louca por ter saído daquele jeito daqui e me metido naquela boate… e depois por ter te virado as costas e ido embora sozinha...”

“Você dirigiu bêbada, Megan” Davi a interrompeu. “Preferiu deixar a sua raiva de mim falar mais alto e me deu as costas, pegou o volante depois de ter bebido.”

“Davi” ela finalmente levantou-se e deu a volta na poltrona onde ele estava, ficando atrás dele e colocando as mãos sobre o encosto. “Eu sei que me deixei levar, não foi a primeira vez que isso aconteceu…”

“Mas podia ter sido a última! Percebe a seriedade disso?” ele virou-se para encará-la.

Ela tornou a suspirar, os ombros caindo. “Ok, eu já sei que fiz bobagem.”

“Não, não foi uma ‘bobagem’. Foi uma estupidez e uma irresponsabilidade!”

Dessa vez Megan ficou visivelmente afrontada, os olhos expressivos brilhando com surpresa e desagrado.

Davi não esperou que ela se manifestasse, sua indignação pela atitude dela na noite anterior finalmente vindo à tona agora que ela estava sóbria o suficiente para escutar.

“Megan, você não devia ter saído por aí dirigindo naquele estado.”

“Eu queria andar… espairecer, como vocês dizem.”

“Bêbada? Com o risco de se arrebentar num poste ou coisa pior?” ele tirou os braços da poltrona e, levantando, a fez sentar-se no sofá.

“Ai, Davi… não vamos começar tudo de novo” ela se queixou.

“Eu não vou começar, eu vou terminar, Megan.”

Isso pareceu assustá-la. Os olhos grandes e castanhos foram tomados por uma sombra de dúvida e a voz dela tremeu quando falou. “Você… você quer terminar comigo?”

Pelo visto, ainda havia algo que ela tinha medo de perder. Isso o fez sentir-se especial e, ao mesmo tempo, lhe deu coragem para dizer o que ela precisava ouvir.

“O que você fez foi um absurdo, Megan! Você pegou o volante depois de ter tomado todas naquela boate! Você sabe o que podia ter acontecido?”

“Qual é, Davi? Você nunca quis sentir o vento no rosto, a adrenalina correndo nas veias?”

“Não às custas de colocar a minha vida e de outras pessoas em risco.”

Ele estava frio, incisivo. Aquele sermão ela já tinha ouvido muito de seus pais.

“Como se você nunca tivesse cometido uma loucura uma vez na sua vida, right? O santo e certinho Davi Reis, que nunca deu um passo em falso.”

“Eu já cometi meus erros, sim, Megan. Mas você não é mais criança. O mundo não é seu parque de diversões, garota” ele atirou, o olhar duro e sem um pingo de tolerância.

Ela sentiu o chacoalhão moral. Sabia que ele estava certo, mas não suportava mais sermões. Aquela noite tinha sido horrível e, muito em parte, por causa dele. Queria que Davi sentisse a mesma inconveniência que a estava fazendo sentir naquele momento.

“Talvez, se você tivesse pensado um pouco em mim quando eu vim desabafar sobre o que descobri do meu dad, eu nem tivesse entrado naquele carro, nem ido àquela boate. Nem bebido.”

Ela viu o maxilar de Davi mover-se, se apertando momentaneamente. Ela havia dito as palavras certas. Finalmente, ele estava esboçando uma reação que não era de superioridade e confiança.

“Eu já expliquei que eu não te contei sobre a Verônica porque…”

“Porque é amigo dela, ok, eu já sei” ela revirou os olhos. “Mas e eu, Davi? Não passou pela sua cabeça um segundo sequer que você ia me magoar defendendo a amante do meu dad? Justo quando eu estava desabafando com você porque eu não tenho mais ninguém em quem eu possa confiar?”

Ele piscou. Abaixou os olhos. Remexeu as mãos ao lado do corpo. Suspirou e tornou a olhar para ela.

“Eu reconheço que não escolhi o melhor momento pra falar que a Verônica é uma boa pessoa. Nem pra revelar que eu já sabia do caso dela com seu pai. Mas eu realmente não me arrependo de não ter te contado antes, eu soube através de uma confidência do Vicente, que também é meu amigo. Eu não tinha o direito de falar uma coisa que ele me contou em segredo.”

Os olhos de Megan ardiam e, finalmente, as lágrimas começaram a cair. Ela disfarçou passando uma das mãos pelo rosto. Mas Davi percebeu e se agachou ao lado do sofá, tocando sua mão.

“Ei” ele sussurrou, forçando-a a olhar para ele. “Me desculpa, Megan. Eu nunca quis magoar você. Nunca. Peço perdão.”

Ela sentiu o coração aumentar de tamanho. Como podia? Com apenas algumas palavras ele a feria mortalmente e, com apenas algumas palavras, ele a curava.

Ela fungou, tentando esconder o choro. Foi inútil. Quando a mão calorosa de Davi correu por sua face, as lágrimas rolaram soltas e sem controle. Sentindo o corpo todo tremer com os soluços, ela derreteu nos braços que ele abriu para ela enquanto se sentava ao seu lado no sofá.

Como uma criança, Megan chorou, agarrando-se à camisa dele. Deixou que toda a dor, a vergonha e o medo saíssem de dentro dela.

Quando o tremor de seu corpo começou a diminuir, os soluços cessando, ela sentiu os braços de Davi a apertarem um pouco mais. E, inesperadamente, ele fez uma confissão que ela nunca teria esperado.

“Meu pai tinha bebido naquele dia… no dia do acidente” a voz de Davi era quase um sussurro.

Megan ergueu o rosto do peito dele, olhando-o nos olhos. Ele sabia que estavam marejados. Mas já não havia por que esconder isso mais.

Ela sussurrou baixinho, “Eu não sabia. Sinto muito…”

Megan tocou seu rosto, deslizando um polegar carinhosamente pela barba. Davi deu um sorriso triste, segurando uma das mãos que o tocavam, o olhar se perdendo no sofá porque era doloroso demais encará-la enquanto falava.

“Levou anos pra minha tia Rita me contar. E só depois de muita insistência foi que o meu tio Dante falou com ela e achou melhor que eu soubesse de tudo.”

Megan deslizou uma das mãos do rosto dele para o ombro, apertando gentilmente. Agora ela entendia por que ele estava tão bravo com ela por ter dirigido bêbada. Seu coração se apertou. E ela deitou a cabeça no peito dele novamente.

“Me desculpe. Eu nunca imaginei. Eu fui uma tola e irresponsável, você tem razão. Mas foi a última vez que eu peguei num volante depois de beber. Eu prometo.”

Ele colocou a mão em seu queixo, levantando seu rosto para encará-lo. Ela piscou, devolvendo o olhar intenso.

“Megan, essa promessa é muito importante pra mim. Porque você é muito importante pra mim. E eu não quero te perder também por um ato irresponsável desses.”

Ela balançou a cabeça, compreendendo. “Eu não sou perfeita. Eu tenho muitos defeitos, Davi. Faço muitas bobagens. Mas eu sempre fui assim… eu cresci assim, não sei ser diferente. Por isso, me ajuda, Davi…” ela segurou a camisa dele como uma criança perdida. “Me ajuda a mudar. A ser uma pessoa melhor.”

Ele a beijou na testa, trazendo seu corpo para junto dele num abraço. Megan o envolveu com os braços, afundando o rosto no pescoço dele. Ela sabia que ainda tinha muito o que aprender, muito o que melhorar. Mas sabia também que, com Davi, isso era possível.

Sentindo o calor e a fragilidade do corpo dela contra o seu, ele estava se dando conta, de repente, de que os dois precisavam um do outro. Não apenas ela precisava dele, mas ele também precisava dela. Às vezes os dois era orgulhosos demais na superfície, porém, bem no fundo, tanto um quanto outro tinham suas carências, seus medos.

Terem se encontrado, obra do destino ou da insistência dela, não importava, era preciso. Tinham suas diferenças e continuariam a ter, thank God! como diria Megan. Justamente por serem distintos, a maravilhosa dádiva: complementação.

Podiam brigar, se desentenderem, mas era assim que as coisas se resolveriam. Talvez isso fosse crescer, Megan concluía. Talvez isso fosse amar, Davi concluía.

Ele não se deu conta de que chorava até sentir o ombro da camisa que Megan vestia molhado. Erguendo o rosto, Davi suspirou, passando a mão para secar as próprias lágrimas.

Sentiu os dedos de Megan em seus cabelos. Um carinho suave e tão sincero que a vontade de chorar retornou. Ele tentou conter-se. Pegando as mãos dela nas suas, recuou um pouco para poder olhá-la nos olhos.

Ela tinha olhos tão grandes, tão vivos… tão luminosos. Dois faróis. Ele às vezes se sentia cego pelo brilho deles. E, nessas ocasiões, tinha medo. De se deixar enfeitiçar. De perceber que eles continham as respostas que ele às vezes preferia ignorar. Para não admitir que esteve errado desde o começo. Por não acreditar nos sentimentos dela. Por não se deixar envolver por ela.

Davi tinha plena consciência de que havia sido um tolo ao se apaixonar pela pessoa errada. Ao entregar seus sonhos e dividir sua vida com alguém que nunca tinha feito o mesmo. Enquanto a garota a sua frente tinha estado ali o tempo todo. Com seus olhos vivos, mostrando o caminho. Pena que só agora ele conseguia ver.

Especialmente depois da noite passada, depois desse momento de desabafos e confidências entre eles, Davi tinha a mais absoluta certeza de que se havia uma pessoa certa para ele no mundo, essa pessoa era Megan Lily. Com todos os seus defeitos e loucuras.

Seu orgulho não havia permitido que admitisse isso até a noite anterior. Até sua primeira discussão com ela. E até sentir um medo arrebatador de perdê-la. Enquanto esteve acordado ali, pensando em onde ela poderia estar, sem conseguir mais rastreá-la pelo celular, ele nunca sentiu tanto medo. Quando escutou o barulho do motor do carro dela parando em frente a sua casa, um alívio surreal varreu seu corpo. Ele podia estar chateado com ela, mas vê-la na sua porta, sã e salva, foi tudo o que importou.

No exato momento, poder olhar para ela, tocar o rosto delicado, encarar os olhos mais sinceros que conhecia, fazia o desespero momentâneo ter valido a pena.

“Eu quero muito que a nossa relação tenha futuro, Megan” ele se pegou dizendo.

Os cílios delicados piscaram, batendo leves como asas de borboleta enquanto ela o mirava com atenção.

“Eu também quero, Davi” ela murmurou.

Um pequeno sorriso tocou o canto dos lábios dele antes de se desfazer. Sua mão desceu juntamente com seus olhos para os lábios delicados e naturalmente bem traçados. Sentiu a garganta repentinamente seca.

“Pra isso a gente precisa ter confiança um no outro. Sentar pra conversar quando surgir algum problema. Eu não quero, nunca mais, que você fuja de mim como fez ontem.”

O olhar de Davi finalmente subiu para os olhos dela. Outra vez, piscando suavemente, ela o encarava com atenção.

“Eu também quero isso. Não quero que a gente seja like meus pais, que em vez de tentarem resolver as diferenças sempre fugiram um do outro, fugiram dos problemas” ela desviou os olhos enquanto prosseguia. “Meu dad se refugiava na Marra, minha mom nas compras e nos eventos sociais. E eu ficava ali, no meio daquilo tudo.”

“Ei” ele tocou o queixo de Megan, fazendo-a voltar a olhar para ele. “Você não está mais no meio deles. Você tem a sua própria vida agora e a sua própria história pra escrever.”

Ela sorriu. Um sorriso puro, quase infantil, que enterneceu ainda mais seu coração.

“A nossa história” Megan recitou as palavras, envolvendo o queixo dele com a palma da mão. “Ours.

Davi respondeu com um sorriso próprio. “Eu te amo, Megan.”

E as palavras saíram naturalmente. Tão naturalmente que ele nem sequer se surpreendeu por tê-las dito. Fazia tempo que estavam ali, dentro dele. Hoje, elas tinham finalmente tomado forma.

A surpresa não foi dele, mas dela, que mudou completamente o semblante ao escutá-las. Os olhos grandes ficaram ainda maiores, aumentando de tamanho feito duas luas cheias. E o sorriso que se ampliou no rosto dela fez as duas contas escuras brilharem com genuína felicidade. E ficarem úmidas com novas lágrimas. Ainda sorrindo, Davi passou os dedos por baixo dos cílios inferiores dela, secando-as.

“Você é muito importante pra mim. Por isso eu fiquei tão maluco com a possibilidade de que alguma coisa pudesse te acontecer dirigindo naquele estado…”

Megan levou o dedo aos lábios de Davi.

Shh… eu já prometi. Nunca mais faço isso, I swear.”

Ele beijou o dedo dela. Ela sorriu, os olhos ainda molhados.

Sem pressa, ele a puxou pela nuca, aproximando seus rostos, suas respirações. Lenta e delicadamente, um beijo começou a se esboçar, seus lábios roçando um no outro. Logo, como dois velhos conhecidos, se abriram, misturando hálitos quentes e línguas saudosas.

Mais do que qualquer coisa física, o beijo que trocavam era uma confirmação. De tudo que haviam acabado de dizer. De tudo que sentiam. De que, por mais que existissem diferenças entre eles, ao final, tudo iria se encaixar. E enquanto estivessem juntos, nos braços do outro, tudo ficaria bem.

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Notas finais do capítulo

E foi isso, pessoal. Espero mesmo que tenham gostado. E espero ter outras inspirações para outras fics com esses dois... Megan&Davi *.*



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