– Então... é o seguinte: Alguma vez vocês já se teleportaram e levaram mais alguém com vocês? – John e Charllote fizeram que sim quando Irene terminou de falar. – Ótimo. E alguma vez vocês já reparam que o chão nunca fica da mesma maneira quando nos teleportamos?

– Uma vez, quando eu ainda era um soldado da Ultra, eu me teleportei e sem querer fiz uma cratera no chão. – Disse John.

– Isso é bom. – Respondeu Irene – Nossos poderes estão conectados uns aos outros e às vezes, por um segundo ou menos, eles se ativam sozinhos quando usamos outros. É mais ou menos o que acontece quando ficamos nervosos e nossa telecinese pira. Pra falar a verdade a telecinese é o poder que mais se manifesta involuntariamente.

– Sim, mas o que tudo isso tem a ver com a gente do lado de fora da casa de Stephen? – Perguntou Charlotte

– Porque você e John vão teleportar a casa dele para um lugar muito especial para nós. E lá Stephen fará o nosso Refúgio.

– Como exatamente eu farei isso? – Perguntou John compartilhando a curiosidade de Charlotte.

– Charlotte vai se concentrar na casa. Ela é poderosa e pelo o que me lembro, você a ensinou bem – Charllotte começou a corar diante dos elogios – Eu vou ser a ponte. Vou ligar a telecinese da Charllotte no seu teleporte. Tem como você se concentrar e segurar um pouco?

– Sim. Mas não sei por quanto tempo eu vou conseguir segurar.

– Deem as mãos. Vamos teleportar a casa de Stephen.

Em algum lugar longe dali estavam Stephen, Cara, Daniel e Crystal. Os quatro estavam no antigo esconderijo dos Seres Do Amanhã. Stephen e Cara sorriam sem perceberem, sentindo uma enorme nostalgia. Várias lembranças boas voltavam à mente dos dois.

“Kevin, eu sei que você está aí”, mentalizou Cara tentando achar o irmão de Daniel.

Kevin apareceu da antiga sala onde Tim ficava. Com os olhos arregalados e totalmente estupefeito, Kevin correu para o irmão e o abraçou. Crystal, Cara e Stephen sorriam assistindo a cena.

– O que aconteceu? Achei que você estava morto.

Após Jedikiah mentir para Kevin que seu irmão tinha morrido, o rapaz preferiu o isolamento e acabou ficando desleixado consigo próprio. Suas olheiras estavam fortes e as roupas, além de fedidas, estavam cheias de furos e até um pouco mofadas. Mas nada disso importava agora. Daniel estava bem.

– Cara me salvou.

– Obrigado por não desistir do meu irmão. – Disse Kevin olhando para Cara, fazendo-a sorrir e só agora notando Crystal com eles. – Crystal? É você mesmo? - Os dois se abraçaram também. - Achei que você também tinha morrido.

– Jedikiah me prendeu para atrair Daniel, mas ele viu que isso não ia dar certo então tentou me matar. Eu sabia sobre os homo superiores então precisava ser silenciada, mas Daniel me salvou. Estive morando em nossa casa, desde então.

– Provavelmente na época em que ele ainda pesquisava um jeito de implantar poderes em homo sapiens. – Comentou Cara

“Stephen, nós temos uma situação”

Natalie tentou se comunicar telepaticamente com Stephen e por estar nervosa acabou causando uma pequena dor de cabeça no rapaz. Cara o encarou feio e entrou em sua mente por um instinto protetor e captou o sinal telepático de Natalie.

– Uau. Algo grande deve estar acontecendo. – Falou Cara atraindo olhares curiosos.

– Deixe-me adivinhar: Jedikiah? – falou Kevin

– Nem parece que é meu tio. – Falou Stephen. – Daniel... Crystal e... Kevin... Precisamos ir.

– Cara... Antes de você ir... – Kevin aproximou-se da menina deixando-a um pouco nervosa – Você não desistiu do meu irmão. Obrigado. – Kevin a beijou deixando-a sem fôlego.

Cara ficou surpresa e um pouco receosa no momento. Kevin parecia ter percebido isso, visto que pôs as mãos nos braços da moça o que, de um certo modo, deixou-a mais calma. Kevin por outro lado parecia feliz. Cara podia sentir o coração do jovem batendo rapidamente. Ele estava feliz por encontrar o irmão e mais ainda por ter sido Cara a pessoa que resolveu essa situação. Quando os dois dormiram juntos pela primeira vez, ambos estavam sentindo-se vazios e até o momento, apenas o vazio de Kevin havia sido preenchido com a presença do irmão. Apesar de não ter parecido ser o suficiente, já que somente quando beijou Cara é que sentiu-se cheio de vida mais uma vez, assim como a mesma, que desde que John e Stephen passaram a namorar, a garota ficava cada vez mais sozinha.

– Embaraçoso. – Comentou Stephen baixinho.

– Não deve ser pior do que você e o John pra ela. – lembrou Daniel

– Obrigada – Disse Cara ainda tentando entender o que aconteceu – Eu acho. Mas eu preciso ir. Nos falamos depois?

– Na verdade... Eu estava pensando... Eu te devo uma, então...

– Já saquei. – Dise Cara – Tudo bem. Vamos, então.

Aproveitando-se da situação, Stephen mandou uma mensagem telepatica para Natalie pedindo que o encontrasse no novo refúgio, onde estaria John e os outros.

Longe dali, no meio da mata, próximo à uma cabana de madeira e um calmo lago, apareceu uma casa de dois andares e três pessoas caindo no chão. John, Charlotte e Irene conseguiram teleportar a casa de Stephen para o lado da antiga casa do professor Aldus Crick.

O Professor Crick foi um cientista que descobriu e estudou a primeira geração dos Seres Do Amanhã, incluindo Roger Jameson, o pai de Stephen, assim como ajudou seu filho explicando-o sobre o projeto Thanatos.

– Que lugar é esse? – Perguntou Charllote

– É onde morava um amigo nosso que ajudou a trazer o pai do Stephen de volta do Limbo. – Explicou John respirando fundo. – Irene, isso foi uma tentativa suicída, não foi?

– Tecnicamente não. Só é suicida se você morrer. – Falou Irene também suspirando.

– Se continuarmos vivos, eu juro que te mato. – Falou John levantando-se assim que recebeu algo de Stephen.

John escutou o costumeiro barulho de teleporte. Imaginou que fosse Stephen e Cara, mas se surpreendeu quando viu Daniel, Kevin e Crystal com eles. Ainda mais com Kevin e Cara sorrindo um para o outro.

Stephen correu para os braços de John com um sorriso enorme. Os dois se beijaram, mas não durou muito. John estava doido para saber o que havia acontecido. Stephen então contou-lhe tudo sobre Kevin e como ele passou para o lado deles.

– Aliás, você fez um ótimo trabalho. Irene estava certa.

– Então quer dizer que você confiava nela e não em mim?

– Qual é, John?

Os dois se beijaram mais uma vez, antes de Natalie e Zoey aparecerem.

– E lá se vai o nosso momento romântico. – Resmungou John.

Todos entraram na casa de Stephen. Estava tudo bagunçado, armários no chão, sofás revirados, tapete embolado, algumas louças quebradas, talheres para todo o lado e alguns vidros quebrados, mas nada disso importava agora, eles precisavam driblar Jedikiah que os traíra apesar de saberem que isso não seria fácil.

Stephen telepaticamente pôs a mesa e as cadeiras no lugar para que pudessem se acomodar. Alguns ficariam de pé, mas isso não era tão importante no momento.

– Então... deixa eu ver se eu entendi: Jedikiah manipulou vocês pra nos expor? – Perguntou Kevin – Isso não parece com ele. Porque ele faria isso? Ele não queria evitar uma guerra?

– Eu conversei com o prefeito quando um paranormal nos revelou. Eu contei tudo para ele. Sobre a Ultra e sobre os Seres Do Amanhã. Ele ficou com medo de nós, como já era esperado, mas acho que a curiosidade de saber mais sobre nós falou mais alto. Ele acha que eu sou o líder, então fizemos um trato. Nós não nos envolveríamos em nada até que ele mandasse homens para nos averiguarem. Conferir se todas as coisas boas que eu falei eram verdade. – Explicou Stephen

– Os homens que chegaram lá quando eu notei que Jedikiah estava nos manipulando devem ser os que o prefeito falou então. – Comentou Natalie começando a entender toda a história – Ok, então... Como vamos contra atacar, Stephen?

– O que? – Perguntou Stephen surpreso

– Eu não estou aqui pra nada. – Falou Kevin recebendo olhares não agradáveis.

– Vamos pensar primeiro. – Falou John aproximando de Stephen notando que o namorado estava ficando nervoso. – Jedikiah é um gênio do mal. – Daniel concordou com a cabeça – Ele esteve à nossa frente o tempo todo. Hora de virarmos a mesa.

Stephen olhou nos olhos de John e compreendeu. Todos estavam ali para seguir suas decisões, seguir seus ideais e lutar por eles. Stephen, pela primeira vez, sentiu-se o “escolhido”, como diria Cara e John no passado.

– Ok... Por que Jedikiah nos trairia? – Perguntou Stephen pra quem quisesse responder.

– Proteção. Ele com poder outra vez vai conseguir proteger Morgan e o filho. – Falou Cara – Mas pra isso ele precisa provar que está do lado do governo.

– Como vocês acham que ele vai provar isso? – Perguntou Zoey para a surpressa de todos – Que foi? Eu estou no radar desse maluco agora. Preciso saber de tudo.

Natalie sorriu para Zoey e talvez, se não estivessem acompanhados, fariam muito mais do que apenas fitarem-se sorridentes.

– Atacando vocês – Disse Kevin após alguns segundos de silêncio

– Kevin, nem tudo se resume à ataques. – Falou Cara serenamente. Porque os homens só pensavam em dar porrada?

– Na verdade, Kevin pode ter razão. – Falou John – Jedikiah vivia falando em uma guerra contra os humanos e que poderíamos ser atacados a qualquer momento. Já se faz uma semana e uns dias que as pessoas sabem sobre a gente e ninguém veio nos atacar.

– Se ele nos manipulou todo esse tempo, talvez ele estivesse pensando já nesse ataque contra nós. – Completou Irene.

– Ok, então precisamos tirar todos de lá, antes que ele chegue. – Falou Stephen. Algo parecia estar surgindo em sua mente.

– Ainda bem que não precisamos nos preocupar com isso. – Falou Natalie para a surpresa de todos. – Eles estão seguros. Antes de te chamar eu e Russell levamos todos pra casa da Zoey.

– Você fez o que? – Stephen estava perplexo.

– Isto está melhor do que eu pensei. – Comentou Kevin com entusiasmo e levando um tapa de Cara e de Daniel.

– Estão todos na minha casa. Natalie e eu concordamos que seria melhor deixá-los seguros, então chamamos Russel e ele convenceu a todos de ficarem lá por um tempo. Quase não coube ninguém, mas só porque eles não levaram todos os pertences.

– Wow! Obrigado. – Falou Stephen um pouco estupefeito. Não esperava isso de alguém que os traíra no passado. Parece que o romance das duas estava fazendo muito bem à Natalie – Bom... retomando... A gente precisa descobrir agora quantos irão até a Ultra armados até os dentes.

– Vocês poderiam usar aquele computador de vocês. Tim, eu acho. – Falou Crystal – Ele é um supercomputador, certo?

– Sim, mas Jedikiah pode ter alterado suas configurações. – Disse Cara um pouco triste.

– Mas eu acho que talvez eu possa reprogramá-lo ou Russel e Donna poderiam nos ajudar de lá da delegacia. – Sugeriu John

– Eu posso falar com Russel, se vocês quiserem. – Natalie se ofereceu levantando a mão – É o mínimo que eu posso fazer depois do que eu fiz com seu pai, Stephen, e após ter ido atrás de vocês naquele parque...

– Obrigado, Natalie... Mas acho que Charllote é quem devia ir até Russel e Donna e explicar toda a situação pra eles. Eu poderia fazer isso telepaticamente, mas eu preciso me concentrar na última parte do plano.

– Que seria?

– Nós lutamos.

Kevin e Natalie sorriam. Os dois estavam esperando por isso, mas o resto do grupo ficou nervoso. Eles mal saíram de uma guerra para começarem outra. Além disso, os segredos que cada um carregavam e que no começo havia separado-os, agora era o que os mantinham unidos.

– Então é isso? – Começou Charlotte – Nos despedimos?

– Do jeito que você está falando parece que vamos todos morrer. – comentou Daniel para si mesmo

– Como assim nós? - Perguntou Kevin incrédulo – Você não está pensando em lutar, está?

– Ninguém merece... – Dizia Stephen para si mesmo.

Irene e Charlotte se despediram do grupo. Charlotte iria até a delegacia falar com Russel e Donna, enquanto Irene iria para Yale. Stephen decidiu manter o plano de Jedikiah de infiltrar Seres Do Amanhã na sociedade. Um pouco arriscado, mas ainda era uma boa ideia. Cara e John foram totalmente contra, mas Irene resolveu que seria o melhor e o certo a ser feito. Eles manteriam contato pois a garota poderia continuar ajudando assim que o refúgio estivesse no auge.

Após algumas discussões, Kevin cedeu para a ideia de seu irmão Daniel lutar ao lado deles. Apesar de terem dois sinergistas no grupo eles não faziam ideia de quantos os esperavam, então um a mais não seria uma má ideia.

Zoey e Crystal acharam melhor ficarem ali mesmo por enquanto, onde as duas poderiam trocar ideias sobre esse mundo e enfim decidir o que fazer de suas vidas.

Cara e John foram até o refúgio. Cara foi até a sala de armas que Charlotte encontrara para ver se podia usar algo contra os soldados. John foi até a sala de Tim para trabalhar em seu software, reprogramar o computador para que ele não obedecesse os comandos de Jedikiah.

Stephen foi até a casa de Astrid. Quando chegou lá, a encontrou com o namorado, o que acabou sendo algo bom. Ele explicou para os dois o plano que tinha e quem estaria lutando. A princípio, Astrid quis ir também. Participar como da última vez, no entanto, eles decidiram que não era uma boa ideia que a garota se expusesse uma vez que sua participação seria de extrema importância no futuro.

Pela primeira vez em muito tempo, Stephen sentiu que tudo daria certo. Sentiu que desta vez ele fosse ganhar sem que ninguém morresse e que ele salvaria a todos. Era hora de virar o jogo.