Selecionados escrita por GarotoTumblr


Capítulo 1
A Seleção




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BROOKE

O meu bracelete vibrou, emitindo um alerta no visor que era hora de acordar. Eu já havia acordado há horas e, de lá para cá, fiquei observando a América amanhecer através da janela redonda do meu quarto.

Ver o planeta todo o dia fazia com que eu nunca me esquecesse de casa. Eu tinha uma imensa saudade de sentir o cheiro das flores, das gotas de chuva escorrendo pela minha pele, do suave canto dos pássaros e até do barulho das buzinas emitidas pelos carros das ruas de Nova Iorque. Eu trocaria até Brandon para poder sentir isso tudo outra vez.

O único modo de conseguir voltar para casa era através da Seleção. Todo ano o governo promove um jogo na Terra, oferecendo para quem conseguisse ganhá-lo, a liberdade. Esse ano seria a minha nona tentativa de ser selecionada.

─ Prisioneiros da Alcatraz II, apresentem-se ao pátio principal em uma hora para a Seleção. ─ falou uma voz masculina através dos alto-falantes.

Levantei-me da cama em um pulo e abri rapidamente o guarda-roupa embutido, retirando todas as roupas disponibilizadas pela prisão, jogando-as em cima da cama. Não tinha idéia do que eu iria vestir. Eu deveria ir com alguma roupa que não atrapalhasse muito os meus movimentos, mas que fosse confortável e arejada.

─ Incrível como até no Espaço você consegue ser indecisa para escolher uma roupa. ─ Brandon falou, com as costas coladas na porta, assustando-me.

─ Sabia que é contra as regras violar as portas? ─ perguntei, lembrando-me todas as vezes que ele havia invadido o meu quarto.

─ Já estou preso mesmo. ─ ele rebateu. Sorri de canto e o olhei atentamente.

─ Sério que você vai com essa roupa? ─ perguntei ao ver que ele vestia o uniforme de treinamento. Um macacão cinza, colado ao corpo, com a insígnia do Alcatraz II estampada no peito.

Ele consentiu, acenando com a cabeça.

Dei de ombros e ergui um jeans e uma blusa branca, mostrando-as para Brandon, que já estava sentado na minha antiga e vergonhosa poltrona rosa, que só ainda não a tinha jogado fora por ser o único artefato que eu havia conseguido trazer da Terra. Arrependo-me amargamente de pedi-la como ultimo desejo, antes de ser enviada para essa prisão em órbita da Terra, quando eu havia oito anos.

─ Que tal essa roupa?

Brandon esboçou uma careta e se levantou, procurando alguma coisa entre o monte de roupas jogado na minha cama.

─ Esse! ─ ele falou, mostrando o meu uniforme de treinamento. ─ Eles não criaram esse uniforme à toa. Use-o.

─ Nunca! ─ afirmei, cruzando os braços ─ Você sabe muito bem que eu odeio esse uniforme.

─ Você não tem escolha ─ ele falou retirando as roupas das minhas mãos e me empurrando para o banheiro.

Fuzilei-o com o olhar e Brandon fechou a porta, com um sorriso cínico no rosto. Olhei outra vez para aquele macacão cinza e bufei de raiva. Não acreditava que ele iria me arrastar para o poço da vergonha junto com ele. Pensei em voltar para o quarto e pegar as roupas que eu queria, mas sabia que Brandon não ia deixar, e não pararia de encher o meu saco até eu usar aquele maldito uniforme. Indignada, tomei um banho e me vesti, com uma vontade imensa de me enterrar no primeiro buraco que aparecesse a minha frente.

Olhei-me no espelho e revirei os olhos pela minha grotesca aparência. Os meus negros fios de cabelo, de tamanho mediano, que pendiam em minha cabeça, estavam completamente desgrenhados; minha cara estava amassada e aquele uniforme colado ao meu corpo causava-me estranheza por marcar músculos que há muito tempo não havia ali.

Prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo e saí do banheiro, encontrando Brandon com um sorriso malicioso no rosto. Ele mordeu o lábio inferior e se levantou, vindo lentamente em minha direção. Ele me abraçou e mordeu o meu lóbulo esquerdo, fazendo o meu corpo retesar. Eu definitivamente não esperava por aquilo.

─ Você está muito sexy ─ Brandon sussurrou no meu ouvido.

Impulsivamente eu mordi os meus lábios, em uma falha tentativa de segurar minha risada. Brandon olhou para mim com a sobrancelha esquerda erguida, tentando decifrar o que estava acontecendo.

─ V-Você está falando sério? ─ perguntei, sentindo minhas bochechas começarem a corar.

Brandon sorriu de canto e roubou-me um selinho. Ele segurou a minha mão direita e me puxou para fora do quarto, indo em direção ao pátio principal. Pela segunda vez no dia eu sentia a vontade de me enterrar de vergonha.

O movimento de prisioneiros e guardas no corredor estava intenso, que era um comportamento raro nos dias normais, uma vez que sempre estava praticamente vazio. Brandon apertou minha mão e me trouxe mais para perto dele, como se estivesse me protegendo das pessoas ao redor, que fechavam a cara para qualquer um que ousasse olhar diretamente para eles. Ninguém era amigo de ninguém no dia da Seleção.

Seguimos o caminho pelo corredor até chegarmos ao pátio principal, onde todos já estavam em forma em várias filas indianas, organizadas do maior para o menor. Despedi-me de Brandon e me posicionei no meu lugar.

Eu olhava para as pessoas e já conseguia ver-me renegada na Seleção. Todos ali possuíam mais músculos que eu e pareciam ser mais ágeis. Já contava desvantagens antes mesmo da Seleção começar.

─ Sentido! ─ A voz do comandante soou em todo canto do pátio através dos alto-falantes. Bati minhas mãos espalmadas contra a lateral das minhas coxas enquanto unia os pés e mantive o olhar firme para frente.

─ Sejam todos bem-vindos a décima Seleção ─ continuou, em um tom autoritário. ─ E boa sorte.

O silencio se manteve no pátio até os murmúrios começarem a surgir. Algo estava errado. Todos os anos eles nos davam instruções sobre o que deveríamos fazer e agora nós não tínhamos nada. O anúncio não deveria ter terminado ali. Olhei para o rosto das pessoas ao meu redor e todas expressavam o mesmo sentimento que eu estava sentindo. Confusão.

As luzes artificiais foram subitamente desligadas, provocando pânico em algumas pessoas, que já corriam as cegas pelo pátio. Tentei procurar Brandon, mas estava escuro demais. Pensei em correr, mas não havia exatamente um lugar para onde eu pudesse fugir. Um monitor em uma das paredes acendeu, mostrando dessa vez o presidente dos Estados Unidos, com um sorriso animado do rosto.

─ Que comece a Seleção ─ ele falou e as luzes foram ligadas outra vez, revelando mesas com armas de fogo e paredes de metal, que antes não estavam lá.

Olhei para as armas, abismada demais para conseguir me mover, diferente dos outros, que corriam em direção a elas. Tentei sair do lugar, mas não consegui. Minhas pernas não obedeciam aos meus comandos até eu ouvir o primeiro barulho de tiro. Joguei-me no chão e me arrastei para trás de uma das paredes. Comecei a tentar montar estratégias para sair dali quando Brandon apareceu na minha frente, com dois rifles em mãos.

─ Você sabe que são armas de paintball, não é? ─ Brandon perguntou ao perceber meu olhar arregalado para as armas.

Sorri aliviada e peguei a arma que ele me oferecia. Brandon sentou-se ao meu lado e entrelaçou os dedos nos meus.

─ Brooke, você não pode hesitar. ─ concordei com a cabeça para a afirmação. Eu sabia de tudo aquilo, mas parecia tão impossível colocar em prática. ─ Apenas relaxe.

Olhei os olhos dele e os vi mudarem de coloração, para um intenso dourado brilhante. Esbocei um sorriso e ativei o gatilho dentro de mim, fazendo com que os meus olhos castanhos tomassem a mesma cor.

─ Boa sorte ─ ele falou, antes de se teletransportar e me deixar sozinha.

─ Boa sorte


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