Alpha: O mundo antes de Divergente escrita por Regiane Belmonte


Capítulo 4
Capítulo 4




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Minha ultima aula é de Matemática avançada. Como posso descrever essa matéria? Paraíso talvez ainda seja uma palavra fraca, essa com certeza é a minha matéria favorita. Mesmo para membros da Erudição, essa não é uma matéria fácil, ou você tem habilidade para realiza-la ou terá fortes dores de cabeça e noites de insônia pela frente. Já que tenho toda a habilidade possível nessa matéria, sempre tenho tempo livre para refletir sobre o meu dia. As vezes calculo a velocidade com que um giz cai da amurada da lousa pro chão, as vezes conto mentalmente quantos segundos demora pra que a bolinha de papel que a Analícia jogou, acerte outro membro da Audácia, e outras vezes como hoje, fico imaginando a força de impulsão necessária para que um individuo possa pular de um vagão em movimento para uma plataforma sem cair de cara no chão. Já tentei parar de entender esse meu fascínio pelos membros da Audácia, vire e mexe me pego calculando coisa que os ouço comentar, como por exemplo, o ângulo e a velocidade que uma faca deve ser lançada para acertar o alvo. Como eu disse, os números me dão a certeza de algo fixo, e já que os membros da Audácia são uma incógnita pra mim, me sinto melhor podendo ter controle pelo menos sobre esses detalhes.

O sinal do termino do dia letivo soa e todos começam a recolher seus pertences para poder ir embora. Os membros da Audácia saem correndo primeiro, o trem para o complexo deles passará daqui exatos 3 minutos, creio que eles realmente precisam ir. A Franqueza acaba sendo a segunda facção a abandonar a nossa aula, seguida fielmente pela Amizade, onde todos estão rindo e combinando de se encontrar para um piquenique mais tarde. Os membros da Erudição nunca tem pressa pra ir embora daqui, é um dos locais mais familiares pra eles, então nos deslocamos sem pressa pela porta. A única facção que fica para trás é a Abnegação que como sempre, espera que todos se vão para poder sair sem atrapalhar ninguém.

No pátio encontro George e Tori, e seguimos juntos para o ponto onde pegaremos o ônibus.

– Tori, você sabia que a Naomi é uma reencarnação de uma deusa egípcia?

– George, francamente, está na hora de você andar mais com os membros da Audácia, essa sua piada está ficando velha demais.

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Acordo mais cedo do que o planejado. Estou nervosa, com medo, nunca fui proibida de me preparar para um teste antes. Hoje farei o teste de aptidão, ele dirá para qual facção tenho mais habilidade. Sei que tenho todos os traços de alguém que ficará da Erudição, mas estar com medo me assusta. Se eu tenho tanta certeza assim, porque ainda tenho duvida? Ao mesmo tempo que eu quero que o resultado do meu teste dê Erudição fico pensando se é só isso que eu sou, só uma mente forte e brilhante, se não posso ser mais nada. Será que posso ser franca, pacífica, altruísta e corajosa além de inteligente? Será que essas habilidades podem estar juntas em um mesmo individuo? Coloco meus óculos, arrumo meu cabelo, coloco uma roupa aleatória, pego as minhas coisas e vou tomar café. Minha mãe esta na cozinha, mas o meu pai já está sentado à mesa.

– Bom dia super gênio mirim. Ansiosa pra hoje?

– Bom dia pai – dou um beijo em seu rosto. – Estou mais curiosa, um teste para o qual não se pode estudar? Isso é algo novo pra mim.

– Vai ficar tudo bem querida, você vai se sair bem – ele fala com um sorriso tão terno que acalma um pouco a confusão dentro de mim.

– Isso é o que se diz para alguém que vai literalmente se sair muito mal numa prova pai – e dou uma risada. Ele ri dessa piada, e eu amo quando ele ri.

– Acho que você está andando tempo demais com o George filha, suas piadas estão começando a ficar péssimas.

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Nós três fazemos o trajeto pra escola em silêncio. Na verdade o ônibus em si está quieto. Até os alunos falantes da Franqueza, hoje resolveram se recolher dentro de si, parece que até essa verdade os assusta.

Quando chegamos à escola, reparei que até os membros da Amizade estavam estranhamente quietos hoje, não é só a nós que afeta o silêncio absoluto sobe informações do teste, todos os adolescente com 16 anos estão sofrendo com esse dilema: o que vai acontecer no teste?

Todos caminham para suas respectivas aulas, hoje teremos apenas metade delas devido aos testes. Na minha primeira aula terei Tori comigo, isso me deixará mais calma.

– Você esta nervosa? – aproveito que a professora está ocupada demais verificando se os membros da Audácia e Franqueza trouxeram os livros e me viro pra trás pra perguntar o que está entalado na minha garganta a horas.

– Muito – ela suspira e fecha os olhos. Ela parece cansada, como se não tivesse dormido de noite por algum motivo. – E você?

– Tori, não sei nem qual é o resultado que eu desejo que o teste dê. Não estou nervosa, eu estou apavorada.

– Hey Naomi, calma, – Tori segura a minha mão – todos nós temos medo de alguma coisa, basta apenas procurar o sol, você se lembra?

Sim, eu me lembro. Quando eu tinha sete anos, queria fazer algo diferente de ler e estudar, então resolvi sair para explorar o prédio. Andando pelo corredor encontrei uma escada, imaginei que no tomo daquela escada existia uma galáxia inteira, ainda oculta dos homens que não tinham coragem de ir ao seu encontro e resolvi segui-la. Quando eu já estava ficando entediada de subir degraus escutei o choro de alguém. Parei para tentar decifrar de onde o choro vinha. Ele vinha de algum lugar mais acima da escadaria. Subi o mais rápido que eu consegui, sempre fui uma criança gordinha então tinha um pouco de dificuldade para correr, e me deparei com uma porta. Do outro lado eu escutei soluções de alguém que tinha chorado muito.

– Olá?

– Quem está ai? – perguntou uma voz familiar – Não importa, abre a porta, por favor.

“Não se deve abrir a porta para estranhos, Naomi”, ouvi a voz da minha mãe na minha cabeça. Mas essa voz não é estranha e ela esta chorando. Abri a porta e ela caiu em cima de mim. A menina que estava trancada pro lado de fora era Tori.

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A professora começa a falar e Tori sussurra um “imagine um falcão” e abre um sorriso. Então nós soltamos as mãos e eu viro pra frente para poder assistir a aula, mas não é isso que eu faço. Recordo-me de quando encontrei Tori chorando, trancada para o lado de fora do terraço do prédio.

– Obrigado – disse Tori chorosa me abraçando.

– O que aconteceu com você Victória?

– Vim tentar descobrir o que tinha depois dessa porta grande. Eu a abri, sai para ver o que tinha e acabei soltando a porta. Aí ela ficou trancada, eu não conseguia abrir ela, e lá fora está tão escuro – Ela colocou as duas mãos no rosto e começou a chorar.

– Você tem medo do escuro, Victória? – perguntei.

– Sim, - confessou ela entre lágrimas.

Não senti dó dela, mas não queria que ela se sentisse frágil confessando isso pra mim. Então fiz a coisa mais prudente que se passou pela minha cabeça. Me sentei ao seu lado e falei.

– Eu tenho medo de agulhas e uma vez eu sonhei que alguém apertava meu pescoço com força e me puxava para o fundo de um rio, agora tenho medo de ser enforcada e medo de me afogar quando vejo algum tanque de água.

Tori agora tinha parado de chorar, mas continuava a soluçar. Ela olhou pra mim, sorriu e falou.

– Obrigada.

– Obrigada pelo que? Todo mundo sente medo de alguma coisa.

– Meus pais dizem que não tem porque ter medo do escuro, que é igual o dia só que sem o sol e meu irmão George fica rindo de mim e fala que sou fraca.

– Seu irmão deve ser muito bobo, você não é fraca. – ela sorriu ainda mais. – Sabe, eu vi em um desenho uma vez que, o falcão no mundo antigo simbolizava o sol. Toda vez que você sentir medo do escuro você podia pensar em um, o que acha?

– Mas o que é um falcão? – perguntou ela confusa.

Me levantei e estendi a minha mão pra ela.

– Eu tenho uma gravura dele em casa, eu podia te mostrar, você quer ver Victória?

Ela pegou a minha mão e ficou de pé.

– Por favor, me chame de Tori, é assim que a minha família me chama.

– Tudo bem Tori, vamos encontrar um sol pra você.


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